Jimin soube que não poderia pagar por tudo quando o funcionário do mercado anunciou o preço das compras.
— Trinta mil wons.
Mais cedo, saiu da escola, buscou Olívia na educação infantil e juntos voltaram para casa. Jimin tinha a tarde de folga dos pequenos serviços que fazia no restaurante, então planejou pagar algumas contas e ir ao mercado repor os alimentos.
Mas o grande imprevisto, aconteceu quando fora pegar o dinheiro que guardava em uma caixa embaixo da sua cama e descobriu que a metade dele havia estranhamente desaparecido.
Jimin queimou em raiva, porque sabia quem havia lhe roubado… era óbvio.
Quis matar Jongmin, deformar a face dele e torturá-lo. A vontade de chorar era grande, mas Jimin respirou profundamente, se acalmou e saiu, consciente de que sem todo o dinheiro que guardava para o mês, algumas contas ficariam atrasadas, já que sua prioridade era o aluguel e os alimentos.
E conseguiu, ou mais ou menos. O aluguel do pequeno prédio estava pago, mas seu problema ocorreu no mercado…
O funcionário no caixa mascava chiclete com a boca aberta e o encarava de forma arrogante como se estivesse pensando que Jimin não poderia pagar por tudo. E não poderia mesmo…
— Trinta mil wons ao todo — repetiu, impaciente.
Jimin ficou um pouco nervoso com a pressão silenciosa e analisou as compras expostas no balcão, escolhendo o que não levaria para casa. Precisava pensar somente no essencial.
Arroz, carne, verduras, frutas, biscoitos e… iogurte.
Olívia encontrava-se ao seu lado, segurando o Cooky. O coelhinho de pelúcia era rosa como iogurte de morango e a menina adorava a bebida gelada.
Jimin oscilou o olhar entre a irmã brincando com a pelúcia e o iogurte no balcão do mercado.
Comprimiu os lábios e sentiu o coração apertar ao tomar a decisão…
— Pode tirar o iogurte, por favor?
Ao menos, conseguiu pagar o aluguel e comprar coisas boas no mercado. Poderia ter levado o iogurte e feito muito mais se Jongmin não tivesse roubado seu dinheiro.
Quando ele e Olívia chegaram na entrada do prédio, a menina entrou saltitando com Cooky em mãos, já Jimin, entrou cansado por carregar tantas sacolas.
Andou pelo corredor com o peso nas mãos, escutando a irmã tagarelar sobre algum desenho e respondia vagamente com palavras como: "incrível", “muito legal” e “wow!”.
— Então eles voaram juntos para a terra dos doces! — Na porta, em frente ao apartamento, a menina abriu os bracinhos, animada. — Jiminnie você acha que algum dia a gente vai visitar a terra dos doces? O Cooky mora lá, você acha que ele vai convidar a gente para morar com ele?
— Com certeza, Lili — respondeu, mantendo a animação, mas no fundo sabia que Olívia jamais visitaria um lugar com tanto açúcar. A menina tinha predisposição genética para diabetes. Jimin cuidava da saúde dela e a alimentação da garota era regrada. — Pode abrir a porta para o mano, por favor?
Olívia fez o que foi pedido e entrou correndo no apartamento, ela esperou o irmão entrar e fechou a porta.
Toda vez que chegavam do mercado, a menina corria para a cozinha e começava a abrir os armários — os quais alcançava — para ajudar Jimin a guardar as compras.
E Jimin achou suspeito quando a irmã não agiu, apenas ficou parada, apertando Cooky em seus bracinhos.
Então moveu os olhos para a cozinha e assistiu Jongmin saindo do cômodo e andando em direção ao sofá na sala, segurando uma latinha de cerveja na mão. A TV estava ligada e o mais velho se jogou no estofado, sequer cumprimentando os irmãos mais novos.
