Quando uma pessoa especial morre, o mais difícil é se esquivar das muitas lembranças. Dizem que, quando um indivíduo está prestes a morrer, sua vida inteira passa-lhe aos olhos como um filme de curta metragem em preto e branco. Eu acreditava nessa teoria, cuja nunca poderia confirmar a não ser que estivesse perto da morte. Contudo, eu também acreditava que quando entrava-se em luto por perder alguém, as recordações traziam chicotes consigo e judiavam do coração enlutado do ser humano enfraquecido pela perda.
A dor arduamente incessante está na ausência de um sorriso.
Eu sabia que esta era a mais pura verdade, por experiência propriamente vivida. Saber que nunca mais veria meu irmão, minha cunhada e não teria mais um sobrinho cortava-me o coração.
A dor me tomou sem piedade.
Sem piedade a dor me tomou.
E furtou os meus dias felizes, substituindo-os por dias deprimentes que careciam de luz.
Certa vez, meses antes desta tragédia, eu dedicava boa parte do meu tempo para a leitura de um livro, chamado "Quem é você, Alasca?". Esta história mostrava a perspectiva de Miles Halter sobre sua vida, que mudara drasticamente após sua ida para um colégio interno chamado Culver Creek. Sem amigos, Miles saiu em busca de Um Grande Talvez longe de sua família e colegas, já que o mesmo nunca tivera amigos de verdade na antiga escola.
Ao chegar em Culver Creek, ele conheceu e se apaixonou por uma garota de olhos verdes e cabelos castanhos, cujo nome era Alasca. Alasca o catapultou em direção ao Grande Talvez.
A garota deixou uma pergunta enigmática para que Miles resolvesse:
"Como vou sair desse labirinto de sofrimento?"
E, como leitora, eu não soube resolver o enigma. Não depois que Jackson Wang, uma das pessoas que eu mais amava na vida, acabara de morrer.
Eu me encontrei num labirinto de sofrimento. Assim como Alasca, assim como Miles.
Como eu iria sair daquele labirinto de sofrimento?
Eu estava perdida;
Perdida na minha própria dor,
Numa escuridão inusitada.
Enclausurada no quarto da tortura,
Sendo punida de modo amargo, severo.
Sendo apunhalada pelas costas
E sentindo o sangue esvair-se
Gradativamente
De
Meu
Ser.
— Não se esqueça de mim, sentirei saudades.
[...]
Enquanto o carro fúnebre levava o corpo de Wang embora dentro daquele caixão fechado, abaixei minha cabeça. Não consegui segurar a vontade de chorar e, imediatamente sendo envolvida pelos braços acolhedores do meu namorado, me deixei levar pelo descontentamento e chorei. Sem parar. Meu coração doía, de modo com que eu sentisse que ele ia sair pela minha boca. Meu ar estava desaparecendo; eu estava sufocando.
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