Duas semanas depois...
Naquele dia, Robin não foi à agência de turismo de seu pai. O movimento da loja andava fraco devido à época do ano. À tarde, o loiro passou no mercadinho da pequena cidade de Storybrooke e cuidadosamente escolheu alguns produtos para Regina, imaginando que a mesma não teve tempo – e nem cabeça – para comprar nada.
Entrando no carro, Locksley ligou para a advogada a fim de certificar-se de que ela estaria em casa.
– Alô?
– Oi.
– Oi.
– Tá em casa?
– Tô.
– Posso passar por aí? Comprei algumas coisas pra vocês.
– Pode.
– Tô a caminho.
A morena esperou o fotógrafo, que não demorou nem cinco minutos para chegar. Ele entrou com a sacola de compras e rumou diretamente à cozinha, apoiando o objeto pesado na pequena mesa que havia no local. Regina juntou-se a ele para ajudá-lo a retirar as compras.
– Não precisava.
– Mas eu quis. Queria saber como vocês estão também.
Regina deu um sorriso amarelo. Locksley continuou:
– O Rapha já voltou pra escola?
– Já. Não quero que ele acabe regredindo, mas, ao mesmo tempo, não sei se foi a melhor opção.
– E isso vale pro escritório também. Acertei?
– Quase. Ainda não voltei. Não consigo.
Robin terminou de retirar as compras da sacola em silêncio. A mulher respirou profundamente, fazendo uma longa pausa. Ela abriu a geladeira e começou a guardar algumas coisas ali. A viúva completou:
– Às vezes me sinto perdida. Completamente perdida. Muitas vezes não sei o que fazer, como agir...
– Entendo. Ainda é muito recente. Como o Rapha tem passado?
– Ele é muito pequeno. Acho que talvez nem chegue a entender realmente a dimensão do que aconteceu. Ele tem tido alguns pesadelos... Ele acorda assustado e chora quase a madrugada inteira. Não tenho dormido quase nada.
– Mas ele disse o que foi?
– Não. Não conseguiu. Ele só fazia chorar.
Robin olhou dentro dos olhos castanhos de Regina e estes já estavam marejados. Ele abriu os braços e, num impulso, a mulher o abraçou.
– Eu sinto muito, Rê.
Nos braços do loiro, a advogada se permitiu chorar.
– Eu só queria protegê-lo de tudo isso. Se pudesse passar tudo isso pra mim...
– Ei... – Ele a interrompeu – Vai ficar tudo bem. Desculpa, não sei bem o que dizer pra te consolar agora. Não consigo nem imaginar a dor que você tá sentindo, mas, olha, um passo de cada vez... E vocês vão ficar bem.
O fotógrafo acariciou ternamente os cabelos negros dela. Ambos ficaram naquela posição por algum tempo, até que o toque do celular de Regina os disturbou, fazendo-os se afastar.
A mulher atendeu a chamada sem demora. Era a secretária do diretor do colégio de Raphael, convocando-a para uma reunião no local o mais rápido possível. Como o carro dos Colter ainda estava no conserto, Robin ofereceu-se para levá-la. Chegando à escola, a morena foi direcionada ao escritório do diretor, que já a aguardava junto a Raphael, que estava sentado na frente do homem.
– Com licença, senhor Smith. A senhora Colter chegou.
A secretária deu passagem a Regina, que adentrou a sala e viu o filho sentado com o olhar voltado para baixo. Ela sentou-se na cadeira ao lado do menino.
– Boa tarde, senhora Colter. Como vai?
A morena apenas acenou com a cabeça, cumprimentando-o.
– O que aconteceu, diretor?
– Informo-lhe com pesar o mau comportamento do menino Raphael. Ele agrediu um aluno de outra série.
Regina arregalou os olhos. A morena parecia não acreditar no que ouvira. Raphael jamais agredira ninguém. A doce criança seria incapaz de machucar alguém de propósito.
– Fisicamente? Verbalmente?
– Fisicamente.
Regina olhou para o filho, mas este permanecia olhando para o chão. O diretor Smith continuou:
– É difícil de acreditar. Eu também quase não o fiz. O menino Colter sempre teve um comportamento exemplar. Ele sempre foi elogiado por todos os seus professores. Enfim, o aluno levou um soco e não posso tomar outra medida que não seja a suspensão de Raphael.
– Suspensão? – Raphael olhou para o homem e indagou.
– Três dias. – Entregando-lhe um papel a Regina, que assinou – Espero que isso não se repita.
– Também espero. – Ela fez uma pausa e olhou de soslaio para o menino – Isso não vai se repetir.
Os três se levantaram e o diretor os levou até a porta de sua sala. Ele cumprimentou a advogada com um aperto de mão.
– Meus sentimentos pelo seu marido. – Ele fez uma pausa – Vou chamar o responsável do outro aluno também, visto que o seu filho foi provocado. Ele também receberá uma punição. Fique tranquila.
