– Foi ainda mais gostoso do que eu me lembrava – sussurrou Jared enquanto beijava desde a base de minha orelha e descia lentamente pela curvatura do meu pescoço. Seus beijos eram suaves, e ele entreabria a boca apenas o suficiente para que a sua língua seguisse um rastro quente e molhado pela minha pele, deixando-me toda arrepiada.
Subiu o olhar para o meu e focou aquelas íris azuis penetrantes em mim, analisando cada detalhe do meu rosto. Eu me sentia dopada, ainda sob o efeito do orgasmo intenso e arrebatador que tivera há poucos minutos atrás para falar ou sequer pensar em alguma coisa. O máximo que conseguia fazer era arfar e olhar para ele, lânguida e ao mesmo tempo fascinada, admirando a aparência de seu rosto que, ainda que escondido pela penumbra dentro do carro escuro e somente meio clareado pela lua, dava para ver um pouco de seus traços e só sabia pensar sobre o quão bonito eles eram. Diferente da última vez que o vira, sua barba agora estava recém-tirada e somente despontava para fora alguns dos pelos pequenos ao longo do queixo e todo o maxilar. E que maxilar...
Percebi que ele me encarava com a mesma intensidade, e, sentindo o meu rosto esquentar de vergonha, logo desviei meu olhar.
Jared pousou seus dedos em meu queixo e me fez erguer a cabeça novamente. Pude jurar ver uma insinuação de sorriso começar a aparecer em seus lábios. Um sorriso presunçoso, indicando ter me pego no flagra corando por sua causa.
– Eu infelizmente terei que ir agora. – Aproximou seu rosto do meu e me deu um beijo calmo. Claro que não resisti e acabei não hesitando em retribuir. Idiota, tonta, burra! – Sabe que vou querer vê-la mais vezes, não é? E nem adianta tentar fugir.
– Jared...
– Shhh... – pousou um dedo sobre meus lábios. – Acredito que já tenha sido claro o suficiente para que não me venha com nenhuma objeção sobre isso.
– Mas eu não...
– Não aceito “Não” como resposta, Willa – interrompeu-me outra vez. Ele deu um pequeno sorriso, que me fez franzir o cenho dessa vez sem entender o seu motivo para isso, então levantou minha calcinha que estava enrolada sobre minhas pernas e em seguida fez o mesmo com minha calça legging, vestindo-me.
Foi só então que minha consciência acordou sobre onde e em que estado eu ainda me encontrava, nua e sentada de modo totalmente exposto em seu colo.
– Ai, meu Deus! – Saí de cima dele de forma tão ligeira que bati com meu joelho no volante e gemi de dor ao aterrissar de bunda no outro banco. Fui tomada pelo total constrangimento e comecei a procurar minha blusa ao me dar conta que enquanto Jared ainda mantinha-se perfeitamente vestido, meus seios estavam totalmente à mostra. Como havia me deixado chegar a este ponto?!
– Você sabe que não precisa disso. – Murmurou ele entre um riso abafado, e apenas ignorei completamente, começando a me vestir.
Podia até parecer algo um tanto bobo e estúpido eu me envergonhar pelo fato de meus seios estarem expostos, considerando que havíamos acabado de fazer sexo e ele já me vira nua antes de qualquer forma. Porém, mesmo após tudo o que permitira que Jared fizesse comigo até essa altura, de forma alguma eu iria me reduzir ao nível de qualquer outra vadia a qual ele já transou antes e que sem nenhuma dúvida se sentiria à vontade ao deixar seus peitos em plena vista para ele durante o tempo que quisesse – elas sim, mas eu não. Se ainda queria mostrar para Jared pelo menos o resquício de dignidade que ainda possuía, a mínima atitude civilizada que poderia ter era a de tratar de vestir minha blusa, por mais insignificante e bobo que isso pudesse ser para ele.
Foi exatamente o que fiz e nem me limitei a lhe dirigir o olhar após isso.
Quando iria abrir a porta do carro para escapar dali o quanto antes, senti sua mão envolver o meu braço e me forçar a virar em sua direção bruscamente, o que me surpreendeu.
– Não se atreva a sair assim e fingir que nada aconteceu. – Disse ele em voz baixa e tom cortante, dessa vez sem esboçar nenhum sorriso ou divertimento no olhar. Eu tinha plena consciência de que essa era a segunda vez contando com a última que tentei sair de supetão de seu carro sem ousar falar ou sequer olhar para ele, então sim, entendia perfeitamente o porquê de estar irritado com minha atitude. Mas, bom, o fato de eu compreender o seu lado também não queria dizer que deveria me achar errada por pelo menos ter tentado “fugir” da situação sem que ele me impedisse.
Levou uma mão até o meu rosto e passou o polegar sobre minha bochecha, fazendo-me no mesmo instante fechar os olhos e me odiar por gostar tanto da sensação de seu pequeno contato contra minha pele. Meu Deus, em que merda eu havia me metido?
