— Quem fez isso? - me levantei.
— (S/N)? O que foi? - a Camilly perguntou. Ela olhou para o lado e viu. — ô caralho, dá pra deixarem ela em paz?
— O que está acontecendo? - o professor se aproximou de nós — mal chegou e já está causando problemas, garota? No seu país não te ensinaram a ter honra, educação?
— Creio eu que a educação venha de casa, e não de uma nação. Não que isso te interesse, mas eu sou muito bem educada pelos meus pais. Já que você quer impor que a educação vem de determinado país, pode me explicar por que ninguém aqui consegue aceitar diferenças raciais? Quanta imoralidade, querido professor.
— Fale mais uma palavra sequer e estará expulsa da minha aula.
Evitando causar problemas, fiz um joia com a mão e sorri de forma debochada.
Me sentei na cadeira e voltei a anotar as palavras e símbolos desenhados no quadro negro.
A aula tomou um rumo silencioso e de repente ninguém mais me incomodava.
sinal do recreio
Fui até a diretoria e peguei a chave e senha do meu armário. Depois, peguei meus livros e os tranquei lá.
Caminhei à procura de meu irmão.
Ele havia feito o quê? Ido para Marte? Droga! Jackson não estava em lugar nenhum. E cadê a Camilly? Meu Deus, essa escola parece um país inteiro!
Inutilmente eu procurava os dois. Desistindo, fui até a cantina comprar um lanche. Fui para o final da fila. Ainda recebia demasiada atenção por ser estrangeira. Qual é, eu tinha cara de refugiada?
Senti alguém tocando meu cabelo. Preferi acreditar que era impressão minha.
— Olha, Yoongi! Quando eu puxo para baixo e solto, ele pula para cima! Igual uma mola, que legal! Nunca vi um cabelo como esse!
Oi? Um garoto desconhecido estava brincando com meu cabelo?
— O quê? - me virei para trás, sem graça.
— Jungkook! Não era pra tocar o cabelo dela, ela não gostou! Me desculpe por ele, é um idiota.
Oh my God. Era o garoto da lojinha de balas que se parecia com a senhora da lojinha de balas com um garoto aparentemente mais novo que estava tocando meu cabelo.
— Bom, não é isso... Mas, você nunca viu um cabelo cacheado?
— Só na televisão. Desculpe, sempre quis tocar para saber a textura - o mais novo se desculpou.
— Não se desculpe - sorri. — Na verdade, eu não me importo que você toque meu cabelo.
— Tudo bem, então vou continuar tocando - sorriu de volta. — Qual o seu nome?
— Meu nome é (S/N). Venho do Brasil. E você?
— Como pode perceber, eu sou coreano e esse rato aqui também. Meu nome é Jungkook.
— Legal. E o seu nome, qual é? - perguntei ao garoto da lojinha, ao perceber que ele estava meio excluído da conversa.
— Falou comigo? - indagou.
— Sim...
— Ah. Meu nome é
Min Yoongi. Acho que nos conhecemos de algum lugar...
— Eu comprei balas na lojinha da sua... Avó?
— Ah, é mesmo! E, sim, ela é minha avó.
Jungkook o olhou, com uma expressão surpresa.
— Cara, você nunca me falou que sua avó vendia balas! Eu quero. Vou ter 70% de desconto.
— 10% de desconto. E não falei porque você iria me encher o saco.
Eles pareciam ser bem legais. Aparentemente, tinham a minha idade. Se eu tinha 14, eles tinham entre 14 e 15. Talvez mais.
— Gente... - ri, sem saber oque dizer.
— Você chegou hoje, né? Está em qual sala? - Jungkook me perguntou.
— Estou na de Biologia. E vocês?
— Automação - respondeu, o mais novo, enquanto seus cabelos castanhos voavam contra o vento.
— Sociologia - respondeu, Min Yoongi.
Antes de escolher Biologia, eu havia pensado em escolher Sociologia. Talvez meus pensamentos batessem com os pensamentos do garoto bonitinho da lojinha de balas.
Subitamente, um celular começou a apitar notificações. Era o dele.
— É o Taehyung. Ele está nos chamando.
— Mas nós estamos na fila! - reclamou, Jungkook.
— Ele disse que é importante. Vamos logo.
E os dois foram, deixando-me ali no meio de uma multidão de desconhecidos.
Olhei para os lados, afim de encontrar Jackson ou Camilly. Nada.
Flashbacks da aula invadiam minha mente. Eu não conhecia aquele professor direito, mas ele parecia ser um belo babaca.
Esse sofrer quase alcançava minha vontade de estudar para destruí-la completamente. Todavia, eu me convenci de que o estudo me daria asas para voar. Eu poderia até ser considerada feia nesse lugar. Mas, ser considerada feia e burra era demais.
— Por onde você andou? - ele finalmente apareceu.
— Olha aqui, eu que te pergunto! Onde você estava, Wang? Eu te procurei durante um tempão!
— Só estava andando por aí. Nada demais, ué.
— Hm. Vai querer lanchar alguma coisa? Hoje eu tô burguesa demais, a mãe me deu dinheiro.
— Acho que não vai dar tempo. A coordenadora estava gritando "Hurr durr cinCo miNutOs dE reCreiO!"
— Cinco minutos?! - olhei para a fila. Ainda tinham umas vinte pessoas para serem atendidas — Merda! Vou ter que ficar com fome, mesmo. Estou indo pegar meus livros para a próxima aula. Tchau, Jackie.
Corri até o meu armário e me deparei com papéis grudados nele. Papéis que, por sua vez, carregavam toda a maldade e a insensibilidade que o ser humano inseminara em seu coração.
Eu enganava meu próprio eu. Sussurrava a mim mesma "você não precisa ligar para comentários fúteis que não irão te edificar", dizia-me a mim que eu era perfeita, não importasse o que as pessoas ao meu redor pensavam.
Entretanto, não fui suficientemente resistente para combater aquelas ofensas. A dor me alcançou de uma forma brutal. E eu permiti que a primeira lágrima caísse, mas não esperava que outras idênticas caíssem logo em seguida.
Todos os papéis colados em meu armário eram caracterizados por palavras açoitantes.
"Não te queremos mais na classe de Biologia, estranha!" *desenho de alienígena*
"Não se sente perto de nenhum de nós! Se isole num canto. Ninguém quer falar com você, mesmo"
"Vá para outra escola! Por que não entra em um grupo online de pessoas feias? Feiosos.com, hahaha" *desenho de emoji rindo*
"Que cabelo estranho. Nunca vi igual!" *desenho de uma menina com cabelo bagunçado e cheio*
"Você é muito feia" *desenho de alienígena*
game over.
• • •
— Como foi a escola, hoje? - mamãe perguntou.
— Legal - eu e Jackson respondemos em uníssono.
— Mãe, estou indo para o quarto - me tranquei lá.
Voltei a chorar. Mas haviam mais coisas importantes à minha espera. Peguei uma folha do meu caderno e uma caneta.
"
pai e mãe,
Sinto muito por ter sido uma menina difícil nestes últimos dias, a verdade é que eu nunca quis me mudar para um país diferente. Mas o meu erro foi não ter enxergado que isso também era difícil para vocês, me desculpem por ter pensando apenas em mim mesma. Bom, eu amo vocês."
escrevi e coloquei na cama.
eu iria entregar, é claro que iria.
mas antes, eu precisava de algumas horas de sono.
Obrigada por lerem até aqui. Até a próxima ❤