A água quente que banhava meu corpo naquele instante tão sereno era o que me fazia relaxar depois de um dia inteirinho corrigindo provas de alunos. Embora fosse muito cansativo ser professora de uma das escolas mais influentes da Coreia do Sul, a sensação era radiante e bela. Eu sabia que todo o meu esforço seria válido, afinal, eu acreditava no potencial de cada um dos meus alunos e sabia que futuramente todos iriam brilhar — bom, esse era o meu desejo.
Fazia tempo que eu não ponderava. Nem respirava. Tudo estava muito corrido. Contudo, naquele dia, naquela banheira, deitada de pernas cruzadas e de olhos fechados, eu respirei. E as lágrimas, subitamente, começaram a descer. Eu chorava sem ter, exatamente, um motivo. Eu chorava pensando no meu eu do , a (S/N) que sofreu bullying no Ensino Médio, que nem imaginava que teria uma filha que passaria pelo mesmo aos seis anos de idade. Eu chorava pensando no meu irmão que me causava saudade, depois de anos do seu suicídio. Eu chorava, também, porque era grata pela família que construí depois de ter renascido e emergido do violento mar. O mar onde habitavam minhas dores mais profundas.
— Eu posso saber por qual motivo a senhorita está chorando? - indagou Yoongi curiosamente, entrando no banheiro e me encarando por vários segundos sem que eu percebesse.
— Por que não bate antes de entrar?
— Eu perguntei primeiro.
Bufei.
— Não estou chorando - disse eu. — O meu rosto está molhado. Eu estou tomando banho, caso o senhor espertinho não tenha percebido.
— Você está sendo irônica ou cínica? Assim mesmo, na cara de pau? - ele riu e se aproximou, ficando perto da banheira. — Me conta - pediu, alisando minhas bochechas.
Toquei a mão dele e a acariciei, trazendo-a até meus lábios e deixando ali um beijo. Uma das fortes características da nossa relação era o carinho.
— Yoon, é tudo. Tudo. Não é só por tristeza, sabe? É um aglomerado de emoções que eu não consigo explicar. Meu dia hoje foi muito cansativo e eu comecei a pensar na Rose, em nós, no Jackson... Em tudo.
Cautelosamente, ele tomou meu queixo com o polegar, fazendo com que eu olhasse em seus olhos. Aqueles olhos sombrios que iluminavam a minha alma.
— Não pense mais nas coisas ruins, (S/N) - aconselhou-me. — Tudo vai ficar bem. Tudo vai se estabilizar. Não é muito bom lembrar do passado, mas focar no futuro. A questão da Kate precisa ser resolvida logo. Bom, daqui a uns dias ela vai voltar a frequentar a escola, e eu vou pessoalmente conversar com o diretor.
— Espero que adiante alguma coisa. Espero que eles ensinem respeito e solidariedade naquela escola. Não estamos pagando aquilo para nossa filha e ir e ser discriminada.
Ele concordou com a cabeça, parecia um pouco cansado.
— Como foi o seu dia, amor? - perguntei.
— Também foi cansativo - respondeu, soltando um suspiro pesado.
— Vem cá - peguei em seu braço e o puxei para a banheira. Ele hesitou.
— Estou de roupa, (S/N) - abriu um sorrisinho.
— Tira.
— Está tão apressada assim? - debochou.
— Estou. É melhor andar logo.
Ele se despiu na minha frente e entrou na banheira, colocando-me sobre ele.
— Há quanto tempo a gente não faz sexo? - ele me olhou maliciosamente.
— Eles já dormiram?
— Eles estão na casa da minha mãe - falou. — Ela chamou eles para passar uma noite com ela e a vovó e eles quiseram, então eu só levei eles de carro. Isso aconteceu em menos de cinco minutos.
— Sério? Nossa, eu nem percebi nada - comentei.
— Você estava aqui, né, tontinha - riu.
Revirei os olhos.
— Dá para entrar logo nessa banheira?
Yoongi se despiu por completo e entrou na banheira, ficando ao meu lado.
— Parece que sentiu minha falta - disse eu, rindo, após sentir as mãos dele descerem de minhas costas até meu quadril.
