Peguei o Jeonghan no colo. O nascimento dele fora a coisa mais feliz que me aconteceu desde a morte de Jackson.
— Você é muito lindo, bebê - falei, sorrindo. — Vá com sua mamãe.
O entreguei para a Anna, que fazia gestos para que eu lhe entregasse.
— Eu vou chamar o Jin - disse a Mel e foi correndo para lá.
Ficamos com a Anna enquanto a Mel chamava o Jin. Logo ele chegou, acompanhado de todos os meninos. Inclusive, Yoongi. Fingi que não o vi. Por mais que tentasse, não consegui ficar mais que cinco minutos perto dele.
— Anna, eu preciso ir - falei. — Jin, me avise se a Anna for ficar no hospital. Já vou. Tchau.
Peguei minha bolsa e fui em direção a porta, abrindo-a e seguindo o caminho do ponto de ônibus. De repente, senti que estava sendo seguida.
— (S/N) - ouvi a voz de Yoongi. — Nós precisamos conversar. Eu fui um id... - o interrompi.
— Não temos nada para conversar.
— Temos, sim. Eu não devia ter sido tão grosso. Sabe, meu dia havia sido péssimo na empresa e quando você me disse que estava com outro cara, eu fiquei com tanta raiva que acabei descontando em você. Me perdoe.
— Me dê um motivo para te perdoar. Só um - falei, com os braços cruzados.
— Eu amo vo...
— Só não vale dizer que me ama - o interrompi novamente. — Porque eu não tolero mentiras.
— Eu te amo de verdade - falou, se aproximando. — Eu juro.
Dei um passo para trás.
— Não jure em vão. Se você me amasse, não beijaria outra garota, tampouco pediria para ela chupar seu pau.
Ele me olhou, curiosamente. Subitamente, ficou mais pálido do que já era.
— É, Yoongi. Eu sei que você me traiu com uma garota qualquer da sua empresa. Só acho engraçado que... - parei, ao sentir vontade de chorar. — que você poderia ter terminado comigo, já que não estava satisfeito com o nosso namoro.
— (S/N), por favor — seus olhos estavam marejados, assim como os meus. — Não diga essas coisas. É claro que eu estava satisfeito com você, eu não sei porque fiz aquilo, foi por puro prazer e luxúria. Você não merecia isso, amor... Fui um completo imbecil.
— Que bom que sabe. Pode ir atrás de todo prazer que quiser agora, eu juro que não vou estar no seu caminho - comecei a andar para longe dele.
Ele segurou meu pulso com força. Senti dor por causa dos cortes.
— Solta - pedi. — Você está me machucando.
— Você não pode fazer isso, (S/N). Me perdoa, por favor! - Yoongi começou a chorar. — Não jogue nossa história no lixo. Tudo o que a gente passou, tudo o que a gente enfrentou para ficar junto. Eu sei que errei, eu sei que não sou o que você merece, mas eu não consigo ficar sem você. Eu não consigo viver se não for do seu lado, minha princesa - ele limpou as lágrimas e respirou fundo, mas acabou chorando de novo. — Você é a luz que ilumina as trevas que eu tenho dentro de mim. Não faça isso comigo, amor. Me dá outra chance. Me dá outra chance, (S/N). Dê uma chance para nós.
Ele me puxou para si, me abraçando forte, chorando intensamente. Por um segundo, senti vontade de retribuir aquele abraço. Senti vontade de olhar em seus olhos e dizer que o amava e que estava tudo bem. Mas não estava. E eu não sabia se algum dia estaria.
Bruscamente, me soltei e o empurrei para longe.
— Você ficou maluco, porra? - gritei. — Você não pensou em nós na hora de trair minha confiança, mas quer que eu pense em nós na hora de te perdoar?
— Eu nunca amei outra garota como eu amo você. Por favor, não me deixe. Eu te amo.
— Não ama - balancei a cabeça, prestes a chorar. — Você é um mentiroso e eu nunca mais quero te ver na minha frente.
— Amo - vi uma lágrima escorrer de seu olho. — Eu juro. Te amo. E eu preciso do seu perdão.
— Você pode até me amar - comecei a falar, finalmente olhando em seus olhos. — Mas não o suficiente para que seja um amor verdadeiro.
O deixei para trás e segui meu caminho. Eu perdi a vontade de esperar o ônibus. Fui para casa andando a pé. Sozinha.
E então me vi imersa na imensidão da profundidade da minha tristeza.
[...]
Yoongi
Vendo que ela nunca iria me perdoar, senti meu peito doer.
Eu a vi partir para longe de mim.
Eu vi minha felicidade esvair-se de minhas mãos.
Vi o meu amor correr na direção contrária de mim.
E a culpa era minha e de mais ninguém.
