J U N G K O O K
O que me acordou de manhã não foi meu alarme e nem Nayeon gritando o meu ouvido. Foi uma série de barulhos, vindos da cozinha da minha casa. Olhei para o lado, e meu gato, Biscoito, estava dormindo ao meu lado, então ele não era o responsável por aquilo.
Me levantei de supetão, com o coração começando a bater forte, enquanto segurava Biscoito em meu colo. E se fosse um assaltante? E se ele tentasse usar meu gato como refém?
Já criando milhares de teorias de quem seria o culpado pelos barulhos, eu criei a coragem necessária e fui até a cozinha, dando cara com Jeon Heejin, minha irmã caçula, preparando seu café da manhã na maior paz do universo, como se não tivesse invadido minha casa.
– Heejin, pelo amor de Deus... – eu anunciei, colocando minha mão sobre meu peito, sentindo as batidas do meu coração, aceleradas – O que tá fazendo aqui uma hora dessas?
Ela me olhou, sorrindo enquanto passava geleia de amora em seu pão.
– Bom dia pra você também, maninho – disse então, alegre – Eu acordei atrasada hoje, saí correndo pra chegar a tempo na faculdade. Assisti as aulas, mas eu não tenho mais aulas essa manhã, e minha barriga tava roncando alto. E bom, você mora perto até demais da minha faculdade, e eu achei que fosse minha melhor opção...
Coloquei Biscoito no chão, e ele correu até a direção da minha irmã, se esfregando em suas pernas.
– E como entrou? – pergunto, coçando meus olhos.
– Chave reserva – ela contou confiante, como se fosse óbvio, enquanto manda beijinhos no ar para Biscoito.
– A chave reserva é pra emergências, Heejin, pelo amor de Deus...
– E sua irmãzinha de barriga vazia não é uma emergência, Jungkook? – reclamou – Seus fãs vão ficar tão decepcionados se eu contar isso pra todo mundo... – ela fez uma cara de choro, obviamente falsa, fazendo o maior drama – Você não liga mais pra sua família... Como a fama muda as pessoas!
Bufei, arrumando meu cabelo bagunçado com as mãos.
– Não tinha dinheiro pra comprar algo pra comer na faculdade? – pergunto.
– Não... Eu saí correndo, tava atrasada, eu falei – repetiu, fechando o bote da geleia e guardando na geladeira.
– Não tinha dinheiro na sua mala, mas tinha a chave reserva do meu apartamento? – questionei então, levantando as sobrancelhas.
– Nunca esqueço as coisas importantes de verdade – deu uma piscadinha e mordeu o pão.
– Come esse pão logo, antes que eu dê pro Biscoito comer – ameacei, voltando ao meu quarto.
Arrumei minha cama, e escolhi uma roupa para passar o dia, a levando até o banheiro. Heejin terminou de comer, fez um breve carinho em Biscoito, que parece preferir ela do que eu, e então foi embora.
Eu liguei o chuveiro, deixando meu celular sobre a pia com música no último volume. No meio do meu banho, meu telefone tocou, e nesse momento eu agradeçeci por ser à prova d'água, já que atendi enquanto a água batia em meu corpo.
– Alô?
– Jungkook? – a voz de Nayeon é a que anunciou meu nome – Onde você tá? Debaixo de uma cachoeira?
– No banho – expliquei – O que foi?
– Não esqueceu que o programa de rádio é hoje, esqueceu? – ela perguntou.
– Não esqueci – minti ao responder – Só não lembro que horas tenho que estar lá.
– Apareça na empresa 2 horas da tarde, sem atrasos. Eu vou ficar com você durante o programa, estou curiosa pra ver como vai se sair.
Depois de terminar meu banho, colocar uma roupa adequada e falar sozinho comigo mesmo de frente para o espelho, eu depositei um beijo no topo da cabeça de Biscoito, que miou com desprezo. Gato ingrato do caralho.
– Queria te entender, sabia? – falei para ele – Passou a me odiar desde quando?
Fui até a empresa, apenas acenando para a recepcionista e indo direto até a sala de Nayeon. Não demoramos para entrar em seu carro e atravessarmos Seoul até chegar no estúdio da rádio, onde será gravado o programa.
Assim que chegamos e damos nossos nomes para a recepcionista do local, ela nos pediu para sentar e aguardar.
