Jackson e eu já não estávamos brigando mais. Eu dedicava meu tempo para conversar com ele e fazê-lo repensar sobre suas atitudes, as quais ele sabia que eram erradas. Ele nunca foi um menino ruim, apenas andava com pessoas ruins.
Ele me dissera que o tal Tony, assassino de Hellen, fora assassinado por uns motoqueiros que lhe cobravam drogas. No fundo eu fiquei levemente chocada e senti um pouco de pena, mas nada que eliminasse a raiva que eu sentia dele.
— Já volto, Jackie. Vou beber água. Quer?
— Quero. Valeu.
Fui até a cozinha e enchi dois copos de água. Peguei-os e voltei para o quarto, me deparando com um Jackson lendo meu diário.
— O que está fazendo?! - tomei o diário das mãos dele.
— Lendo. Ah, eu sempre leio seu diário quando você não está. Sinto muito pela mãe do Yoongi, ela é uma idiota. Gostei do que você falou de mim ali.
Abaixei a cabeça, envergonhada.
— Não precisa ter vergonha de demonstrar amor pro seu irmãzinho lindo aqui - ri.
— Eu não quero que ninguém leia o que eu escrevo ali. É secreto.
— Tão secreto que você deixa jogado na cama sempre que sai - ele riu, debochando.
— Jackson!
— Não entendo o motivo de ser secreto, você só escreve coisas bonitas ali. Até você descrevendo sua tristeza é bonito. E olha que você sabe que eu odeio ler.
Ri e abracei ele.
— Obrigada, xuxu.
— Um dia eu vou mostrar pro seu namorado e dizer que ele é o motivo de sua insônia.
— Ah, mas não vai mesmo! - ri.
Era demasiadamente satisfatório voltar a ser amiga do meu irmão. Eu me sentia feliz tendo o apoio de Jackson. Aliás, eu me sentiria melhor ainda se tivesse o apoio da família inteira, mas eu não podia contar aos meus pais sobre a mãe de Yoongi. Minha mãe era a personificação da Rochelle Rock e se descobrisse que aquela mulher foi cruel comigo, no mínimo ela daria uns tapas na cara dela e eu estava fugindo de maiores confusões.
Eu me sentia minimamente culpada pelas brigas constantes de Yoongi e sua mãe. Contudo, precisava admitir que suas atitudes não apenas eram nojentas, como também me machucavam. Muito.
[...]
Já estávamos praticamente no final do ano letivo. Com muito suor na testa, eu e o bonde estávamos em plena comemoração por termos passado de série.
Após termos uma longe discussão no grupo sobre como iríamos comemorar devidamente, chegamos a um acordo; iríamos à uma boate.
As meninas todas (inclusive, eu) foram se arrumar na casa da Alice. A mãe dela nos levaria de carro e iria nos buscar às 2h da manhã. E eu sabia perfeitamente que meu pai e minha mãe deixariam de dormir para me esperar até esse horário para:
A) verificar se eu estaria cheirando a álcool ou a drogas.
B) verificar se eu iria chegar sem chupões no pescoço (ou outros lugares).
E eu não os culpava. Se eu fosse mãe, faria o mesmo com meus filhos por priorizar a segurança deles. Aliás, tive que insistir muito para eles me deixarem sair e chegar de madrugada em casa. Tive que me comprometer a fazer o jantar por três dias, lavar a louça e ainda limpar os três banheiros da casa.
• • •
— Uau, amiga! Você tá incrível! - falei com a Mel, que foi a primeira a ficar pronta.
— Gente, devo ir com o vestido vermelho ou o azul? - perguntou a Anna, duvidosa.
— Vermelho! - respondeu Alice, certa de que o vermelho era mais bonito.
— Vermelho - eu e a Keren falamos em uníssono.
— Ta, vou colocar o vermelho - pegou.
— Eu te ajudo com a maquiagem - disse a Lexi e foi ajudá-la.
— Gente, vou me arrumar agora - fui para o banheiro.
Na minha bolsa, havia trazido o vestido que ganhei de Yoongi no meu aniversário. Era curto, mas nada muito ousado.
Tomei um banho e fiz uma fitagem caprichosa no cabelo. Me maquiei e coloquei um par de salto alto. Eu estava pronta.
Fiquei as esperando.
Quarenta minutos depois, com todas prontas, fomos para a boate.
Encontramos os meninos lá. Yoongi estava lindo, como sempre.
Dei um selinho nele.
— Seus pais te deixaram vir? - perguntou.
— Sim. Sua mãe deixou você vir?
— Não. Não liguei e vim mesmo assim.
— Yoongi, eu não quero que briguem por minha causa...
