— Oi, meu amor. Como foi na escola hoje? - perguntei a Rosalie, após buscarmos ela na escola.
— Foi legal. Melhor que antes.
Yoongi me olhou nos olhos, depois olhou para ela, através do retrovisor.
— Foram legais com você?
— Sim, papai - disse ela. — Eles não fizeram piadinha nenhuma hoje.
— Acho bom - respondeu. — E o idiota do filho do Jin? Foi babaca de novo?
— Não fale assim do Han! - pediu. — Ele deixou de andar com os amigos dele para andar comigo hoje. Eu gostei disso - comentou a pequena.
— Ele não fez mais que a obrigação dele, vocês se conhecem desde que nasceram.
— Por que ninguém perguntou como foi o meu dia? - Dak-Ho se pronunciou.
— Seus colegas te olham torto por você ser diferente deles? - Yoongi indagou, debochadamente.
Inocente, Dak-Ho respondeu:
— Como assim diferente deles? Eu não sou diferente dos meus colegas, papai!
— Exatamente.
Respirei fundo.
— Pode falar como foi seu dia, filho. O que você fez hoje? - disse eu, do banco da frente do carro.
— Hoje foi muito maneiro! - ele sorriu. — Falei para os meus amigos que vamos para o Brasil e todos eles ficaram com inveja! Então eu disse que você era brasileira e todos eles ficaram com cara de cu, porque não tem uma mãe brasileira que faz brigadeiro, haha!
— Eu vou ter que passar pimenta na sua boca para te ensinar que é falta de educação xingar, menino?
— Desculpa, mamãe... - ele fitou o chão. — Ei, uma pergunta, por que Kate não anda como você e a menina da revista?
— Como assim, Dak-Ho? - perguntou-lhe sua irmã.
— Por que você não anda como a mamãe? Com o cabelo solto e cacheado? Ela fica parecendo um leão com uma juba enorme e é muito bonito! A menina da revista que eu vi hoje tinha o cabelo igual... E você também tem o cabelo igual! Por que não faz como elas?
— Não interessa, seu bobo! - respondeu, com os braços cruzados.
— Rosalie, para de ser ignorante com seu irmão! - ordenei.
Logo havíamos chegado em casa. Yoongi foi tomar um banho enquanto eu adiantava o jantar. Fiquei pensando no que ocorrera mais cedo. Aquilo havia me machucado, de fato. No entanto, eu não era mais aquela menina de quatorze anos. Eu aprendi a lidar com a maldade das pessoas de modo inteligente, não absorvendo nada que não me edificasse.
— Estou exausto - comentou Yoongi, entrando na cozinha apenas com roupão, envolvendo seus braços na minha cintura.
— O que aconteceu?
— Nada. Mesma coisa de sempre. É bem cansativo ser CEO - falou. — E você? Por que está com essa carinha?
— Vou para o tribunal amanhã com os pais de uma aluna - suspirei pesadamente.
— O que?
— Ela me comparou a um macaco. Se fossem crianças como Rosalie e Dak-Ho, eu até pensaria em relevar. Mas meus alunos tem entre dez e doze anos, eles já são grandinhos para terem ciência do certo e do errado. Isso me deixou muito estressada.
Eu vi raiva no olhar do meu marido.
— Os maiores culpados são os pais! É tão difícil ensinar o respeito? Porra! Se nossos filhos algum dia fizerem algo desse tipo, eu bato neles. E bato com vontade. Até aprenderem que isso não se faz.
— Nossos filhos nunca farão isso, Yoongi. Graças a Deus, estamos dando uma ótima educação para eles. Infelizmente, nem todo mundo faz isso.
— Do que estão falando? - ouvi uma voz e me virei para trás, tendo a visão dos dois pimpolhos adentrando a cozinha.
— Da diversão que vai ser quando visitarmos o Brasil - respondi, rapidamente.
[...]
Deu-se sexta-feira. Levei um filme para passar aos alunos; O Menino do Pijama Listrado.
Para mim, aquele filme trazia uma mensagem incrivelmente dolorosa que mostrava um dos períodos mais cruéis da história da humanidade.
— Professora, o Shmuel estava preso só porque era um judeu?
— Infelizmente, sim. Levante a mão quem aqui sabe o que foi o Holocausto - falei.
De trinta, doze alunos levantaram uma das mãos.
— Bom, gente, Holocausto foi o nome que se deu ao genocídio de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
— O que significa genocídio? - indagou Sook.
— Extermínio de um povo, Sook.
Vi as expressões de tristeza e surpresa estampadas em suas faces.
— Já estudei sobre isso uma vez - comentou Joy, uma menina que falava pouco. — O nazismo era cruel. Os nazistas matavam judeus pelo simples fato de serem judeus!
— Exatamente, Joy. Adolf Hitler era um doente, mas isso é assunto para outra aula - respondi. — Pessoal, quero que façam uma redação sobre o entendimento que tiveram do filme que assistimos hoje, com o tema "Intolerância entre seres humanos". Sejam criativos no título.
— Quantas linhas, professora?
— No mínimo, quinze linhas. No máximo, trinta e cinco. Não rasurem palavras e escrevam à caneta. Tomem cuidado com a grafia errada e, por favor, não esqueçam de colocar o nome de vocês na folha.
Estava escrevendo os critérios da redação no quadro para que eles se lembrassem, e então a porta da sala foi aberta, revelando uma coordenadora da escola.
— Srta. (S/N)? - ela me chamou.
— O pai da Jiwoo está aqui e quer vê-la. Eu posso ficar com a turma enquanto você o atende - disse.
— Ah, sim. Claro. Gente, eu já volto. Façam o que foi pedido e respeitem a coordenadora - pedi, saindo da sala.
Fui até a sala do diretor e havia um homem junto a ele. Fui até os dois.
— Bom dia. Quer conversar comigo?
— Ah, bom dia. Você é a professora da Jiwoo, sim?
— Sim. Prazer, (S/N) Min.
— Prazer. Jiwoo não veio hoje e ela me pediu para vir. Peço desculpas por ela. Ela realmente tem um péssimo comportamento.
— Algo que é função dos pais corrigir - afirmei.
— Jiwoo faz isso por ser rebelde demais. Eu quase não tenho tempo para ela, já que estou sempre acarretado com muito trabalho. E a mãe dela... Bom, a mãe dela resolveu seguir carreira de modelo e quase não dá as caras, muito menos atenção para a filha. Era um dever meu estar mais próximo dela e ensinar o certo e o errado, eu errei. E sinto muito. Por favor, não me denuncie. Eu prometo que isso nunca mais vai se repetir.
Respirei fundo.
— Está tudo bem, não vou te denunciar. Mas eduque a sua filha direito. Arrume tempo. Esteja com ela, porque ela precisa de você.
[...]
— Você só pode estar ficando maluca, (S/N)! - exclamou Yoongi, raivoso. — Como assim você não levou aquele homem para o tribunal?
— Yoongi, ele me pediu. Eu vi sinceridade no olhar dele.
— A filha dele foi hostil com você! Se isso acontecesse na minha frente, eu não iria responder pelos meus atos - mordeu um pedaço do seu salgado. — Mas o importante é que você não desanimou. A viagem para o Brasil ainda está de pé?
— É claro que está - ri.
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