Ruggero Pasquarelli
É isso. Eu a amo. Amo com todas as minhas forças.
Amo o jeito como ela sorri e também como uma das mechas de cabelo dela insiste em cair no rosto. Como ela observa a paisagem, com os olhos fechados, sentindo o vento no rosto. Como olha atentamente cada um dos alunos e sorri ternamente a eles.
Amo estar com ela. Amo quando ela fica para dormir. Amo ver ela andando pela casa só com alguma camisa minha. Amo vê-la junto com Matteo no café da manhã. Amo quando ela sorri por saber que estou encostado na porta, feito um idiota, admirando o quanto ela é linda.
Amo os olhos verdes. Amo a personalidade e a maneira de ver a vida que ela tem. Amo como não importa como eu esteja, me aproximo dela e automaticamente um sorriso brota nos meus lábios.
Amo o jeito de menina que ela tem, sem deixar de ter seu jeito mulher. Amo nossas mãos entrelaçadas e sentir ela me abraçar. Amo cada mínimo detalhe sobre ela.
Amo que ela seja tão ela. Amo ela por inteiro.
- Te amo muito. – repeti e vi que os olhos dela brilhavam mais que nunca. Os lábios formavam aquele sorriso inigualável. Eu me perdia no rosto dela. Esquecia qualquer coisa e meu coração batia mais forte, cada vez mais forte, por estar com ela.
- Meu amor. – ela disse com voz manhosa e percebi uma lágrima escorrendo de seus olhos.
- Por que está chorando? – sequei a lágrima.
- Porque estou feliz. Ruggero, não sabe o quanto significa te ouvir dizer isso. É como se eu estivesse ganhando o maior premio da vida. – ela deu uma pausa – Seu amor vale ouro.
- Você foi persistente. Não desistiu e conseguiu chegar até aqui. – coloquei a mão no coração.
- Na verdade é muito mais que isso. – ela disse e soltou uma risada nasal – Pode parecer contraditório vindo de mim, mas eu já fui muito insegura em relação ao amor e com você eu aprendi que as coisas não se baseiam só em palavras, mas que elas também fazem parte de uma relação. Quando eu tinha quinze anos me apaixonei pela primeira vez. Meu mundo se transformou no meu maior conto de fadas. Eu achava que tinha encontrado a meu príncipe encantado e na minha humilde idiotice adolescente, pensei que o que estava sentindo era amor. – eu ouvia com atenção cada palavra que ela dizia – Pensei que ele me amava e que poderia me fazer feliz, mas as coisas não funcionem como nos filmes, e naquela época, eu extremamente ingênua e inocente, não fui capaz de perceber que só estava sendo usada. Eu fui burra, idiota e me deixei ser humilhada e ridicularizada. Doeu muito. Eu chorei muito. Aquilo me magoou de uma forma muito grande, mas não porque eu sentia de verdade amor por aquele garoto aos quinze anos, mas sim porque eu não tive capacidade de perceber que estava fazendo tudo errado. E aquilo serviu como experiência para que eu amadurecesse e percebesse que tem tanta gente precisando de amor, que eu não deveria gastar o meu com pessoas que não me dessem nada em troca. Aprendi que por mais que eu devo amar, também devo ser amada. Quando começamos a ter algo, eu preciso ser sincera e dizer que tive medo, Ruggero. Medo de que você não fosse capaz de me amar como eu deveria ser amada. Não sabia se eu conseguiria ser o suficiente para te fazer sentir algo tão forte de novo. – ela parou de falar e deixou as lágrimas escorrerem – Eu te amei desde o inicio, mas não sabia se você um dia poderia me amar do jeito que eu precisava. – aquilo doeu em mim. Ela se doou por completo, mesmo sem saber se seria correspondida na mesma intensidade – Não foram as suas palavras que me fizerem ficar tão emocionada assim. Foi o fato de ter conseguido colocar para fora. Eu... Eu não pensei que conseguiria dizer um eu te amo tão cedo. – os olhos dela estavam marejados, mas a boca mantinha um contorno de sorriso.
- Minha linda. – acariciei as bochechas dela com o polegar – Você não merecia ter passado por tudo isso. – ela secou as próprias lágrimas, respirando fundo para não voltar a chorar – Mesmo que eu não seja a melhor pessoa para expressar sentimentos, eu te amo mais do que você possa imaginar.
- Já percebeu que sempre se declara para mim depois de acontecer algo ruim? -ela disse apoiando os cotovelos na cama e jogando o cabelo para o lado. Sim, eu acompanhava atentamente cada movimento do corpo dela – Não tem que ser assim.
