Algumas semanas depois da minha festa de 15 anos, Yoongi começou a dizer que eu precisava ir para casa dele. Fazia sentido. Ele vinha direto na minha casa e conhecia minha família, mas eu nunca havia nem entrado na casa dele e não conhecia sua família. A gente namorava há oito meses, e eu realmente demorei para me tocar de que precisava conhecer a família do meu namorado.
Sinceramente, quando ele tocou no assunto, eu fiquei um pouco receosa. Sua vó não era problema, aliás, ela era uma pessoa muito gentil.
Todavia, eu tinha medo que seus pais não gostassem de mim.
Estrangeiros geralmente nunca se davam bem nas famílias coreanas. Eu havia pesquisado sobre isso antes de me mudar para a Coréia, mas nunca esquentei a cabeça. Não estava em meus planos arrumar um Min Yoongi para amar. A vida me surpreendeu com o inusitado, me dando um companheiro que me fazia maravilhosamente bem. E eu queria vê-lo bem, também. Eu queria dá-lo todo amor do mundo.
E os seus familiares precisavam gostar de mim.
Era a família do meu namorado e eu queria impressionar, de fato. Eu queria que gostassem de mim, mas não fazia idéia de como.
— Quer me apresentar aos seus pais?
— Quero. Quero te apresentar à minha mãe como minha namorada.
— E o seu pai?
— (S/N), meu pai morreu há três anos.
O olhei surpresa. Me senti péssima.
— Ah, meu amor! Me desculpe, e-eu não sabia! Eu sinto muito, Yoon, eu sinto muito mesmo.
— Tá tudo bem, boba - ele riu. — Bom, só tem uma coisa.
— O que? - me mantive atenta.
— Minha mãe. Minha mãe é chata. Quer dizer, ela é uma pessoa... difícil de lidar.
— Como assim?
— Depois que meu pai morreu ela simplesmente se fechou e se tornou uma pessoa fria. Ela ainda chora todas as noites.
— Eu a entendo, deve ser muito difícil para ela. Por exemplo, eu não iria saber o que fazer se perdesse você, imagina ela! - o abracei.
— Mas não se assusta, não. Minha mãe é chata com todo mundo, mesmo.
— Tudo bem, Min. Não vai ser tão dificl. Eu posso falar com ela sobre meus planos para a faculdade, eu adoro falar sobre isso com adultos.
— Então, ela vai gostar! Ela vivia me "shippando" com uma garotinha da rua quando eu tinha oito anos só porque eu estava brincando com a menina de advogado porque ela pensou que a menina queria estudar direito. Ela tinha sete anos.
Comecei a rir.
— Pera, Direito? Sua mãe gosta disso? Yoongi, eu quero fazer faculdade de Direito! - sorri.
— Ótimo, minha mãe vai te amar!
— Legal - sorri. — Quero que seus familiares gostem de mim, sabe... Deve ser horrível ser odiada pelas pessoas que cercam.
— Ninguém vai te odiar, amor. Você é um doce. Acredita em mim, vai dar tudo certo.
Yoongi
Por mais que minha mãe fosse um pouco rígida, ela também tinha o seu lado carinhoso. Eu e ela éramos mais próximos antes do meu pai falecer, mas eu sabia que tinha sido aterrorizante para ela.
Ela e meu pai se amavam muito. Também me machucava muito, entretanto, eu buscava esconder minhas emoções para não deixá-la ainda mais abalada.
Decidi arrumar a casa toda. Eu estava programando um dia extraordinário que envolvesse minha namorada e minha família. Seria o primeiro dia dela aqui em casa e eu queria que tudo ocorresse bem.
Ainda eram 14h da tarde. Pedi para minha avó fazer um bolo e a ajudei, pegando alguns ingredientes. Minha mãe chegaria às 16h e eu iria buscar (S/N) às 17h.
— Acha que minha mãe e (S/N) vão se dar bem? - perguntei à vovó.
— É claro que vão! Sua namorada é ótima, e sua mãe é muito sensata. Eu acho que elas vão se dar muito bem, falar sobre assuntos de jovem que a vovó aqui já não sabe, vão se divertir juntas. Eu acho que elas tem muito em comum, você não acha? As duas gostam de medicina!
— Direito...
— É, isso mesmo, filho! - ela sorriu.
Eu realmente esperava que minha mãe fosse como minha avó.
— Obrigada pelo apoio, vó - abracei ela e fui abrir o forno para ver como estava o bolo.
— Meniiino, não abre!! Não pode abrir! Não pode! - ela fez uma cara brava e me bateu com o pano de cozinha.
— Ai! Por que não pode? Eu só abri um pouquinho! - me defendi.
— porque o bolo não cresce!
— Ah, sim. Eu não sabia. Vou tomar banho, vó.
Fui. Tomei um banho rápido e fui me arrumar. Me arrumei de forma casual e me olhei no espelho. Me perguntei o motivo de ter tantas espinhas no rosto.
*quebra de tempo*
Minha mãe já havia chegado há vinte minutos. Ela era uma advogada de sucesso e sempre chegava esse horário do trabalho.
— Oi, mãe.
— Oi, filho. Como foi seu dia? Já comeu?
— Meu dia foi legal. Passei na casa da minha namorada. Eu comi na casa dela.
— Sério? Quando vai trazê-la para eu conhecer?
Sorri.
— Hoje mesmo. Eu vim conversar com você justamente sobre isso.
— Pois bem, traga ela. Me fale sobre ela.
— Ela é muito inteligente e muito bonita. Sabia que ela quer fazer faculdade de direito, assim como você?
— Sério, filho? Que legal! Tão novinha e tão decidida! - ela se animou.
— Pois é. Eu admiro muito isso nela.
