Quando Katsuki acordou, ele não se lembrava do que havia acontecido com ele.
Havia uma espécie de curativo envolvendo sua cabeça e um latejar constante e fraco que fazia com que fosse difícil focar em volta de si, e quando ele finalmente ousou abrir os olhos, a luz forte enviou uma rajada de dor através de sua cabeça. Ele chiou alto, cerrando os olhos e rangendo os dentes. Meu Deus, ele odiava concussões.
No entanto, ele não lembrava como havia sofrido uma concussão, e por isso decidiu tentar abrir os olhos novamente. Agora que ele sabia o que esperar, a dor não era tão insuportável. Ele piscou seus olhos escarlate diversas vezes até que finalmente eles recuperaram o foco, e se encontrou encarando o teto inconfundível do centro médico da Recovery Girl.
“Kacchan?”, uma voz hesitante chamou de algum lugar ao seu lado. Katsuki sentiu irritação brotar em seu peito mas virou a cabeça em direção ao nerd, já com uma carranca no rosto. O rosto de Deku mostrou alívio assim que os olhos de Katsuki focaram nele, suspirando e permitindo que seus ombros caíssem. “Ah, você tá acordado de novo”, ele expirou, um sorriso tímido surgindo em seus lábios. Ele parecia pálido.
“Como assim, ‘de novo’?”, Katsuki rosnou, voz rouca e a garganta doendo. Ele se mexeu na cama com dificuldade, se colocando em uma posição mais sentada. Izuku parecia querer ajudá-lo, mas mudou de ideia antes que pudesse. “Porra, minha garganta tá doendo. Tem água em algum lugar aqui, nerd?”, ele fitou Deku, que desviou os olhos com uma expressão envergonhada.
“Como você tá se sentindo?”, Izuku perguntou ao invés de responder à pergunta de Katsuki. Ele não o olhou nos olhos enquanto falava.
“Uma merda e com sede”, Katsuki disse com simplicidade, já se sentindo rabugento e irritado. A dor de cabeça latejante com a qual ele tinha que lidar não estava exatamente ajudando o seu humor já amargo. “Você vai pegar a água pra mim ou o quê?”, ele perguntou em um tom raivoso, porque ele era fisicamente incapaz de dizer coisas como ‘por favor’ e ‘obrigado’ para Deku, de todas as pessoas. No entanto, seu pedido venenoso apenas fez com que Izuku corasse e virasse sua cabeça mais para longe, um pouco de cor surgindo em seu rosto mortalmente pálido. Katsuki não gostou disso. Quanto mais branco o rosto de Deku ficasse, mais suas sardas ridículas ficavam evidentes.
“Kacchan, eu─“, Izuku conseguiu coragem para começar, mas foi interrompido pela porta do quarto se abrindo. Katsuki esperava ver a Recovery Girl entrando, mas a visão de seus pais caminhando até sua cama o fez franzir a testa e surgir um nó na sua garganta. Eles não teriam vindo a menos que algo sério tivesse acontecido.
“Katsuki”, sua mãe o cumprimentou, passando uma mão em seu cabelo e o encarando com um semblante sombrio. Seu pai se sentou no assento vago ao lado da cama e agarrou uma de suas mãos, dando-lhe um olhar quase que de desculpas. Katsuki franziu a testa em confusão.
“O que ‘cês dois tão fazendo aqui?”, ele perguntou, soando um pouco mais agressivo do que pretendia. Sua mãe pareceu querer dar um tapa nele por sua insolência, enquanto seu pai simplesmente apertou sua mão.
“Como você tá se sentindo, filho?”, ele perguntou, oferecendo a Katsuki um sorriso tão falso que uma sensação terrível apareceu no âmago do garoto explosivo. Que porra estava acontecendo?
“Uma merda e com sede”, ele repetiu o mesmo que tinha dito para Deku, enviando ao garoto um olhar assertivo que dizia ‘viu? Talvez eles façam alguma coisa sobre isso, diferentemente de você, nerd de merda’. Deku continuou a encará-lo com um rosto pálido e olhos atentos de onde estava em pé, bem ao lado da mãe de Katsuki, estranhamente silencioso.
