História The Virus - T03EP09 : Fita Cassete

Ainda no mesmo dia que havia discutido com Jake, Paola não saia da cama. Sua imensa tristeza não tinha fim. Era infinita. Parecia como um imenso vazio que mesmo que tentasse escapar, acabava no mesmo lugar.

Sem mesmo ver a luz do dia, Paola pela primeira vez em três dias,  levantou-se da sua cama. O buraco da cama havia se tornado quase uma cratera. Ela pegou o seu cobertor azul, sujo de migalhas das comidas que Jake deixava para ela na ponta da cama. Ela nunca o agradeceu por isso, mas comia tudo que ele levava.

Andava com os pés no chão. Frios e brancos, quase não eram vistos pelo cobertor que envolvia o seu corpo. Ela deslizava pelo corredor. Tão lerda como uma lesma. Até que ela chegou nas janelas principais. Percebeu que já era de noite, e que todos já deviam estar indo dormir.

Ela continuava andando pelo hospital. Lágrimas caiam de seus olhos o tempo todo, mas nenhuma expressão no seu rosto demonstrava tristeza. Os olhos vazios tiravam o valor das lágrimas. Elas apenas caiam e mais nada. Até que Paola chegava na sala onde Holly operou Jake. 

Ela se sentou na maca que tinha ali e ficou encarando a parede branca. As lágrimas, por algum motivo pararam. Talvez por que Paola não tinha mais nenhuma dor no seu corpo e alma. Talvez ela devia ter percebido que todo esse desespero e dor pudesse ser deixado no passado. Pois não podemos esquecer o passado, mas sim aquilo que nos prende a ele.

Ela se descobriu e abandonou o cobertor em cima da maca. Ela se dirigiu até a porta da Holly, onde dormiam Ruty e Kim. Ela bateu na porta, tão suave que certamente nenhuma delas ouvirá. Ela arriscou a dar mais três toques leves, mas mais forte que os primeiros.

A maçaneta girava e Holly saia por trás da porta. Ela estava meio desnorteada por ter sido acordado as 2:00 da manhã.

Holly : Paola, eu sei que não faz muito tempo que você sai do seu quarto, mas ainda é de madrugada. Tem como ser mais rápida?

Ela apertava as mãos e falava timidamente o motivo de estar ali. 

Paola : Eu... Preciso de algo para me animar.

Holly percebeu o por quê dela estar ali. Achou que Paola já tinha superado o luto e estava pronta para voltar a ativa.

Holly : Olha, no refeitório tem uma caixa de remédios. Deve ter um frasco de antidepressivos lá. Quer ir comigo ver?

Paola : Pode ser.

Elas andavam para o andar debaixo. Agora que as psicóticas estavam mortas, não havia motivo para se assustar. Elas chegaram e acenderam todas as luzes. 

Caminharam até a uma caixa laranja e começaram a procurar por remédios.

Holly : Com certeza eles tinham Sertralina aqui. Procure por um frasco com esse nome na etiqueta. 

Paola : Ok. 

Ao meio da procura Paola acha uma fita cassete. Em meio 2019 ainda havia uma dessas circulando? A curiosidade que Paola sempre tinha estava agussada. Ela perguntava para Holly:

Paola : Holly, o que tem nessa fita?

Holly : Geralmente a coordenação do hospital costumava a gravar as coisas que as câmeras captavam em fitas. Eles faziam isso para preservar o legado de Elsa, que foi a causa desse hospital ter sido aberto. A garota adorava assistir filmes em fita cassete.

Paola : Eu preciso ver. A gente precisa encontrar uma maneira de assistir isso.

Holly : Lá na sala de descanso tem uma tv acoplada a um aparelho que tem a entrada de fitas cassetes. Podemos dar uma olhada se quiser.

Paola : Muito obrigado, eu não negarei a sua ajuda.

Quando já andava em direção a tal salinha de descanso, Holly puxa Paola pelo seu braço e fala:

Holly : Precisa tomar a Sertralina. Vai ajudar.

Ela pegou os comprimidos e tomou um deles ali mesmo. A seco. As duas apressaram os passos até a sala do descanso. Tinha duas poltronas lá e uma Tv igual a descrição de Holly. 

Elas se sentaram e Paola colocou a fita. A gravação começou e mostrava todas as áreas do hospital

Holly : Que ano é esse? Não consigo identificar.

Paola : 13 de Abril de 1997.

As lágrimas surgiram como intrusas e caiam sobre as coxas magras da Paola. Ela saberia exatamente que dia era aquele. Aquele dia foi quando sua mãe e Paula foram chamadas para receber a notícia que Peight estava desaparecida.

Ela começou a chorar ao ver a mãe arrastando a irmã pelo corredor. A mãe nunca amou muito as duas filhas mais novas e não se importou com a notícia.

Holly : Acho que isso não te fez bem. Talvez devêssemos desligar.

Paola : Não podemos. Falta apenas uma parte.

Na filmagem mostrava Paola correndo pelos corredores e gritando muito. Sua mãe a arrastava pelo braço e impedindo o luto da menina. Ela amava a sua irmã e viu ela sumir sem explicação. Então ela se viu sem lágrimas em seu rosto. A tristeza estava desaparecendo.

Paola : Era disso que eu precisava. Eu não podia me esquecer do passado de uma noite para a outra. Eu preciso sentir toda a dor que minha mãe impediu de ser liberada aquele dia.

Holly : Nunca mais teve notícias da sua irmã desaparecida?

Paola : Peight foi dada como morta no ano de 2006 pelo condado da Geórgia. Eles nem a deram um funeral. Nunca encontramos um corpo. Ela até pode estar viva.

Holly : Mas... Esta sentindo o que sobre isso?

Paola : Acho que acabei com o sofrimento de duas pessoas. Acabei com a dor da Penny e com a minha. Essa é a fase nova da minha vida. Quero viver o agora e me desprender do passado.

Holly : Mas ainda sente dor?

Paola : E quem nessa vida já não sentiu? Nesse momento estou apenas sentindo a minha boca seca e minha blusa úmida.

Holly : Calma, é apenas o remédio fazendo o efeito. Agora vai para o seu alojamento e tente descansar. Amanhã terá muitos mistérios para a senhorita resolver.

Ela foi para o quarto e viu a cama com o buraco de sei corpo. Achou estranho dormir Ali. Passou tanto tempo ali, que sentia que poderia fazer a tristeza voltar. Então deitou-se na beirada da cama de Jake e abraçou ele por trás.

Ele sentiu o ato de acolhimento e agarrou a sua mão. Será que as coisas poderiam voltar ao normal algum dia? Não sabemos. Apenas vivemos o agora, e esperamos um novo destino.

Continua...