Ele murmurou após um tempo:
– Claramente sentimos atração um pelo outro, então por que correr contra?
– Porque é errado. – Repliquei sem hesitar. Era a verdade.
– Eu não dou a mínima.
– Mas eu sim! – exclamei em um tom indignado. Como ele ousava dizer com tanta naturalidade que não dava a mínima? Até onde eu ainda sabia, meu namorado era seu amigo, pelo amor de Deus! O quão mais baixo isso podia chegar a ser? – E, se não se importa – prossegui –, agradeceria se me respeitasse por isso.
Eu ia sair, mas o aperto de sua mão em meu braço me fez recuar e voltar para o assento novamente.
– Isso não é um adeus, Willa. – Falou duramente e sério, o seu olhar carregado de tanta intensidade que me fez engolir em seco com o coração disparado. – Que fique bem claro.
Sem dizer uma palavra, direcionei meu olhar para sua mão, o que foi o bastante para fazê-lo se dar conta que ainda me segurava, e, assim que senti o aperto de seus dedos afrouxarem, saí do carro e segui a passos largos de volta para o prédio onde morava. Em momento algum ousei olhar para trás.
...
Sophia falava compulsivamente em minha frente e sua voz para mim só parecia cada vez mais distante enquanto estávamos sentadas em uma mesa de Starbucks. Eu só conseguia a fitar sem nenhuma expressão enquanto observava sua boca se mexer, dando somente breves pausas para tomar do seu milk shake, e então ela voltava a falar e gesticular novamente.
Sinceramente, não ouvia uma palavra do que dizia.
– Você está bem? – sua voz em um tom preocupado me fez em um ímpeto acordar do transe e, percebendo que ela me olhava estranho, prontamente afirmei com a cabeça em um aceno automático. – Tem certeza? Faz tempo que estou tagarelando e você parece estar com a cabeça fora da Terra enquanto isso. Sem falar que ainda nem tocou no seu cappuccino.
Eu olhei para a grande caneca de vidro ainda cheia até a borda e até então intocável em cima da mesa. Soltei um suspiro pesado.
– Não tive uma boa noite de sono. Só isso. – Não era totalmente mentira. Depois que me “despedi” de Jared eu só conseguia rolar e rolar na cama, minha mente sem descansar um segundo sequer remoendo tudo o que acontecera desde o momento que recebi sua ligação até tudo o que ocorrera depois. Quando por fim consegui me render ao sono, a fraca iluminação do sol já começava a atravessar a cortina do quarto e pouco depois, o som irritantemente estridente do despertador que programara para apitar todas as manhãs na hora de vir ao trabalho começou a soar e me acordou. Ou seja, não dormi absolutamente nada e agora provavelmente estava com lindas bolsas de olheiras abaixo dos olhos, que também ardiam pelo cansaço e com certeza estavam vermelhos.
Que maravilha, pensei, bufando pelo que acredito ter sido a quinquagésima vez nesse dia.
– E já vi que pelo visto seu humor também não está dos melhores – observou Sophia, recebendo apenas o meu olhar em troca como se dissesse: “Sério? E você percebeu somente agora?”. Ela riu da situação, o que só me fez fechar ainda mais a cara. – Tudo bem, não vamos mais falar sobre o seu estado de espírito então.
– Obrigada. – Por fim levei a caneca aos lábios tomando o primeiro gole do cappuccino que, para minha felicidade, ainda estava quentinho e bastante coberto por calda de chocolate.
– Já pensou sobre o que fazer com relação ao que conversamos ontem? – indagou ela, fazendo-me erguer o olhar enquanto ainda ingeria devagar o líquido morno e achocolatado, já sentindo formar um bigode de espuma acima do meu lábio superior. – Você sabe: quanto ao Peter e você contar o que aconteceu para ele...
Eu me engasguei com o líquido antes que Sophia concluísse a frase. Merda!
Percebi quando ela engoliu uma risada, provavelmente temendo me deixar irritada com o ato. Fez bem.
– Desculpe. – Abriu um sorrisinho sem graça, enquanto eu tentava limpar, em vão, minha blusa de malha com o guardanapo.
Eu preferi não lhe responder. Sabia que ela se referia ao conselho que me dera sobre pensar se devia ou não contar para Peter que o traí com Jared, que, aliás, era a última pessoa que eu gostaria de falar ou pensar no momento, mesmo que a parte de pensar fosse uma missão impossível.
– Bom... – comecei, já torcendo com todas as forças para que mudasse logo de assunto, já que previa o rumo que isso iria tomar e não estava nem um pouco a fim de tratar sobre isso nesse momento. De preferência, nem em nenhuma outra hora. – Eu não sei se isso é uma boa ideia agora, Sophia.