— Cara, eu pensei que conhecia minha mãe.
Suspirei triste.
— Eu sinto muito. Vamos falar sobre coisas felizes?
— Tipo o que? - indagou.
— Nós. Isso é uma coisa boa - fiz carinho em suas bochechas. — Eu preciso conversar com você sobre uma coisa um pouco séria, mas não agora.
— O que? É algo ruim?
— Ah, não, não. Não é ruim. Só é... Estranho, novo. Não sei dizer. Mas assim, Yoon, quero te fazer um pedido.
— Que pedido, amor? Você vai me pedir em casamento? Se sim, eu aceito - brincou.
— É claro que vou - ri. — Na verdade, quero saber se você e eu podemos ver o pôr-do-sol juntos no Rio Han amanhã.
— Amanhã? O que tem amanhã?
O olhei séria.
— Amanhã é o... - fui interrompida.
— Cara, vem logo! Estamos esperando você - o Jimin deu um puxão no braço do Yoongi. — Já devolvemos ele, tá bom, (S/N)?
— O que vão fazer? - perguntei.
— Nada que donzelas possam fazer - Jimin respondeu e logo começou a rir. — Vamos, cara? Você combinou que iria, não venha desmarcar agora!
— Desmarcar o que? - olhei pro Yoongi.
— Ah, nada, amor! Já volto, ok? - beijou a minha testa e saiu com o Jimin.
Bufei irritada e fui para perto das meninas. Elas estavam dançando. De repente, a Alice pediu para o DJ colocar uma música brasileira. Começou a tocar um pagode lá e nós éramos as únicas que entendiam o que a música cantava. Foi engraçado.
As luzes de néon da boate batiam em nossos rostos. Uma hora eu olhava para as meninas e elas estavam com os rostos azuis , outra hora com os rostos vermelhos, verdes, amarelos, entre outros. Eu gostava dessas luzes de festa que refletiam em absolutamente tudo.
Uma hora se passou e nós continuávamos dançando na pista e, como eu estava de salto alto, foi bem cansativo. Ficamos conhecidas como "as garotas da dança", porque sabíamos dançar de maneira única. Quer dizer, éramos brasileiras. As únicas daquele lugar que sabiam sambar e as únicas que sabiam descer até o chão e, consequentemente, deixar as pessoas vidrada em nós.
Até que depois de muito rebolar, me vi no auge no cansaço e resolvi descansar os pés. Decidi que deveria ver o que Yoongi estava fazendo junto com os meninos. Eu me perguntava qual era a tal "aposta" que eles haviam feito.
— Yoongi - o chamei, quando cheguei lá e vi que a mesa deles estava repleta de bebidas alcoólicas.
— Oi - respondeu, segurando um copo com alguma bebida.
— O que é isso? - olhei para o copo.
— Vodca - respondeu.
— Tome cuidado, ok? - pedi. Logo ouvi os meninos rindo. — Do que estão rindo? - olhei para eles, depois voltei o olhar para o meu namorado. —Yoongi, não bebe muito, por favor.
— Amor, eu sei. Eu sei me cuidar sozinho, tá? Relaxa.
— Estou falando sério. Não bebe muito, Yoongi.
Os meninos não paravam de rir. Taehyung, Jungkook e Hoseok já estavam bêbados. Olhei as garrafas na mesa e saquei a aposta deles. Eles apostaram em quem beberia mais.
— Ui, ui. A namoradinha veio dar uma freada nele! - o Jungkook debochou, enquanto continuava bebendo.
— Ainda bem que a Keren não veio me procurar - disse Namjoon e bebeu mais dois copos.
— (S/N), o Yoongi está em boas mãos! - Hoseok se pronunciou.
— Dá pra calarem a porra da boca? Eu sei me cuidar sozinho - Yoongi falou, referindo-se a todos nós. — (S/N), pode ir logo? Eu estava no meio de uma conversa e você nos interrompeu.
— Eu só não quero que você beba demais, Yoon...
— Tá, tá! Não vou beber. Pode nos dar licença?
Ao ouvir tais palavras saírem de sua boca. O olhei com desdém e me perguntei internamente o motivo de estar sendo tão babaca. Eu iria me desgastar causando um barraco ali, então resolvi ignorar. Ou apenas fingir que ignorei.
— Toda.
Saí de perto deles, com uma leve vontade de chorar. Me direcionei ao banheiro da boate. Perto haviam pessoas se drogando e eu tentei ignorar aquele cheiro forte, mas era quase impossível.
Olhei-me no espelho e perguntei se aquele lugar era mesmo para mim.