Jimin suspirou e se controlou para a irritação não lhe dominar. Entrou na cozinha e deixou as sacolas sobre a mesa de plástico. Olívia o seguiu, se sentindo segura apenas na presença do irmão.
Ele começou a tirar os produtos das sacolas, notando que a irmã não estava mais tão alegre como antes.
— Ele vai ficar estranho com a gente? — perguntou a pequena, pensativa.
Jimin parou o que fazia para respondê-la:
— Não, ele não vai… vai ficar tudo bem, Lili… — Suas palavras não foram exatas, já que nem ele mesmo sabia o estado de Jongmin.
Sentia-se receoso e detestava que o mais velho bebesse, porque não poderia prever o que ele faria.
O efeito do álcool em Jongmin era uma incógnita. Às vezes, o homem ficava arrependido e implorava pelo perdão de Jimin, chegava a ajoelhar e chorar, se lamentando como queria ser um irmão melhor.
Mas em outras vezes — a maioria —, se tornava violento e não calculava suas ações.
No fim, Jimin acabava com um hematoma manchando a pele. Mesmo que eles nem discutissem, Jongmin o procurava, parecia fundamental para ele expressar sua raiva.
O álcool era o que lhe proporcionava a coragem e Jimin, era o instrumento onde essa agressividade era descontada.
Quando terminaram de guardar as compras, a ideia de levar Olívia no parque pareceu encantadora, tanto para que passasse um tempo com a irmã, como para evitar Jongmin. Jimin pediu para que a garota fosse para o quarto se agasalhar.
Ele também iria, só precisava passar um pano com desinfetante na mesa quadriculada da cozinha antes e era o que estava fazendo, mas parou ao encarar a imagem do corpo grande entrando no cômodo e abrindo a geladeira preguiçosamente.
— Antes que venha com sermão, não esqueça que eu te deixei metade do dinheiro. — Jongmin fechou a geladeira, com uma cerveja intocada na mão. — Não peguei tudo.
Jimin apertou o pedaço de pano em sua mão, sentindo a fúria queimar, correndo pelo corpo pequeno.
— Que grande irmão você é. Foi tão bondoso da sua parte deixar metade do meu dinheiro. — Virou-se para o maior, mantendo distância e continuou proferindo calmamente as palavras afiadas. A ironia era sua arma.
— Para com isso, Jimin — reclamou Jongmin, não estava agressivo. Parecia envergonhado…
— Você rouba o dinheiro que é usado para alimentar seus irmãos mais novos, mas deixa metade… eu deveria dizer obrigado pela consideração?
Jongmin não disse nada. Apenas abriu a cerveja e levou aos lábios.
— O que se passou pela sua cabeça? — Jimin indagou, alterado.
O mais velho continuou em silêncio.
— Me diz, seu babaca. O que você pensou enquanto pegava o meu dinheiro?
— Eu precisava, ok? — ele respondeu, entre dentes, começando a se irritar. — Se eu não pagasse, os caras para quem eu devo, viriam atrás de você. Que tal começar agradecendo pela proteção?
— Que merda de proteção? — Jimin aproximou-se, ficando cara a cara com o maior. Estava tão zangado que nem a preocupação de apanhar segurou as palavras que saíam pelos seus lábios. — Você nos protege dos mesmos caras que você mesmo voltou contra nós por ser a merda de um irresponsável viciado em poker? Se escuta, isso é ridículo!
Jongmin olhou enraivecido para o menor, ele respirava audivelmente e seus dedos longos apertaram com força a lata de cerveja, mas ele não disse nada. Jimin sentiu medo, não gostaria de sentir as mãos dele lhe machucando outra vez, contudo, mesmo assim não se afastou.
Os dois irmãos trocaram olhares significativos e se separaram somente quando Olívia entrou na cozinha do pequeno apartamento, perguntando a Jimin se eles poderiam ir de uma vez.
[...]
Eles não ficaram muito no parque. O tempo congelante do inverno não fora agradável com nenhum dos dois.
