— Querida, chegamos! - mamãe me acordara. Acordei e bocejei. Ah, chegamos. Eu deveria soltar fogos de artifício?
Saí do avião, acompanhada da minha família. Eu já estava em solo sul-coreano, embora custasse a acreditar. Minha mente ainda se concentrava no Brasil. Na minha pátria, meu idioma materno, minha cultura. A cultura brasileira. Sabe, quando eu dizia que o Brasil era uma merda, eu não queria dizer tãããão merda assim. Era uma merda amada, pelo menos. Uma merda que me faria falta. Quanto ódio eu semeava! Essa mudança súbita fez meus planos irem por água abaixo.
(Meus planos, no caso, tratavam-se apenas de beijar o garoto que eu gostava)
*quebra de tempo*
Admito, meus pais compraram uma boa casa.
Eu andava pela nova casa, explorando cada canto do novo lugar que iria residir. Três quartos. Quatro banheiros (um perto da sala, e os outros se dividiam por cada quarto). Duas varandas. Dois quintais. Uma sala de estar enorme. Uma cozinha comum.
Um quarto era dos meus pais, e ao lado do deles estava o quarto do Jackson. O meu ficava no segundo andar da casa e, sinceramente, me fora um motivo para comemorar: mais privacidade para mim!
— Quero pintar meu quarto, mãe! - sorri, admirando meu canto.
— Ah, garota! Acabamos de chegar, espere um pouco. Respire, (S/N). Não fale de gastar dinheiro, agora!
— Então vocês me obrigam a me mudar para um país de merda que fica do outro lado do mundo para me negarem tudo, novamente? Por que vocês nunca me dão nada? O Jackson tem tudo!
— Não tenho, não!
— Tem sim, Jack! Eles gostam mais de você do que de mim.
— (S/N), Chega! - meu pai gritou — você não tem direito de escolha, está bem? Nós somos sua família, somos seus pais e nós criamos as regras aqui. Ou você obedece, ou você obedece. Só cala a porra da boca.
Era incrível como minha família nunca me entendia. Para eles, eu sempre seria a pior filha do mundo. Mas eu já estava acostumada. Nunca me elogiaram, mesmo. Eu não entendia o porquê, já que sempre me esforçava para ter a aprovação deles em qualquer coisa que fizesse, qualquer passo que desse.
A verdade é que ninguém nunca vai me entender.
Meus sábados costumavam ser bons sábados. Neste dia, eu me reservava apenas para sair com minhas amigas. Mas, naquele dia, o sábado fora o pior. Ficar descarregando caixas fora minha única opção de entretenimento, e eu nem sei se isso pode ser considerado como entretenimento.
— Segunda-feira vocês dois começam na escola. Sem mais. Já fiz a matrícula.
— Ah, pai... Sério isso? - perguntou, Jackson.
— Sim. Vocês acham que vão ser alguma coisa na vida se não estudarem?
Entrei em desespero. Meu coração acelerou-se levemente e meu cérebro gritava "ERROR 404".
— Como assim ir para a escola? Minha mãe falou que eu poderia estudar virtualmente!
— (S/N), estudar virtualmente é mais caro!
— E daí? Vocês nunca se importaram em gastar dinheiro com coisas fúteis. Agora, quando é para mim é essa enrolação toda?
— Você está de castigo. Por tempo indeterminado. Vá para o seu quarto agora. E não resmunga, não.
Revirei os olhos e fui para o meu quarto. Ele nem podia ser chamado de quarto, ainda.
Enquanto organizava minhas coisas naquele lugar, a ficha caiu. Eu estava em outro país. Nunca mais veria qualquer um dos meus amigos.
Chorei. E caí sentada no chão. Chorei muito.
Comecei a pesquisar sobre as escolas coreanas e o comportamento dos nativos daqui em relação à estrangeiros.
Me senti um pouco apreensiva e resolvi testar.
— Mãe, posso ir comprar balas?
• • •
Eu realmente queria balas. Um doce não faria mal a ninguém. Para falar a verdade, um doce seria tudo de bom em meio à todo esse amargo que se tornara minha vida.
— Com licença, senhora. Você sabe aonde se vende balas por aqui? Desculpe o incômodo, é que eu acabei de me mudar.
Usei meu inglês para me comunicar, rezando que ela entendesse. Sua expressão facial demonstrava surpresa. E, por segundos que pareciam ser infindáveis, ela hesitou dizer qualquer coisa.
Olhava, com certo desdém, para minha pele. Percebi que olhara também o meu cabelo. Ah, qual é, ela nunca viu uma morena de cabelos cacheados na frente dela? Os coreanos realmente não estavam acostumados com as diferenças. Não estavam, mesmo.
Me senti entristecida.
—...É por ali.
— Obrigada - agradeci, cabisbaixa.
Percebi o desafio que enfrentaria nesse lugar. Se até uma senhora com sessenta anos aparentes agia como se eu fosse uma assaltante ou um monstro, imagina os meus colegas de classe.
Achei o lugar que vendia balas.
— Err... Oi! Boa tarde, senhora. Eu quero aquelas balas.
Paguei.
— Você não é daqui, menina, né?
— Não. Sou brasileira.
— Por que se mudou? - perguntou.
— Meus pais quiseram. Eu não faço a mínima ideia do porquê.
— Está gostando da Coréia?
— Não muito, na verdade, eu acabei de chegar. Não gostei muito, uma senhora acabou de agir como se eu fosse um alienígena!
— Ah, alguns ainda são assim, infelizmente. Mas sua pele é muito bonita, seu cabelo também.
- a velhinha sorriu. — Yoongi, meu filho! Venha aqui e pegue estas balas aqui em cima, você sabe que eu não alcanço! - gritou.
Subitamente, senti um frio inusitado na espinha. O menino que saira dos fundos da lojinha era muito bonito.
Ele pegou os doces.
— Pronto, vó.
— Obrigada, querido.
Agradeci e saí de lá.
Voltei para casa e me deparei com meu pai de braços cruzados me esperando no quarto.
— Você... Quer bala?
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