Nayeon rapidamente abriu Candy Crush em seu celular, se divertindo com o jogo sozinha. Eu tireoi uma foto da minha própria cara, e não ficou grande coisa, mas mesmo assim posto no Instagram, anunciando minha participação no programa da rádio. Quanto mais audiência, melhor, e divulgação sempre ajuda.
Fiquei preso no feed da rede social, que já fazia tempo que eu não entrava, mas o que tirou minha atenção dali foi uma pessoa entrando no saguão da rádio.
O garoto usava uma jaqueta duas vezes maior que seu tamanho, e um boné preto, mas mesmo assim consegui ver algumas mexas escuras que escapam dali. Ele carrega um violão nas costas e um sorriso no rosto rechonchudo.
– Bom dia, eu sou... – ele começou a dizer para a recepcionista.
– Park Jimin! – ela falou por cima, animada – Seja bem-vindo! Podemos tirar uma foto?
Revirei os olhos enquanto o vi aceitando o pedido e fazendo uma pose ao lado da mulher. E isso me irrita, pois ela não teve a mesma reação quando me viu, não posso negar que meu lado artista se estremeceu de ciúme. E eu nem sabia quem aquele bendito Park Jimin era.
– Esse aí vai participar do programa com você – Nayeon contou quase que sussurrando, como se tivesse escutado meus pensamentos.
Logo depois da foto, a mulher acompanhou o tal Park Jimin até o elevador, e deu as instruções que ele precisava para chegar na sala onde o programa iria ser gravado. Assim que o garoto entrou no elevador e as portas se fecharam, eu respirei fundo e levantei, indo até o balcão onde a mulher estava.
– Com licença – eu anunciei, como se as próximas palavras que eu iria dizer fossem para ser educadas – Eu notei que deixou aquele cara entrar, mas me mandou ficar na sala de espera. Por quê? Eu não sei se tem algum problema de audição ou coisa do tipo, mas vou repetir, meu nome é Jeon Jungkook. Eu estou aqui como artista convidado, e deveria entrar na sala antes que o programa comece, de preferência.
A mulher tentou começar a se explicar, mas Nayeon surgiu atrás de mim, me puxando para longe dela.
– O que pensa que tá fazendo, seu maluco? – falou, um pouco baixo para evitar o escândalo que eu tinha acabado de tentar criar – Tá tendo ataque de estrelinha?
– Mas aquele cara...
– Jungkook, cala boca – retrucou – Desculpa, moça – ela sorriu para a recepcionista, que assustada saiu de trás do balcão para nos acompanhar até o elevador.
– Eu que peço perdão... – ela falou nervosa – É por aqui. Fica no 4° andar, a última sala no fim do corredor.
Eu sorri para Nayeon, mostrando que minha atitude poderia não ter sido da mais educada, mas havia funcionado, enquanto ela bufou e me empurrou até o elevador.
– Não precisava daquilo tudo – ela brigou, quando as portas de metal se fechavam – Você não está em posição de exigir tratamento especial.
Andamos pelo corredor, e ela abriu a porta, entrando antes de mim na sala. Eu passei a mão no meu cabelo e entrei, com meus olhos logo caindo sobre aquele garoto moreno e baixinho, que também me observava, com um olhar brilhante.
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J I M I N
O dia não estava aquelas coisas. Chuvoso, nublado, e com uma ventania digna de bagunçar meu cabelo. Mas não importava que tipo de clima e temperatura estivesse fazendo lá fora, nada estragaria meu humor.
Eu peguei uma sequência interminável de ônibus até chegar na rádio, torcendo para que meu boné disfarçasse um pouco quem eu era, mesmo que meu violão enorme chamasse toda a atenção que eu não queria receber.
Fui muito bem recepcionado assim que cheguei, e meu coração batia mais forte a cada segundo. A sala do programa era exatamente do jeito que eu sempre imaginei que seria, nas minhas fantasias e sonhos. O apresentador da semana era Kim Heechul, um dos rostinhos mais conhecidos.
Minha mão tremia enquanto ele a apertava, com um sorriso no rosto, me recepcionando. Riu levemente do meu nervosismo e me acalmou, me levando até a cadeira que eu ficaria.
