- Como foi na escola? - minha mãe perguntou, sem desviar a atenção do prato de comida.
Ela sempre perguntava. Eu imaginava que o motivo era ela saber que eu costumava ficar mais sozinha do que o normal o tempo todo. Talvez ela só estivesse tentando mostrar que ela se importava. O talvez sentia medo de eu ter arrumado mais algum problema.
- Normal. As mesmas aulas, as mesmas pessoas. E uma aluna nova. - fiz pouco caso.
- É? - me olhou. - Quem?
- Lauren.
- Lauren?
- Jauregui.
- Não conheço sobrenome. Ela sempre morou aqui?
- Não, se mudou esses dias.
- Ah, sim. E como foi? Vocês conversaram?
- Sim. Ela parece ser uma boa pessoa.
- Ela te tratou bem?
- Sim, mãe.
- Que bom, filha. Tente fazer amizade com ela. Tem tempo que não te vejo com uma amiga. Estou até sentindo falta da Madison, por que não a chama mais para vim aqui?
- Ela sempre está ocupada demais com a Anne.
- E você não fala mais com a Anne?
- Não.
- Eu não entendo você. Parece que gosta de desfazer suas amizades.
- Mãe, não é isso, você devia saber. E eu não quero falar sobre a Anne ou a Madison. Preciso dormir um pouco, estou com muito sono.
Ela bufou.
- Tudo bem. Vou sair daqui a meia hora para o trabalho, se precisar de mim é só ligar.
- Eu sei. Até mais tarde.
Passei por ela e lhe dei um beijo no rosto antes de ir para me quarto. E foi lá que fiquei o resto da tarde. Logo depois de dormir por umas duas horas, peguei meu material de matemática. Eu esperava que se desse uma boa olhada na matéria durante um bom tempo, eu conseguiria entender um pouco. Mas isso não aconteceu. Sempre tive uma dificuldade enorme para aprender matemática. O problema era que estávamos no último semestre e eu precisava de uma nota maior.
Quando cheguei na sala, Madison e Anne já estavam lá. Assim como Lauren. Pensei que eu poderia apenas me sentar e ficar quieta no meu canto, mas Anne começou a puxar assunto.
- Eu e a Madison estávamos pensando em assistir um filme na minha casa hoje. Ou na casa dela. Você podia ir. - ela disse para mim.
- É. Talvez eu vá.
- Talvez não. Sempre que você fala talvez você acaba não indo. - Madison disse.
- Se der, eu vou.
As duas se olharam, sabendo que não adiantaria falar mais nada. Como eu estava sentada de lado, pude ver que Lauren prestava atenção na conversar que já havia acabado. Pensei em falar com ela, mas eu nunca puxava assunto com ninguém e, na verdade, nem sabia como fazer isso.
Ela passou a maior parte do tempo conversando com Olivia, sobre diversos assunto que não me interessavam nem um pouco. Eu, realmente, estava curiosa para saber o que levava Olivia a se interessar tanto por ela a ponto de estar sempre começando alguma conversa. Mas não era da minha conta.
Na hora do intervalo, pensei que setia como no dia anterior. Pensei que Lauren ficaria na sala e puxaria algum assunto comigo, mas não ficou. Saiu com Olivia e o grupinho de lacraias que não iam com a minha cara. Isso me deixou curiosa pois, antes dela sair da sala, me deu uma olhada. Não que tivesse me afetado, claro.
- Eu já disse várias vezes, Camila. Não posso ser boazinha com você para sempre e te deixar sentada na arquibancada em todas as aulas. Tenho certeza que vai odiar mais a recuperação do que jogar queimada algumas vezes.
- Prefiro a recuperação.
- Eu não. Ninguém nunca fica de recuperação em Educação física e eu não quero ter que me dar ao trabalho de aplicar uma prova para um aluno só. Você vai fazer um esforço, pelo menos hoje. Levante e entre no grupo da Alice.
Eu sabia que se eu discutisse ela, provavelmente, me mandaria para a diretoria. E eu não precisava de mais reclamações sobre mim. Minha mãe muito menos. Bufei alto e fiz como ela mandou.
- Relaxa, não precisa pegar a bola, nem nada. É só fugir dela e se defender. - Alice disse.
Sorri pra ela, como agradecimento pela força.
Foi o que eu tentei fazer durante toda a partida. As meninas do outro time acharam que seria fácil me queimar, pois eu era a mais fraca, então começaram a me marcar. Mas eu era boa para me defender. A não ser que quem estivesse com a bola fosse Lauren, claro. Na primeira jogada, ela conseguiu me queimar. Eu não teria ficado puta da vida se ela não tivesse usado tanta força, mas ela usou. Isso causou uma dor e uma marca roxa grande na minha coxa.
- Merda! - eu gritei, logo depois de cair.
