O céu estava infestado pela densas nuvens cinzas, o dia parecia a noite e os animais estavam agitados. O homem corria, tentando escapar de algo, ou alguém. A floresta parecia dez vezes mais fechada e cheia de árvores.
Estava visivelmente assustado, corria mais do que jamais correu em toda sua vida. Esbarrava em galhos arranhando o rosto, rasgando sua capa, mas não ligava para isso, queria apenas fugir. Pulou um galho no chão e o tecido de sua capa agarrou, se virou e tentou ao máximo puxa-la.
— Merda, merda. Solta! — Ele gritou sentindo seus olhos marejarem. Olhou para trás e viu o vulto preto se aproximar, desamarrou a capa e voltou a correr.
Correu, correu, correu pelo que pareceu incontáveis minutos, até tropeçar e cair de cara no chão. Tentou se levantar mas a coisa já estava em cima de si, sentiu algo invadir sua boca, tinha gosto e textura de terra. Se engasgou tentando respirar, mas foi em vão. Sentiu todo o seu corpo ter espasmos enquanto seu peito pegava fogo e sua visão se esvaia, em segundos não estava mais vivo.
A coisa vestida de preto subiu em cima do corpo sem vida e se pós a recolher sangue do mesmo com finos cilindros de ferro. Parecia ter se passado algum tempo e ele jogou a capa ao ar desaparecendo, o local em volta do homem morto estava coberto de terra, sem ao menos um floco de neve.
(...)
Um homem se debatia enquanto outro o segurava pressionando contra seu peito um ferro quente, marcando sua pele. Um triangulo e um pentagrama. Agora estava ele caído no chão, a expressão suavemente agoniada. O rosto bem desenhado, nariz e lábios finos. Talvez um homem conhecido.
Um circulo de fogo se formou em volta do homem desfalecido e logo as chamas consumiam toda a escuridão. O eco das chamas se consumindo se entrelaçava com o baixo sussurro que dizia: "Ele está vindo, se preparem para a chegada das trevas."
Mark levantou de súbito da cama, se engasgando com a ar. Estava suado e descontrolado, seus cabelo grudavam na testa e na nuca, seu coração parecia querer sair do peito enquanto tentava desesperadamente respirar. Em sua mente passava as cenas do recente pesadelo, que ele achava não ser apenas isso, tinha algo por trás desse sonho.
Olhou em volta do quarto, quieto de mais, geralmente Evan, Anne ou Dayane viriam lhe acordar. Levantou da cama sentindo a espaço em volta de si girar e se apoiou na cabeceira. Apertou os olhos e depois voltou a andar indo para o banheiro, onde havia uma grande banheira com água quente lhe esperando. Foi até a bancada de madeira e jogou um pouco da água gelada da bacia no rosto. Olhou para o espelho e depois se virou, tirando a calça e a blusa de linho e entrou na banheira, deitando-se e relaxando todo o corpo.
(...)
— Christopher, tenho boas noticias para você! — Antonie D'Amencourt, pai de Christopher, falou após entrar no quarto de seu filho.
O moreno mais novo se surpreendeu apertando a navalha no rosto e fazendo um pequeno corte na bochecha. Chiou com a pequena ardência e limpou o filete de sangue que escorria, se virando para o pai.
— Tem que chegar assim? Estava concentrado, me barbeando. — Reclamou indo até a pequena bacia d'água e molhando o pano no qual limpava o pequeno corte.
— Me desculpe, é que eu achei que deveria te informar o quanto antes! — O filho gesticulou para que continuasse. — Seu irmão, Castiel, está a caminho. Virá passar alguns meses conosco! — Exclamou o pai, fazendo o filho esboçar um grande desconforto. — Chegará em torno de dois dias, ou menos. Não está ansioso?
— Ah claro! Estou super ansioso, não vejo a hora de reencontrar meu irmão favorito! — Fingiu um sorriso.
Castiel, o típico irmão mais novo. Infernizando sempre que podia a vida de Christopher, fazendo-o levar toda o culpa de suas besteiras e tirando tudo o que o mais velho ama. Tendo toda a atenção da família para si, fazendo de tudo para ser o filho favorito, e tentando ter a única coisa de Christopher que nunca conseguiu: Mark.
O menino de nome angelical, apenas o nome, não poderia ser menos desgostado pelo irmão, na verdade, por seu irmão gêmeo.
