Era de manhã e meus pensamentos ainda se faziam atordoados, de modo com que eu me sentisse ligeiramente culpada por não estar aproveitando tal viagem como deveria. A verdade era que o Brasil me lembrava muito o meu irmão, Jackson, e a saudade vinha me ferindo em demasia quando eu percebia que, realmente, ele nunca mais iria voltar. Tudo que eu queria era vê-lo brincar de esconde-esconde com os sobrinhos que eu sabia que ele amaria ter. Os anos passavam-se, mas era como se eu tivesse perdido meu irmão há apenas um dia. Eu nunca me acostumava, tampouco naquele momento, no país que trazia à tona as antigas lembranças.
Havia anos que eu não visitava as belíssimas praias do solo brasileiro e eu sequer conseguia me manter animada, mesmo sabendo que era a primeira vez de Rosalie e Dak-Ho, mesmo estando feliz pelos meus filhos estarem conhecendo suas raízes brasileiras. Quando se apresentasse a tarde, eu planejava levá-los às casas dos meus parentes, sabendo que alguns não me viam há muitos anos e não conheciam minha família. Era inegável: eu estava ansiosa.
Yoongi ainda não havia acordado, nem ninguém na casa. Contrapondo-se às ordens que eu dei, as crianças foram dormir depois das onze, fato este que me causou muita irritação. Acordei cedo. Tão cedo que foi antes de minha mãe acordar. Eu nem conseguia mais dormir e estava em pleno tédio.
Após adentrar a cozinha, tive a ideia de fazer alguns brownies. As crianças iriam adorar.
Repentinamente, ouvi uma voz:
— Por que está acordada agora? Fazendo... Brownies? - Yoongi me surpreendeu, como sempre.
— Amor, eu perdi o sono e quero fazer alguma coisa.
— Não consegue mais dormir, (S/N)? Você anda pensando demais e isso está prejudicando você! Estou ficando preocupado, amor, você nem está animada com o fato de estarmos no Brasil e queria tanto vir... - notou ele. — Olha, eu quero te ajudar, ok?
— Pode vir - ri, brincando. — Pegue o açúcar para mim.
— Você sabe do que eu estou falando - aproximou-se de mim, após deixar o açúcar em cima da pia. — Não estou falando dos brownies, sua cínica! Você sabe disso! - riu, logo voltando à sua feição anterior tomada de preocupação. — (S/N), eu estou preocupado com você.
— Tá tudo bem, Yoongi. Eu juro.
— Amor, o Jackson não vai voltar. Ele não vai. Isso é horrível, sim. Mas ele gostaria de te ver sorrindo, aproveitando sua vida! Evite pensar na falta que ele faz e tente pensar em como ele ficaria feliz por te ver feliz. Por favor.
O abracei. Não consegui conter a minha vontade de chorar, já guardada há tempos. Eu só chorava, envolvida nos braços cautelosos do meu marido. Eu sabia que ele me apoiava. Eu sabia que todos os seus dizeres eram verdade.
— Eu te amo - disse ele.
— Eu também te amo, Yoon.
— O que acha de irmos à praia hoje? Nem fomos ontem.
— As crianças amariam, amor. Vamos, sim!
— É claro que elas amariam - ele alisou minha bochecha com o polegar. — Mas a questão é: e você?
— Estando com vocês, amo qualquer coisa, meu bem.
Ele sorriu e me deu um beijo.
— Precisamos terminar esses brownies - disse ele, rindo.
— Precisamos - ri, enquanto adicionava o açúcar à mistura que eu já fazia.
[ • • • ]
— Que cheiro de chocolate é esse? - indagou minha mãe, dez minutos depois de ter levantado.
— Estamos fazendo brownies, Marilene - respondeu Yoongi, sorrindo. — Estão quase prontos e vão ficar mais deliciosos que os seus.
— Vocês são comvencidos demais, tadinhos! - disse ela.
— É só a verdade, né, negah - imitei o meme, rindo. — Vou ver as crianças. Que horas são agora, mãe?
— São 7h30. Trate de acordar o búfalo do seu pai!
— Vou acordar as crianças. O Yoongi vai acordar o papai - fui para o quarto em que eles estavam dormindo.
