Semanas se passaram e um menino novo havia entrado na nossa classe. Seu nome era Robert. Ele era norte-americano. Loiro. Alto. Se igualava aos jogadores de basquete idolatrados das séries americanas.
Se eu me apaixonei por Robert? Não. Nem um pouco. Por mais belo que o novato fosse, ninguém roubava-me a atenção de Min Yoongi.
Eu não me apaixonei pelo loirinho, diferente das coreanas, que se jogaram de corações (pernas) abertos (as) para ele.
Todos que o viam, lhe davam sorrisos carinhosos. Robert não sofria nenhum preconceito por ser estrangeiro, muito pelo contrário. Ele era idolatrado por seus lindos traços europeus.
Mas, infelizmente, as pessoas se afastavam dele após descobrirem que ele era homossexual.
Isso me deixou frustrada, porque Robert era um cara muito legal comigo e meus amigos. Ele era nosso amigo, porém não andava conosco, posto que já tinha o seu próprio grupo de amigos. Diferente de mim, quando ele entrou, as pessoas o receberam super bem. O fato dele der extrovertido e sorridente ajudava bastante, também.
Melissa e Lexi agora eram da nossa escola. As adicionamos no grupo de conversa das meninas e elas se adaptaram rapidamente, assim como eu.
A mãe de Yoongi ainda não gostava de mim. Eu evitava voltar na casa dele. Todas as vezes que eu aparecia lá, ela me olhava com nojo e fazia perguntas desconfortáveis, como:
"Você trabalha em um bordel, garota? Olha o tamanho desse short! Fique sabendo que eu não recebo vadias na minha casa!"
"Ah, não! Você vai para uma festa com meu filho com esse cabelo cheio? Seu cabelo parece a palha de aço que fica debaixo da minha pia, por que não o usa decentemente?"
"Já tentou clarear a pele? Essa sua cor te deixa com cara de pobre e ainda mais feia"
"Você já bebeu? Já fumou? Tenho certeza que sim! Não quero que meu filho namore uma garota como você, seu povo é tão errado... "
Ela sempre me humilhava quando Yoongi e a avó dele não estavam perto. Eu odiava ficar sozinha com ela. Para mim, era como ficar sozinha com o diabo.
E, recentemente, ela andava me mandando mensagens. Provavelmente pegou meu número no telefone de Yoongi enquanto ele estava dormindo ou fazendo qualquer coisa que o deixasse ocupado demais para usar o celular.
Ninguém sabia o quanto a mãe de Yoongi me perseguia, nem mesmo ele. Apenas o meu diário sabia.
Saber que a senhora Min me odiava por ser uma garota de pele escura me cortava o coração. Ela não apoiava nem um pouco a minha relação com Yoongi porque, segundo ela, eu não era uma pessoa de boa índole.
Eu fiquei ferida por não ter a aprovação da minha sogra sem que ela me conhecesse verdadeiramente, porém fiquei ainda pior quando ela começou a me mandar mensagens. Todas elas eram compostas por puro ódio.
*Flashback on*
Eu lavava a louça e secava, depois guardava os pratos, copos e talheres de maneira organizada. Aquele era o meu dia de lavar a louça após o jantar e, pela primeira vez na vida, eu não reclamei por ter que cumprir tal responsabilidade.
Segundos depois de terminar, ouvi o barulho de notificações do meu celular.
*mensagens*
Número desconhecido: Boa noite, minha querida nora
Número desconhecido: Yoongi está dizendo que vai te trazer amanhã para fazer um trabalho
Número desconhecido: Não venha.
Número desconhecido: Você sabe muito bem que não é bem vinda aqui.
(S/N): eu juro que só queria entender os seus motivos para me odiar tanto
Número desconhecido: Simples. Meu filho merece coisa melhor do que você.
(S/N): O que seria uma "coisa melhor"? Eu amo o seu filho e ele também me ama.
Número desconhecido: Nojenta.
Número desconhecido: É claro que você não ama o meu filho.
Número desconhecido: Se amasse, iria sair correndo da vida dele, entendendo que ele não merece namorar uma pobre coitada.
Não respondi.
(S/N): eu tenho certeza que sou o que o seu filho merece. o amor é o suficiente.
Número desconhecido: Você? Suficiente?
