Foi a oportunidade perfeita. Naquele dia, convidei Anna e Jin para a janta. Assim, Jeonghan poderia se desculpar com Rosalie, que ainda se fazia triste em demasiado. Quando, no dia anterior, contei à Anna o que havia acontecido, ela ficou muito brava com o filho. Todos sabíamos que ela não havia educado-o daquela maneira.
— Yoongi, desfaz essa cara de cu. Agora! - vociferei. — Eles já estão chegando.
— Esse menino... Ah! (S/N), ele mexeu com a minha Kate!
— Nossa - corrigi. — E ele é apenas uma criança. Você não pode exigir muito de uma criança.
— Ah, claro - debochou. — Estou muito puto com o Jin. Ele não ensinou o filho dele a ser um cavalheiro? Principalmente com a minha menina?
— Yoongi! - respirei fundo. — Quando eles chegarem, não seja mal-educado ou inconveniente.
Ele suspirou.
— Se eu ver esse moleque na minha frente, eu acabo com a raça dele!
*Ding Dong*
Ouvi a campainha tocar. Eles haviam chegado. Chamei Rosalie e Dak-Ho para se sentarem na mesa. Apenas o meu menino veio. Já a minha menina disse "depois" e continuou deitada na cama. Vê-la naquele estado me doía o peito, mas eu estava fazendo o que podia fazer para que as coisas se resolvessem, além de conversar com ela em meus momentos vagos.
Soltei um suspiro pesado e fui atender a porta.
— Boa noite, gente - sorri.
— Boa noite - Anna e Jin disseram em uníssono enquanto entravam com Jeonghan.
— Boa noite, tia. Boa noite, tio - o mais novo olhou para mim e para Yoongi.
Sorri e o respondi reciprocamente. Já Yoongi...
— Boa noite? Você destrata a minha filha e acha que tudo pode se resolver com um simples "boa noite", garoto?
— Yoongi! - chamei sua atenção.
— T-tio Yoo... - o menino começou a gaguejar.
— Vamos jantar logo, antes que eu perca a paciência! - respondeu meu marido, irritado.
Todos fomos para a mesa. Eu havia feito uma comida brasileira. Nossos amigos ficaram sem jeito pelo modo de falar de Yoongi. Eu sabia que eles eram ótimos pais.
— Papai, por que você está tão bravo hoje? - Dak-Ho perguntou, confuso. — E por que a chata não está aqui com a gente?
— Sua irmã vai vir daqui a pouco - respondi. — Continue comendo.
— Ela não está aqui porque alguém tratou ela mal - respondeu Yoongi, olhando furioso para Jeonghan. — Porque os pais dele não o ensinaram.
— Já chega! - exclamou Anna. — Nós nunca precisamos ensinar isso para ele, Jeonghan nunca apresentou esse comportamento.
— Mas agora apresentou, ele foi completamente mal-educado com a minha filha e eu não vou admitir isso! - ele respondeu no mesmo tom de voz.
— É claro que nós o ensinamos - Jin se pronunciou. — Mas ele é uma criança, Yoongi. Não aja como se ele fosse um adulto.
Por mais que eu tentasse, ninguém me escutava. Eles não paravam de brigar e eu não aguentava mais aquilo. Dak-Ho os olhava sem entender nada e Jeonghan não abria a boca, apenas mantinha sua expressão triste.
— Me desculpem - disse o pequeno. — Tio Yoongi, eu sei que fiz errado. Mas eu não vou fazer mais isso. Só quero entregar isso à Kate. Não foi culpa dos meus pais, eles não tem culpa! Eu que magoei minha melhor amiga.
Ele conseguiu fazê-los calados. Era nítido que estava arrependido, mais ainda quando ele se levantou e correu até o quarto da pequena Rosalie. Fui atrás dele e, consequentemente, todos eles também vieram.
— Chame ela - incentivei.
Seu olhar oscilava entre a porta e eu; ele deu três batidas.
— Kate? - a chamou.
Dez segundos depois, minha filha abriu a porta. Seu rostinho estava avermelhado e inchado, os olhos marejados. Ela estava chorando enquanto os escutava brigar e, de certa forma, me senti culpada.
— Oi.
— Me desculpa - ele pegou a mão dela e colocou a caixa de bombons. — Eu não queria ter feito isso. Não queria que você ficasse triste.
— Agradeça - sussurrei, atrás de Jeonghan, após ver que ela não conseguia respondê-lo.
— Obrigada - ela abaixou a cabeça.
Ele me olhou confuso, de modo com que eu conseguisse ler sua mente.
"É só isso, tia?"
— Nós... Ainda somos melhores amigos? - ele a olhou.
— Não sei. Você tem outros melhores amigos.
— Não tenho, não! Você é a minha melhor amiga.
— Não pareceu isso na escola!
— É, desculpa... Mas eu não vou fazer isso de novo, Kate.
— Não vai?
Ele balançou a cabeça, indicando um "não" com a cabeça.
— Então... Tudo bem. Eu perdôo você.
Eles se abraçaram.
[...]
Faltavam quinze minutos para as quatro da tarde e eu fui com Rosalie para a casa da minha sogra. Nós não víamos ela e a vovó Min fazia alguns dias.
Por ter trabalhado em um sábado, peguei um dia de folga. Era quarta-feira e estava muito calor.
— Por que a senhorita não está na escola? - Gayoon perguntou, logo após encher minha filha de beijos.
— Não gosto da escola, vovó - disse a pequena.
— Por que não? Não gosta dos seus novos amiguinhos?
— Eu não fiz amiguinhos - revelou a menor.
— Rosalie, vá ao quarto da sua bisa, ela comprou uma boneca para você - falei.
— É mesmo, mamãe? - a pequena perguntou, animada com a notícia. Foi correndo para o quarto da vovó Minha.
Aquilo não era mentira, de fato a vovó Min havia comprado uma boneca para Rosalie. No entanto, eu precisava de um tempo à sós com minha sogra.
— O que aconteceu? Por que ela não conseguiu fazer amigos? (S/N), será que precisamos levá-la ao psicólogo?
— Ela sofreu racismo, Gayoon - disse eu. — Ninguém quis ser amigo dela por causa das suas diferenças.
Ela soltou um suspiro pesado. Nós sabíamos que não podíamos mudar o passado. Gayoon fora uma mulher horrivelmente cruel e ambas tínhamos a noção de que minhas feridas estavam sangrando novamente.
— Nunca vou me perdoar por ter feito aquilo com você - confessou. — Eu nunca vou me perdoar por...
Ela percebeu antes mesmo de mim que eu estava chorando e me abraçou. Por fora eu era uma mulher de vinte e três anos. Por dentro eu ainda era aquela garota de quatorze, agoniada e transtornada pelo preconceito.
— Eu não quero que ela passe o mesmo, Gayoon - desabafei.
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