Dia seguinte; 15:46 - Gateway Center, Brooklyn.
Jogo o copo plástico personalizado no lixo mais próximo e retorno a andar lado a lado com a figura indignada de Chlöe. Que insiste em defender certa personagem, que a meu ver não é uma das melhores do filme.
— Ela é sem graça, apenas preenchimento de espaço. — Defendo minha opinião e a loira abre sua boca em um grande "o", como se eu tivesse acabado de assumir a autoria de um crime brutal, a sangue frio.
— Retire o que disse imediatamente, Hailee Steinfeld! — Exige batendo sua bota direita com força no chão de tom claro da praça de alimentação.
— Eu só disse a verdade, não irei retirar. — Dou de ombros e me sento em uma das mesas vagas, vendo Chlöe juntamente do seu enorme e infantil bico se sentar à minha frente.
— Você é uma chata. — Suspira e nego desinteressada. — Mas então... — Muda sua feição de modo extremamente rápido. É quase assustador. — Seu irmão falou algo a mais sobre mim? — Ergue sua sobrancelha e dedilha a mesa.
— Chlöe, você está comigo desde ontem, tudo que ele disse pra mim você ouviu. — Sorrio com sarcasmo, vendo seus olhos, agora acinzentados devido a luz, se revirarem.
— É, mas... O que ela está fazendo aqui? — Encara algo ou alguém, por de trás do meu ombro e bufa.
— Theresa? — Chuto o primeiro nome que me vem na cabeça. Que no caso pertence a uma das únicas garotas que Chlöe repudia.
— Pior. — O corpo magro e esbelto de Nina para ao lado vago da mesa e a mulher cerra seus olhos para a loira a minha frente. Se olhar matasse...
— Onde estava?! Você me deixou quase louca, garota! — Exaspera entre dentes e Chlöe transpira indiferença.
— Eu disse que dormiria na casa da Hailee. — Se defende e Nina bate suas palmas na mesa, causando um barulho tanto quanto alto, atraindo algumas atenções alheias. Ótimo, plateia...
— Não! Não disse! — Grita e por fim olha para os lados, provavelmente percebendo que alguns olhares distintos rodeavam a mesa. Nina respira fundo e ajusta uma mecha de seu cabelo para atrás da orelha. Ela não estava envergonhada, ao contrário de mim, que sinto vontade de sair correndo desse centro de atenções desnecessário.
— Não é como se você se importasse. — Dá de ombros e Nina revira seus olhos.
— Sim, eu me importo. Não sou uma bruxa má Chlöe, eu só fiquei preocupada. — Tenta tocar nos cabelos loiros da sobrinha, mas a mesma se esquiva para o lado em um ato que repreendo mentalmente. Há um bloqueio enorme entre as duas, algo que não é saudável para uma relação cotidiana, assim penso.
— Ela esteve em boas mãos. — Pela primeira vez me pronuncio, atraindo a atenção da morena, que agora me olha com sarcasmo.
— Olá, Steinfeld. — Sorri forçada e me sinto incomodada com isso, afinal, o que eu a fiz? — Tenho mais um servicinho pra você, meu doce. — Enrola uma mecha dos meus cabelos em seu dedo e logo o solta. — O Shawn é um homem muito ocupado, como qualquer um pode perceber, e daqui a dois dias teremos outro jantar de negócios, e pelo visto Johnny gostou de você, então precisamos que fique com ele terça às seis. — Analiso a proposta em segundos e concordo.
— Sem problemas. — Sorrio sem mostrar meus dentes e ela chega mais perto, se inclinado um pouco para cima da mesa, onde suas mãos ainda estão apoiadas.
— E dessa vez, pode caprichar no banheiro. - Pisca para mim e entreabro meus lábios incrédula. Não acredito que ele contou... Deus! Que vergonha.
Nina pega sua bolsa e nos dá as costas, sem ao menos se despedir de sua sobrinha.
Apoio meus cotovelos na mesa e tampo meu rosto formigante com ambas as mãos.
— Não diga que você... — Afasto dois dedos dos outros, o suficiente para que eu pudesse a olhar e ela o mesmo. — Meu Deus, Hailee! — Seu rosto se avermelha e sinto sua vergonha alheia em mim. Eu mereço isso também.
— Droga! Foi mais forte que eu. — Bato minha mão em minha testa, me arrependendo logo quando sinto a ardência predominar a área. — Ele ficou tão sem graça. — Suspiro. — Mas me disse que era algo que deveria preservar em mim. — Sorrio de lado.