Sentou em seu lugar e pegou o celular, mexendo nele enquanto uma mulher terminava sua maquiagem.
Eu observava cada detalhe da sala, tentando memorizar cada pequena coisa, para lembrar desse dia por pelo menos alguns anos. Para colaborar, a cadeira era de rodinhas, então alegremente eu me girava nela, tentando ser discreto. Mas em um certo momento, eu simplesmente não me segurei e dei uma volta completa na cadeira, com medo de ser repreendido.
Como se o universo quisesse que eu passasse vergonha, bem naquele momento a porta da sala se abriu, e quem entrou foi uma mulher alta – e só por causa de seus saltos – com o olhar confiante e sério. Logo atrás dela, Jeon Jungkook andava com uma expressão distraída, como se nem quisesse estar ali. Mas isso não o deixava menos bonito, e a esse ponto eu duvidava que algo pudesse deixar.
Ele cumprimentou todos na sala, mas apenas com breves reverências, e se sentou de frente para mim, sem me olhar nos olhos nem uma única vez. A mulher senta ao seu lado, arrumando a franja no reflexo do celular.
Ela era namorada dele? Esposa? Não, não... Esposa não... Ele tem apenas 22 anos. Mas também não poderia ser namorada, não vi notícia nenhuma sobre isso. Então ela era staff? Manager? Assessora? Não é tudo a mesma coisa?
Jungkook levantou o olhar até mim, me pegando no flagra enquanto encarava os dois com cara de idiota. Meu rosto inteiro esquentou, e quase corri até a janela mais próxima para me jogar de lá. Senti o suor começar a se acumular em várias partes do meu corpo. Eu nunca estive tão próximo de um cara tão famoso como ele.
O mundo dos famosos foi feito para ele. Mesmo sem lançar nada, ele ainda se mantinha no topo. E mesmo que aos poucos estivesse sendo esquecido por algumas pessoas, ele ainda era Jeon Jungkook. Ele foi feito pra isso. Eu só não entendo o motivo de estar tão afastado de tudo... Era até curioso que ele estivesse aqui hoje.
Alguns minutos se passaram, e tentei parar de encarar ele como se fosse uma espécie de fã maluco. O programa foi iniciado, e Heechul faz a introdução padrão de cada programa, introduzindo os convidados – basicamente eu e Jungkook – e contando algumas notícias sobre pessoas famosas. Esse é um tópico que tem novidade todo dia, então ele demora alguns bons minutos falando sobre cada tópico.
Um microfone estava posicionado na minha frente, e usava grandes fones de ouvidos. Pessoas da equipe que corriam para lá e para cá, ajustando detalhes, simplesmente desapareceram assim que o programa começou.
Finalmente a parte da entrevista chega, e Heechul começa comigo.
– Park Jimin! – ele me introduziu, animado.
– Eu! – respondi no microfone, ansioso o bastante para ter medo de errar alguma palavra.
– Essa é sua primeira vez em um programa de rádio, estou certo? – ele perguntou.
– Sim! Eu não tinha sido convidado para nada antes, essa é a primeira vez que eu sou entrevistado...
– Quando diz ''antes'', quer dizer ''antes de ser um dos maiores hits do ano'', certo?
Sorri, envergonhado.
– Não me acostumei ainda...
– Você tinha feito alguma música antes I Like It?
– Várias! Eu tenho uma pasta cheia de músicas que nunca lancei, na verdade. Sinceramente, eu nunca publiquei nenhuma por medo de ser criticado. Minha vó me incentivou e eu decidi publicar I Like It, e bom... Foi flop instantâneo.
– Flop? – ele dúvida, curioso.
– Sim! Nos primeiros dias eu consegui poucas visualizações. Mas então, Jung Hoseok deu uma ajudinha na divulgação, – Heechul falou ''Ah sim, ele é muito gentil'' – e consegui atingir a cada hora mais pessoas. Quando eu vi, já tinham usado o áudio para criar coreografias no TikTok, já estava no Em Alta do Youtube, e na página inicial do SoundCloud. Eu não consegui controlar – terminei minha fala com um sorriso feliz no rosto.
– Então nada disso foi planejado por você?
– Eu apenas publiquei a música! Não esperava muito, mas fiquei imensamente feliz com o resultado.