Para a minha surpresa, Dak-Ho não estava lá. Apareceu cinco segundos depois, indo se deitar na cama.
— Onde estava, mocinho? - o perguntei.
— Fui fazer xixi, mamãe. Não tenho mais idade para fazer xixi na cama! - defendeu-se.
— Ok, isso é verdade - ri. — Não está mais na hora de dormir. Daqui a pouco, iremos na praia e logo depois na casa das minhas tias.
— Tudo bem. Não estou com muito sono, mesmo - respondeu. Você está fazendo chocolate quente? Está calor!
— Brownies, filho.
— Aaah, que gostoso!
Ri. Olhei para o lado e a Rosalie ainda dormia.
— Filha, acorda - balancei ela. — Vem comer.
— Comer o que, mamãe?
— Brownies.
Ela logo se animou para levantar. Mandei os dois irem escovar os dentes. Fui para a sala e meu pai olhava para Yoongi com fúria.
— Eu não disse que queria ser acordado! - reclamou ele.
— Mas foi a Marilene que pediu para eu te acordar, coroa!
— COROA?
Prendi a risada.
— Marilene, você está vendo o abuso desse seu genro?!
— Não sei de nada! - minha mãe respondeu.
— Robson Jorge, caro sogro, eu sei que você me ama - Yoongi deu um beijo na bochecha do meu pai.
Ele o olhou, não acreditando no que ele fez.
— Moleque, eu vou matar você! - gritou.
Yoongi correu com meu pai correndo atrás dele. Eu e minha mãe caímos na gargalhada até que as crianças apareceram.
— Bom dia, mamãe. bom dia, vovó - disseram em uníssono.
— Já estão lindos assim logo de manhã? - sorriu minha mãe ao dizer.
Eles sorriram.
— Cadê os brownies? - perguntou Rosalie.
— Estou com fome, mamãe! - exclamou Dak-Ho.
— Estão prontos - fui tirar do forno.
Peguei o recipiente com uma luva, em vista de que estava muito quente. Tirei os brownies dali e coloquei todos em um pratinho de ursinho.
— Esperem esfriar - falei, pegando um com a luva.
Subitamente, Yoongi voltou ofegante.
— Seu pai me deu uma chinelada na bunda. Está doendo - observou, colocando as mãos na bunda.
— Você tem idade para apanhar, papai? você é adulto! adultos não apanham! - falou Rosalie.
— Adultos apanham quando são uns bocós, pequenina! - respondeu meu pai, chegando logo depois dele.
— O meu papai não é um bocó! - ela o defendeu.
— Ah, claro, só é o rei deles! - riu e pegou um brownie, dando uma mordida. — Filha, está muito bom! você cozinha muito bem.
— Obrigada, pai. Sabemos quem eu puxei - pisquei para minha mãe.
— Puxou a mim, é claro! - vangloriou-se, arrancando risadas de todos na cozinha. — É sério!
Yoongi me abraçou por trás.
— Tenho um presente para você, amor - sorriu.
— Que presente, amor? - me virei para ele.
— Vamos para o quarto. Você vai ver.
Meu pai revirou os olhos.
— Sabe, Marilene, ainda tenho dificuldades para acreditar que ela cresceu - disse.
— Robson, ela é mãe de dois filhos!
— Mas ainda é um bebê!
Rimos e fomos para o quarto. Chegando lá, vi um belo biquíni brilhante em cima da cama. Era azul, com estrelas e planetas. Era um biquíni da via láctea. Lindíssimo.
— Amor, é lindo! Eu adorei - sorri, abraçando-o, logo em seguida lhe dando um beijo.
— Eu sabia que iria amar - disse Yoongi. — Por que não experimenta, hein? - falou no meu ouvido, deixando selinhos no meu pescoço enquanto tirava cuidadosamente a minha blusa.
[• • •]
Eu estava arrumando Rosalie. Coloquei nela o maiô branco de bolinhas coloridas que eu comprara especialmente para que ela usasse aqui no Brasil. Soltei o cabelo dela. Estava bem bagunçado e embolado.
— Meu cabelo está tão feio, mamãe! - disse ela.