— Ah lógico, é uma super qualidade, quase um superpoder.
— Não caçoe de mim. — Imploro ouvindo sua risada. — Não posso evitar, e tudo isso por causa de uma manchinha no chão. — Adentro meus cabelos com os dedos e levemente o puxo.
— Ok, só não deixe seu irmão saber, ele não pegará leve. — Disso tenho certeza. — Sabia que aquela... — Repreendo Chlöe com o olhar e ela pula a parte do xingamento que acompanharia sua fala. — Que Nina não tinha vindo atrás de mim, olha lá, o chefe gato. — Aponta para uma das lojas próximas e sigo com o meu olhar, vendo pelas portas de vidro Shawn e Nina, juntamente com um homem que não reconheço e só aposto estar com eles por segurar Johnny em seus braços, enquanto o mostra algo que não consigo identificar.
Nina sorri para Shawn e o mesmo retribui, logo voltando sua atenção para uma das prateleiras da loja mais sofisticada que o meu bolso pode pagar em anos de trabalho.
— Eles têm algo? — Pergunto mesmo não voltando a olhar Chlöe.
— O Sr. Mendes e a vad... Nina? — Novamente corta o xingamento quando a repreendo.
— Sim.
— Não, pelo menos é o que eu acho. — Dá de ombros e ajeita sua bolsa em seus ombros. — Vamos? Minha cota de hoje acabou. — Sorrio e concordo ao levantar, nos dirigindo para a saída, e no percurso passamos a alguns passos de distância da loja com um nome francês e repleta de luxo.
Johnny acena em nossa direção, o que que chama a atenção de Shawn que nos analisa detalhadamente e sorri gentil para mim, retribuo o ato, mas logo seu rosto e virado pelos dedos de Nina ao perceber que provavelmente falava sozinha. Droga, ele está tão lindo.
Meus hormônios borbulham em mim. É como se ele fosse de fato o maior astro pop do momento e eu uma das fãs histericamente instáveis. Ótima comparação...
Não é algo doentio, e muito menos perigoso. Afinal quem nunca se sentiu atraída por um cara deveras mais velho? Atire a primeira pedra.
Também, não é como se em algum momento eu fosse o agarrar ou repetir o ato de dois dias atrás. Tenho minhas morais, não as contrário.
[...]
Dois dias depois; Bishop Kearney High School -13:27
Sorrio um tanto quanto amargurada para uma das cozinheiras da escola e pago o meu prato do dia. Horripilante, é esse seu codinome, apenas pela visão. Não julgue um livro pela capa, Hailee.
— É quase certeza que essas tias da cozinha, nos odeiam. Eu estou tendo uma intoxicação alimentar só de olhar para isso. — Indaga Chlöe, quando finalmente me sento ao seu lado direito na mesa que costuma a ser apenas utilizada por nós duas. Ninguém mais.
E assim prefiro.
— Não coma. — Dou de ombros e com certa dificuldade abro a garrafinha de suco industrializado, o qual está bem longe de ser o melhor que já provei.
— Se essa fosse uma opção. — Suspira, encarando o purê de batata, nada atrativo em seu prato. — É que estou com uma baita fome. Deveria ter trazido algo, como sempre.
Quando abro minha boca para argumentar sobre o dito, um pacote marrom é posicionado no centro da mesa de quatro lugares.
— Digamos que eu sou o maior traficante de lanches dessa escola. — Caçoa Aaron e ergo minha cabeça para vê-lo de forma mais ampla. Seria o meu irmão o herói do meu almoço?
— Obrigado Aaron, você sabe que eu... — Um tapa é dado em minha mão no momento em que toco a embalagem de alguma marca famosa de sanduíches. Mas o quê?
Aaron se senta à nossa frente e puxa a embalagem para o lado de Chlöe, sorrindo. Diria que até foi um ato tímido, se não conhecesse ele desde o meu nascimento.
Olho para a loira agora pasma, com seus olhos levemente maiores e suas sutis maçãs do rosto coradas.
— Isso é para você. — Aponta para o saco o único garoto da mesa, fazendo Chlöe olhar para mim por instantes e logo fixar aquela imensidão azul em Aaron. — Pensei que seria bem melhor do que essa bomba disfarçada. — Intercalo meu olhar entre ambas as personalidades e como a loira, fixo meus olhos com uma quantidade maior de melanina em Aaron.