— Ele vem para que? Quanto tempo ficará exatamente? — Bombardeou o pai com suas perguntas nervosas.
— Para matar a saudade da família. E ficará quanto tempo deseja. — Respondeu o pai se sentando no sofá perto a lareira. — Por que se importa com isso? Tenho certeza que amará esse tempo com seu irmão, já que ficaram separados por toda a juventude.
O moreno levantava as mãos para os céus por ter ficado o máximo de tempo longe de Castiel. Não eram exatamente idênticos, sempre tiveram as suas diferenças, tanto física quanto de personalidade. Seu pai sabia que ele e o outro filho não se davam bem, mas continuava insistindo em junta-los, e acabava provocando a ira de Christopher que levava a culpa de tudo no final.
— A mamãe vem? — Indagou fingindo desinteresse.
— Sim. Só que apenas daqui a algum tempo, junto com sua irmã Margareth. — Comemorou mentalmente. Sua mãe era a única que sabia o quanto o marido era injusto quando se tratava dos gêmeos. — Vou me retirar, preciso cuidar dos afazeres do rei enquanto ele está fora.
— Ele volta quando? — Perguntou pensando no caso do homem morto, e o possível envolvimento com hereges.
— Em breve. — O homem se levantou e saiu do quarto apressado. Christopher suspirou e se levantou, disposto a se arrumar para conversar com Mark.
(...)
— Então, de onde paramos da última vez? — Perguntou Dante vendo Amber preparar o chá. Ela encheu uma das várias xicaras e entregou para o homem. — Obrigado!
— Paramos em... Ah sim, você aceitou me contar a sua história. — Dante franziu as sobrancelhas.
— E o que eu ganho com isso? — Bebeu de seu chá fazendo uma careta e depois sorrindo. — Está delicioso! É de que?
— De jasmim e hortelã. — Respondeu servindo o chá para si mesma. — Ganhará a minha confiança e quem sabe não fiquemos mais próximos?
— Fechado! — Pegou um biscoito da badeja saboreando o gosto e textura crocante.
— Foi eu quem fiz os biscoitos, está bom? — Perguntou Amber.
— Ótimo! Faz chá, biscoitos, algo mais a revelar?
— Bom... Não foi eu quem fiz o chá. — Dante ergueu uma sobrancelha. — Um amigo, ele lida bem com plantas e raízes. Podemos começar a história, sou toda ouvidos!
— Está bem. — Dante pigarreou. — Minha mãe morreu quando eu tinha 3 anos de idade, foi levada por uma infecção no ouvido, nunca a conheci de verdade. Quando completei meus quinze anos meu pai teve grandes desavenças na Inglaterra e acabamos por vir morar aqui, na grande França. — Parou e olhou para o rosto de Amber, totalmente atenta a sua fala, com a expressão suave e delicada.
— Se considera mais francês ou Inglês? — Perguntou a menina com seu sorriso doce.
— Mesmo com os poucos anos passados aqui, em relação a Inglaterra, eu me considero bem mais francês! — Dante passou a mão nos cabelos, sem desarruma-los, e depois sorriu meigo para Amber. Seu sorriso era acolhedor, quente, como os raios de sol. Mas tinha algo em seus olhos, algo que fazia Amber recuar e se sentir intimidada, uma coisa sombria que, sua intuição dizia que, só descobriria depois de se entregar por inteira. — Os franceses são alegres, acolhedores e simpáticos. Digamos que na Inglaterra temos os homens de trabalho, aqui segue a diversão e animação acima das coisas tristes.
— Eu também me sinto assim em relação a esse lindo povo festivo! — O homem a sua frente ergueu novamente as sobrancelhas, provocando risadas na garota. — Também não sou francesa. Ou apenas você pode ter segredos?
— Não que apenas eu possa tê-los, pensei que apenas eu os tinha! — Respondeu afiado. — De onde é?
— Não contarei, não ainda. — Volveu olhando para a xicara de chá.
— O que tem demais? Me conte, não tem por que esconder. — Insistiu firmemente.
— Não chegou a hora.
— Apenas diga. Diga agora! — Bateu na mesa revoltado, assustando a menina. — Me desculpe, eu... eu... perco a paciência muito rápido. — Passou a mão pelos cabelo, novamente, e depois a escorregou pelo rosto
— Me desculpe, mas eu sinto que não devo dizer. Ainda saberá, apenas espere e confie em mim! — Implorou com os olhos brilhantes para Dante. — E não adiantará perguntar para as pessoas, muito menos tentar suborno. Apenas espere, em breve te direi.