Eu realmente me arrependia do que havia feito com (S/N) e me sentia envergonhado por minhas atitudes idiotas. Eu me sentia um moleque. Um moleque que feriu os sentimentos de uma jovem mulher doce, a minha namorada. E eu já não a tinha mais. Todavia, eu sabia que eu nunca seria o melhor para ela. Ela merecia alguém digno de seu amor. Ela não merecia alguém como eu, um babaca.
Eu não podia culpá-la por me odiar, eu também sentia ódio de mim mesmo. Tudo o que eu queria era voltar no passado e nunca ter traído a garota que me amava de verdade. Eu a amava também. Eu demasiadamente a amava. E era com ela que eu queria me casar. Era com ela que eu queria ter uma família grande e bonita. Porque foi através dela que eu conheci o amor de verdade e foi com ela que experimentei a sensação de amar mutuamente sem temer quaisquer que fossem as consequências.
Abri a porta de casa e quase fui direto para o quarto, ignorando tudo e todos à minha volta.
Eu sabia que minha família estava no meio de uma comemoração porque minha tia, esposa do meu tio, havia passado na autoescola.
— Parabéns, tia - falei baixo e toquei seu ombro, depois me direcionei ao meu quarto.
— Não vai ficar para o jantar, filho? - perguntou minha mãe.
— Não, obrigado. Não estou com fome.
Entrei.
Eu estava tão frustrado que esqueci de trancar a porta. Simplesmente me sentei na cama e me permiti chorar e expelir tudo o que meu peito guardava.
Meu pensamento estava nela. Meu pensamento estava nela sentada comigo nesta mesma cama, seja conversando, rindo, desabafando ou até fazendo sexo, qualquer coisa. O que importava era a presença dela. E eu perdi aquela oportunidade.
Peguei no criado mudo a nossa foto juntos. Nós tínhamos muitas fotos juntos e ela estava linda em todas. Sua beleza era tão diferente, tão única.
Ouvi o abrir da porta. Minha mãe entrou e se sentou ao meu lado.
— O que aconteceu? - indagou.
— Acabou tudo, mãe. (S/N) terminou comigo.
— Por que? O que aconteceu entre vocês?
— Eu fiz a maior burrada da minha vida. Traí ela com outra garota, mãe. Eu... Eu dou razão a ela, mas eu não consigo. Eu não consigo parar de pensar nela.
Ela me olhou incrédula.
— Eu estou muito decepcionada com você, Yoongi! Que coisa mais feia. Não se pode trair uma garota!
— Você é a pessoa que menos pode me julgar, até pouco tempo atrás você sentia nojo por ela ser negra.
— É, mas eu me arrependi e pedi desculpas - falou.
— Eu também pedi desculpas, mas ela não quer mais olhar na minha cara - abaixei a cabeça, fungando.
— Se a ama, não desista dela. Você errou, mas pode provar que ainda é o Yoongi de quinze anos que pediu ela em namoro no passado - ela pegou a foto de minhas mãos. — Você precisa mostrar a ela que ela é única para você, bom, isso se ela for.
— Ela é, mãe. Você sabe que eu nunca amei ninguém tanto quanto a amo.
— E foi exatamente o contrário que você demonstrou a ela. Yoongi, você traiu a confiança dela. E, sabe, ela só me perdoou porque sou sua mãe. Ela te ama. Ela te ama muito para ter aturado tanta coisa.
— Eu sei. Mas eu acho que ela merece alguém melhor.
— Pense assim e nunca vai conseguir o que quer - ela alisou minhas bochechas. — Eu me admiro tanto ao ver o quanto você cresceu, meu filho. Para mim, você ainda é uma criança que está aprendendo a enfrentar o mundo. Yoongi, temos que aprender com nossos erros.
— É, mãe. Eu sei - a abracei forte. — Eu sou um imbecil, mesmo.
— Um pouco - disse ela. — Mas ninguém além de você mesmo pode te impedir de fazer o que quer. Sua vó não pode nem sonhar que você fez isso. Você sabe que ela vai ficar muito chateada com você se descobrir.
— Sim. Ela gosta muito de (S/N) e leva esse negócio de honra muito a sério. Eu também levo. Mas a vovô leva muito, muito, muito a sério.
— Então. Eu estou do seu lado, filho. Eu estou aqui para ser o seu apoio, mas eu já vou deixando bem claro que nunca vou apoiar o que você fez. Foi desprezível. Com certeza ela está sofrendo muito mais do que você, porque a chifruda da história foi ela.
(S/N)
Acordei as três da manhã, sentindo um vazio no peito. Sentindo a brisa do vento invadir meu rosto através da janela aberta. Eu sentia minha cabeça girar. Fui correndo em passos apressadamente largos para o banheiro para vomitar tudo o que havia ingerido na hora do jantar — um copo de água.
De fato, eu não estava comendo e aquilo estava sendo prejudicial à minha saúde, porém eu não liguei muito. Eu já não me amava tanto para me preocupar comigo mesma. Se eu morresse, bem. Se não morresse, tanto faz. De qualquer forma, eu já me vía farta da minha vida.