A morena sorriu sem mostrar os dentes.
– Obrigada, senhor.
Regina e Raphael rumaram à saída, onde Robin os aguardava para dar-lhes uma carona de volta para casa. Quando avistou o fotógrafo, o menino correu ao seu encontro e abraçou-lhe as pernas.
– Oi, artilheiro.
Locksley bagunçou os cabelos da criança. A morena aproximava-se deles lentamente. Pelo olhar de Regina, o loiro percebeu que algo sério acontecera. Todos entraram no carro do homem e este deu a partida no veículo.
– O que aconteceu? Pelos olhares de vocês, vejo que não é coisa boa. – Robin olhou para Raphael pelo retrovisor.
– Você quer contar pra ele ou eu conto? – Regina virou o rosto, olhando o filho de soslaio. A criança novamente abaixou o olhar – Ele foi suspenso por três dias.
Robin arregalou os olhos, mas permaneceu calado. A advogada completou a sua fala:
– Sabe por quê? Ele agrediu um colega. Fisicamente.
– Ele não é meu colega.
– Não interessa. – Regina levantou a voz – Nem eu, nem o seu pai... – Ela fez uma pausa – Ninguém nunca bateu em você.
– Eu sei.
– É bom que saiba também que você tá de castigo.
A criança abaixou o olhar novamente, iniciando um choro silencioso. Robin os deixou em casa e decidiu que os deixaria a sós, para dar-lhes a privacidade necessária que aquele momento exigia. Eles se despediram de longe e os Colter entraram.
***
Algumas horas depois, Raphael tomou banho e Regina esperava o filho chamá-la, mas naquele dia ele não o fez. O menino vestiu-se sozinho e rumou ao quarto de sua mãe.
– Ô, mãe?
A morena levantou o olhar, encontrando os olhos marejados do filho. Parado no batente da porta, ele continuou:
– Me desculpa?
– Vem cá, meu amor. Senta aqui. Quero conversar com você.
O menino assim procedeu: sentou-se na cama, de frente para a morena. A viúva prosseguiu:
– O que deu em você, Rapha? Você nunca foi violento.
– Você vai brigar comigo.
– Vou, sim, filho. Bater numa pessoa não é justificativa nunca. Em hipótese alguma. Jamais. Você nunca apanhou, então não posso passar a mão na sua cabeça. Você sabe que errou. O que aconteceu?
– Eu tava com a Grace e o Mark na hora do recreio. O Thomas veio por trás de mim e começou a implicar.
– O que ele disse?
– Que nunca mais ninguém ia à escola no dia dos pais porque eu era órfão.
– Eu disse que o meu pai vai voltar. Ele riu de mim junto com alguns amigos e eu...
– Rapha, violência não resolve nada. Não se pode sair por aí batendo nas pessoas. Você sabe disso. – Regina o interrompeu.
O menino derramou algumas lágrimas.
– Mamãe, por que ele disse que o papai não vai voltar? Ele foi morar no céu, mas ele vai voltar, não é? Ele vai voltar a morar com a gente, não vai?
– Ô, pequeno... – Ela colocou os cabelos do filho atrás da orelha e fez carinho no seu rosto – O papai não vai voltar, não.
Mais lágrimas percorriam o rosto terno de Raphael.
– Por que ele foi embora? Por que ele não mora mais com a gente?
– Queria ter resposta pra todas as suas perguntas, meu amor. Você ainda é muito pequeno pra entender. – Ela fez uma pausa e inspirou profundamente – O papai foi morar no céu. Ele não volta mais.
– Nunca mais? Tô com saudade dele. – Regina negou com a cabeça e algumas lágrimas desceram de seus olhos com facilidade ao ver o sofrimento de seu menino.
– Eu sei que tá, meu amor.
A advogada passou os dedos no rosto do filho, secando as lágrimas de sua face.
– Então ele virou uma estrela?
– Sim.
A criança se levantou e puxou a mãe até a janela, para olharem o céu estrelado. Regina o abraçou por trás.
– E cadê ele?
– Qual você acha que ele é?
– Aquela ali perto da lua. A mais brilhante.
– Ele vai estar sempre ali, olhando a gente bem de pertinho.
O menino virou-se de frente para a mãe, que pegou na sua mão e a posicionou sob a sua no peito da criança. Ela completou:
– Ele também vai estar sempre aqui, ó, dentro do seu coração.
Raphael abraçou a mãe fortemente e ambos permaneceram ali enquanto derramavam mais algumas lágrimas.
***
Naquela mesma noite, Zelena visitou a amiga e o seu afilhado. Eles jantaram juntos, distraindo-se com a presença descontraída da ruiva, que conseguiu levantar o clima pesado que pairava sobre o local.
