Ao andar pelas ruas, os olhares ainda me incomodavam. Em outros bairros, ninguém sabia quem eu era, então me encaravam de forma abismada. Já as pessoas do meu bairro sabiam quem eu era, eu gostava de perambular, principalmente com Yoongi.
Inclusive, estavam sendo legais comigo. Abriram os olhos e perceberam que eu não era diferente deles. Talvez tivesse entrado na cabeça deles que indivíduo é indivíduo, indepentemente da cor da pele.
Dizer que o preconceito havia acabado seria uma calúnia completamente ilusória. O preconceito, infelizmente, nunca vai acabar. Sempre irão existir pessoas más, totalmente desprovidas de compaixão. Essa é a realidade da vida, porque nem tudo é um mar de rosas. Aliás, pensei, deve ser incrível nadar em um mar de rosas. Rosas cor-de-rosa, por favor.
Eu estava cansada. Do preconceito também, mas eu já havia me acostumado com ele. Eu já estava acostumada a ser menosprezada.
Porém, a faculdade de direito pesava e, consequentemente, me trazia umas doses a mais de estresse gratuito. O que me deixava mais feliz era chegar em casa e ver minha cama plenamente lindíssima e me deitar sobre ela para descansar.
Meu namoro com Yoongi estava indo bem. Digo, maravilhosamente bem. Eu me considerava uma garota de sorte por ter um companheiro como ele. Depois que fizemos sexo pela primeira vez, eu conheci o lado pervertido do meu namorado que até então eu pensava ser um anjinho santo. Não vou mentir, eu estava surpresa. E estava adorando. Eu tinha dezessete anos e ele dezoito. Talvez até fôssemos novos para transar, mas depositávamos confiança um no outro e nos amávamos de verdade. Uma semana depois da primeira vez, fizemos de novo. Duas vezes. Yoongi sabia me deixar louca e eu admitia isso, mas também gostava de provocá-lo. Numa dessas vezes, esquecemos de usar camisinha. Tive que comprar anticoncepcionais na farmácia escondido dos meus pais.
[...]
Voltando da faculdade, fui direto para o banho. Enquanto a água gelada fazia contato com meu corpo, eu despertava lentamente. Gostava de banhos frios que expulsassem meu sono.
*quebra de tempo*
Eu estava comendo miojo. E então recebi um telefonema de Keren. Atendi.
— Alô, Keren?
— Oi, amiga - respondeu. — Então, vou te fazer uma proposta. Você gostaria de participar do serviço comunitário que eu estou participando?
— Que serviço comunitário? Eu nem sabia que você fazia serviço comunitário, Keren. Por que não chama o Namjoon ou uma das outras meninas? Eu estou cansada, poxa.
— Ah, (S/N), quando comecei eu logo pensei em você. Sabe, eu faço visitas diárias ao Orfanato Shin perto da sorveteria. É no meu bairro, não é tão longe de onde você mora - ela fez uma pausa. — As crianças de lá são apaixonantes. Eu pensei que você iria querer ir comigo, mas pelo visto...
Pensei um pouco. Uma visitinha não faria mal a ninguém.
— Me encontre na praça do meu bairro. Em dez minutos estarei lá. Vou com você.
Adentramos o local. Para um orfanato, até que era um lugar bem conservado. Chique, eu diria. Bem investido. As paredes eram pintadas em um tom bonito de azul tiffany. O piso tinha cor branca. Era um orfanato enorme que fornecia educação e estudo àquelas crianças — muitas. de todas as idades. de 0 à 12 anos. —, tinha ar-condicionado e tudo. Eu fiquei super admirada. Era melhor que uma escola pública no Brasil. Fiquei mais surpresa ainda quando vi que a diretora não era asiática.
— Crianças! - uma idosa chamou-lhes a atenção— Olhem quem veio! A Keren! E ela trouxe uma amiga - ela sorriu e nos olhou.
— Obrigada, titia - Keren respondeu. — Essa aqui é a (S/N) - ela olhou para mim. — (S/N), essa é minha tia, Jane.
— Muito prazer - ela me deu um abraço.
— Igualmente - sorri.
— Se apresente às crianças - pediu.
Concordei, ainda sorrindo. Eu sempre gostei de crianças. Senti vontade de apertar as bochechas de cada uma delas.
— Olá, anjinhos. Eu sou a (S/N).
— Como é que se fala? - a tia da Keren perguntou.
— Muito prazer, senhorita (S/N)! - disseram em uníssono. Ah, tão bonitinhos.
— O prazer é todo meu. Vocês gostam de biscoitos de chocolate? Olhem o que eu e a Keren trouxemos! - peguei um pote cheio (muito, muito, muito cheio) de biscoitos que compramos na ida.
Vi as crianças festejarem. O brilho que elas carregavam em seus olhinhos e o sorriso que preenchia o rosto de cada um era motivo suficiente para eu sentir vontade de ir lá todos os dias.
Passei a tarde toda naquele orfanato. Contei histórias e me disponibilizei a conhecer muitos deles. Seria impossível conhecer todas as crianças daquele lugar. Eram muitas.
O que mais me cativou fora a tamanha inocência daqueles pequenos. A pureza no coração e na alma.
Ouvir um "tia, o seu cabelo é muito bonito" de muitos deles fazia eu me sentir emocionada. Crianças que não ligaram para o fato de eu não ter a pele branquinha como a deles ou os olhinhos igualmente puxados.
Segundo eles, eu era exótica. Percebi que gostaram de mim e eu prometi que da próxima vez iria trazer um livro cheio de histórias. Eles amavam histórias. Se hipnotizavam na Keren quando ela estava lendo qualquer coisa, até quando não era para eles.
Sinceramente, me apaixonei naquele dia. Me apaixonei por algo que me atraiu; o amor por pequenos infantes.
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