Número desconhecido: Você é feia
Número desconhecido: Você é mal-educada
Número desconhecido: Você é uma vagabunda que não faz absolutamente nada da vida e não tem o que fazer.
Número desconhecido: Você é burra, se aproveita da inteligência do Yoongi e faz trabalhos com ele porque é incapaz de fazer sozinha. Incompetente.
Número desconhecido: Você não sabe o que é amor, garota. Você se acha nova para saber o que é amor, mas não se acha nova para saber o que é sexo, não é?
As mensagens dela me deixaram com os olhos marejados. Não entendi o que ela quis dizer quando citou que eu "sabia muito" sobre sexo.
(S/N): Do que você está falando?
Número desconhecido: Eu sei que você já transou com o meu filho.
Número desconhecido: Ele não pensava em namorar antes de você chegar, tampouco em sexo.
Número desconhecido: mas você está estragando ele.
Número desconhecido: projetinho de puta.
(S/N): Eu nunca fiz nada disso com o Yoongi. Por que você está falando essas coisas?
Eu sabia me controlar muito bem para não agir grosseiramente.
Número desconhecido: Ainda por cima é fingida.
Número desconhecido: Esses dias, fui acordar Yoongi e ele estava todo suado, eu pensei que ele estava doente
Número desconhecido: até que ele começou a gemer, enquanto dormia
Número desconhecido: ele gemeu o seu nome, ereto e suado
Número desconhecido: então eu captei que a piranha também estava fazendo ele ter sonhos pornográficos!
(S/N): a culpa não é minha! eu não sabia que ele tinha esses sonhos.
Número desconhecido: Ah, claro
Número desconhecido: Não conte a ele sobre nossa conversa, não conte a ele sobre nada
Número desconhecido: ou eu juro que você vai se arrepender, garota
*Flashback off*
— Como essa piriguete tem coragem de falar assim com você? - o Robert perguntava, indignado, enquanto estávamos sentados lanchando com as meninas.
— Mulher, você não pode deixar ela falar desse jeito com tu, não! - a Alice aconselhou.
— Ela é muito babaca, isso sim! - Keren pegou uma pedra. — Posso tacar na cara da vadia?
— Ai amiga, eu te ajudo! - disse Anna.
— Ah, gente, eu prefiro ignorar, sabe... Eu nem ligo - respondi, mentindo.
— Ah, não liga? Pois eu ligo! Ninguém fala desse jeito com nenhuma amiga minha, eu vou rodar a baiana nessa vagabunda! - o Robert gritou.
— E por que você não fala pro Yoongi, (S/N)? Ele não vê? - indagou a Mel.
— Não, ele não vê. E ela disse que se eu contar para ele eu vou me arrepender. Também não quero causar intriga entre ele e a mãe; ele só tem ela - falei, antes de morder meu sanduíche e engolir. — Não quero causar problemas.
— Isso me dá mais medo ainda de conhecer a mãe do Jungkook... - disse a Lexi, morrendo de medo.
— Talvez seja de boa, comigo foi! A mãe do Namjoon fez até espetinho de frango pra gente, eu adorei. Nem todas são como a mãe do Yoongi.
— É - concordei.
De repente, ele apareceu junto com Jin e Namjoon.
— Oi, amor - ele beijou minha bochecha.
— Oi - respondi, sorrindo.
— Cof cof, a (S/N) tem que te contar uma coisa! Vamos embora, gente. Eles precisam conversar.
Todos se levantaram.
— Robert! - o olhei, brava.
— O que você tem que me contar?
— Nada... - abaixei a cabeça.
— TEM SIM! - gritaram, de longe. E então finalmente foram embora.
Yoongi levantou meu queixo e me fez olhar em seus olhos.
— O que você tem que contar, (S/N)? Fala logo. Agora.
Bufei e olhei para os meus pés. Depois, voltei a olhá-lo.
— E-err... - eu não conseguia falar — V-você tem tido sonhos eróticos comigo?
Subitamente, ele ficou muito envergonhado.
— Quem te falou isso?!
— A sua mã... - parei, ao perceber o que estava dizendo.
— O quê? Minha mãe? - ele pareceu surpreso. — Você e minha mãe conversam? Por que não me contou que vocês viraram amigas?