“Vou pegar um pouco de água pra você”, sua mãe anunciou simplesmente, se virando e desaparecendo da linha de visão de Katsuki. Seu pai suspirou audivelmente e abaixou sua cabeça, parecendo em conflito. A visão fez com que uma nova onda de raiva e impaciência surgisse dentro dele.
“Ok, que porra tá acontecendo?”, ele perguntou quando seu pai não deu nenhuma indicação de que estava prestes a falar. “E sério, não tenta disfarçar pra mim. Você sabe que eu aguento, seja lá o que for”, ele adicionou naturalmente. Ele olhou para onde Deku estava em pé atrás de seu pai, procurando no rosto do nerd alguma indicação do que estava errado, mas o garoto continuou a encará-lo em silêncio, seu rosto cheio de uma atenção aguçada. Seu pai o encarou com aquela expressão irritante de desculpas novamente.
“Do que você se lembra de ontem, filho?”, seu pai perguntou, cauteloso. Katsuki suspirou e revirou os olhos, mas fez um esforço a mais para se lembrar do que podia.
“Eu ‘tava fazendo uma patrulha com o Deku de merda”, ele disse depois de alguns segundos de concentração, fuzilando Deku com os olhos. “Nós encontramos um vilão, ou alguma coisa assim. Eu acho que devo ter batido a cabeça enquanto lutava, porque isso é tudo que eu lembro. Foi provavelmente culpa do Deku”, ele grunhiu para o garoto. Seu pai franziu o cenho e olhou por sobre o ombro para onde Katsuki estava encarando, uma expressão de preocupação em seu rosto. Ele provavelmente estava preocupado que Katsuki tivesse machucado os sentimentos do Deku ou alguma merda assim. Deku, por outro lado, não pareceu ligar para a acusação.
“Katsuki, nós...”, seu pai começou ao mesmo tempo que sua mãe entrou no quarto de novo, um copo de água em temperatura ambiente nas mãos. Ela deu o copo para o filho sem nenhuma palavra, o encarando enquanto ele dava um gole. Katsuki entortou o nariz.
“Tá morna”, ele reclamou, encarando o copo como se tivesse sido pessoalmente ofendido por ele. A água aliviou a rispidez de sua garganta, mas ele preferia que estivesse gelada.
“Tá em temperatura ambiente”, sua mãe o corrigiu com impaciência, cruzando os braços sobre o peito. “Agora cala a boca e bebe. Você disse que ‘tava com sede. Água gelada só vai piorar sua garganta”.
“Tá, tanto faz”, ele resmungou irritado, bebendo o resto da água. Seu pai suspirou e usou a interrupção para se recompor. Assim que Katsuki acabou com a água, ele deu o copo de volta para sua mãe, que o pegou silenciosamente. “Então?”, ele instigou quando nenhum de seus pais mostrou qualquer indício de contar o que havia acontecido. “´Cês vão desembuchar ou o quê?”
Seu pai lançou um olhar cheio de conhecimento para sua mãe e virou de volta para ele com outro suspiro, em nenhum momento soltando sua mão.
"Filho, nós... Nós sentimos muito," o pai dele disse, com lágrimas nos olhos e uma voz trêmula que Katsuki certamente não herdou dele, ainda bem. "Mas o seu amigo, o Izuku, ele...”, ele hesitou por um momento, como se tentasse achar as palavras certas para aquela situação. Katsuki franziu o cenho. “Ele morreu, filho”, ele concluiu, apertando a mão de Katsuki. Atrás dele, estava sua mãe, o rosto quase tão impassível quanto sempre.
Katsuki apenas piscou por alguns momentos que pareceram uma eternidade, seus olhos se voltando para sua mãe e seu pai com confusão, descrença, e, acima de tudo, indignação. Ele nunca foi grande fã de ser zoado.