Deus, me ajude!, pensei tentando disfarçar o meu desespero, imediatamente desviando meu olhar do dela, que me fitava desconfiada. Sophia tinha esse estranho poder de sempre me desvendar antes que eu revelasse o que quer que lhe escondesse, e isso sempre resultava a me deixar sem saída, não tendo outra escolha senão lhe contar a verdade ou então simplesmente esperar até que ela deduzisse tudo sozinha. O que era uma droga, porque muitas das vezes eu não queria que ela soubesse. Como agora, por exemplo.
– Ele te procurou de novo, não foi? – Não disse que deduziria? Deixei escapar um suspiro derrotado e abaixei a cabeça, passando a fitar o nó de meus dedos e mordendo o lábio inferior. – Você sabe que pode me contar.
– Não é necessário responder o que já está óbvio, não é? – olhei para ela, até que uma certa curiosidade me fez franzir o cenho. – Mas, c-como você...?
Dessa vez foi ela quem abaixou levemente a cabeça, ficando corada. Estranhei de imediato. Sophia nunca ficava corada.
– Tudo bem, eu confesso! – por fim exclamou após um suspiro derrotado. – Ouvi você saindo do apartamento durante a madrugada. E, bom... isso foi o bastante para que já deduzisse tudo.
– Sophia! – meu tom era de repreensão, embora tivesse plena consciência de que ela não tinha culpa de nada.
– Mas não se preocupe! – ela se apressou em acrescentar: – Eu não a segui pra ver até onde iria, por mais que a curiosidade me corroesse para que fizesse isso.
– Que bom que não fez... – admiti baixinho e com alívio, mas é claro, ela ouviu.
Sua sobrancelha ergueu-se em um arco e começou a abrir um sorrisinho.
– Então é verdade? Você foi se encontrar com ele?
O rubor forte que tomou conta do meu rosto nesse momento, deixando-me tão vermelha quanto um tomate, tenho certeza, sem dúvida dispensou respostas.
– Ai meu Deus, Willa! – sua reação espantosa ao mesmo tempo em que até com entusiasmo era tudo o que eu não esperava. – Vocês transaram, de novo?!
– Shiiiiiiiiiiu! Não precisa berrar isso pra lanchonete inteira!
Sophia levou as mãos aos lábios, contendo-se para não explodir em risadas como se o que acabara de descobrir fosse divertido demais para ser verdade.
– Desculpe, desculpe. – Ela assumiu uma posição ereta na cadeira e passou a me fitar seriamente (ou pelo menos tentando), enquanto já parecia mais recomposta. – Então... o que vai fazer quanto a isso?
– Fazer? – franzi a testa sem entender. – E o que a faz pensar que eu devo fazer alguma coisa?
– Bom... alguma atitude você precisa tomar. O que não pode fazer é continuar transando com este homem como se não estivesse em um compromisso sério com outro. Sendo que você está, e há três anos, a propósito.
– Você fala como se eu não tivesse consciência disso...
– Mas é claro que tem. E é por isso que, como uma amiga que sabe que tem o dever de dar conselhos certos e adequados, estou lhe dizendo isto. – Suspirou pesadamente. – Só tem duas opções, Willa: Ou você continua com o Peter sem precisar que ele saiba de algo, claro que, com a condição de não traí-lo outra vez, ou você é franca com ele e conta toda a verdade. Mas aí vai ter que estar preparada para o que vier em seguida.
E era exatamente isso o que eu temia. Como Peter iria reagir se eu lhe contasse? Havia três anos que estávamos juntos, e durante todo esse tempo eu poderia afirmar, com toda a sinceridade, que me importei com o que tínhamos e não fui capaz de trair sua confiança uma única vez. Ele já me dissera diversas vezes que me amava, e eu via sempre tanta sinceridade vinda de suas palavras, que, embora o que eu sentia por ele não fosse recíproco, sabia que a culpa iria me destruir ao ver o quão magoado ele ficaria quando soubesse de tudo.
Deixei escapar um suspiro de forma cabisbaixa. Não sabia se conseguiria...
– Mas, se quer saber. – Continuou Sophia, atraindo minha total atenção a suas palavras. – Se você foi capaz de recair pela segunda vez ao que quer que sinta por este homem, não acho difícil que aconteça novamente. Precisa tomar cuidado com ele, Willa. – Ela engoliu em seco antes de prosseguir, sua expressão agora era séria e logo me fez estranhar sua mudança súbita. – Olha, eu... não deveria lhe contar isso, mas...
– Contar o quê? – insisti em saber imediatamente.
– Merda! – ela praguejou baixinho, e isso foi o suficiente para me fazer perceber que o que quer que estivesse prestes a me dizer antes, agora estava hesitando para que não fizesse.
– Sophia... contar o quê? – perguntei novamente, dessa vez em um tom desconfiado e já ficando impaciente. E ela ainda hesitava. – Sophia, quer abrir a boca logo de uma vez?!
Foi então que soltou abruptamente:
– Peter planeja pedi-la em casamento quando voltar da França!
Minha mão que segurava a caneca com o cappuccino abaixou-se de uma só vez provocando um baque forte na mesa de vidro.
– O quê?!
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