Olívia reclamou do vento batendo em seu rosto enquanto brincava na balança e Jimin, pouco agasalhado, tremeu de frio no banco da praça, abraçando o Cooky.
O caminho que percorreram de volta ao prédio fora desconfortável para a menina, o vento se tornou mais intenso no final da tarde. Jimin estava acostumado, afinal, à noite ele caminhava até a boate e voltava de madrugada, onde o tempo ficava quase insuportável.
Eles chegaram no prédio e mesmo que a entrada para o hall não tivesse porta, estava mais quente lá dentro.
Perto da cabine do porteiro — este nunca presente —, se encontrava um espaço onde havia a caixa de correio do condomínio. Cada apartamento continha uma caixa de correspondência.
Jimin segurava a mão de Olívia quando ela o lembrou de conferir as cartas. Provavelmente haviam apenas notificações de contas atrasadas, mas ele andou preguiçosamente com a menina saltitante ao lado.
Procurou pela caixa do apartamento número nove — o qual moravam —, tirou a chave do bolso e destrancou a gaveta. Estava um pouco enferrujada e quando ele conseguiu abri-la, ela tombou fortemente para frente e os papéis se espalharam pelo chão.
— Merda… — praguejou baixinho, se agachando para juntar os envelopes.
— Jiminnie, não pode falar palavras feias!
— Desculpa, Lili.
E continuou a juntar as cartas, lendo rapidamente sobre o que se tratava cada uma no sobrescrito, distraído.
Olívia cantarolava ao seu lado e agarrava Cooky pelas orelhas, conversando com ele.
Jimin abriu uma conta de água atrasada e ficou absorto lendo os prazos.
Preocupado demais, sequer percebeu o momento em que um homem trajando camiseta preta e jaqueta simples, se aproximou e destrancou uma das gavetas para pegar as correspondências.
A mão direita do homem, continha algumas tatuagens e veias grossas nítidas enquanto os dedos longos seguravam as cartas. A face dele era inexpressiva e a altura do corpo era demasiada, assim como os músculos.
Algumas crianças poderiam se assustar na presença daquele homem, mas Olívia…
— Com licença, moço.
A atenção do homem de fios castanhos e orelhas cobertas por brincos, se direcionou para a pequena menina o encarando com os olhos brilhantes e curiosos.
Visto que tinha a atenção do desconhecido, Olívia agarrou o capuz do moletom de Jimin, já que o irmão constantemente a alertava, não fale com estranhos.
Mas como estava com ele ao seu lado, Olívia não via problemas.
— O senhor é o novo vizinho, moço? — A voz infantil questionou. Ela não estava com medo, mas apertava o capuz do moletom de Jimin. — Do apartamento dez? A moça que morava lá não mora mais lá, então só pode ser você. Eu sei disso porque moro no apartamento nove, é do lado.
— Você é uma menina esperta. — O homem vestido de preto e feições viris, sorriu.
E Olívia rapidamente viu seu coelhinho Cooky naquele sorriso. Ela oscilou os olhos cintilantes na pelúcia rosa e no homem gigante. Olhou de um para o outro, ao mesmo tempo, em que sua mente compreendia a semelhança entre os dois.
— Eu sei, moço…
O moreno curvou os lábios finos em um sorriso, sua aparência não era assustadora para a garota. Não quando ele era tão parecido com Cooky.
— Esse é o meu irmão, você vai gostar dele, moço. Ele fecha os olhos quando sorri, ele é muito legal! Menos quando não me deixa assistir e comer doces…
— Oh! Por Deus, Lili! — Jimin levantou-se ligeiramente quando percebeu que Olívia não cantarolava mais, na verdade, a menina conversava. E seu espanto foi ainda maior ao processar com quem ela dialogava. — Oh!
Os lábios cheinhos formaram um círculo perfeito.
Aquele era o novato? Jeon Jungkook?