"Que porra é essa que 'cês tão falando?”, ele perguntou, soando bravo, mas não tão agressivo quanto gostaria. “O nerd de merda tá aí do seu lado!", ele apontou para onde Deku estava ao lado de sua mãe, parecendo ainda mais pálido, se isso fosse possível.
Seus pais trocaram um olhar preocupado entre eles, o que fez com que uma nova onda de fúria atravessasse Katsuki. O quê, eles pensavam que eram melhores que ele? Pensavam que ele estava louco? Por que porra de motivo eles estavam com essa cara de pena?
“Eles não conseguem me ver, Kacchan”, Deku disse de forma simples, quase que apologética. “Até agora, acho que você é o único que consegue”.
“Nós entendemos que isso é difícil pra você”, seu pai continuou, concomitante à desculpa de Deku sem ligar para o garoto. Katsuki franziu a testa mais ainda. “Nós também sabemos que sua relação com o Izuku não era a das melhores, mas... Ele se foi, filho. Ele foi declarado com morte cerebral quando chegou aqui. A única razão de não terem desligado os aparelhos que estão mantendo ele vivo superficialmente é que...”
“A Inko e o All Might não permitiram”, sua mãe concluiu quando seu pai parou de falar. Ela parecia triste, mas sua expressão era mais raivosa do que qualquer outra coisa. “Eles se recusam a abandonar as esperanças, mas para todos os efeitos, ele se foi”, ela declarou de forma simples. Verdadeira.
“Ok, seja lá o que isso aqui for, vocês têm que parar com essa merda agora”, Katsuki debochou impacientemente, apontando para Deku novamente. “Se o Deku tá morto, como é que ele tá em pé ali? Eu não sou um doido varrido, eu sei o que eu tô vendo”, ele adicionou, ignorando a faísca de medo que atravessou seu coração por causa da possibilidade de que ele estaria realmente perdendo a cabeça, e de que Deku estaria realmente morto.
“Filho, como dissemos, sabemos que isso é difícil”, seu pai disse de novo, sendo como sempre o homem compassivo e compreensivo que era. “Você bateu a cabeça bem feio, viu tudo acontecer na sua frente. Nós entendemos. Pode levar o tempo que quiser pra se recuperar. O Aizawa sensei nos disse que você não vai ser punido por não comparecer às aulas até que esteja se sentindo melhor. Mas o pior caminho que você pode escolher agora é negação”, ele disse de maneira complacente. Katsuki ficou irritado.
“Eu não tô em negação, ele tá bem ali–”, ele gritou bravo, mas sua mãe o interrompeu antes que ele tivesse um ataque de raiva completo, o que era bem comum na família Bakugou.
“Olha, garoto, a gente entende. Você tratou o Midoriya feito merda e agora ele morreu pra te salvar. É uma situação horrível, você deve estar se sentindo um merda e tudo mais. Mas fingir que não aconteceu não vai ajudar ninguém, muito menos você”, ela disse com sinceridade, na maneira bruta que vinha com tanta naturalidade para ela. “Quanto mais rápido você aceitar o que aconteceu, mais rápido você vai conseguir seguir em frente”.
“Que porra ‘cê quer dizer com ‘ele morreu pra me salvar’, velhota?” Katsuki perguntou, indignação evidente em seu tom. “Eu não preciso ser salvo por aquele merda!”, ele apontou um dedo acusador na direção de Izuku, que deu um passo experimental para mais perto da cama. “Deku! Fala com eles de uma vez! Por que que eles não conseguem te ver?”
“Eu não s-sei”, Izuku disse daquele jeito trêmulo que Katsuki desprezava tanto. Seu lábio inferior estava tremendo de nervoso. Atrás da figura de Izuku que se aproximava, os pais de Katsuki trocaram outro olhar, como se estivessem tentando decidir se seu filho tinha perdido a cabeça ou não. “Mas, Kacchan, você precisa se acalmar, se não vai fazer sua concussão piorar–”
“Não me diz o que fazer, nerd!”, Katsuki protestou com raiva, empurrando os cobertores para longe de suas pernas e as jogando para a beira da cama, pronto para ficar em pé, marchar em direção ao Deku, e ver por si mesmo se ele estava morto ou não.
