- Se vamos morrer de qualquer jeito, que seja lutando. Rápido, vamos achar a Yoobin, Minji, Siyeon e Handong. - Bora tentava convencer as duas garotas acuadas ao seu lado.
- Isso não pode estar acontecendo. - Yoohyeon choramingou.
- O que você sabe mais sobre ela, hum?! Foi a única que a viu de perto e conversaram. - exigiu Bora à mais nova presente, que piscou aturdida.
- E-ela não me disse nada, foi c-como se... como se tivesse usado t-telepatia e eu já soubesse. - Gahyeon explicou falha, lembrando-se do episódio.
- Será algum tipo de vampiro? Vocês viram ela beber o sangue do menino. - Bora questionou pensativa.
- Está mais para uma espécie de d-demônio. - Yoohyeon retrucou aflita, mordendo os lábios, entretanto...
- Bruxa seria mais exato. - Yoobin vociferou para as três, que se sobressaltaram no lugar com a chegada abrupta da outra.
- Yoobin, ainda bem. - suspirou a Kim mais nova, a abraçando brevemente.
- Como sabe que é uma bruxa? - Bora questionou em seguida, com cenho franzido.
- Porque é provável que meus estudos em livros, tenham sido aproveitados. - provocou num riso ladino. - Vocês notaram o amuleto? - completou sucinta.
- A-amuleto? - instintivamente Bora tocou o próprio pescoço. Era à aquilo que se referiu a Lee? Não sabia.
- Sim, esses. São o símbolo de que a bruxa as olhou ou tocou. No caso de nós três, temos um ritual que pode retirá-lo. Quanto à ela... - suspirou voltando-se para Gahyeon, deixando a sentença se perder sem final.
- E-eu vou morrer? - Gahyeon arregalou os olhos, afobada.
- Não sei exatamente o que vai acontecer. Mas sei que não vamos ficar aqui para conversar. - indicou o caminho oposto e logo dois órfãos vieram em disparada, correndo do guarda afoito que estava na área.
- Todo lugar tem algo estranho aqui, uma espécie de bruxaria. E eles e-estão ficando sem sangue. - Bora observou baixo, ao notar que a cada momento, os órfãos iam diminuindo, assim como a fome das criaturas. Céus, estavam em apuros.
- O jardim, vamos pra lá! E depois fugiremos pela floresta. Minji unnie e Siyeon unnie estão lá também. - explicou a mais baixa, enquanto as quatro caminhavam depressa, dado o risco eminente.
[...]
O aposento de Kim ficava no último andar e Minji quase agradeceu num suspiro, ao ver a porta semi-aberta. Mas ainda deveria contar com o elemento surpresa, que estava ali dentro. Apesar de confiar muito no senhor Kim, ele não era mais o mesmo após os acontecimentos e teria de ter cautela.
Ao tomar aproximação com extremo cuidado, seus passos se cessaram ao averiguar a situação do escritório: muitos objetos atirados no chão, espelho quebrado, folhas de papel espalhadas e os móveis em completa desordem. O que tinha acontecido ali?
Nas paredes, as prateleiras de livros abrigavam diversos títulos e um deles chamou a atenção da garota, por estar lacrado num cadeado em forma de caveira e adornado por correntes. Era assustador e intrigante, todavia...
- E-eu sabia que v-viria até mi-im, Minji. - a voz farfalhada e masculina sibilou e a Kim estancou, paralizada e em alerta. Seus olhos então desceram até o piso, onde encontrou o autor da frase, sentado numa parte escura. Mas felizmente, este não fez nenhuma menção de se levantar, apenas lhe olhou.
Ele estava caótico. As vestes rasgadas, os olhos fundos, a pele sem viço e a postura desleixada, como se não comesse, bebesse ou dormisse à dias. Contudo, o que chamou mais a atenção da moça, foi o cheiro provindo do indivíduo: era ferroso, remetia à sangue. Ele realmente havia devorado pessoas.
- O-o senhor não e-está são, sei que não. - Minji temerou, com respiração entrecortada. Não sabia o que esperar e por isso manteve-se na distância segura, perto da porta.
- Eu não tenho salvação. Ela me conduziu ao caminho sem volta em troca da segurança de todos, mas... - desabafou numa pausa dramática. - Tudo foi uma mentira e agora viverei com essa culpa. - soluçou contido. O que tudo aquilo significava? Ele foi manipulado por alguém, mas quem? A mulher de capa? Eram muitas questões e por isso...
- Mas não teve culpa, ela te manipulou e os órfãos, alguns fugiram e... - Minji foi interrompida num silvo.
- Fuja, criança. Você foi a primeira à estar nesse lugar e merece uma chance de escapar desse tormento. Vá e leve isso, para espantar seu temor futuro. - o homem destacou em tom ameno e olhos opacos, estendendo das mãos um apanhador de sonhos. Ele parecia transtornado e talvez a jovem não pudesse mais ajudar.
- Mas senhor Kim... - persistiu em forma branda, porém o mesmo se ergueu, lento e com a fraqueza visível em seu físico. Minji até o ajudaria, mas temia pela vida e decidiu que não faria.
- Sabe, eu sempre a considerei como filha e desejo que encontre quem possa amá-la e cuidá-la. - sorriu curto, tocando a face da morena, que permitiu-o com lágrimas acumulando em seus olhos. Ver o fundador daquela forma lhe doía. - Você não é como nos pesadelos. Não acredite em nada do que ver em sonhos, são ilusões criadas por ela. - ciciou sofrido e tossiu, se afastando à passos largos.
