O relógio marcava 17h00 quando eu acordei. Resolvi revisar a matéria estudada naquele dia, no meu primeiro dia de aula.
O professor falou sobre o desenvolvimento das plantas, depois estudamos a composição das células, e depois deu aquela confusão toda por conta daquela maldita bolinha de papel. O imbecil ainda teve a audácia de agir como se a culpada fosse eu. Homem louco! Ainda se acha na moral de julgar meu comportamento — que, até então, não estava atrapalhando a aula dele — por causa do meu país nativo.
Uma raiva mútua cresceu reciprocamente em nós dois. E eu carregava a certeza de que nunca nos daríamos um com o outro. Talvez por ele ter sido um preconceituoso de merda. Só talvez.
Esse professor tão foi nojento quanto os alunos que me ofenderam com suas escritas.
Não sou nenhuma telepata, mas os olhares das pessoas falavam muito mais que suas bocas; eles me achavam esquisita, estranha. Achavam que eu, por ser diferente, não poderia conviver em seu meio. E isso doeu.
Quanto aos que me ofenderam...
Minha concepção apontava que era tremenda covardia me ofenderem através de papéis, mas não terem coragem de falar tudo à mim frente-a-frente. A maior verdade é que todos eles não passavam de covardes inúteis que eram totalmente desprovidos de qualquer ação que viesse ter alguma relevância. A relevância que eles almejavam ter era a de fodões. Entretanto, o esquecimento deu-se em suas mentes furtadas e eles não conseguiram entender como a ética funciona.
Rebaixar alguém não te torna fodão.
Rebaixar alguém te torna podre.
Rebaixar alguém por preconceito te torna ainda pior.
As pessoas se esqueceram que palavras são tão cortantes quanto facas.
O mundo se esqueceu de amar.
Parecia-me, que o amor existia apenas em contos de fadas. Ou nas histórias faladas antes de dormir, aquelas que dão sono.
Parecia-me distante, longínquo; completamente inalcançável.
Não porque eu não sabia amar; meu coração gostava de lidar com o amor.
Portanto, pois nunca ninguém amou-me tanto quanto eu amei.
Não conseguia me concentrar na matéria. Eu nem lembrava o motivo de ter escolhido Biologia, acho que por gostar de animais. Eu amo animais, porém, Biologia e eu somos como água e óleo.
Será que posso mudar de classe? Eu me perguntava.
Talvez Filosofia se encaixasse mais comigo.
Talvez Sociologia fosse mais a minha cara. Hm, a sala do Minha Yoongi, o gatinho da lojinha de balas.
• • •
— O que? um cachorro?
— É, pai. Eu quero um cachorro. Jackson também quer. Por favorrrr.
— Ultimamente, você tem andando muito malcriada!
— Eu sei, me desculpe por isso. Não viu o recado que colei na geladeira?
— Não.
— É basicamente um pedido de desculpas. - corri até a geladeira e peguei — Leia.
Ele leu minha carta.
— Ok. Eu te dou um voto de confiança. Pode comprar um cachorro.
Ele tirou algumas notas do bolso e me deu.
— Obrigada, pai! - sorri e abracei ele.
Fazia alguns dias que eu havia me mudado e todo mundo ainda me olhava. Eu nem dava mais importância. Mamãe havia me dado um guia pelo nosso bairro, então eu já sabia onde era o Petshop.
— Boa tarde. Quero comprar um cachorro.
— Desculpe, pequenina. Os cachorros aqui são caros.
Eu tenho cara de mendiga, mulher?
— Tudo bem. Eu tenho o dinheiro aqui. Me mostre os cachorros, eu vou pagar por um.
Ela olhou-me de cima a baixo e me levou até os cachorros.
Vi um Jack-Russell tão fofo.
Depois um poodle.
Um Yorkshire.
Um pug.
Um pinscher.
Um bulldog.
— Quero esse - pedi o Jack Russell.
— Ok. Quer comprar algumas coisas para ele?
— Sim.
Deixei o dog em casa. Subitamente, ou não, bateu-me certa vontade de comprar balas.
— Boa tarde. Quero 20 balas de côco e 20 de morango.
— Porra - riu — Oi, (S/N). O que está fazendo aqui?
— Oi, Min Yoongi. Bom, parece que eu vim comprar balas, né? - ri — cadê sua avó?
— Ela está ajudando minha mãe com algumas coisas de casa, então eu tive que ficar no lugar dela.
— Ah, sim. Gosta de trabalhar aqui? - perguntei.
— Claro! Eu posso pegar bala de graça.
— Aí sim, ein! Yoongi, sabe dizer se na sua turma ainda tem vaga sobrando? não estou gostando muito de Biologia...
— Mas hoje foi o seu primeiro dia! Por que não gostou de lá?
— As pessoas de lá... As pessoas de lá não gostam muito de mim.
— Por...?
— Ah, mano, sei lá. Acho que é por causa da minha cor, ou do meu cabelo. Não tem motivo para eles não gostarem de mim, eu acabei de chegar.
— As pessoas geralmente julgam antes de conhecer. Por exemplo, eu não te julguei antes de te conhecer e ainda não te conheci, mas pretendo conhecer.
Ri dele.
— O que? meu Deus, Min Yoongi, você está parecendo a Dilma Rousseff.
— Quem?
— Esquece - ri.
— Então, você pode me dar seu número? - pedimos juntos. Rimos.
— Anota o meu - falei — X XXXX-XXXX.
—Ok. Te chamo. Ah, suas balas. - ele pegou.
— Seu dinheiro - sorri e o paguei — a gente se vê amanhã.
• • •
— Quero cinco!
— Pidão demais, tá doido! - dei cinco balas para o Jackson — aliás, cadê o Puppy?
— Coloquei ele pra dormir. E o nome dele é Steve.
— Eu comprei o cachorro! - gritei — É Puppy e acabou.
— Chata!
Guardei minhas balas na gaveta e peguei duas. Voltei a estudar coreano.
*horas depois*
— Vai dormir, garota.
— Espera, mãe.
— Não! Amanhã você tem que acordar cedo para estudar.
— Aish, ok.
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