— Tudo bem, eu posso morrer com os tóxicos expostos aqui, meu grande irmão. — Ironizo e volto a minha concentração mesmo que pouca para o meu prato. Não sou egoísta, e muito menos farei um escândalo por um lanche, mesmo sendo algo plausível em tal situação. Não me chateia, até achei de certa forma fofo.
— Bom, não precisa dizer nada, como sempre. — Sorri de lado para Chlöe e se levanta. — Bom apetite.
Se aproxima de mim e carinhosamente deposita um beijo em minha cabeça.
— Para você também, Hailee. — Sinto que é algo até mesmo piedoso. Mas nem ao menos agradeço, só tento mastigar a carne quase queimada. Definitivamente hoje elas "capricharam".
Quando Aaron está a ponto de virar-se e seguir seu caminho até seu "grupo" - que sempre fora composto por garotos do clube de matemática, mas não necessariamente nerds. - Chlöe segura seu pulso.
Isso foi uma atitude vinda dela? Mal posso acreditar.
— Obrigado. — Volto a dividir meu olhar entre os dois e logo um sorriso doce se apodera do rosto da mesma. — De verdade. — Agradece e Aaron assente sem um claro motivo e se vira voltando pra sua mesa.
— Uau! Isso foi um extenso progresso. — Não expresso tanta emoção quanto ela, mas realmente me sinto feliz. Em anos esse foi de longe o seu maior progresso.
— Jesus, eu poderia comer toda essa porcaria sem me importar, de tão feliz. — Solto uma risada nasal e a mesma me abraça com grande poder de força no ato.
[...]
17:53
Ajusto a leve blusa de coloração neutra em meu corpo e aperto o elástico que prende meus cabelos, prevenindo o incômodo de tê-los caídos em meu rosto. Já teria cortado, se não fosse pelos inúmeros pedidos contrários de mamãe.
Solto um suspiro, sem uma motivação concreta e dou alguns passos para a esquerda.
Novamente me pego observando meu próprio reflexo, no espelho a poucos passos de distância. E pela segunda vez, nada me prende no que vejo, afinal, continuo a mesma.
— Tudo ok. — Penso alto, conferindo cada objeto decorativo do meu quarto, cada um em seu devido lugar. E a mania continua, mesmo depois do pior acontecimento da minha vida... Conseguindo até mesmo superar o desastre do clube de química.
Pego minha mochila, posicionada ao lado da cama minutos atrás por mim mesma.
Passo pela penteadeira e paro no meio do caminho. Movimento vagamente meus olhos e os congelo no gloss esquecido por mim a algum tempo.
Será que o levo? — Penso. Pisco algumas vezes e nego para os meus próprios pensamentos inconsequentes. Por qual razão iria precisar de um batom? Essa eu mesmo respondo.
Nenhuma!
Saio do quarto com tranquilidade e assim que fecho a rústica porta, ouço do andar térreo a voz calma de mamãe.
Ele chegou.
Desço pelas escadas de maneira ágil, mas sobre tudo cuidadosa e em segundos alcanço o primeiro andar.
— Olá. — Dizemos juntos e mamãe ri.
— Bom trabalho, querida. — Beija minha testa e alisa com delicadeza meus fios presos. Ela é uma das melhores pessoas que eu conheço. — Até mais Sr. Mendes, mande um beijo para o seu pequeno, espero um dia conhecê-lo. — Sorri gentil e Shawn retribui.
— Mandarei. — Afirma ao pisarmos do lado de fora da casa, tão simples quanto as outras da rua. — Tudo bem?
Dou cerca de três passos antes de o olhar. Ele não prende seus olhos em mim, logo está à procura de algo em seus bolsos. Chuto, mentalmente, ser a chave do carro e assim acerto.
— Sim, obrigado. E você? — Questiono ainda admirada com o quão bonito ele consegue ficar com esta jaqueta jeans, nada formal. Ele provavelmente fica bem em qualquer tipo de roupa, ou serão meus olhos de uma adolescente admirada?
— Estou bem. — Sorri de lado e abre a porta do seu carro para mim e não perco tempo para adentrar o mesmo. — Sem manias por hoje? — Questiona humorado e sinto meu rosto esquentar. Será que ele não poderia fazer o contrário de mim e esquecer aquela cena? — Desculpa, não era a minha intenção te deixar constrangida. — Continua ao se acomodar no banco do motorista. É, mas deixou...
— Não, tudo bem. — Por impulso seguro sua mão em cima do volante e desta vez quem parece ter levado um choque sou eu, mas não recuo, mesmo sendo a melhor opção. — Nada de estranho por hoje.
Assim espero...
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