- S-sonhos? - repetiu incerta, mas não teve tempo para uma conversação completa, pois um odor fétido havia adentrado o cômodo, seguido por um rugido bestial, como um arfar e... - Ah! - Minji gritou assustada, recolhendo-se contra a mobília, na fuga da trilha de aranhas peçonhentas que surgiu por ali, preenchendo o chão.
Não houve tempo para pensar, pois logo quando fez, viu a figura cadavérica entrar em sua capa encardida, retirando o capuz longo do rosto, que se revelou em aparência apodrecida, olhos cruéis, lábios roxos e feições envelhecidas, porém menos que anteriormente, quando aparecera no salão. O sangue a rejuvenescia? Céus, era doentio olhar por muito tempo.
- Veja só o que temos aqui. - a voz proferiu num tom letárgico, falho e esquisito que raspava eco e era quase sussurrado. Os cabelos em demasia brancos, se amontoaram sobre seu cenho, que se curvou num sorriso perverso, exibindo a fileira de dentes podres.
- N-não fará nada com ela. - Seungho se pôs na frente, em gesto de defesa e certa limitação pela dificuldade de se manter de pé. Ele arrastou-se debilitado, até chegar ao centro, onde duelou de frente com a criatura, que não pareceu feliz.
Apenas alargou o sorriso, estendendo o braço esquelético que num mero erguer, criou uma lufada de ventania, derrubando o fundador. Este que simplesmente gemeu no chão de madeira sujo, sob o olhar aterrorizado da Kim e num último suspiro, sorriu, sinalizando-a algo como "fuja". Mas a moça estava estática, em choque total.
- N-não! - o berro retumbou pelas paredes com o golpe afiado de uma adaga, que foi apunhalada nas costas do homem, em poucos segundos pela mulher maldita.
Com a vista pesada, o homem desfaleceu ali e mesmo com o peito em estilhaços, Minji se afastou ao passo que notou não ter escolha. Correu desenfreada, rumo ao exterior do orfanato com o pranto e a amarga imagem na mente, do homem sendo morto.
Tudo se tornou um grande pesadelo, deveriam fugir de uma vez por todas de Edgan e daquela mulher monstruosa. E seguindo para o jardim, avistou uma fuga, tateando nas mãos o apanhador de sonhos que foi entregue por Seungho e que possuía gravado em relevo: " Olhe no espelho, o portal de mundos. "
Aquilo teria algum significado? Tudo era tão confuso quanto poderia, mas a certeza seguia a mesma: precisavam sobreviver. As sete órfãs, sem exceção.
[...]
- Tem certeza que funcionará? - Yoohyeon temerou observando a lista de movimentos e ingredientes no livro, que Yoobin lia e relia, olhando as ilustrações que mostravam um grande círculo de giz, com símbolos e velas nas extremidades, além do centro formado por fogo e uma ampulheta, segurada pela pessoa.
- Acredito que sim, mas só teremos certeza fazendo. - ditou a mais nova, encarando o livro de páginas amareladas com incerteza.
- E quanto à Minji unnie? - especulou Siyeon ansiosa.
- Ela voltará. - garantiu Handong num sorriso acolhedor e assim...
- Não temos muito tempo. Há algum tipo de palavra mágica nesse contra feitiço? - questionou Bora desconfiada.
- S-sim, mas... alguém deve conjurar três vezes, enquanto a outra pessoa está no círculo. - orientou e imediatamente a Kim se aproximou.
- Isso é loucura. - um silêncio perdurou. Todas pareciam com medo pela gritaria persistente de dentro do Edgan. Não poderiam salvá-los, em breve todos os pequenos morreriam e com alguns fugitivos passando por elas apressados, ficava evidente, tinham de fugir junto.
- Vamos lá droga, n-não temos tempo à perder. Querem ser devoradas? - apressou Yoohyeon trêmula, no entanto...
- Yoohyeon está certa, estão chegando perto. Já esperamos muito. - Yoobin comunicou vendo a silhueta dos monstros nos arredores da estrutura do edifício e seus ruídos amedrontadores.
- M-mas a Minji unnie. - Siyeon se pronunciou chorosa e a mais nova iria rebatê-la com um acalento, contudo foram surpreendidas por uma freira, esta coberta de sangue inocente e com os dentes afiados na mira das garotas.
Contudo, Handong e Bora foram rápidas em detê-la com o auxílio de um galho, os punhos e puxões nas roupas compridas, afastando-a para a beira do pequeno chafariz, que serviu como um bom golpe para desorientá-la e correrem aflitas.
- Lobinha! - bradou Bora, vendo a morena parar no meio do percurso.
- N-não, eu não vou sem ela. - refutou conflituosa, referindo-se à mais velha de todas.
- Anda logo, temos que ir, não entende?! - discutiu a Kim impaciente, mas a jovem relutou em acatar e nisso...
- Vejam. - apontou Handong de repente, assim que as órfãs viram a silhueta de Minji, que havia derrubado a freira no encalço de todas, com um taco de beisebol, ao vir correndo.
- Unnie. - Siyeon foi a primeira à recepcionar a mais velha num abraço gentil, que foi retribuído com alívio. Todas estavam bem, enfim.
- P-precisamos ir embora daqui, rápido! - articulou Yoohyeon com urgência e assim seguiram em disparada para o caminho externo do jardim do orfanato, tomado por teias de aranha, que dava no portão grande e majestoso.
Este que Minji fechou com pesar, despedindo-se daquele lugar e também de tudo que viveu ali. Um pesadelo que jamais se esqueceria.
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