– Faz tempo que não surgia uma voz como a sua no mundo da música – ele elogiou – eu acredito que ela seja única! Então com certeza uma hora seu trabalho iria trazer bons resultados. Pessoas como você se destacam.
Eu agradeci, celebrando internamente por ter recebido um elogio desses de Kim Heechul, me beliscando discretamente, ainda duvidando de que eu não estava sonhando.
– Quais são suas metas agora?
Depois de ouvir a pergunta, eu me dei conta que não tinha meta alguma. Eu fiz tudo isso apenas por fazer, e agora não sabia o que fazer com todo esse feedback positivo, e estava só aproveitando o momento.
– Quero focar nas minhas produções, as que não lancei. Aperfeiçoá-las, e quem sabe lançar daqui um tempo – apenas respondi sem pensar, mas disse a verdade – E quem sabe assinar com alguma empresa.
– Escutaram isso, CEOs? – ele anunciou, em tom de piada – Park Jimin está a venda!
Eu gargalhei com sua afirmação, e ele passou para a próxima pergunta.
– Essa foi uma pergunta que recebemos muito pelas mídias sociais. Mais de DEZ MIL perfis nos pediram para perguntar isso! – Fiquei chocado com seu comunicado, sentindo alguns fios de minha pele se arrepiarem – E a pergunta é se você tem alguém no seu coração no momento!
Não sabia quem era responsável por isso, mas escuto nos meus fones que colocaram uma música romântica na gravação assim que Heechul fez a pergunta, e isso me fez ficar vermelho de vergonha, mesmo que a resposta fosse não.
– O garoto está parecendo um pimentão! – ele me expôs, e fiquei com mais vergonha ainda.
– Ah... – iniciei, no microfone, ainda rindo – É que ninguém nunca me fez uma pergunta dessas, então fiquei sem graça. Mas a resposta é não. Não tem ninguém no meu coração no momento.
Antes que Heechul respondesse, eu o interrompo:
– Na verdade, tem! – anuncio, confiante – Minha gatinha, Panqueca. E minha avó. Só elas, e mais ninguém.
Escuto novamente, através dos fones de ouvido, alguns efeitos especiais. Dessa vez foi uma sequência de ''Awwwn!'', mas não me deixaram com a mesma vergonha anterior.
Heechul fez algumas perguntas simples e nada interessantes antes de finalizar comigo e conversar com Jeon Jungkook.
Finalmente tinha uma desculpa para encará-lo sem parecer esquisito.
Consegui olhar cada detalhe, mesmo que estivéssemos longe um do outro. Ele ficou no topo da lista de homens mais bonitos do mundo ano passado, e agora, o vendo pessoalmente, eu entendi perfeitamente a razão. É hipnotizante.
Jungkook não parecia muito interessado em participar do programa assim que chegou, mas assim que começa a responder as perguntas vindas de Heechul, ele demonstrou um carisma absurdo, falando várias coisas engraçadas e dando respostas perfeitas. Será que ele é assim só quando é o centro das atenções?
Então decido não julgá-lo. Talvez ele só esteja passando por um dia ruim, e sabe que precisa mostrar seu melhor lado no programa, e é por isso a diferença do Jungkook que entrou na sala para o que está falando no microfone com todo o entusiasmo possível.
A mulher ao seu lado sorriu de leve a cada resposta, como se tivesse orgulho do comportamento dele durante o programa. Como se fosse dona dele. E nem questiono. Aquela mulher podia ter quem quisesse na palma da mão, só com a energia que exalava.
Depois de mais alguns quadros que Heechul faz toda semana, brincadeiras bobas e jogos, finalmente chega na última parte. Infelizmente aquele momento estava chegando ao fim, e eu voltaria para casa na esperança de receber mais convites como esse.
Na última parte do programa, os artistas convidados cantam suas músicas mais recentes ou favoritas. Eu fui primeiro, segurando o microfone e começando a cantar I Like It, fechando os olhos para me concentrar no momento.
Sabia que milhares de pessoas estavam me ouvindo cantar agora, então eu foquei em dar o meu melhor. O tempo passou rápido até demais, e as pessoas presentes na sala bateram palmas depois que finalizei.
Na vez de Jungkook, ele cantou sua música mais famosa, que foi lançada a mais de 4 anos atrás, mas ainda assim é impossível de enjoar. Com meu microfone longe de mim, eu cantarolo a música baixinho enquanto ele estava cantando.
