História The Night Kingdom - Essa garota é um mar de problemas.

A comandante estava em pé no terraço, observando seu povo abaixo. Uma certa inquietação começara a tomar conta das pessoas. Precisava fazer alguma coisa, só não sabia ao certo o que.

Volta para a sala do trono onde encontra Bellamy e Octávia em um dos cantos, Anya e Monty conversando a par da enorme mesa que havia sido colocada no cômodo e por fim Clarke e Eric. Eles estavam próximos a uma janela. O filho do deus do sono estava fazendo alguma coisa com a loira que fechava os olhos enquanto ele colocava as mãos em frente ao seu rosto. Ela então cai na gargalhada atraindo a atenção de todos.

— Desculpe — diz e se volta para Eric — tentamos isso mais tarde.

Lexa ignora o que quer que os dois estejam fazendo e direciona sua atenção para Raven que acabara de entrar com um garoto chinês.

— Comandante! Conheça Liu Jiang — ela diz e o rapaz faz uma rápida reverencia — nascido e criado na China, tem como língua materna o mandarim.

— Obrigada Raven, Jiang, você poderia traduzir algo para nós?

— Certamente — mais uma reverencia.

Clarke se aproxima e mostra o braço de um jeito nada sutil. Lexa segura a frustração e Raven revira os olhos. Liu, no entanto, junta as sobrancelhas ao observar os símbolos.

— Você foi até o I Ching — ele diz para a surpresa de todos — o I Ching não tem uma tradução exata. Ele pode significar inúmeras coisas. As pessoas o estudam a milhares de anos. Suas previsões são para ajudar as pessoas com aquilo que elas almejam alcançar.

— Por exemplo? — Clarke pergunta sem entender direito.

— Se uma pessoa quer muito o resultado de uma prova, ele não dará a resposta. Vai surgir na pessoa o símbolo que representa o estudo, e só então quando ela alcançar o que deseja é que a marca vai embora.

— Entendi, e até que é uma boa notícia, ele nos mostra o caminho que devemos seguir, é tudo que precisamos, certo?

— Como eu disse, ele pode ser interpretado de inúmeras formas — o jovem explica sem jeito.

Lexa resolve interferir.

— Mas ele tem alguma tradução literal, não? Você pode nos dizer o que os símbolos significam, mesmo que possa ter um outro contexto?

Ele olha para o braço de Clarke e toca o segundo símbolo com a ponta do indicador.

— Esse significa a lua, como também uma luz na escuridão, ou até mesmo a vida noturna.

Lexa junta as sobrancelhas, isso não fazia sentido.

— Então por que ainda está marcado nela? Sendo que a lua está no céu e estamos vivendo sobre a escuridão? Por que o símbolo não sumiu como você disse?

Liu encolhe os ombros timidamente, ele não fazia ideia.

— Tá bom, nós pensamos no significado depois. O que os outros símbolos representam? — Clarke estava impaciente.

Ele volta a olhar para o braço da loira e desliza o dedo para o terceiro símbolo.

— Esse é a representação do dia, pode ser visto como esperança e também um novo começo. Algumas das vezes como salvação — diz pensativo.

— Como o Sol? — Raven é quem pergunta.

— Não, não como o Sol, é realmente o dia.

Todo mundo parecia um pouco confuso no momento, mas decidiram não perguntar mais. O rapaz então vai para o quarto e último símbolo.

— Não sei se tem uma tradução exata para isso, talvez o fim do mundo? A borda do mundo? O vazio? Morte eu acho, não dá para saber.

Independentemente se dava para entender diretamente o símbolo ou não, esse com certeza não era o melhor deles. Nada que levasse a morte poderia ser bom.

— E o primeiro? — Clarke pergunta, ao perceber que ele pulara o primeiro símbolo.

— Eu não faço ideia, imagino que isso não seja chinês.

Com certeza a tradução não havia sido como todos imaginaram, mas era o melhor que tinham desde que tudo começou. A comandante pensa por um segundo e por fim diz:

— Obrigada Jiang, ficarei muito grata se não comentar com ninguém.

Ela não precisava pedir, ou dizer. Para todos ali que conheciam a grande Heda esse era um aviso claro de “não abra a boca ou morre”. O rapaz faz uma curta reverencia e se retira.

— Isso foi ... — Bellamy começa quando ninguém fala nada por vários minutos, o silencio o incomodava — bom, não é? Vamos ah ... estudar esses significados para saber o que eles querem dizer.

— Bellamy tem razão — Lexa diz — Raven, você anotou tudo o que ele disse, certo? Todos aqui iremos procurar os tipos de significado e como pode nos ajudar, mas antes irei fazer um pronunciamento. As pessoas estão começando a ficar inquietas. Talvez uma pequena reunião a frente da fogueira ajude a todos e renovem suas esperanças. Preciso que alguém me entregue o desenho do primeiro símbolo para eu mostrar a população, alguém deve saber algo.