Algumas meninas perguntaram se eu estava bem e eu apenas concordei, me levantando e indo de volta para a arquibancada. Evitei olhar para Lauren. Não queria descobrir se ela se sentia culpada ou se estava rindo da minha cara.
- Muito bem, meninas. Podem ir para os chuveiros. - a professora disse.
Antes que eu pudesse me levantar, tive uma surpresa nada agradável. Dylan entrou na quadra e começou a conversar com a professora. Eu tentei mesmo fingir qur eu não dava a mínima, assim como tentei fingir que não ligava pro fato de ele não ter me olhado nem por um segundo. Mas não deu muito certo. E o poir foi que Lauren pareceu notar. A ignorei também, passando direto.
Eu fiz de tudo para não ter que ir até a casa de Madison. Mas ela me ligou a tarde inteira e minha mãe descobriu o motivo, o que a fez me obrigar a ir, por achar que eu devia sair um pouco de casa.
As duas estavam fazendo pipoca quando cheguei. Claro que ficaram felizes por eu ter ido, na verdade, não engoli a felicidade de Anne. Mas eu não podia fazer nada a respeito.
- Acho que nós devíamos ver Mercy. Saiu hoje no Netflix. - Madison disse, enquanto íamos para o quarto.
- É sobre o que? - Anne perguntou.
- Não tenho a mínima idéia. Mas acho que é bom.
- Se você diz. Eu nem vou dar opniões, sou péssima pra escolher filmes.
- Sabe de algum legal, Camila?
- Não. - fiz pouco caso.
- Por que estou tendo a sensação de que você não está muito afim de ficar aqui? - Anne perguntou.
Eu queria mesmo poder jogar a verdade na cara dela. Não só aquelas, mas muitas. Só que eu não faria aquilo. Eu iria acabar começando uma briga e eu nunca fui do tipo que gosta de brigar na casa dos outros.
- Não é isso, só tô um pouco cansada. - menti.
- Deve ser porque ela jogou queimada hoje, Anne. Ela nunca joga, deve estar exausta.
- Verdade! Que milagre foi esse?
- A professora me obrigou. Eu não queria mais uma advertência, então obedeci.
- Entendi. - riu. - Aquela aluna nova joga bem. Acho que, pela bolada que ela te deu, não deve ter ido muito com a sua cara.
O comentário havia sido mais do que desnecessário. Porém, antes que eu pudesse dizer algo, Madison começou.
- Na verdade, acho que Lauren gostou dela sim, Anne. As duas estavam conversando óntem lembra?
- Isso não diz nada.
- Na verdade, diz. Pelo jeito que ela olhava para a Camila, não parecia ter nada contra.
- Ah, eu não sei. Só sei que deve ter ficado bem roxo. - riu.
- Bom, vamos ver o filme, antes que fique muito tarde.
Eu odiava ter que ir no supermercado, sempre odiei. Minha mãe costumava me dar uma lista enorme de coisas para comprar e nem mais um dolar para comprar algo que eu quisesse. Eu sabia que o motivo era o medo dela de que eu exagerasse, mas ela podia diminuir a pressão.
A última coisa que faltava na lista era tomates, e eu era péssima para escolher. Minha mãe sempre reclamou, dizendo que eu escolhia os piores. Mas eu não ligava. Continuava pegando os primeiros que via.
- O que vai fazer com isso tudo?
Eu reconheci a voz antes de tirar meu olhar da sacola e me deparar com Lauren na minha frente. Tentei fingir que não dava a mínima para a sua presença mas ela, com certeza, reparou que eu havia ficado surpresa.
- Pergunte para a minha mãe, se quiser. Só estou seguindo uma lista. - fui o mais grossa possível.
- Por que está falando assim? - riu.
- Assim como? - me fiz de desentendida.
- Mais seca do que o normal. Está chateada por causa da bolada? Eu ia me desculpar, mas achei que tinha levado numa boa.
Foi a minha vez de rir.
- Numa boa? Aquilo doeu!
- Ah, então é por isso, mesmo. - voltou a rir.
- Não, não é?
- Então é o que? Ah! Já sei. Eu aposto que tem algo a ver com o garoto que entrou na quadra.
Congelei ao me dar conta de que ela estava falando do Dylan. Ninguém falava mais dele perto de mim a um tempo, pois todos sabiam como eu ficava, e respeitavam.
- Não sei do que está falando.
- Você sabe.
- Não quero falar sobre isso, e isso nem é da sua conta.
Joguei a sacola no carrinho de compras e me virei para ir embora. Mas ela continuou.
- Olha, me desculpa pela bolada. E me desculpa por me meter em um assunto pessoal. Mas você não precisa ficar assim comigo.
- Eu tenho que ir.
Ela me analisou por um tempo, antes de, finalmente, responder.
- Tudo bem. - disse antes de sair, antes mesmo de mim.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.