— E como, meu amor.
[•••]
Acordei num susto após um pesadelo estranho que meu cérebro fez questão de apagar cinco segundos depois que meus olhos se abriram. Yoongi dormia nu ao meu lado enquanto eu caçava os olhos com o coração incrivelmente acelerado — o motivo era desconhecido por mim, talvez fosse por causa do sonho ruim que eu não fazia questão de me recordar.
Levantei após alguns minutos e vesti um pijama qualquer. Depois fui para a cozinha e bebi um copo de água, tentando entender o porquê de meu coração estar tão aflito. Na verdade, essa parte era uma das coisas que fazia eu odiar o fato de ter ansiedade.
O frio da madrugada era muito satisfatório. Eu adorava. Naquele momento, pus-me a sentir uma serena brisa após abrir janela da varanda. Por um segundo, fechei os olhos. Me senti a adolescente que eu fora há tempos atrás. Eu pensei em Jackson e o arrepio se fez presente por toda a extensão do meu corpo. Sorri.
— Eu consegui vencer - disse a mim mesma, orgulhosa por não ter desistido.
— É claro que conseguiu.
Senti braços envolverem a minha cintura. Tomei um susto e soltei um grito alto.
— Por que você chega assim nos lugares?! - perguntei, olhando furiosa para Yoongi. — Achei que você estava dormindo.
— Eu estava, mas senti sua falta. Digamos que é melhor abraçar você do que abraçar meu travesseiro - respondeu, simplista, com carinha de sono e voz tomada de rouquidão.
Andei até Yoongi e o abracei, colocando minhas pernas envoltas à sua cintura quando ele me pegou no colo.
— Eu te amo.
— Eu também te amo, princesa.
Ele beijou minha testa.
— Sabe o que eu estava pensando? - comecei. — Acho que a gente podia ir ao Brasil e ficar lá por alguns dias, talvez uma semana.
— Boa ideia - abriu um sorrisinho. — As crianças nunca foram lá. Esses dias Dak-Ho me perguntou sobre o Brasil, mas eu não podia responder porque nunca foi lá.
— Por que ele não me perguntou?
— Amor, foi na quinta-feira passada - ele me olhou nos olhos.
— E o que rolou quinta-feira passada? Foi um dia normal como qualquer outro!
— Você estava na cozinha. Cozinhando. Enquanto estava muito, muito puta. Sem motivo nenhum. Depois, de acordo com meus cálculos, eu supus que você estivesse de TPM e falei para as crianças não se aproximarem.
— Ah - ri. — Eu realmente estava. Mas e aí, vamos tomar café da manhã?
— (S/N), são 3h15 da manhã.
— Café da madrugada, então - puxei ele para a cozinha.
[...]
Yoongi estacionou o carro e pegou a chave, logo abrindo o portão da casa recém-pintada de azul.
— Aaah! - ouvimos um grito de pânico assim que entramos na casa de Gayoon e vovó Min.
— O que foi, menino? - perguntei desesperada.
— Ah, Rose, pode sair de trás do sofá. É só a mamãe e o papai - disse Dak-Ho e logo Rosalie apareceu.
— O que está acontecendo aqui? - Yoongi indagou, confuso.
— Estávamos vendo um filme de terror... - respondeu a pequena.
— Sobre um lobisomem gigante! - comentou o menor. — E a vovó falou que ele ia vir pegar a gente se a gente fizesse alguma arte. E eu quebrei o copo de vidro sem querer.
— Quando...? - começou Gayoon.
— Quando a vovó disse que não podíamos usar os copos de vidro, só os copos de plástico - completou Dak-Ho, expressando arrependimento no olhar. — Então, quando vocês chegaram, pensei que fosse o lobisomem.
— Seu pai não é um lobisomem, mas se vocês desobedecerem mais uma ordem ele vai se tornar um - menti. — Tratem de obedecer. Ou... - enrolei. — A viagem para o Brasil vai ser cancelada.
— Viagem para o Brasil? - perguntaram em uníssono, com os olhinhos brilhando.
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