Vinte minutos após ter levantado, escovei os dentes e tomei um banho rápido. Não hesitei em colocar uma blusa antiga de Jackson que usava para irritá-lo quando ele estava vivo. A saudade me perfurava o peito e eu evitava-o de todas as maneiras, entretanto, naquela manhã, acordei disposta a tentar fazer as pazes com meu passado amedrontador. Em passos apressados, fui para a cozinha ajudar minha mãe a preparar o café da manhã. Meu pai já saíra de casa para trabalhar e apenas voltaria às 15h00.
— Suas tias ficaram muito animadas quando contei que você veio com as crianças - disse ela.
— É, nós não nos vemos há... - tentei calcular, mas eu era de humanas e de manhã a minha preguiça triplicava. — Bastante tempo.
— Ontem as crianças demoraram para dormir. Como são levados esses dois!
— Eles são mesmo! - ri. — De vez em quando, tenho que dar umas palmadas neles.
— Iguais aquelas que eu dava em você e Jackson?
— Ah, iguaizinhas! - sorri com o filme de lembranças que minha mente havia projetado em tal instante. — Estou usando a blusa dele, mãe. Como eu queria que ele estivesse a...
— Filha, esse é o desejo de todos nós. Mas nem tudo é como a gente quer, sabe? Me dói muito, porque Jackson era mesmo um filho para mim. Eu sinto saudades dele, mas tenho orado e pedido forças a Deus desde que ele morreu.
— Já faz anos e eu ajo como se... Como se ele fosse, sei lá, voltar. Não consigo processar a ideia de que meu irmão se foi.
— Esse é o ciclo da vida... - começou ela.
— Em seu mais perfeito funcionamento - completei.
O pai da minha mãe, vovô Nelson, costumava nos contar historinhas quando éramos crianças. Ele sempre nos dava bons ensinamentos.
— Bom dia, mamãe - Dak-Ho apareceu. — Bom dia, vovó. Estou com fome...
— O café está quase pronto, Dak-Ho. Espera mais um pouquinho. Vai ver desenho na sala.
— Oba, vou ficar com o controle remoto sem a chata da Kate no meu pé! - comemorou.
— Fico impressionada olhando para esse menino. Ele é o Yoongi cagado e cuspido, (S/N)! Ele não tem nada a ver com você.
— Obrigada pela força, mãe - debochei. — Pelo menos a Rose se parece comigo, né.
— Na verdade, apenas a pele e o cabelo. Ela também é a cara do Yoongi.
— Af, mãe! Assim você dificulta minha situação! - brinquei, elevando o tom de voz.
Senti braços envolvendo a minha cintura e me virei.
— Olha quem resolveu acordar - ri e me virei para Yoongi, dando um selinho nele.
— Pegação na minha cozinha, não! Vocês têm o quarto de vocês, não sou obrigada a ficar de vela. Não dentro da minha própria casa! - minha mãe se pronunciou.
— ai ai, mãe, você é uma figura! - comecei a gargalhar.
Ela riu também.
— Estou brincando. Até que acho que vocês são muito fofinhos juntos. Parecem dois adolescentes, só que maduros. Bom... Um pouco maduros - se corrigiu ao ver Yoongi brincando de fazer bigode com o suco de abacaxi.
— Sogra, pra onde você acha que eu devo levar a (S/N) hoje? - ele perguntou.
— Para a balada - riu. — Mentira, que tal a praia?
— Praia? Não! O Yoongi vai ficar olhando para aquelas bundas o dia inteiro.
— Que isso, amor! A única bunda que eu gosto é a sua.
Ele me puxou, me dando um beijo enquanto descia a mão.
— que Deus tenha paciência para aturar esses dois, porque eu não tenho! - falou mamãe, logo tirando o bolo do forno.
• • •
— O que é isso, Rose? - perguntei a menor, enquanto prestava atenção no desenho em suas mãos, me sentando ao lado dela na cama.