Resolvi abrir o jogo.
— Yoongi... N-não viramos amigas - balancei a cabeça e prendi o choro. — Sua mãe começou a me mandar mensagens. Ela me pediu para não te contar, mas eu juro que não aguento mais! - senti meus olhos ficarem marejados. — Ela diz que eu não sou o bastante para você e que eu sou feia demais para você. Ela me chamou de vadia pelo tamanho do meu short (um tamanho de short comum que usamos aqui) e disse que meu cabelo se parece com palha de aço. Ela falou que eu sou uma pessoa errada e que deveria clarear a pele. Ela disse que eu sou nojenta e que não devia voltar à sua casa.
Desabei. E comecei a chorar ali mesmo, escondendo o rosto com as mãos duas mãos. Naquele momento, deixei que toda a aflição que me feria interiormente fosse expelida através de minhas muitas lágrimas. Desta vez, não consegui guardar para mim. Desta vez, meu coração se quebrou em milhares de pedacinhos. Todo o choro que evitei durante a semana toda agora estava sendo jogado para fora, lavando minha alma torturada.
Min Yoongi me abraçou e beijou minha cabeça. Eu continuei chorando. Uma das coisas que eu mais adorava nele era a sua cautela.
— Meu amor... - ele passou o polegar sobre minha bochecha, limpando as lágrimas que caíam. — Por que você não me contou?
— N-não consegui. Ela disse que se eu te contasse, iria me arrepender.
— Não dê atenção a ela, okay? Não deixe se abalar por nada, pequena. Você sabe que não é nada do que ela disse - ele beijou minha cabeça mais uma vez.
— Eu não tenho tanta certeza. Talvez você realmente mereça alguém melhor...
— Não diga bobagens, (S/N)! Eu amo você e você me ama. Não serão as ideias malucas da minha mãe que poderão nos separar. Nada pode - ele pegou minha mão e a beijou.
Sorri, embora ainda estivesse chorando.
— Eu te amo, Yoonie. Me desculpe por ter escondido isso de você.
— Tudo bem, bebê. Pode ter certeza que ela não vai mais incomodar você.
[...]
Yoongi
Eu e minha avó fechamos a loja às 19h. Minha mãe já havia chegado em casa, eu sabia. Cheguei em casa e a vi. Ignorei suas perguntas, quaisquer que fossem. Eu estava furioso demais. Subi direto para o meu quarto, sem olhar para trás, sem olhar para a cara dela. Eu tinha certeza que ela viria atrás de mim. E ela veio.
Eu dedilhava meu celular. Ela sentou-se na borda da minha cama.
— Saia. Eu não quero falar com você - falei, evitando o contato visual, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa.
— Aquela vagabunda encheu a sua cabeça, não encheu? Eu já devia saber! - revirou os olhos.
— Olha o jeito que você fala da minha namorada!
— Uma garota vulgar e sem valor? Me poupe!
— Vulgar? Sem valor? Como você pode dizer essas coisas sem ao menos conhecê-la de verdade?! - quando percebi, já estava gritando.
— Tive uma impressão horrível quando a conheci.
— Ah, e qual foi? Teve a impressão de que se tratava de uma menina negra? - a olhei. Ela ficou em silêncio. — Ainda bem que eu não puxei você, sua preconceituosa de merda! - gritei.
— Yoongi! - ela gritou de volta, raivosa. — Não fale comigo desse jeito! - seus olhos estavam marejados.
— Ainda bem que meu pai foi um homem sensato o suficiente para me ensinar a não julgar as pessoas pela cor da pele. Ainda bem que ele não está mais aqui para ver essa pessoa desonrosa que você se tornou. Eu sinto vergonha de ser seu filho.
A essa altura do campeonato, eu também já estava chorando. Não gostava de falar com a minha mãe daquela forma, tampouco lembrá-la do meu pai. Mas eu sabia que ela precisava de um choque de realidade. Eu sabia que ela era minha mãe, mas o respeito que eu tinha por ela dissipou-se apartir do momento em que ela deixou o preconceito falar mais alto.
Sempre senti nojo de pessoas preconceituosas. Eu não tolerava preconceito. E eu não ia tolerar que minha mãe agisse dessa forma desprezível.
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