“Katsuki, você precisa ficar na cama!”, seu pai gritou com alarme, tentando – e falhando – em impedir seu filho. Katsuki ficou de pé, trêmulo, e perdeu o equilíbrio por um segundo antes de recuperar a compostura e continuar sua marcha para fora do quarto.
“Kacchan!”, Deku chamou por ele naquele tom de voz exasperado que lhe dava nos nervos toda vez. “Você vai se machucar! Será que dá pra me ouvir uma vez na vida?!”
“Cala a porra da boca, Deku!”, Katsuki disse sobre o ombro, sem parar de andar.
“Katsuki, volta pra cá agora mesmo!”, seu pai tentou agarrá-lo, mas sua mãe o impediu com uma mão taciturna.
“Não, deixa. Deixa ele mesmo ver”, ela aconselhou, olhando para o filho com olhos severos. “Talvez ajude ele a acordar e encarar a realidade de uma vez”.
“Cadê ele?”, Katsuki exigiu saber com um rosnado, fazendo com que sua mãe revirasse os olhos.
“Terceira porta à esquerda”, ela proveu com simplicidade, recebendo um olhar desesperado do marido. “E pirralho”, ela adicionou antes que Katsuki pudesse continuar sua marcha. Ele olhou para ela sobre o ombro, ignorando a forma com que o movimento fez sua cabeça doer. “A gente sabe que você é forte, mas não deixa isso te derrubar”.
Katsuki não se preocupou em responder e continuou seu caminho para o quarto de Deku. Abriu as portas fortemente com um empurrão, sem bater antes.
A primeira coisa que viu foi a figura curvada e soluçante da mãe de Izuku do lado da cama, e a maneira com que sua cabeça se ergueu abruptamente com a intrusão repentina de Katsuki. Atrás dela, estava All Might em sua forma fraca, o olhar de luto em seu rosto fazendo com que suas bochechas protuberantes ficassem mais fundas.
E então, na cama, estava Izuku deitado. Coberto por diversos fios. Um tubo garganta abaixo. Sua mão cheia de cicatrizes coberta por hematomas. Seu braço esquerdo envolvido por um gesso.
Rosto pálido.
Cabelo bagunçado.
Imóvel.
A faísca de uma memória apareceu na cabeça de Katsuki, sobre olhos verdes semicerrados e lábios abertos e morte. Ele estremeceu.
“Jovem Bakugou”, All Might disse em tom severo. “Você não deveria estar na cama?”
Em vez de responder, Katsuki deu um passo experimental até a cama, horror evidente em seu rosto. Virando sua cabeça, ele encontrou Deku em pé ao seu lado, um semblante similar em seu rosto. Como Deku podia estar deitado imóvel na cama e em pé ao lado de Katsuki ao mesmo tempo? Talvez ele estivesse, de fato, ficando maluco.
“Eu não tinha visto ainda”, Izuku sussurrou quieto ao seu lado, olhos arregalados e marejados. Ele parecia preocupado.
“O quê?”, Katsuki perguntou, franzindo a testa. Por que Deku não tinha tentado ver seu próprio corpo antes disso?
“Eu disse: ‘você não deveria estar na cama’?”, All Might repetiu, presumindo que a pergunta de Katsuki fora direcionada a ele. “Você não me parece bem, jovem. Deveria descansar e repor suas energias para se recuperar”.
“Não, não você”, Katsuki fez um aceno de mão mal-educado e desdenhoso para o homem, olhos focados em Deku ao seu lado. “Por que você não veio aqui antes?”