— É um desenho. Essa é você, essa sou eu, esse é o papai e esse é o Dak-Ho. Estou aprendendo a desenhar.
— Hm, que legal - elogiei. — Seu desenho ficou muito bonito, só não acha que você me desenhou um pouco baixa demais?
— Não, mamãe! Já sou quase do seu tamanho e o papai é bem maior que você. Na verdade, todo mundo na família é maior que você.
Uma das coisas que eu mais odiava era a minha altura, que me dificultava a fazer várias atividades, como por exemplo, pegar um objeto em algum lugar alto. Era uma > humilhação < ser zoada pela altura pela filha de seis anos.
Olhei para ela e a imaginei interagindo com Jackson — o qual eu nunca havia citado para os meus filhos.
— O que foi? Por que você está com cara de triste? Não gostou do desenho que eu fiz?
— Não, filha! Eu só estou com um pouco de dor de cabeça, mas vai passar - menti.
— Tudo bem, então - suspirou. — Estou com saudade do Han.
— Vocês conversaram por ligação ontem.
— Mas não é a mesma coisa... É diferente. Não é tão legal.
Yoongi chegou na hora.
— O almoço está pronto - avisou. — Kate, não quero desculpas dessa vez, você vai almoçar!
— Papai, não estou com fome - disse ela.
— Você comeu os doces que eu disse que era para comer só depois do almoço, não é?
Ela abaixou a cabeça.
— Da próxima vez que fizer isso, você vai ficar de castigo. Minhas ordens devem ser obedecidas! Anda, vai almoçar. Doce não alimenta e se você não comer nada vai acabar desmaiando.
Rosalie foi em direção à cozinha. Resmungando, mas foi.
— Olha ele, colocando terror - ri.
— Incrível como você ama debochar de mim - riu. — Você é chata, sabia?
— Sabia, e adoro! - dei um selinho nele.
— Você não vai acreditar no que Dak-Ho disse hoje. Sabia que ele veio me pedir dinheiro para comprar flores para uma garota? Então eu perguntei "uma garota, Dak-Ho?" e ele disse "sim, a minha namorada, nós somos tipo você e a mamãe" e (S/N), eu juro, juro que tentei prender a risada mas não consegui. Ele ficou me olhando fixamente tentando entender o porquê de eu estar rindo tanto.
— Você é bobo demais - comecei a rir. — Vou acabar com essa história de namorada, já já! Dak-Ho tem que entender desde cedo que namoro precoce não é permitido.
— Ué, querida, você começou a namorar comigo quando tinha 14 anos. Por acaso você era idosa e eu não sabia? - ironizou.
— Ah, cara, vai tomar no cu, assim não vale - dei um tapa nele. — Você sabe que eu era madura com 14 anos. Até que você também era maduro.
— Éramos maduros o suficiente, mesmo. Nas primeiras oportunidades de ficarmos sozinhos já estávamos transando como animais.
— Que mentira, Yoongi! - comecei a me lembrar. — Éramos quase santos! - soltei uma risadinha.
— Mas é aquela história, né, 99% anjinho perfeito mas aquele 1% é vagabundo - ele riu. — Caralho, que errado!
— Realmente, não estávamos certos. Eu poderia ter ficado grávida muito mais cedo porque as chances de falhas com a camisinha são enormes. Aliás, a gente sempre teve tudo para dar errado.
— É, mas nós demos certo. Foi um errado que deu certo. E se algum dia passamos por momentos difíceis, a culpa foi minha. Eu acho que nunca vou me perdoar por ter feito você sofrer.
— Não quero falar sobre isso. Essa ferida ainda está aberta. Ainda me machuca.
Ele me abraçou.
— Obrigado por ser a melhor coisa que já aconteceu na minha vida, (S/N). As vezes eu acho que sou pequeno demais para o universo extraordinário que habita em você, amor.
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