— Você não penteou, Rose. Quer ir com o cabelo solto ou preso?
— Solto, como você! - respondeu. — Faz cachinhos em mim!
— Claro - sorri. — Vamos molhar seu cabelo, primeiro.
Levei-a a até o banheiro e abaixei sua cabeça à pia, molhando seus fios e, depois, tirando o excesso de água com uma toalha. Reparti seu cabelo em cinco partes e comecei a passar creme, enluvando e amassando para formar cachos. Trinta minutos depois, acabei. Fui me arrumar e animosamente coloquei o biquíni que Yoongi me dera há minutos. Fiz uma maquiagem básica e aproveitei o day-after em que se encontrava meu cabelo. Sempre um batom vermelho.
— Você está linda - disse Yoongi, entrando no quarto. — Linda e feliz. Eu amo ver você assim, sabia? - ele beijou minha cabeça.
— Obrigada, meu amor. Cadê as crianças?
— Estão arrumando seus brinquedos de praia na mochila - sorriu.
— Vamos ajudar - disse eu e caminhei até lá, adicionando na mochila uma garrafa de água, protetor solar, bronzeador, óculos escuros e roupas para colocarem depois.
— Estou muito animado, mamãe! - Dak-Ho me abraçou.
— Você vai adorar! - sorri para ele.
— Preparados para a praia? - perguntou Yoongi.
— Siiiim! - responderam.
— Vamos para o carro! Go to beach!
— Mamãe, quem o papai está chamando de vadia? - perguntou Rosalie.
— YOONGI! O que você está ensinando para nossa filha? - o olhei com raiva.
— Amor, foi o Taehyung e o Jimin!
coloquei a mão na cabeça.
— Vamos logo! - falei.
Entramos no carro. Me certifiquei de que as crianças colocaram cinto, eu e Yoongi colocamos em seguida. Éramos uma família bem mestiça e eu sabia que chamaria bastante atenção. Seria alarmante porque brasileiros são observadores, todavia, ao contrário dos coreanos, eles achariam surpreendente e legal.
— Coloca uma musiquinha aí, amor - pedi.
— Pode escolher, mo - disse ele.
— Eu quero escolher! - exclamou Rosalie, lá de trás. — Quero Marília Mendonça!
— Essa tem bom gosto! - sorri e coloquei "Supera".
Minutos depois, chegamos em Copacabana. Fazia anos que eu não visitava essa praia. Eu amava a energia que tal lugar me trazia.
— Chegamos - avisou Yoongi, fazendo as crianças soltarem gritinhos de alegria.
Andando pela areia, escolhemos um canto e colocamos nosso guarda-sol. Pus meus óculos escuros e passei protetor solar nas crianças e em Yoongi.
— Deita, vou passar nas suas costas - disse, quando as crianças foram brincar de montar castelos de areia.
Arrumei minha canga e me deitei de barriga para baixo, esperando Yoongi passar o protetor solar em mim. Senti um tapa forte na minha bunda.
— Yoongi!
— Desculpa, amor. Não resisti!
— Passa logo esse protetor e tira a mão da minha bunda, estamos em público e as pessoas vão ficar olhando!
Ele resmungou e espalhou o creme entre as mãos, passando em minhas costas e fazendo uma leve massagem.
— Que delícia - sorri. — Obrigada, amor - me levantei.
— Faltou o rosto. Vem cá - ele passou no meu rosto. — Linda - sorriu.
— Eu te amo - dei um selinho nele.
— Te amo ainda mais, amor - sorriu. — Vou comprar água de côco para nós com aquele carinha ali, ok?
— Tudo bem, amor. Sabe português, né?
— Sei sim, amor. Vou indo - despediu-se com um selinho e foi comprar.
Naquela intensa vibe, observei o oceano em sua plenitude. Tão azul. Tão belo. Ir à praia era algo que me fazia bem, de verdade. Ver minhas crianças se divertindo na areia, no meu Brasil brasileiro. Sempre quis isso. Olhar o mar era poesia. O amor era poesia.
— (S/N)? - ouvi alguém me chamar, num susto olhei para trás.
— Josh?!
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