“Eu tentei”, Izuku admitiu, se aproximando da cama e parecendo querer segurar sua própria mão, mas com medo de fazê-lo. “Mas toda vez que eu tentava sair do seu lado, eu era puxado de volta. Como um imã”, ele sussurrou, espanto estampado em seu rosto.
“Isso não faz porra de sentido nenhum”, Katsuki bufou. “Por que eu? Por que ninguém mais consegue te ver?”
“Eu não sei”, Izuku admitiu baixinho. “Talvez seja porque você era a única outra pessoa lá quando eu fui atingido?”, ele sugeriu com pouco entusiasmo.
“Jovem Bakugou”, All Might chamou, preocupação evidente em seu semblante. Inko também estava encarando-o como se ele tivesse duas cabeças. “Com quem você está falando?”, ele perguntou, cauteloso. Katsuki bufou pelo nariz.
“Com o fodido do Deku”, ele explicou, dando seu melhor para soar seguro de si, ao invés de delirante. “Ele tá bem do meu lado”.
“O-O quê?!”, Inko se sobressaltou, olhos verdes se arregalando e lábios tremendo de um jeito bem Midoriya de ser. All Might colocou a mão em seu ombro para acalmá-la. “Você consegue ver ele? Cadê? Onde tá o meu bebê?”
“Mãe”, Izuku parou em frente à sua mãe, lágrimas já se formando como piscinas em seus olhos grandes e expressivos. Ele se agachou na frente dela, colocando cada mão em um dos seus joelhos de forma afetiva. “Mãe, eu tô bem aqui”, ele disse suplicante, como se implorasse que ela o visse.
“Ele tá agachado na sua frente”, Katsuki informou friamente, assistindo à cena em sua frente com olhos impassíveis. A visão do corpo morto de Deku na cama ainda era desconcertante, mesmo que ele ainda estivesse respirando graças às máquinas ligadas a ele.
Inko cegamente tentou tocar o filho invisível, sua mão passando através dele. Izuku estava tão intangível quanto Mirio e tão invisível quanto Hagakure. A única pessoa que podia vê-lo era Katsuki.
“Sua mão acabou de atravessar ele”, Katsuki anunciou em um tom monótono, fazendo Inko recolher a mão de onde estava esticada como se tivesse se queimado, um olhar horrorizado em seu rosto.
“Izuku! Eu te machuquei?!”, ela perguntou freneticamente, olhos correndo pelo espaço vazio em sua frente em uma tentativa desesperada e frustrada de achar seu filho. Izuku abaixou a cabeça e a balançou, ombros caindo com decepção.
“Não. Eu não senti nada”, ele admitiu, não se preocupando em olhar para Katsuki. Ele parecia infeliz.
“Ele tá bem”, Katsuki entregou a informação para a mãe desesperada, mas suspirou e revirou os olhos com irritação. “Olha, não vou mais ficar bancando o pombo-correio pra vocês. Dá pra alguém me dizer que porra tá acontecendo?!”, ele perguntou com exasperação. Izuku se levantou dos pés da mãe e voltou a olhar para o seu corpo, um semblante pensativo no rosto. All Might parecia em conflito, e ao mesmo tempo Inko continuou olhando em volta do quarto sem poder fazer nada, como se esperançosa de que Izuku fosse magicamente aparecer a qualquer instante.
“Jovem Bakugou...”, All Might finalmente disse, voz pesada e comprimida. “Você tem certeza...”, ele hesitou por um momento. “Você tem certeza que está vendo o Jovem Midoriya?”