Todos na sala saem diretamente para seus afazeres que era preparar a reunião de mais tarde. Bellamy e seus irmãos por serem filhos de Baco e Dionísio eram sempre os responsáveis na organização dos eventos, já que o deus era sempre associado a festas.

Lexa não queria dar uma festa no fim do mundo, mas precisava animar as pessoas e mostrar que estava no controle da situação, com certeza uma pequena confraternização ajudaria, além de disfarçar o que realmente estava acontecendo nas fronteiras já que Anya relatou sofrer alguns ataques de monstros.

Raven estava desenhando o símbolo do braço de Clarke para o papel, para o desgosto da filha de Hefesto.

— Eu mesma posso fazer isso, muito melhor do que você por sinal — Clarke provoca — na verdade acho que qualquer criança conseguiria fazer isso melhor do que você!

Raven puxa com força o braço da outra que ri. Ela não suportava a ideia de outras pessoas serem melhores do que ela em qualquer coisa que fosse.

— Está se achando muito útil não é? Você não passa de uma filhinha bonitinha de Apolo que consegue fazer uns truques com música. Quem sabe você não consiga nos salvar recitando uma poesia? — Ironiza com o sorriso amarelo.

Clarke, no entanto, não se sente ofendida. Sorri com o canto dos lábios.

— Você gosta de poesia garota das forjas? Talvez devesse falar em rimas, tenho certeza que vai ser de grande utilidade.

A filha do ferreiro não entende o que a filha de Apolo quer dizer e franze o cenho.

— O que ...?

Clarke puxa o braço e se levanta. Com os olhos brilhando em tom de malicia sorri de forma travessa.

— A filha das forjas uma sentença irei dar, em rima falará enquanto comigo não se desculpar — pisca com um dos olhos ainda sorrindo.

Por um momento Raven tem certeza que a garota ficou maluca, então diz:

— Você é maluca — mas sem conseguir controlar seus próprios lábios outra palavra saí — batuca.

Clarke gargalha jogando a cabeça para trás.

— Você precisa melhorar suas rimas!

— O que você fez comigo? Figo — ela tampa a boca com as mãos, simplesmente não conseguia controlar a última palavra que saía — Tire isso de mim agora! Embora.

— Desculpe, mas só vai passar quando você pedir desculpas. Agora, se me dá licença ... eu tenho coisas para resolver — fala ao deixar Raven em estado de choque para trás.

Contudo, assim que Clarke atinge a porta uma bola de fogo atinge a madeira ao seu lado fazendo-a se virar. Raven estava com as mãos cobertas por fogo. Não era tão comum os filhos de Hefesto herdar seu poder do fogo, mas a mecânica possuía essa dádiva.

Clarke coloca a mão em suas costas pronta para sacar seu arco e flecha, mas então se lembra que não o tinha mais. Pragueja baixo. Mas uma rajada da bola de fogo a faz rolar para o lado.

— O que está acontecendo aqui? — Lexa para entre as duas garotas. Seus olhos vão para Clarke que batia o fogo em sua perna para apagá-lo e depois para Raven que aos poucos apaga as chamas de sua mão.

— Pergunte a ela! Mela.

Lexa junta as sobrancelhas sem entender o que Raven que dizer com a última palavra. Se vira para a loira que tinha conseguido apagar as chamas, mas agora exibia um buraco em sua calça, na altura da coxa.

— Só estou ensinando a ela como ser mais humilde, os filhos de Hefesto são sempre tão orgulhosos.

— Clarke, seja lá o que você fez acabe logo com isso! Parem de agir feito crianças.

— Assim que ela pedir desculpas — cruza os braços. Raven bufa irritada e sai pela porta sem dizer mais nenhuma palavra.

A comandante massageia as têmporas, não estava acreditando que precisava fazer duas mulheres adultas agirem como tal.

— Você não pode cooperar? — Olha para a menina que parecia uma criança emburrada soprando o cabelo para longe do rosto.

— Isso é uma ordem alteza?

Lexa estava ficando seriamente sem paciência. Clarke a irritava de tantas maneiras que não se aguentou e se aproximou dela a segurando firme pelo braço.

— Pode ter certeza que quando for uma ordem você ira obedecer sem nem ao menos piscar — diz ferozmente.

— Claro, típico de um líder — puxa o braço com força e saí sem nem ao menos se importar em dar as costas para a imponente comandante.

Lexa respira fundo e se segura para não socar a porta. Não era conhecia por sua falta de controle. Mas Clarke estava realmente testando seus limites.