— Está bem! — Jogou as mãos para o alto se endireitando na cadeira. — De onde paramos?
— Veio para a França na juventude... — Lembrou a morena bebericando o chá.
— Ah sim... Depois disso vivi com meu pai, sempre muito rigoroso e exigente, cresci regrado e até um pouco mimado. — Apertou o queixo entre o indicador e polegar, pensando. — Meu pai morreu a três anos, e desde então tenho viajado muito para a Inglaterra, para resolver problemas. Estou depois de dois anos, finalmente, parando para descansar em casa, depois de resolver mil coisas referente as heranças de família e outros...
— Meus sentimentos, pelo seu pai... — Amber sussurrou lembrando-se de sua perda. — Sabe... tem um motivo para estarmos nos conhecendo. Queria que me dissesse se realmente o entende, não quero criar expectativas...
— Claro, eu entendo. Precisa casar-se, certo? — Ela assentiu abaixando o olhar, com o rosto corado. — Não precisa se envergonhar, sei como a sociedade implica um casamento as mulheres. Já estive em encontros piores, onde as primeira palavras eram valores, estou realmente gostando de estar com você e se quiser podemos esperar.
— Não posso, cada dia é precioso e insubstituível. — Suspirou ao mesmo tempo que Dante. — Eu queria realmente poder te contar. Te dizer tudo sobre mim, sobre o que estou passando, meus sentimentos de agora. Mas eu não posso, não sem antes saber que posso realmente confiar em você!
Dante mordeu o lábio inferior e fechou os olhos. Amber que me pague! Pensou. Se ajoelhou na frente da jovem segurando suas mão, Amber saltou na cadeira com o ato inesperado.
— Quanto tempo? — Perguntou Edmas.
— O que?
— Quanto tempo precisará para que possa se abrir comigo? — Sustentava o olhar ligado ao de Amber. O verde e o castanho trocando constantes correntes elétricas, fazendo os pelos dos corpos de ambos se arrepiarem.
— Não sei... Não é como se tivesse um tempo para... — Ele rosnou para ela, intimidando-a. — Um mês, ou dois... para nos aproximarmos.
— Okay! — Respirou fundo e abriu a boca, desatando a fala. — Amber Stuart, você aceita estar em um compromisso comigo, Dante Edmas, sob os olhos de Deus e dos homens? Para que eu possa entende-la, faze-la confiar em mim e aprender a confiar em você? — A morena se espantou saltando na cadeira e abrindo a boca em surpresa. — É quase um pedido de noivado, teremos esses meses para nos entender e confiar um no outro. E no final poderá contar sem medo os seus objetivos.
— Eu... eu... bom é... — Recebeu um olhar repreensivo e nervoso. Não queria ver Dante explodir pela segunda vez. — Aceito. Contanto que andemos devagar, preciso que esteja disposto a largar tudo por isso. Não quero que se machuque!
— Estou disposto a qualquer coisa agora! Pode ser apenas um surto de coragem, mas eu não ligo, já tomei a minha decisão! — Afirmou beijando as mãos de Amber, a palma e as costas. — O que de tão secreto pode esconder? — Resmungou para si mesmo.
(...)
Christopher entrou no quarto de Mark e estranhou a quietude do lugar. Nenhuma serva arrumando a cama bagunçada ou sem bandejas com pratos e taças. Deu de ombros e continuou andando pelo quarto a procura do menor.
Não estava na sala de "chás", nem na sala de baús com roupas e outros, o último lugar para ver seria o banheiro. Entrou de macinho, e viu o loiro deitado na banheira. As gotículas de água escorrendo pelo seu rosto, a fumaça da água quente e a cor azul da água devido aos sais e sabão, tudo contrastava com o corpo delicado e ao mesmo tempo másculo do pequeno príncipe.
Sorriu sem nem perceber e se aproximou da banheira passando a mão nos cabelos áureos de Mark, repousando sua mão na testa do mesmo. Estava quente, muito mais do que a água, poderia ser uma febre alta.
— Mark! Mark, acorde! — Chacoalhou levemente os ombros do loiro, sem receber nenhum sinal de que iria acordar.