“Uh, sim?”, Katsuki disse como se estivesse conversando com uma criança que faz perguntas demais. Um semblante ofendido apareceu em seu rosto. “O quê, você tá achando que eu fiquei doido também?”, ele bufou com raiva, lembrando da reação de seus pais alguns minutos antes. “Eu não sei como ou por quê, mas aparentemente eu sou o único que consegue ver e ouvir o nerd de merda, porque pelo visto é meu dia de sorte, né? De todas as pessoas no mundo que poderiam estar sendo assombradas pelo fantasma de merda do Deku, tinha que ser logo eu?”, ele fez uma carranca amargurada, estalando a língua. “Tch. Eu não tenho motivo nenhum pra inventar isso, por que caralhos eu ia querer que as pessoas acreditassem que eu sou o único que consegue falar com o Deku? Isso é – ‘cê tá tirando com a porra da minha cara?!”, Katsuki perguntou exasperado quando viu o que Izuku estava tentando fazer. O garoto estava tentando deitar na cama, claramente pensando que se sua alma deitasse em cima de seu próprio corpo, ele conseguiria se reconectar com ele de alguma forma.
“O quê? O que aconteceu?”, Inko perguntou, olhos verdes se arregalando novamente, e Katsuki discretamente desejou que ela parasse de fazer isso, por que esse olhar era familiar de um jeito tão estranho que o fez estremecer.
“Jovem Bakugou?, All Might instigou, igualmente curioso. Katsuki os ignorou, se aproximando da cama com um semblante raivoso.
“Você realmente acha que vai conseguir entrar no seu corpo de novo desse jeito, seu imbecil?”, ele debochou. “O quê, ‘cê vai só deitar aí e esperar até sua alma de merda ser puxada de volta pro seu corpo idiota e nanico? Não tô acreditando nessa porra, Deku”, ele balançou a cabeça em desaprovação.
“Meu corpo não é nanico!”, Izuku protestou, se sentando na cama e fazendo com que a visão diante de Katsuki se tornasse algo estranho de testemunhar. Ao mesmo tempo que um Deku estava deitado na cama coberto por fios, outro Deku mais pálido e ligeiramente mais transparente estava sentado, fazendo parecer que sua alma realmente estava saindo do corpo. Katsuki torceu o nariz, sem conseguir entender por que a visão fez seu coração acelerar.
“Sai daí, caralho, ter que ficar olhando pra um de você já é o suficiente”, ele gesticulou freneticamente para o garoto. “Merda, nunca na vida que eu achei que ia ser forçado a lidar com dois Dekus. Certeza que isso é um pesadelo feito especialmente pra me atormentar”, ele bufou. Izuku revirou os olhos, mas deu um pulo para fora da cama mesmo assim, parecendo chateado.
“Tanto faz, nem funcionou mesmo”, ele resmungou, triste. “Mas pensei que valia a pena tentar”.
“Jovem Bakugou, tenho que pedir que não fale desse jeito na frente da sra. Midoriya”, All Might repreendeu ao mesmo tempo que Izuku falou, tornando difícil que Katsuki prestasse atenção nos dois ao mesmo tempo. “Por favor, mostre um pouco de respeito a uma mãe passando por um momento de dificuldade”.
“Claro que não funcionou, se fosse fácil assim seu fantasma de bosta não estaria me seguindo e fazendo as pessoas pensarem que eu perdi a droga da minha sanidade!”, Katsuki decidiu responder a Deku, porque se tinha uma coisa na qual ele era o melhor, essa coisa era zoar o garoto. Ao menos era a única coisa que ainda estava em sua zona de conforto e que ele parecia poder fazer no momento. Ele estava sendo forçado a lidar com fantasmas, experiências de quase-morte, e a ligeira possibilidade de que estivesse na verdade perdendo todos os parafusos, mas no meio de toda essa bagunça, zoar o Deku e xingá-lo era a única coisa que ele se sentia seguro e confortável em fazer.
“Nossa, desculpa, Kacchan, mas eu também não tô amando essa situação!”, Izuku protestou, parecendo exasperado. Ele coçou a parte de trás da cabeça nervosamente e olhou para onde sua mãe ainda estava sentada, expressão mais desesperada do que antes. “Mãe”, ele tentou chamar sua atenção novamente, sem sucesso. “Mãe! Por favor, me escuta!”, ele implorou, ficando cada vez mais agitado. Katsuki franziu o cenho novamente.
“Ela não consegue te ouvir, seu bosta”, ele relembrou a Izuku com a cara fechada.
