Eu andava pelos corredores da escola, com meus fones de ouvido. Não fazia ideia de onde o resto dos meus amigos estava, eu apenas estava sozinha. Estava tendo um tempo para mim mesma. Pude ponderar minhas escolhas com cautela. Pude sentar num banquinho e me imergir em relaxamento. Pude ouvir tranquilamente as músicas que compuseram minha playlist. Era (S/N) de frente para (S/N) apenas. Um momento entre o meu eu do passado e o meu eu do pretérito.
Minha vida teve seu rumo completamente alterado nesse meio tempo, pensei.
Eu havia mesmo mudado. Bom, na verdade, eu não havia mudado. Minha vida havia mudado.
Se eu ainda morasse no Brasil, estaria ficando com um garoto que mal conhecia e que não fazia meu tipo. Estaria estudando de forma medíocre, porque lá falta qualidade de educação nas escolas públicas. Estaria cercada de pessoas, mas me sentiria tristemente solitária. Minha alma se sentia solitária naquele meio.
Confesso, me mudar para um país oriental fora difícil no começo. Eu me senti deprimida e derrotada pela rejeição. Posto que minhas diferenças quebravam padrões, as pessoas faziam-me cara feia. Depois de um tempo, passei a me aproveitar disso. Pois é, queridos amigos, eu me tornei o deboche em pessoa.
Alguém me olhava torto? Que legal! Eu fazia pose e biquinho, mandava beijo.
Aprendi tudo isso com Min Yoongi; o garoto bonitinho da lojinha de balas, que furtara sorrateiramente o meu pensar com seu estonteante sorriso gengival.
Yoongi era o garoto mais belo dentre todos os quais eu já havia conhecido. Além de ser exteriormente bonito, era dono de um coração de ouro. Ele era o meu melhor amigo — que, no caso, eu amava dar longos beijos —, pois estava sempre a cuidar de mim em qualquer situação. Através dele eu conheci ótimos amigos e as namoradas deles, que também se tornaram minhas amigas. Aliás, se tornaram minhas amigas em um espaço curtíssimo de tempo, porque a minha loucura batia com a loucura delas.
O paradeiro de Hellen deixava meu coração perdido no meio de uma floresta de aflição. O medo me cercava. Eu tinha medo do que podia acontecê-la. Contudo, eu me acalmava mais com a voz serena de Min Yoongi me dizendo que tudo iria ficar bem. Mesmo eu estando incerta de que suas palavras fossem verdade, me permitia sentir o calor se seus braços acolhedores. E relaxava.
Repentinamente, meu escutar fora invadido. Barulhos de choro arromabavam as portas dos meus ouvidos. Segui o som.
Alguns passos depois, cheguei a uma garota chorando em posição fetal. Ela chorava tanto que nem percebeu que eu estava ali.
Senti a necessidade de falar com ela. Eu odiava ver pessoas chorando.
— Ahn... Está tudo bem? - me abaixei, ficando ao lado dela.
— Quem quer saber?
— o Justin Bieber que não é, né, flor - brinquei, mas olhava-a de forma séria.
— Olha aqui, estrangeira, eu nem sei da onde você veio, mas se é para ser grossa, n...
— Foi apenas uma brincadeira, menina. Cadê o senso de humor? E o que tem a ver eu ser estrangeira? Caralho, vocês implicam mesmo com as diferenças alheias, né? Sou estrangeira, sim. Sou brasileira. Com orgulho, com amor. Não sou daqui e estou tentando ajudar você. Porque eu sou um SER HUMANO tentando ajudar outro SER HUMANO e não há diferença nenhuma entre nós duas a não ser a aparência física. Você tem coração, tem sentimentos, tem órgãos, pele, osso. Eu também. Não sou de Marte.
Enquanto eu falava aquela resposta, algumas pessoas em volta pararam para escutar. Não falei mentira alguma. Acredito que fiz todas as pessoas que escutaram refletirem sobre o que minhas palavras denotavam naquele exato momento.
A garota de quinze anos aparentes olhou me nos olhos. Ficou calada por um longo tempo. Ela estava pensando. Também havia entrado na onda da reflexão.
— É... Você está certa. Me desculpe. Eu não queria que você se sentisse assim.
— Bom, não foi um erro apenas seu. É um erro coletivo. Sabe, eu estudo na classe de Sociologia. É, a ciência que estuda os relacionamentos humanos em sociedade. Eu gosto disso. Eu gosto de convivência, de colaboração, coletividade. Na minha opinião, o mundo seria bem melhor se as pessoas parassem de discriminar as outras pela aparência ou classe social.
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