Abri a tampa do vaso e vomitei, ainda me sentindo tonta. Lavei a boca e fui para a cozinha beber água. A casa era tão silenciosa. As madrugadas eram mais frias e dolorosas quando minha única companhia era a solidão.
Enquanto bebericava meu copo de água, pensei que pelo menos estava hidratada. Eu não sentia mais vontade de comer e estava perdendo peso.
Pus-me a pensar em Yoongi. Contudo, eu sempre me desviava dos pensamentos que o envolviam. Mas tudo me fazia chorar.
Eu chorava se pensava em Yoongi.
Eu chorava se pensava em Jackson.
Eu chorava se pensava nos meus pais longe de mim.
Eu chorava se pensava nas minhas amigas, também. Uma voz na minha cabeça dizia que elas mereciam uma amiga melhor do que eu.
A mesma voz dizia que eu era um nada.
E me fazia pensar que morrer era a melhor opção.
A mesma voz me convencia de que o meu valor era inexistente e que não eu não possuía motivos para viver.
— Alô, Sra. Min? - perguntei ao atender meu celular que acabara de tocar em plenas 3h40 da manhã.
— Oi, (S/N). Como você está?
— Eu estou bem, e você?
— Eu estou bem, mas sei que você não está, portanto não minta para mim. Yoongi me contou tudo e, querida, eu sinto muito pelo que ele fez e ele também sente. Mas, bom, quero falar outra coisa.
— O que?
— Quando foi que você menstruou pela última vez?
Gelei ao me lembrar. Senti meu coração disparar e fiquei nervosa.
— Eu... Não sei - respondi.
— Hm. Foi o que eu pensei. Quando amanhecer, vou com você comprar alguns testes. Ou melhor, vamos para o hospital! É, eu vou te levar para o hospital - disse ela.
— Não precisa, Sra. Min. Você tem outras coisas para fazer. Não quero te ocupar. Eu nem sou mais sua nora, você não tem nenhuma obrigação comigo. Não precisa.
— Shh, precisa sim. Eu vou, ok? Não tente me impedir. Eu vou com você para que você não ande sozinha por essas ruas.
— Tudo bem. Obrigada. De manhã nos vemos, então - respondi.
[...]
— E ai, doutor? - perguntou, ansiosa. — Quais foram os resultados?
O médico me olhou.
— Você está grávida de cinco semanas. Parabéns para a nova mamãe! - ele sorriu.
Não sabendo como reagir, apenas assenti e retribuí o sorriso. Tudo o que eu queria era sair dali e chorar.
Eu e Gayoon saímos dali e voltamos para a minha casa.
— Eu não acredito que vou ser avó tendo 36 anos! - disse a mãe de Yoongi.
— Eu não acredito que... Eu vou ser mãe - falei, ainda baqueada. — Não é possível.
— Não está feliz?
— Eu não sei. Não estou preparada - falei, e quando menos esperava, comecei a chorar. — Eu amo crianças, mas não sei se estou pronta. E se eu fizer algo errado?
— Calma, menina. Vai dar tudo certo. Você não vai abortar, vai?
— Não - disse. — Eu não teria coragem. Só não consigo acreditar que isso seja verdade. Eu sou uma inútil, mesmo! Nem para tomar os anticoncepcionais direito eu sirvo.
— Nem sempre funcionam. E talvez algum dia você tenha esquecido. Mas relaxa, ok? Isso não é o fim do mundo. É apenas um bebê. Eu era nova quando engravidei do Yoongi, também. Até fui expulsa de casa.
— Não quero que conte ao Yoongi sobre a gravidez. Por favor, não diga nada! Nem diga que estava comigo - pedi.
— Mas ele também é o pai dessa criança. Uma hora ou outra ele vai ter que saber e vai, porque logo sua barriga vai crescer.
— Ele não precisa saber. Eu estou pensando em voltar para o Brasil e morar com os meus pais lá. Sabe, eu não conseguiria voltar com ele. E sei o quanto é ruim para uma criança viver com os pais separados. Então, talvez seja melhor que ele não saiba.
— Pense melhor nisso. Eu não vou contar. Mas olha, você precisa voltar a se alimentar direitinho e ficar saudável. Os primeiros meses da gestação são cruciais para a formação da criança. Então, se você estava triste, agora você tem um motivo para continuar. Agora essa criança tem que ser o seu tudo.
— É, e ela vai ser. Eu preciso recomeçar. Eu vou recomeçar por causa do meu filho - falei. — Ou filha, eu não sei. Mas, de qualquer forma, uma criança. E vai ser por ela que eu vou continuar vivendo.
— Isso aí! Você não pode desistir. Lute! Estarei do seu lado.
— Obrigada, Sra. Min - a abracei.
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