Deixei que duas lágrimas caíssem. Contudo, as sequei rapidamente. Em nome da minha dignidade.
Voltei para a pista de dança. Dancei todos os tipos de música com as meninas.
Eu não sabia quais eram as horas. Pouco me importava. Eu me divertia com elas e, por um curto período de tempo, esqueci o quanto Yoongi havia sido grosso comigo perto de seus amigos.
Olhei para eles. Da pista de dança eu conseguia observá-los.
Meu namorado estava completamente embreagado. Ele estava plenamente entregue aos efeitos do álcool e das drogas.
De longe, o vi beber duas garrafas inteiras de whisky.
De longe, o vi fumar maconha.
De longe, o vi render papo para vadias libidinosas que queriam uma noite de prazer com ele.
De longe, o vi desprezar a mim e meus pedidos.
O relógio marcava 1h30 da madrugada e eu precisava estar em casa às 2h0.
— Meninas, vocês estão vendo o que eu estou vendo? Olhem só, aqueles safados! - Moon apontou para eles.
— O Namjoon está sorrindo para aquela puta ou é impressão minha?
— É isso que vamos descobrir agora! - a Alice nos puxou até lá.
Andamos até eles. Todos estavam bêbados. Jimin havia ganhado a aposta de quem beberia mais. As vadias que davam em cima deles nos olharam de cima a baixo, como se fôssemos cachorras pulguentas. A Alice falou alguma grosseria com elas e elas foram embora rapidamente. Eu nem ouvi. Assim como Yoongi, eu estava inebriada. Eu estava inebriada num descontentamento incondicional.
— Por que você bebeu, Yoongi? Eu pedi para você não beber! Por que deu atenção para essas piranhas? - eu indagava com os braços cruzados, claramente infeliz com as atitudes dele.
— Porque a vida é minha e eu faço o que eu quiser! - gritou. — Você só está me enchendo a porra do saco desde que chegamos aqui, (S/N). Inferno! Pode me deixar em paz?
— Eu estou preocupada com você. Não entende, caralho? - eu prendia o choro.
— Você é burra? É cega? Por acaso eu preciso de babá, porra? - ele bebeu mais um pouco de sua garrafa de whisky. — Me deixa em paz, beleza?
— Vamos embora, Yoongi. Por favor. Já está ficando tarde e você sabe que eu não posso me atrasar... - eu tentava ser paciente, eu tentava me segurar para não estragar uma coisa que eu considerava importante, embora não tivesse certeza se esse sentimento fosse mútuo.
— Que se foda, (S/N). Se está preocupada com a porra do horário, vai embora, ué. Acha que eu estou te segurando para ficar aqui? Vaza, faz o que quiser, só me deixa em paz.
Eu não consegui segurar o choro.
— Você não precisa me procurar amanhã. Não precisa vir com o papinho de sempre dizendo que me ama. Apenas continue bebendo e aproveite sua noite.
Eu percebi que todos os nossos amigos ouviam a conversa — que, basicamente, era uma gritaria —, porém não estava mais ligando para nada. Corri até a saída da boate e comecei a andar pelas ruas desertas, não me importando com o que poderia acontecer comigo. Não consegui esperar as meninas. Não consegui raciocinar ou pensar em algo lógico, apenas fugi rapidamente do que estava me fazendo mal.
Eu chorava, com os pés latejando de dor. Ignorei os comentários de bêbados na rua. Saí correndo em direção às ruas que davam ao meu bairro e depois de uma hora, cheguei à minha casa. Eu sabia que meus pais iriam me matar. Com pressa, abri a porta e me deparei com eles me esperando sentados no sofá da sala.
— Você ficou doida, garota? São 2h25! - minha mãe gritou. — Por que você está suada? Veio correndo, por acaso?
Mentir não adiantaria.
— Sim. Eu vim correndo.
Eles me olharam incrédulos.
— O que?! Mas estava com alguém, pelo menos? - meu pai perguntou, visivelmente enfurecido.
— Não. Eu vim sozinha.
— Por que o branquelo não veio com você?
Senti meus olhos ficarem marejados. De maneira imperceptível, eu já estava chorando.
— Tá chorando por que, menina?
— Nós brigamos! - respondi.
— Brigaram por qual motivo? - minha mãe indagou, com os braços cruzados.
— N-nós brigamos. Nós brigamos! E-eu preciso dormir, por favor não me façam mais perguntas, eu não aguento mais, só preciso dormir.
Entrei no meu quarto e tranquei a porta, desabando completamente. Comecei a me perguntar se havia algo de errado comigo. Comecei a escrever tudo o que sentia no meu diário. Chorei novamente. Tomei um banho. Tentei adormecer.
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