Aquele dia seria apenas mais um dia normal de aula se o clima não tivesse conspirado contra os alunos de Ensino Médio.
— Você vai hoje, Jackson? - perguntei.
— Não. Está nevando muito.
— Então... Eu vou sozinha?
— Sei lá, cara. Você devia faltar - falou indiferente.
— Não posso faltar, Jackson! Tenho três trabalhos para entregar!
Revirou os olhos.
— Então volte a dormir!
Fui para a cozinha. Meus pais estavam lá.
— Tome seu café, (S/N). Vai esfriar - disse minha mãe.
Me sentei e tomei meu café da manhã.
— Pai, você pode me levar hoje? Eu não gosto de andar sozinha.
— Já está na hora de ser independente, não acha?
— Sim, mas...
— O que tem levar a menina, Jorge? Está chovendo! Quer que ela pegue esse tempo e fique resfriada?
Ele bufou e disse que me levaria.
• • •
Chegamos na escola. Me despedi do meu pai e saí do carro. A maioria dos alunos me olhavam de modo que estivessem surpresos por eu sair de um carro. De certo, achavam que minha família era pobre demais para ter um carro. Eles me associavam à pobreza pela minha cor.
— Oi, Yoongi!
— (S/N), oi! Achei que não viria, já estava te mandando mensagens. - falou, logo após sairmos de um abraço apertado.
— Eu... *celular vibra*
*Mensagem de Pai*
Pai: quem é esse garoto? eu ainda estou te vendo!
— O quê? - olhei para trás e meu pai ainda estava com o carro estacionado ali — ah, pronto!
— Que foi? - Yoongi perguntou e olhou na mesma direção que eu — É o seu pai?
— Sim!
Digitei uma resposta.
(S/N): é só um amigo, pai. Ele tem me ensinado coreano.
Pai: Hm. Não quero que namore agora!
(S/N): pai, pelo amor de Deus, né!
*bloqueia o celular*
— trouxe os trabalhos?
— Trouxe. - abri minha mochila.
Olhando para as gotas de água que se quebravam-se contra o chão, lá fora, eu indagava-me o que seria quando fosse mais velha.
Almejava me tornar uma advogada de sucesso e, futuramente, queria começar a fazer faculdade de Direito. Decidi isso aos treze anos.
Começara a juntar desde moedas de cinco centavos. Minha esperada faculdade precisaria ser paga, e enquanto eu esperasse a economia de outras pessoas — no caso, meus pais — não teria o direito de opinar em nada. Meu pai vivia a dizer que queria que eu estudasse Engenharia. Certamente, ele diria que só pagaria minha faculdade se eu estudasse Engenharia. Entretanto, meu eu interior me puxava para outras áreas.
Quatorze anos e pensando o que fazer da vida.
Eu gostava de planejar meu futuro. Gostava de me imaginar plenamente fazendo coisas que quero. O que me fez recordar que mudei com o tempo.
Aos cinco anos, queria ser uma bailarina e viver disso. Eu amava ballet, mas não o suficiente para não parar.
Parei de fazer ballet, porque aos sete anos quis ser uma cientista.
Aos oito, uma arqueóloga.
Aos dez, uma cantora. Porém, eu nem sabia cantar.
E ainda aos onze, quis ser jornalista.
Todavia, fui me conhecendo aos poucos, embora ainda estivesse em fase de auto conhecimento.
Eu queria me tornar uma advogada.
"Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças!
As pirâmides que novamente construíste
Não me parecem novas, nem estranhas;
Apenas as mesmas com novas vestimentas."
Willian Shakespeare
— No que tanto pensa? - Jimin me perguntou, quando Yoongi havia saído para ir ao banheiro.
— Eu nem estava pensando - ri, disfarçadamente.
— Aproveitando que o Yoongi saiu... - ele se aproximou, causando mínimo espanto de minha parte — Calma, não vou beijar você. Não sou talarico. Inclusive, quero falar sobre o Yoongi, mesmo. (S/N), acho que... acho que o Yoongi está gostando de v-
— O Yoongi está gostando de alguma garota?! Por que ele não me contou isso?
— Não! Quer dizer, sim! O Yoongi gosta d-
— DE QUEM O YOONGI GOSTA?
— De quem eu gosto, Jimin? - ele chegou, repentinamente, nos assustando.
Eles se olharam. Visivelmente, Yoongi estava furioso.
— Da... Da Sunhee, né?
Sunhee? Aquela líder de torcida nojenta que me olhava de forma nojenta e fazia suas seguidoras me olhar de forma nojenta, dizendo "lá vem a gorda"?