— Ela parece ser muito legal - ela abriu um sorriso mínimo.
— Ela é. Estou indo buscar ela agora. Volto em 15 minutos.
Saí de casa animado e confiante. Minha mãe estava mais animada com a vida, aparentemente. Ela queria conhecer (S/N) e eu estava mais disposto do que nunca.
Toquei a campainha da casa dela.
— Ai, garoto! Por que ainda toca a campainha dessa casa? Você sempre faz eu me levantar para vir aqui te atender quando estou vendo jogo! Da próxima vez, entre logo de uma vez, sim? Entra aí.
Até o pai de (S/N) estava sendo legal. De um jeito estanho, mas ainda estava sendo legal.
Concordei e entrei, esperando minha garota terminar de se arrumar.
— Vamos - ela terminou.
— Vamos - beijei sua bochecha e saímos de sua casa, indo em direção a minha.
Enquanto caminhávamos juntos para minha casa, conversávamos.
— Falei de você para ela. Ela quer te conhecer! - sorri.
— Mesmo? Também quero conhecê-la - ela sorriu de volta.
— Eu amo tanto o seu sorriso, minha linda.
— Own, Yoon. Eu também amo o seu sorriso. É muito lindo.
Chegamos na minha casa e eu abri. Minha mãe estava na cozinha com minha avó.
— Cheguei! - gritei, para que elas pudessem me ouvir.
Elas vieram. Minha vó estava muito animada.
— Querida! - ela abraçou (S/N), tampando a visão da minha mãe — Como você está?
— Eu estou muito bem, e você? - (S/N) respondeu, sorrindo.
— Também, florzinha. Ah, você já conheceu a mãe do Yoongi? - ela saiu da frente, então minha mãe e (S/N) se viram pela primeira vez.
(S/N) estendeu a mão para minha mãe.
— Muito prazer, senhora Min - ela sorriu.
Minha mãe ficou parada. Ela simplesmente paralisou durante segundos que pareciam infindáveis. Eu a olhei colérico, fazendo sinal para ela retribuir o cumprimento de minha namorada, que até então estava sem graça.
Eu não acreditei no que estava vendo e abaixei a cabeça.
— Prazer - ela falou com uma expressão séria, retribuindo com certo desdém o aperto de mão da minha namorada.
Minha mãe começou a encarar (S/N) como se ela tivesse alguma coisa de errado, alguma coisa que a surpreendeu muito.
Ela olhou-a da cabeça aos pés, como se estivesse examinando ela.
— Yoongi me falou muito sobre a senhora... Bom, ele disse que você é apaixonada por Direito e, sabe, eu também sou e...
— Você mal chegou e já quer falar sobre essas coisas? Isso é entediante, eu acabei de chegar do trabalho e estou cansada, não quero falar sobre isso! - respondeu minha mãe, de forma grosseira.
A olhei com raiva, como se ela fosse louca.
— A-ah, tudo bem, me desculpe - (S/N) respondeu, com as bochechas coradas.
— Você veio da onde?
— Eu nasci no Brasil e morei lá até completar 14 anos. Sempre morei no estado do Rio de Jan...
— Tudo bem, garota. Eu só queria saber de onde você veio. Não me encha de informações desnecessárias.
— Me desculpe, de novo - ela abaixou a cabeça.
Senti meu sangue ferver.
— Mãe, posso conversar com você um minuto? - a chamei.
— Precisamos! - ela me olhou com raiva e foi para a cozinha.
(S/N) ficou na sala junto com minha avó, que puxava assuntos para destrair ela.
— O que você tem na cabeça, menino? - ela me perguntou, como se eu fosse um louco.
— O que eu tenho na cabeça? Eu é que pergunto o que VOCÊ tem na cabeça, mãe! O que deu em você? Por que está tratando ela assim?
— Você é um imbecil! Por que você não me contou que era uma menina... - ela não conseguiu terminar de falar.
— Uma menina o quê, mãe? - perguntei, tentando não gritar para (S/N) não escutar.
— Por que não me contou que... era uma menina negra, Yoongi?
Não pude crer no que meus ouvidos acabaram de ouvir.
— Não, não pode ser - balancei a cabeça, me negando a acreditar naquilo. — Você vai mesmo implicar com isso?
— Por que você não me contou?!
— E que diferença faria?! Eu só contei o que era importante! E o importante é que eu amo ela.
— Você sabia que quando seu pai se acidentou e morreu, foi por causa de um homem negro que dirigia alcoolizado? Você tem noção do que está fazendo, Min Yoongi?
— Caralho, mãe! E o que isso tem a ver? Eu não entendi a sua lógica.
— Eu não gosto da cor dela. Não gosto do país dela e de sua cultura medíocre. Eu me recuso a ter que conviver com essa... Negrinha de meia tigela! Termine com ela. Não quero você envolvido com esse tipo de gente.
— Eu não acredito, mãe. Eu... Eu não acredito que estou ouvindo isso de você. Você tem noção do que está dizendo?
— Tenho. Se quiser, eu mesma falo com ela. Ela é muito feinha pra você, meu filho!
— Eu nunca pensei que falaria algo do tipo, mas mãe, estou sentindo nojo de você.
Olhei para o chão, extremamente decepcionado. Voltei para a sala e chamei (S/N).
— Amor, vamos para a praça? Minha mãe está com dor de cabeça - inventei uma desculpa.
— Ah, claro... Vamos. Está tudo bem?
— É claro, amor. É claro. - beijei sua testa.
Ela se levantou do sofá onde estava sentada com minha avó.
Tudo o que eu queria era tirá-la dali. Queria envolvê-la nos braços e protegê-la da maldade do mundo. Protegê-la de pessoas como a minha mãe.
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