Era a primeira vez que eu estava escutando sua voz ao vivo, e era impecável. Ele não errou uma nota sequer, e se manteve estável o tempo todo.
Tive medo que ele me olhasse e encontrasse meu olhar cheio de admiração, então tentei parar de olhá-lo assim, mesmo sendo difícil.
O programa é de fato finalizado, e eu peguei meu violão – que no final das contas nem usei – me despedi de Heechul e de sua equipe, e passo por Jungkook e pela mulher-extremamente-intimidadora-e-bonita-ao-mesmo-tempo, fazendo uma reverência rápida e dizendo que foi um prazer conhecê-los.
Ao sair da sala e encontrar o corredor vazio, eu dei milhares de pulinhos de alegria e soquinhos no ar, comemorando que tudo deu perfeitamente certo naquela tarde.
E fiquei surpreso também por ter me segurado no final do programa, e apenas ter me despedido casualmente de Jungkook, o que pensei ser algo impossível. Imaginei que iria surtar e tentar tirar uma foto com ele, já que ele foi alguém que eu SEMPRE acompanhei. Mas felizmente, consegui não pagar mico.
Depois de acenar para a secretária e sair do prédio da rádio, dei de cara com o céu escuro e imagino que pegarei chuva no caminho.
Parecia que as nuvens estavam se segurando, esperando que eu saísse de um lugar coberto para deixar que toda a água do mundo caísse sobre minha cabeça. Eu corri até um ponto de ônibus próximo, me escondendo debaixo do teto do local, pequeno e apertado, com uma senhora bufando ao meu lado. Observei o céu com decepção, suspirando.
A parada de ônibus fica bem perto de um semáforo, que pareceu estar preso no vermelho. Enquanto a luz não ficasse verde e os carros passassem, o próximo ônibus não iria chegar, e enquanto ele não chegasse, eu estava condenado a ficar preso ali, escondido da chuva mas ainda assim ficando molhado, já que a intensidade da mesma ultrapassava a capacidade da proteção de onde eu estava.
Eu não havia percebido a presença de um carro executivo preto, parado no sinal vermelho, até que a janela do motorista se abaixou um pouco – não muito, já que a pessoa não queria levar um banho – e a motorista chamou meu nome.
Era a mesma mulher que estava ao lado de Jungkook no programa inteiro, e ela leva consigo um sorriso leve.
– Jimin?
– Ah, oi! – pensei em dizer seu nome, mas então me lembrei que não sabia.
– Você está de a pé? – ela perguntou, aumentando o tom de voz já que o barulho da chuva estava alto.
– Vou pra casa de ônibus! – respondi igualmente alto.
Ao olhar para dentro do carro, enxerguei Jungkook, me olhando com o celular na mão, no banco do passageiro.
– Quer uma carona? – ela ofereceu, com um olhar gentil, e não me senti nada intimidado, como havia sentido antes.
A proposta é tentadora, então olhei para minha situação atual.
Estava caindo uma chuva tão forte que poderia até te machucar se bater contra sua pele. Se eu entrasse em um ônibus, provavelmente iria passar o trajeto inteiro espremido no meio de outras milhares de pessoas, com o risco de ser roubado.
E ali, na minha frente, estava um carro aparentemente confortável e quente. Bom, e pessoas possivelmente confiáveis.
Eu aceitei a proposta, entrando rapidamente na parte de trás do carro e me arrastando até o meio.
Estava quase explodindo por estar dividindo um espaço tão pequeno com uma pessoa que pensei que nunca chegaria perto.
– Então... Jimin – a mulher começa a falar – Quantos anos você tem?
Não vi o motivo para a pergunta, mas imaginei que fosse apenas um quebra-galho, então respondi alegremente:
– 17. Faço 18 ainda esse ano.
– Último ano do ensino médio, então?
– Isso... Finalmente – falo, com um leve sorriso.
– Também fiquei aliviada quando terminei o ensino médio... – sorriu – Gostou da sua primeira experiência em uma rádio?
– Foi incrível – contei – Do jeito que eu sempre imaginei que seria.
Ela perguntou meu endereço, mas como moro muito longe de onde estávamos, por isso optei por apenas passar o endereço da loja de Jihyo.