- Eu sei. Nesses momentos sinto medo de te perder e nasce uma necessidade de colocar para fora o que sinto e não tenho coragem de dizer. Mas isso não vai acontecer. Não vou simplesmente jogar tudo para o alto e perder as pessoas mais importantes da minha vida.
- É isso meu amor. – ela disse animada – Você não pode se deixar abater. Eu e Matteo precisamos de você.
“E eu preciso de vocês. Mas que qualquer outra coisa. Quero você do meu lado pra sempre”. Pensei, depositando um beijo demorado nos lábios dela.
(...)
- Alô. Ruggero? – ouvi a voz de Daniel, o irmão de Bianca, do outro lado da linha.
- Oi Dan, está tudo bem? – olhei o visor do relógio e vi que marcava 07:00.
- Na verdade não. Matteo teve um pesadelo durante a noite e não dormiu bem. Levantou agitado e acho melhor você vir buscá-lo. Ontem ele estava bem, mas hoje parece angustiado.
- Ele está com febre ou algo assim? – levantei da cama, preocupado.
- Não.
- Certo. Estou indo ai. Obrigada por avisar, Dan.
- Só mais uma coisa, Rugge.
- O que?
- Minha mãe e a Camila chamaram as amigas da Bi para virem tomar um café aqui em casa. Elas devem chegar em pouco tempo. Só pra você não ser pego de surpresa.
- Tio Daniel. – ouvi a voz de choro de Matteo - Eu quero ir embora.
- Passa pra ele. – falei e Dan assentiu – Filho, é o papai.
- Pai. – ele fungou – Eu quero você e a mamãe.
- Papai já vai ir te buscar. Aconteceu alguma coisa para você estar assim?
- Não. Só quero ir pra casa. – aquilo partiu meu coração.
- Passa para o tio Dan, por favor.
- Rugge.
- Dan, deixa as coisas dele prontas, vou passar ai e você leva ele até o portão. Avisa a sua mãe que estou indo buscá-lo, não quero ter problemas em relação a isso.
- Certo, vou esperar.
Desliguei e fui correndo trocar de roupa. Uma das coisas que me deixava mais tranquilo quando Matteo ficava na casa da Carmen, era o Daniel. Eu sabia que poderia contar com ele para esse tipo de coisa.
Não queria acordar Karol. Talvez até pudesse sair e voltar sem que ela percebesse, mas na pressa e no descuido, acabei derrubando um vidro no chão e ela acordou assustada.
- O que houve?
- Nada. Pode voltar a dormir?
- Porque está se trocando?
- Vou buscar Matteo. O irmão da Bi me ligou dizendo que ele não está bem.
- O que? Ele está doente? Onde ele está? – ela levantou com a mão no coração.
- Dan disse que ele parece angustiado. Está na casa da Carmen.
- Vou com você. – ela disse procurando a roupa que estava usando ontem.
- Não precisa. Você sabe que é melhor não. – eu queria evitar qualquer tipo de mal entendido.
- Não foi uma pergunta, Ruggero. Eu vou com você. – disse determinada e eu não tive escolha a não ser concordar com ela. Talvez fosse a hora de mostrar aos amigos da Bianca que a minha vida seguiu, assim como a deles.
(...)
Cheguei na casa dos Balsano e liguei para Daniel, que não me atendeu, não me dando outra maneira de entrar, a não ser tocando a campainha. Olhei para Karol e ela respirou fundo. Sei que não é isso, mas é como se ela estivesse pisando no território inimigo.
- Ruggero! – alguém pulou no meu colo e só segundos depois pude reconhecer que era Lívia – Quanto tempo. – ela continuava igual.
- Lívia. Pensei que estivesse em Paris. – respondi e logo vi ela olhar para Karol – Essa é Karol, minha namorada. Karol, essa é Lívia, melhor amiga da Bianca.
- Muito prazer. – elas disseram juntas.
- Sabe onde está o Dan? Vim buscar o Matteo.
- Acho que estão no quarto. Entra. Conhece bem a casa. – ela disse dando espaço para que entrássemos.
- Será que pode avisar ele que cheguei? Não queria ter que entrar.
- Teve a coragem de vir aqui? – Camila apareceu.
- Só vim buscar Matteo.
- Temos o direito de ficar com ele até o fim do dia.
- Ele não está bem. Daniel me ligou e pediu que viesse buscá-lo.
- Ele está perfeitamente bem. Só teve um pesadelo durante a noite e levantou assustado, pelo que Carmen me contou.
- Mãe. – Matteo veio correndo com os olhos vermelhos e abraçou Karol.
- Filho. – ela pegou ele no colo.
- Ele chamou ela de mãe? É isso mesmo? Permitiu que meu neto chamasse sua amante de mãe? – Carmen apareceu.
