Yoongi
Admirar (S/N) dormindo era uma das coisas que eu mais gostava. Seja quando ela dormia em meu peitoral enquanto estávamos assistindo filme ou após uma longa e prazerosa noite de amor. Ela parecia um anjinho dormindo.
No hospital, após a anestesia, dormiu durante 16 horas inteiras. Até que, as 5h da manhã, ela acordou repentinamente e com um pouco de dificuldade, me chamou:
— Yoongi?
— Oi - respondi, pronto para lhe dar qualquer ajuda. Eu não dormi aquela noite. Não consegui. — Você precisa de alguma coisa?
— Eu estou com sede - disse ela.
Levantei-me da poltrona e enchi um copo com a água do bebedouro.
— Aqui - a entreguei.
— Obrigada.
— (S/N), preciso te perguntar uma coisa que está me deixando... Estressado - suspirei.
— Sobre o que? - ela me olhou, fazendo nossos olhares se encontrarem.
— O que aconteceu naquele dia? Por que eu achei você quase morta jogada no chão?
Ela abaixou a cabeça. Parecia se lembrar de uma coisa horrível, um passado obscuro que a condenava e a perseguia.
Ela se sentou com um pouco de dificuldade na cama e deu um gole em sua água.
— Eu estava saindo da casa da Anna e... Uns homens começaram a assobiar para mim e falar perversidades - uma lágrima caiu de seu olho e ela fechou os olhos, balançando a cabeça. — Eles me pegaram a força e me amarraram. Yoongi, eu fui molestada! E-eles me...
A interrompi, chegando mais perto e puxando-a para um abraço apertado. A deixei chorar tudo o que precisava chorar. Eu me sentia mal por ela, me sentia inútil por não ter protegido ela. Não me importava se ela estava molhando minha blusa preferida. Só me importava com ela; com a presença dela e com a felicidade que me trazia.
— Me desculpa - pediu. — Molhei sua blusa toda, Yoon.
Sorri bobo, depois de ter beijado o topo de sua cabeça. Ela não me chamava daquele jeito havia muito tempo, desde nosso término.
— Não precisa - alisei sua bochecha, limpando seu rosto molhado. — você não precisa se desculpar por chorar.
— Estou sendo fraca...
— Não está, não! Você é forte, (S/N). Sabe disso.
— Não, eu não sou forte - ela saiu do abraço e me olhou com os olhos marejados. — Pessoas fortes não fazem isso, Yoongi - ela levantou as mangas de sua blusa e revelou seus pulsos completamente mutilados.
Não hesitei em deixar lágrimas silenciosas escaparem. Era chocante e torturante ver que a mulher da minha vida estava imersa na ilusão de que sua vida não possuía valor.
— (S/N)...
— E-eu sinto muito - falou, chorando.
— Por que você fez isso?
— Não consegui me conter. Eu não estava bem, Yoongi. Eu não estou bem. E não sei se algum dia vou estar.
Respirei fundo.
— Pode me explicar isso?
— Não há como explicar. Eu achava que... Achava que conseguia enfrentar o mundo. Achava que conseguia ser forte, mas eu não consigo. Eu achava que podia ser maior que o preconceito, mas não. Todo mundo nesse país me trata como um nada e eu percebi que realmente sou um nada. Eu não sou ninguém, Yoongi. Eu não sou nada - ela chorava.
— Pare com isso. Quem colocou isso na sua cabeça? Por que você acha essas coisas? - peguei sua mão. — Por favor, pare. Volte a ser a (S/N) que eu conheci.
— A (S/N) que você conheceu... Ela morreu aos poucos. A força dela acabou. Foi se acabando com o tempo. Em partes. Uma parte foi embora quando o irmão dela morreu, outra parte quando seus pais foram para longe, outra quando ela foi traída por quem mais amava e outra quando a estupraram. Foi cada uma dessas coisas que a fez perceber o quanto é desprezível. A luz se esvaiu dela e agora só restaram suas trevas, e essas trevas convencem a nova (S/N) de que ela também vai ser incapaz de ser uma boa mãe - ela olhou para baixo, ainda chorando.
— É tudo culpa minha. É, eu sei que é. Eu sei que errei com você e que se sente sozinha, mas eu juro que você nunca vai voltar a estar sozinha. Eu vou estar aqui, ta bom? Vou estar aqui para você e para o nosso bebê. Nunca vou me perdoar por aquilo, mas eu preciso que me dê uma nova chance. Preciso que me deixe provar que eu nunca deixei de amar você.