Que chegou naquele mesmo dia, se sentou ao seu lado, não trocou palavras com ninguém, escondeu a caixinha de cigarros no bolso… era mesmo ele?
O centro dos rumores e fofocas na escola.
Em apenas uma manhã, Jimin escutou tantas denominações a ele… o delinquente, o assustador, o mistério. Não acreditava em nenhuma história inventada sobre a vida dele, os estudantes eram criativos quando se tratava de elaborar boatos.
Ao menos, o Jeon lhe livrou de ser o foco das bocas maldosas por um tempo.
— O que… quer dizer… boa noite? — Jimin não sabia o que dizer, se sentia curioso sobre o que o homem estava fazendo ali, mas não fora complicado unir os pontos ao vê-lo com a chave e cartas na mão.
Claramente estava morando no prédio.
Os olhos escuros do moreno lhe fitaram por inteiro, sem disfarçar. Ele viajou de seus pés calçados pelo tênis surrado, até os fios de cabelo descoloridos.
Jimin apertou com força o envelope aberto entre os dedos que o seguravam e observou que as outras correspondências ainda se encontravam espalhadas sobre o chão.
Estava uma bagunça…
Agachou-se e se surpreendeu ao ver o homem grande em sua frente fazer o mesmo.
Jimin pegou as folhas de forma quase desesperada. Não gostava do fato de ter alguém que estudava na mesma escola por perto e não conhecia o Jeon, mas apenas imaginar que ele poderia ser o tipo de pessoa que criaria boatos sobre si, lhe receava.
— Então somos vizinhos. — A voz grave soou serena, era tão tranquila que não harmonizava com a fisionomia forte e aparência audaciosa. — Que coincidência, estudamos na mesma escola e agora te encontro por aqui.
— Eu… acho que sim. O bairro não é tão grande.
Sentiu-se constrangido quando ele juntou duas correspondências e fixou os olhos nelas antes de estendê-las para si.
Jimin as pegou e agradeceu baixinho, quase em um sussurro.
— Obrigado…
Olhou de relance para as cartas que ele lera e ficou mais envergonhado, dado que as duas eram contas atrasadas e isso estava estampado no sobrescrito.
Os dois se levantaram e Jimin mal conseguiu encará-lo.
Será que ele já sabia da sua vida? Será que ele assistiu ao vídeo? Será que o avisaram sobre o trabalho de Jimin ser em uma boate? Era inevitável indagar sobre essas questões…
O Jeon estudava na mesma escola que si e as notícias voavam de boca para boca.
— Escuta — Jimin o chamou, hesitante. — Você pode não comentar com ninguém sobre onde eu moro?
O moreno franziu o cenho, confuso.
— Por que eu diria isso para alguém?
Naquele momento, fitando a expressão do Jeon e analisando as palavras em sua resposta, Jimin percebeu que nenhum boato chegou-lhe ainda.
Se sentiu encabulado pelo equívoco…
Mas, por outro lado, se recordou da perseguição que sofreu quando descobriram sobre seu trabalho no clube. Ele aprendeu a desconfiar de qualquer pessoa que estudasse consigo… até um recém-chegado.
Não conhecia o Jeon, ele de fato poderia ignorar completamente a existência de Jimin, mas também poderia informar a localização do loiro para todos. O garoto que gravou seu vídeo tirando as roupas, queria popularidade e conseguiu, se Jungkook fosse como ele, poderia espalhar para todos onde Jimin morava.
E sofrer com a perseguição outra vez, era algo que não queria.
De qualquer forma, se surpreendeu por ele não saber. Fora uma das primeiras notícias contadas ao outro novato, o Kim. Jungkook não possuía conhecimento porque ainda não se enturmara, mas era apenas uma questão de tempo.
Jimin segurou levemente a mão de Olívia e um riso sem graça escapou dos seus lábios cheinhos.
— Me desculpa, não é nada. — Sorriu forçado e por educação, continuou: — Seja bem-vindo ao prédio…
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