O trajeto inteiro é encarado com o silêncio de Jungkook, e com a simpatia de Nayeon – que me contou seu nome ali mesmo – enquanto puxava assunto comigo.
É, talvez ele realmente estivesse passando por um dia ruim.
Ela me deixou na frente da loja, eu me despedi novamente dos dois, e corri para dentro do estabelecimento, que estava vazio.
– Dia ruim, Hyo? – perguntei assim que entrei, e ela me recebeu com um sorriso desanimado.
– É só dar uma chuvinha que a clientela desaparece – coçou os olhos – Como foi o programa?
– Não escutou? – fiz uma cara de choro falsa, me sentando em uma mesa vazia – Que priminha exemplar você.
– Escutei sim! – ela protestou – Mas acabou faz uns 40 minutos, e aí você me aparece aqui do nada. Quero saber se deu tudo certo por lá. O programa em si foi ótimo. Quase saí com a caixa de rádio nas costas gritando que era meu priminho.
Ri com sua declaração e contei como tudo foi. Contei sobre o prédio por dentro, sobre Heechul, sobre tudo. Ela perguntou-me se Jeon Jungkook é realmente bonito daquele jeito na vida real, e respondi que ela não fazia ideia.
– COMO ASSIM VOCÊ GANHOU CARONA DELE?
– Não foi DELE, foi da ASSESSORA dele – corriji.
– Tanto faz! Dividiu um carro com ele! – ela passou a mão na testa, ficando nervosa – Meu Deus, ele estava dentro de um carro AQUI NA FRENTE DA MINHA LOJA, e faz só alguns minutos. Você deveria ter me avisado, aí eu saía lá na frente ver.
– Ele nem é tudo isso – meti, sabendo que era sim – Ele ficou com uma cara emburrada o tempo todo, só ficou simpático na hora do programa. Mas prometi pra mim mesmo que não vou julgar ele por isso, talvez esteja num dia ruim.
– Ou talvez seja podre por dentro, que nem a maioria dos artistas – ela analisou as próprias unhas – Mas prefiro continuar me iludindo que ele é perfeito e um amor de pessoa.
– É, a gente não tem como saber se ele é mesmo ou não...
Contei mais alguns detalhes, já que ela não cansava de pedir por eles, e fiquei por ali até seu expediente acabar e ela me levar até em casa, que é na mesma rua que sua.
Vovó Boo me recepcionou com um bolo de chocolate e milhares de abraços e beijinhos, repetindo milhares de vezes que estava orgulhosa de mim.
Panqueca pulou em meu colo, quando estou sentado na cozinha comendo, como se estivesse ansiosa para que seu travesseiro favorito – no caso, eu – chegasse em casa.
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J U N G K O O K
Depois de deixar o garoto em um estabelecimento que nunca tinha visto antes, Nayeon me levou até a empresa, onde – de acordo com ela – eu tinha uma aula de dança marcada para aquela mesma tarde.
Ela a marcou na esperança de despertar minha vontade de voltar a treinar, e mesmo não estando com toda a vontade do mundo, eu aceitei – fingindo que tinha outra opção além dessa – e passei algumas boas horas na sala de prática, me esforçando ao máximo.
Jung Hoseok apareceu de repente, como se estivesse vindo checar se realmente aceitei treinar.
– Eu precisava ver pra acreditar – ele diz, assim que entra na sala – Você? Voltando a praticar? Quem diria...
Depois de um rápido aperto de mão, limpei o suor da testa e sorrio.
– É tão inacreditável assim?
Ele dá de ombros – Fico feliz em saber que está voltando ao normal... O reizinho indo pegar o trono de volta...
– É um trono que nunca poderá ser roubado – falei, ironicamente mas com um fundo de verdade – Eu só saí rapidinho para tomar um arzinho, mas ninguém chegou nem perto dele.
– É assim que se fala!
De supetão, a porta da sala se abre, fazendo um eco forte e alto me fazer pular de susto. É Nayeon, que pareceu ter vindo correndo de sua sala até aqui. Ela respirou fundo antes de anunciar, empolgada:
– Jungkook, você e Jimin estão nos assuntos mais falados nesse momento! - ela me mostrou meu nome e o do moreno baixinho na tela de seu celular.
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