Após a refeição, a criança se despediu de sua madrinha e Regina o levou para o quarto. Ela o colocou para dormir e retornou à sala a fim de conversar com a comadre. A morena contou à amiga sobre a suspensão de Raphael, o acontecido na escola e a conversa que tiveram sobre Daniel.
– O que eu fiz de errado, Zel? Eu só queria entender o porquê disso tudo estar acontecendo.
– Ei, você não fez nada de errado. Você não tem culpa alguma. Foi um acidente. Não foi culpa de ninguém.
A mulher pegou o seu aparelho de celular e colocou-a para ouvir o recado de voz que Daniel deixou pouco antes de morrer. A ruiva levantou os olhos e encontrou o olhar da amiga cheio de água.
– Isso é verdade? Digo, os seus sentimentos pelo Robin...
– Sim. – Ela a interrompeu – Na verdade, não sei bem explicar. Ele mexeu comigo na festa da Grace, o suficiente para que eu me sentisse dividida, confusa... – A morena fechou os olhos e respirou profundamente – E o suficiente também para o Daniel notar. Tô me sentindo péssima, Zelena. Eu não quis conversar com ele, a gente brigou... E agora ele tá morto. Puta merda!
– Imagino que esteja se sentindo culpada.
– Muito. Não sei ao certo o que sinto pelo Robin, mas não posso dizer que sou indiferente a ele. Depois de todo esse tempo...
– Você tentou. Você bem que tentou, Rê, mas a gente não manda no coração. Sei que você aprendeu a nutrir sentimentos pelo Daniel com o tempo, mas isso não anulou o que você sentia pelo Robin. Você não tem que se mortificar por causa disso, amiga. É sério. A gente não manda no coração.
– Você não tá dizendo isso apenas por ser minha amiga não, né?
– Psiu... Ei... Não. Tô falando sério.
A ruiva abraçou a amiga. Ela continuou:
– Mas o que você vai fazer agora?
– Com relação ao Robin? – A lojista assentiu – Nada. Nem tenho cabeça pra isso. Não posso, Zel. Não posso.
A morena derramou algumas lágrimas e foi consolada por sua amiga.
***
Regina se despediu da ruiva e se dirigiu ao quarto do filho a fim de velar o seu sono. O menino, antes num sono tranquilo, começou a se agitar, o que anunciava outro pesadelo e, certamente, mais um episódio de muito choro.
– Rapha? Filho?
A mulher acariciou o rosto suado do filho, tentando acordá-lo calmamente. Mais uma vez a criança despertou no susto. Procedendo sempre da mesma forma, ele se agarrou à mãe e começou a chorar compulsivamente.
– Ô, meu amor... Já passou. – Ela acariciou os cabelos do menino – Já passou.
Raphael chorou durante quase duas horas inteiras. O coração daquela mãe se apertava cada vez mais. Era torturante demais ver o filho naquela situação. Ela queria poder poupá-lo; ela queria que tudo aquilo fosse transferido para ela, para apenas ela sentir dor. Quando ele finalmente se acalmou, Colter se afastou um pouquinho de sua mãe, o suficiente para olhar em seus olhos.
– Ele tava lá, mamãe.
– Quem, amor?
– O meu pai. Eu tava me afogando... Ele tava lá e não me salvou. Ele sumiu.
– Filho, foi um pesadelo. Foi só um sonho ruim. Você tá aqui com a mamãe e tá tudo bem. Tá?
O menino se aconchegou novamente nos braços de sua mãe.
– Ô, mãe?
– Hm?
– Eu não quero mais jogar futebol.
– Mas você gosta tanto, filho...
– É que...
– A mamãe e o papai sempre iam aos jogos juntos. E agora você vai se sentir incompleto sem ele. Acertei?
Regina interrompeu o filho e completou com facilidade o pensamento da criança.
– Como você sabe?
– Você saiu de mim, esqueceu? Eu te conheço, meu pedacinho. Vamos fazer o seguinte: vamos dar um tempo no futebol. Quando você se sentir confortável, você retoma. Tá bem assim?
– Tá bem. É que dói aqui no meu coração. – Ela beijou a testa da criança – Ô, mãe?
– Hm?
– Você também vai morar no céu?
– Não, meu amor.
– Se você for, quem vai cuidar de mim? Eu não quero ficar sem você. Eu não quero ficar sozinho.
– Ei... – A morena acariciou as costas do filho – Meu pequeno, a mamãe tá aqui com você. Você nunca vai estar sozinho. Eu nunca vou deixar você.
– Nunca?
– Nunca.
– Promete?
– Prometo. Eu te amo muito, meu amor.
Regina fez carinho nas costas de seu menino e permaneceu sentada na cadeira de balanço até ele finalmente pegar no sono novamente. A morena o levou no colo para o seu quarto para dormirem mais confortavelmente na cama de casal da advogada. Eles se aninharam. A mulher velou o sono do filho até adormecer também.
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