“Mãe!”, Izuku tentou de novo, ombros caindo quando sua mãe permaneceu alheia à sua presença.
“Jovem Bakugou”, All Might o chamou novamente, alheio ao quão agitado e barulhento Izuku estava ficando. A voz fina do garoto não estava apenas piorando a dor de cabeça de Katsuki, como também estava lhe dando nos nervos. “Ninguém está questionando sua sanidade, mas temos que ter cuidado em não dar falsas esperanças à sra. Midoriya—“
“Não!”, Inko protestou, interrompendo o símbolo da paz no meio de sua fala. “Eu acredito no Katsuki. Eu tenho que acreditar nele”, ela adicionou com a voz trêmula, curvando a cabeça.
“Eu sei”, All Might assentiu com a cabeça solenemente. “E eu quero acreditar nele também, mas sra. Midoriya...”, ele suspirou pesadamente, carregado de luto. “O Jovem Bakugou passou por uma experiência traumática—“
“Eu não tô traumatizado!”, Katsuki protestou de imediato. Ele nem se lembrava do que havia acontecido; como poderia estar traumatizado?
“— e isso pode ser nada mais do que uma maneira doentia que sua mente encontrou para lidar com o que ele foi forçado a testemunhar”, All Might concluiu, sem se importar com a interrupção de seu aluno.
“Hã?!” Katsuki rosnou, indignado. Até All Might, o símbolo da paz, a personificação da esperança, se recusava a acreditar nele? Havia uma chance de que ele estivesse realmente maluco?
“Precisamos convencer ele de que a gente tá falando a verdade, Kacchan!”, Izuku gritou desesperadamente. “Eles não podem continuar achando que eu morri!”
“Eles não podem continuar achando que eu tô doido”, ele virou a cabeça bruscamente na direção da figura desesperada de Izuku, torcendo o nariz. Izuku o olhou com olhos arregalados que eram idênticos aos de sua mãe, mas assentiu depois de segundos.
“Olha”, Katsuki respirou profundamente para se acalmar — não que tenha funcionado —, apertando o ossinho do nariz e fechando os olhos momentaneamente antes de se dirigir a All Might novamente. “É, eu entendo a preocupação. Eu também não acreditaria se algum desgraçado acordasse depois de dar com a cabeça, dizendo que ‘tava vendo o fantasma de alguém que teve morte cerebral. Mas, primeiro, eu nem lembro o que aconteceu com o Deku, então o fato de eu ver o nerd de merda não pode ser um jeito de lidar com o que aconteceu; dois, eu nem gosto do Deku, então não tem por que eu ficar traumatizado com a morte dele”, ele ignorou a forma como Izuku se encolheu ao seu lado, “e três, eu não acho que eu tô maluco, porque esse idiota literalmente tentou entrar no corpo deitando em cima dele, e não tem possibilidade do meu subconsciente ter inventado uma coisa tão idiota, então não tem como ele ser uma alucinação”, ele apontou de modo severo. All Might parecia tentar decidir se os pontos de Katsuki faziam sentido ou não, e a esperança nos olhos da Sra. Midoriya simplesmente aumentou. Izuku contorceu a barra da camisa enquanto esperava nervosamente por uma resposta.
“Precisamos falar alguma coisa que só eu saberia pra ele”, Izuku concluiu quando All Might não disse nada. Katsuki revirou os olhos novamente.
“Escuta aqui, Deku de merda, eu não vou ficar agindo como seu mensageiro particular enquanto você tá brincando de Gasparzinho, tá me ouvindo?”, ele reclamou.
“Mas você é o único que consegue me ver!”, Izuku protestou, indignado. “Nós precisamos achar um jeito de me colocar de volta no meu corpo!”
“Tô pouco me fodendo! Não sou entregador nenhum, se você quer passar suas mensagens adiante, arruma um tabuleiro Ouija ou alguma coisa assim!”, ele gritou com o garoto, completamente ciente de que, para qualquer um que estivesse assistindo à cena, parecia que ele estava gritando para o nada. Ele não estava tendo sucesso em não parecer maluco.