Clarke decidira passar o resto do tempo em seu quarto, perdida entre os livros a procura de significados para o que o garoto chinês havia falado. Contudo, na hora da cerimonia precisou estar presente. Se esgueirou no meio da multidão que estava reunida ao redor da enorme fogueira.  Parou ao lado de Bellamy e Octávia logo a frente.

Não demorou muito para que Lexa aparecesse. O murmuro que se fazia presente silenciou no mesmo instante.

— Boa noite a todos, se é que é certo utilizar esse termo hoje em dia — algumas pessoas riram — resolvi proporcionar essa pequena reunião para que nós possamos manter nossas esperanças acesas. Você não tem o que temer, eu e um grupo de pessoas estamos trabalhando para que tudo volte ao normal o mais rápido possível.

Seus olhos correm pela multidão a fim de observar como recebiam a notícia.

— Contudo, não irei mentir para vocês! Não está sendo fácil, e vocês irão precisar se adaptar a essa nova realidade por um momento — ela caminha devagar com as mãos para trás do corpo — tem algo em especial que precisamos da ajuda de vocês. Deixarei um cartaz com um símbolo que precisamos entender o significado. Qualquer pessoa que souber pode procurar a mim, Bellamy, Octávia e Raven. A ajuda de vocês é de extrema importância, isso pode salvar a todos nós!

Pequenas conversas surgem entre as pessoas, muitas desconfiadas, outras esperançosas e algumas até mesmo indiferentes.

— Mas não reuni vocês aqui só para isso, hoje é para vocês desfrutarem dessa pequena confraternização e assegurar que não deixarei nada acontecer a vocês!

Para a surpresa de Clarke um grito de apoio surge da multidão. Seus olhos então se prendem em Lexa que a fitava sutilmente.

— E mais uma coisa antes de vocês estarem liberados para comemorar, a temperatura pode cair drasticamente nesses dias. Aconselho que fiquem juntos o máximo que puder.

A comandante se afasta, mas se mantem na pequena festa. Raven, Anya e Monty estavam próximos dela. Sem escolha, Clarke se aproxima com os irmãos Blake e Eric que chega limpando o rosto, parecia ter cochilado.

— Bom, imagino que se alguém souber de algo logo ficaremos sabendo — Bellamy diz cruzando os braços.

Lexa assente. Se tudo desse certo, no máximo amanhã já teriam uma resposta. É o que esperava pelo menos.

Eric não estava muito interessado no assunto no momento. Se aproxima de Clarke com um copo na mão.

— Sabe, acho que você deveria seguir o conselho da comandante ... sobre ficar junto com alguém e tal ... poderia passar a noite no meu chalé — ele diz e todos ao redor olham para ele fazendo o corar e tossir — já que você sendo uma filha de Apolo você deve ser quente, eu ... acho, quero dizer, dizem que vocês são quentes por causa da energia do sol ... eu é ... vou ficar quieto.

Raven revira os olhos, estava evitando falar. Bellamy abaixa a cabeça rindo do garoto. Anya, no entanto diz:

— Também tem um boato sobre os filhos de Hipnos — o garoto se vira para ela sem entender — que vocês dormem no meio do sexo!

O grupo inteiro cai na risada, exceto Lexa que não estava se sentindo nada confortável com a conversa. Sempre foi extremamente reservada com seus relacionamentos.

— Não ... na ... não é verdade — ele fica um pimentão de vermelho e se vira para Clarke — isso ... não é verdade.

A loira sorri divertida e pega o copo de sua mão tomando um gole.

— Não se preocupe, eu tenho energia suficiente para te manter acordado — levanta as sobrancelhas fazendo o garoto engolir em seco.

— Clarke não pode passar a noite fora da torre — Lexa fala pela primeira vez de maneira calma sem expressar nenhuma emoção.

O clima alegre fora substituído por um carregado em tensão, era quase possível ver faíscas.

— Eu sou a porra de uma prisioneira agora? — Clarke pergunta irritada.

Lexa ignora seu tom e seu jeito fácil de se descontrolar. Se vira de costas para menina a fim de encontrar algo para comer na mesa que fora posta.

— Pense o que quiser, é para o seu próprio bem.

Contudo a filha de Apolo não era tão submissa quanto seus súditos. Se aproxima da comandante a segurando pelo braço. O oxigênio parece ter sido cortado de todos que estavam ao redor.

— Você não manda em mim alteza.

— Sim, enquanto estiver em Polis, eu mando — fala sustentando o olhar azul — não me faça prendê-la.

 Clarke ri irônica e solta o braço dela. Ninguém ao redor diz nada. A loira vira o resto do conteúdo do copo em seus lábios e joga o recipiente para o lado. Queria confrontar a comandante para que ela visse que não mandava nela, nem em sua vida.