O olhei. Não era possível que ele gostava de uma pessoa como ela.
— Sim, Jimin. E daí que eu gosto dela? Não se intrometa mais na minha vida. Aliás, eu preciso conversar com você.
Ele o puxou para um lugar que eu não pudesse ouvir.
Eu não esperava que Yoongi fosse gostar de uma vagabunda como ela. Não que eu guardasse rancor, mas ela era uma das pessoas que mais me zoavam. E eu só sabia o nome dela porque ela era famosinha na escola pelo desejo que os garotos sentiam por ela. Ah, padrões tão enganosos. Linda por fora, podre por dentro.
Parecia que o garoto bonitinho da lojinha de balas havia sido picado pela cobra.
• • •
Yoongi
— Você ficou maluco, porra?! - perguntei, bravo.
— Por que você está tão puto, Yoongi? Eu ia falar a verdade!
— A (S/N) não precisa saber que eu gosto dela. Ainda é cedo demais. Ela entrou na minha vida há apenas três meses. E... eu nem sei se gosto mesmo dela, eu mal a conheço.
— Mas que você quer pegar ela, você quer.
— Quero, ué.
— Então deixa eu desenrolar ela pra você, mano.
— Que desenrolar o que, desenrolar meu ovo. Eu sei o que estou fazendo. Eu e ela somos amigos e quando eu tiver certeza do que eu sinto por ela, aí sim.
De forma alguma, eu contava que uma estrangeira apareceria na minha vida. Entretanto, eu não consideraria algo ruim. Muito pelo contrário. Gostava das diferenças que (S/N) trazia consigo. Um jeito totalmente diferente, uma aparência diferente, um falar diferente.
Tudo nela era novo. E eu adorava novidades.
Mas, não me via preparado para dizer isso à ela. Nossa amizade era foda, demais. E eu não podia estragar isso. Queria continuar indo na casa dela. Queria criar intimidade com ela. Ganhar sua confiança, seu respeito, seu carinho. Queria ganhá-la, mas quando tivesse certeza.
Ganhá-la, não como um prêmio, mas como uma dádiva.
Ganhá-la, mas não descartá-la em seguida; cuidá-la.
• • •
(S/N)
Algumas semanas depois, as provas já estavam marcadas. Embora eu sentisse algo por Yoongi, não podia deixar nossa amizade de lado, por mais que aquilo me magoasse. Eu não seria infantil, mas considerei que ele poderia ter me contado de quem estava gostando.
Não neguei a ajuda dele. Ele continuava me ensinando coreano e continuava me ajudando nas matérias. E daí que eu estava na friendzone? Essa dor não era tão inebriante quando a amizade que criamos.
— Você vai na minha casa hoje, Yoon?
— Vou. Mas antes, vamos passar na minha casa. Eu preciso pegar um casaco.
— Tá - concordei.
Enquanto andávamos até a casa dele, eu observava seus detalhes enquanto ele falava. Min Yoongi era muito bonito. E, quando ele se chamava de feio, eu era a primeira a beliscá-lo.
— Já volto. Quer entrar?
— Não, obrigada. Estou sentindo falta de ar. Te espero aqui.
Ser sedentária era uma coisa horrível.
Ele entrou.
De repente, a garagem da casa se abriu e um carro se estacionou por lá.
Uma mulher saíra. Blusa preta, salto alto, óculos. Cabelos e mãos feitos. Colar que custava um preço inestimável.
Quando me vira, ela levemente tomara um susto.
— Quem é você, garotinha? O que está fazendo na porta da minha casa? - indagou, me olhando com certo pavor.
— Ah... Eu estudo com o Yoongi.
— O quê? Mas meu filho não estuda numa escola pública.
— É, e nem eu. Eu estudo na sala dele, sra. Min. Para falar a verdade, somos amigos.
A porta se abriu.
— Pronto, (S/N), eu... MÃE?!
— Oi, filho. Cheguei mais cedo hoje. Aonde vai?
— Vou fazer um trabalho na casa da (S/N).
— O quê? Não vai, não! Você sabe que não pode andar nesses bairros perigosos.
Sinceramente, o que ela achava que eu fosse? Ela achava que eu iria levar o filho dela para a boca de fumo só porque eu era negra?
Yoongi levou a mão na testa. Vi a raiva estampada em seu rosto.
— Mãe, ela mora no nosso bairro! Que saco, vamos logo, (S/N).
Ele me puxou e fomos.
— Yoongi, por que você falou daquele jeito com a sua mãe? Se eu falasse assim com a minha mãe, ela molhava um pano e dava nas minhas pernas!
— Minha mãe é... Difícil de lidar.
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