Se desesperou, qualquer febre em Mark era um sinal ruim, ele tinha a saúde frágil e qualquer coisa poderia deixa-lo em situações difíceis.
Procurou pelo cômodo algumas toalhas, após encontrar empurrou todas as coisas de uma longa mesa forrando-a com os panos brancos e macios. Voltou para a banheira e retirou Mark com cuidado, o colocando deitado em cima das tolhas brancas e o enrolou ali. Pegou Mark em seus braços e saiu do quarto, logo que saiu chamou a atenção de todos os guardas montados na porta.
— Não é nada, estou levando-o para a enfermaria! — Avisou apressando os passos para a sala de Aurélion.
— N..ão... L... — O loiro resmungava com uma expressão agoniada.
Logo Christopher chutava as grandes portas de madeira entrando na sala e gritando por Aurélion.
— O que foi? — O homem barbudo saiu de trás da tapeçaria na parede. — O que aconteceu?
— Eu... eu não sei, quando eu cheguei no quarto dele ele estava na banheira e não acordava. — O desespero era evidente no semblante do moreno. Ele o colocou em cima em uma das camas na sala enquanto o médico fazia seu trabalho. Minutos e mais minutos se passaram e agora Mark abria os olhos lentamente.
— Até que em fim acordou, por Deus Mark! — Se agachou ao lado do leito do menor, que se jogou nos braços dele caindo em prantos. — O que foi? Calma, está tudo bem! — O consolava sem realmente entender os motivos dele estar chorando. — O que aconteceu?
— E-Eu não sei... Eu tive um pesadelo... Parecia real, e eu acordei, fui tomar banho e acabei desmaiando, e vi mais coisas... — Ele soluçava e gaguejava tentando se acalmar. — Eu não quero que aconteça nada com você... Não posso deixar que te façam mal... — Ele repetia insistentemente, enquanto abraçava cada vez mais forte Christopher.
— Não vai acontecer nada. Eu estou aqui e vou ficar bem! — Se afastou de Mark, enxugando as lágrimas no mesmo e beijando seu rosto. — Pode nos contar o que viu? — O loiro assentiu. — Okay, então vou buscar uma roupa para você, enquanto Aurélion prepara um chá para te acalmar.
— Uhum... — Christopher beijou a testa de Mark e saiu da sala, indo fazer o que havia lhe dito.
Passaram se minutos e Mark estava tomando o chá de camomila, feito por Aurélion, enquanto esperava Christopher voltar com suas roupas. Estava tremendo e assustado, as imagens de Christopher sendo pego e sofrendo passavam por sua mente, amplificando todo o seu medo. O moreno passou pela porta, trazendo as roupas para Mark. Ele se vestiu e sentaram-se para conversar.
— Pode contar agora? — O loiro assentiu se acomodando nos braços do companheiro. Contou tudo, detalhe a detalhe, para os dois presentes na sala que não interromperam.
— Eu escutei sussurrarem o nome do que apareceu na escuridão... — Comentou Mark. — Mas não consigo me recordar...
— Esforce um pouco a mente, tente se lembrar do nome. — Aurélion pediu, recebendo uma negação. — E você disse que viu antes dele um homem correndo na floresta, faz ideia de quem possa ser? Ou o nome do sujeito? O lugar onde ele corria?
— Não! Eu me lembro um pouco do local. — Fungou, espirrando em seguida. — Não é longe do castelo, a floresta é meio densa, tem muitas árvores altas e um pouco finas.
— Floresta Tenebris! — Exclamou Aurélion. — É fácil se perder lá. Vou pedir uma equipe de soldados para que possamos investigar. Não sabemos se o sonho é uma premonição, ou só um pesadelo mesmo. Mas como achamos Alfred morto, precisamos ficar atentos!
— Não, não chame ninguém! — Mark falou após o mais velho se levantar. — Vamos apenas nós três, caso o contrário, se acharmos o homem morto vamos alertar os guardas que irão alertar o povo, e assim começaremos uma guerra.
— Tem razão, quando vamos? — O homem se sentou novamente, apoiando a cabeça nas mãos.
— Hoje! Vamos aproveitar que ainda é cedo. — Respondeu Mark se levantando. Em alguns minutos parecia ter recuperado todas as forças, ou era apenas a curiosidade. — Aurélion, por favor, mande preparar Luxs, Sccar e provisões para caça. Diga que vamos caçar!
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