- Ela não é amante do papai, vovó. É namorada. E ninguém precisa me deixar chamar ela de mãe, porque eu chamo se quiser. – ele disse manhoso, calando Carmen que ficou sem reação ao ver o pequeno defendendo a “mãe” – Quero minha casa.
- Matteo, porque não fica mais um pouco? Podemos brincar como ontem? – Camila tentou ser gentil com ele.
- Não. Quero ficar com a minha mãe e com o meu pai. – ele cruzou os braços e escondeu o rosto em Karol.
- O que fizeram pro meu filho ficar assim? – falei nervoso – Em? O que fizeram?
- Não fizemos nada, Ruggero. – Daniel se pronunciou.
Eu me controlei. Poderia ter brigado com Carmem e Camila e dito coisas nada boas. Só queria levar Matteo para casa, onde eu teria a certeza que ele estaria bem.
- Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – Lívia perguntou.
- Estamos brigando pela guarda do Matteo, Lili. – falei.
- O QUE? – pude perfeitamente ver a cara de espanto que ela fez. Lívia estava morando na França há algum tempo e até onde eu sabia, tinha se distanciado de Camila– Por que isso?
- Brigando pelo que? – droga. Matteo estava ali. Ele ouviu tudo.
- Seu pai quer proibir você de ver a vovó. – Camila jogou o veneno que estava esperando para jogar.
- Não é isso filho. Papai não faria isso. É só uma coisa de adulto. – falei vendo os olhos dele se encherem de medo e de mais angustia.
- Eu ouvi a tia Cami dizer que eu não ia mais morar com o papai. – ele apertou os olhinhos.
- Chega. – Lívia falou – É ridículo o que estão tentando fazer. Foi por isso que me convidaram para vir aqui hoje? Queriam me colocar contra o Rugge? Foi por isso que estavam querendo que o assunto chegasse nele? – ela olhou indignada, mas não teve tempo de terminar a fala.
- MATTEO! – gritei e segurei ele que desmaiou no colo da Ka – Vem, vamos embora.
- Vocês não podem ir embora com ele assim. – Carmen, que estava calada desde o corte de Matteo, veio em nossa direção.
- Não encosta no meu filho. – falei abraçando Karol e Matteo.
Em alguns poucos minutos ele acordou. Nós não saímos da frente da casa, mas eu não deixei que ninguém chegasse perto dele. Saímos sem falar nada. Eu já tinha dito tudo que tinha que dizer. Por mim, não teríamos mais nenhum tipo de conversa que não fosse com um advogado.
- Ele dormiu. – Karol voltou do quarto. Eu estava na sala conversando com Lívia, que pediu para que eu explicasse toda a situação.
- Que bom. – falei e ela sentou ao meu lado.
- Desculpa estar atrapalhando, mas fiquei tão horrorizada com o que me contaram que precisava de uma explicação.
- Imagina. Você merecia saber. – falei.
- Vocês formam um belo casal. – ela mudou o assunto – Fico muito feliz que esteja conseguindo superar.
- Ela me ajudou bastante. – lancei um olhar apaixonado para Karol.
- Quero o convite do casamento. – Lívia falou rindo – Você merece ser feliz, Rugg.
- Pode deixar que vou guardar um especialmente para você. – as duas riram como se já se conhecessem há tempos.
- Seu nome é Karol, certo? – ela perguntou.
- Isso.
- Sabe o que é uma grande coincidência, Bianca sempre me disse que amava esse nome.
- Sério? – Ka perguntou entusiasmada.
- Não sabia disso. – falei.
- Sim. Ela não comentava isso com ninguém além de mim, eu acho. Se eu me lembro era por alguém que ela conheceu com esse nome, quando era criança, e ficou meio que marcado.
- É uma coincidência mesmo. Quem sabe não era eu. – elas riram juntas novamente, como se fossem amigas.
- Quem sabe não era.
- Você aceita alguma coisa, Lili. Nem te ofereci nada. – falei.
- Uma água está ótimo.
- Deixa que eu pego. – Karo levantou, mas antes de chegar até a cozinha, parou e levou as mãos até a cabeça.
- Você está bem? – Lívia perguntou.
- Estou. É só uma tontura. – ela continuou parada no lugar.
- Amor você está branca. – corri até ela e Lívia fez o mesmo.
- Não vai me dizer que está enjoada. – Lívia falou ao ver Karol levando as mãos ao estômago.
- Só um pouco. – Ka respondeu deixando o corpo amolecer nos meus braços – Só preciso sentar. Deve ser porque levantei muito rápido.
Lívia me lançou um olhar sugestivo.
- Eu já vi essa cena antes. – ela disse.
- Amor você pode estar... Grávida? – perguntei e Karol arregalou os olhos.
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