— Você vem comigo — diz puxando Eric pela gola, mas para — ou eu também não posso transar com quem eu quiser?

Lexa estava a um fio de perder a cabeça. Ninguém nunca havia a desafiado dessa forma antes. Simplesmente se fingiu de indiferente e virou as costas para Clarke.

Pisando duro, Clarke volta para torre com tanta raiva que seria capaz de fazer o sol ficar frio perante sua ira.

— Se você quiser eu posso te ajudar com os símbolos — Eric diz sem jeito. Estava com medo de Clarke e com medo de como Lexa iria reagir com relação a ele.

— Desculpe Eric, eu ... me desculpa te envolver nisso. Tudo bem se eu ficar sozinha?

— Eu sei que você não quer ouvir isso, mas Lexa só está pensando no seu bem estar — ele fala e sai do quarto a deixando com seus próprios pensamentos.

Lexa também havia se retirado para a torre, só que diferentemente de Clarke, estava ao terraço com Anya.

— Se me permite ...

— Não permito — corta séria. Anya entre todos era a mais próxima da comandante por conta da amizade de longa data.

— Ainda assim, Clarke não está acostumada a seguir regras Lexa ... não deveria ser tão dura com ela.

— Clarke age como uma criança! Ela é uma peça importante nisso tudo, todos conseguimos ver. Não posso simplesmente arriscar que ela fique por aí. Ela não deveria agir feito uma garotinha rebelde!

Anya entendia a visão da comandante. Sabia que ela tinha razão, mas sabia que confrontar a afiada filha do deus do sol não era a melhor opção. Contudo, decidiu não falar mais nada.

No meio da noite em seu quarto, Clarke não conseguia dormir. Estava irritada demais, ligada demais. Saiu devagar. A intenção não era fugir, era simplesmente ir ao terraço olhar o céu ou qualquer coisa assim. Abriu com cuidado a porta que dava acesso a sala do trono e paralisou quando ouviu:

— Você não deveria estar dormindo?

Rangendo os dentes se vira para Lexa que acende a luz.

— Você só pode estar de brincadeira comigo!

A comandante suspira.

— Clarke você não tem a mínima disciplina, precisa dormir para estar bem no outro dia. É uma peça importante nesse caos que estamos vivendo, não dá para fazer um esforço?

— Engraçado você dizer isso. Você também deveria estar dormindo, não é a poderosa comandante!? Precisa estar forte para todo mundo, como vai fazer isso ficando acordada?

Lexa sente a raiva nas palavras da garota. Sabia que ela estava irritada e talvez magoada.

— Deveria colocar uma roupa decente — diz na tentativa de mudar de assunto, já que ela vestia um minúsculo short e uma blusa de alça.

— É sério isso? Até minha roupa você quer comandar? Se eu quiser ficar nua, eu fico!

A comandante se levanta do trono e retira seu sobretudo. Devagar se aproxima de Clarke e o coloca sobre seus ombros.

— Não estou querendo comandar nada, estou cuidando de você!

Mas Clarke não era igual a Costia, que por mais ciumenta que fosse, sempre era calma e concordava com Lexa. A loira tira o sobretudo e o empurra contra o tórax da grande Heda que estava surpresa pela atitude.

— Você me ameaça, me prende e depois vem com essa história de cuidar de mim? — Sussurra ameaçadoramente — me poupe do seu falso cuidado! Não sou como seus súditos e eu não me rendo fácil — diz fazendo Lexa recuar alguns passos para trás. Com um último olhar feroz ela volta para o seu quarto.

Lexa por sua vez respira fundo. Nem mesmo sabia qual o motivo de ter recuado, não temia Clarke, não. Temia machucá-la por conta da sua insolência.  Segue para o seu quarto tão perdida em pensamentos que nem mesmo repara em Costia sentada na sua cama.

— Problemas? — A ninfa pergunta, só então atraindo a atenção da outra.

— Sempre, não te vi na festa ...

— Eu estava no bosque com umas dríades, quer conversar sobre o que te incomoda?

A filha da deusa da guerra nega com a cabeça e se deita na cama colocando a cabeça sobre as pernas da sua amada que lhe acaricia o cabelo.

— Não consigo lidar com ela — fala tão baixo que a ninfa precisa de alguns segundos para conseguir definir o que fora dito.

— Tenho certeza que vai encontrar um jeito.

Lexa não tinha tanta certeza assim. Clarke lhe trazia um monte de sensações ao mesmo tempo, nem mesmo conseguia entender. Tinha certeza que a curiosidade era o maior sentimento, porém, tinha irritação, raiva e desejo. Suspira, talvez o desejo fosse o pior deles.