Cada vez mais eu me aproximava. Nossos rostos estavam muito próximos e eu queria beijá-la, entretanto, ela quebrou o clima:
— Não consigo acreditar nisso - confessou.
— Sei que é difícil acreditar em mim de novo, mas (S/N), eu...
— Não exatamente nisso. Não consigo acreditar em tudo isso. Eu não consigo mais acreditar no amor, Yoongi.
— Como...? - puxei seu queixo e a fiz olhar em meus olhos. — Como... Como assim?
— Se nem eu sou capaz de me amar, por que alguém me amaria? - ela retribuiu meu olhar, fazendo tal indagação.
E tudo aquilo me quebrou por dentro. Conclui através de tais palavras que minha garota estava passando por uma turbulenta fase de depressão intensa. E o culpado? O culpado, por sua vez, ao ver tudo bagunçado e revirado de cabeça para baixo, sentiu vontade de se autoespancar.
Eu era o culpado.
• • •
(S/N)
Após a conversa que tive com Yoongi, olhei o relógio. Eram 7h da manhã e então a porta do meu quarto foi aberta, revelando a entrada de Alice e Taehyung.
— Você está tão bem, amiga! - ela sorriu. — Quer dizer, da última vez que eu vim aqui, você estava em coma. Se não me engano, ficou dois dias em coma. Mas agora, como você está? Se sente bem?
— Melhor - falei. — Na verdade, eu senti um pouco de tontura ao acordar. Minha cabeça dói por causa dos pontos. A minha perna... Bom, a minha perna está doendo muito.
— É né, você levou um tiro na perna, o estranho seria se não doesse.
— Taehyung, caralho! - reclamou o Yoongi.
— Está tudo bem, Yoongi. Ele está certo. Acho que a dor é normal, aliás... Foi um tiro - suspirei. — No entanto, só quero saber de uma coisa. Eu não ligo para mim, quer dizer, só se alguma coisa for prejudicial na gravidez. Alice, me ajude. O que os médicos disseram? O bebê...? Como está o bebê? Aconteceu alguma coisa?
— Keren falou que você vai fazer uma ultrassonografia hoje. Em meia hora. Nós vamos saber se o bebê está bem quando o resultado sair. Então, vem cá, eu vou te ajudar a se arrumar. Vou dar banho em você - ela me ajudou a levantar da cama e me colocou numa cadeira de rodas. — O povo pediu para avisar que todos vão chegar na hora do almoço.
— Tudo bem - respondi. — Obrigada por terem vindo.
— Que isso, mulher! Não tem que agradecer, não. Nós somos seus amigos e todos nós vamos te ajudar, ok? Agora vem - ela me guiou até o banheiro.
• • •
Após Alice me ajudar a tomar banho, ela saiu do banheiro, dizendo que iria pegar alguma coisa lá fora. Resolvi esperá-la.
— Por que trouxe um espelho, Alice? - ri e perguntei quando vi Alice voltar para o banheiro com um espelho gigante.
— Você não pode ficar em pé para se ver nesse espelho - apontou para o espelho do banheiro, que ficava acima da pia. — Então, eu trouxe esse aqui - ela colocou o espelho no chão. — Para você poder se ver e fazer aquele negócio direito.
— Que negócio? - a olhei, confusa.
— Aquele negócio de passar creme nos cachinhos. Eu não sei fazer isso e não quero estragar seu cabelo, então achei melhor você mesma fazer - respondeu, ajeitando o espelho na minha frente e dando nas minhas mãos um grande pote de creme.
— Ah, sim. A fitagem. Fitagem dos cachos - a olhei, rindo. — Muito obrigada, Alice. Valeu mesmo.
— Já disse para não me agradecer! - ela revirou os olhos, fazendo-me rir intensamente.
Dividi meu cabelo em quatro partes e pus-me a dividir as partes em mechas e passar certa quantidade de creme, depois amassei. Fiz isso repetidas vezes. Em todas as partes do cabelo. Gastei trinta e cinco minutos.
— Yoongi vai adorar - ela sorriu.
Desviei o olhar, sorrindo minimamente. Yoongi sempre gostou dos meus cachos e fazia questão de demonstrar isso a todo momento. Por mais que tentasse esconder, eu ainda o amava. Todavia, tinha medo.
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