“O que o Jovem Midoriya está dizendo?”, All Might perguntou, e mesmo que ele ainda soasse como se achasse que a história de Katsuki era inacreditável demais, houve uma mudança em seus olhos que indicava que havia uma chance de ele dar um voto de confiança ao garoto.
Katsuki gemeu irritado com a pergunta, sabendo que, se não a respondesse, não só seria visto apenas como uma criança que não coopera, mas também sua atitude seria consistente com a de uma pessoa maluca. Ele virou a cabeça para olhar para o Deku fantasma, que tinha um olhar esperançoso, e então olhou para o corpo de Deku deitado na cama, parado e pálido. Seus olhos finalmente encontraram a mãe de Deku, e os rastros de lágrimas em suas bochechas, e mesmo que a visão não tenha exatamente derretido seu coração, ele se encontrou incapaz de virar as costas quando sabia que ele podia fazer algo para ajudar. Que tipo de herói ele seria se se recusasse a ajudar aqueles em necessidade, mesmo que fosse o Deku de merda com sua voz irritante e seus lábios trêmulos?
“Ele disse que a gente deveria te dizer alguma coisa que só ele saberia”, Katsuki respondeu mal-humorado, sem olhar All Might nos olhos. Ele olhou de relance para Deku e o encontrou com um sorriso aberto no rosto, gratidão evidente em seus olhos expressivos. “Não fica com cara de convencido, nerd”, Katsuki grunhiu com um olhar irritado, virando a cabeça para não ter que ficar olhando para aquele sorriso aberto. “Só tô fazendo isso pra me livrar de você mais rápido”, ele resmungou, mesmo que a afirmação tivesse soado como uma mentira.
“Eu sei”, Izuku concordou facilmente, e alguma coisa no jeito que ele concordou com aquilo fez Katsuki franzir o cenho. “Se for pra dizer alguma coisa que só eu saberia, não pode ser na frente da minha mãe”, ele adicionou pensativo antes que Katsuki pudesse tentar ler seu olhar. “Você e o All Might são os únicos que sabem sobre o One For All, e ela ia surtar ainda mais se descobrisse...”
“Então em vez disso não é só dizer algo que a sua mãe saberia?”, Katsuki perguntou com um tom indiferente, dando de ombros.
“Kacchan!”, Izuku protestou, seus olhos se arregalando.
“O que eu não sei?”, a cabeça de Inko se ergueu, olhos de repente afiados com atenção. “Sr. Toshinori?”, ela virou a cabeça para procurar respostas no rosto do homem quando Katsuki não a respondeu.
“Ela não consegue me ouvir, mas ela consegue te ouvir!”, Izuku disse, soando quase ofendido. Katsuki virou a cabeça para longe do garoto, tendo a decência de parecer envergonhado por seu deslize, mas vestindo uma careta brava para esconder isso.
“Olha, isso não tá sendo fácil, ok?!”, Katsuki discutiu, na defensiva. “É difícil pra caralho saber quais partes da sua faladeira eu devia ou não falar pra eles, e eu te disse que não sou pombo-correio. Se você não quer que eu responda às coisas que você fala sem pensar, então liga seu filtro uma vez na vida!”, ele acabou gritando com raiva novamente.
“Calma, calma, vamos todos nos acalmar, ok?”, All Might disse, gesticulando com as mãos em uma tentativa de acalmar o mau humor crescente de Katsuki.
“Não fala pra eu me acalmar, seu ossudo desgraçado!”, Katsuki protestou. “Só me diz como caralhos a gente pode botar o Deku de volta no corpo de merda dele pra ele me deixar em paz!”
“Você não vai ajudar ninguém se continuar gritando com todo mundo!”, Izuku explodiu, irritado com o familiar jeito resmungão de Katsuki.
“Eu não vou ajudar ninguém se você continuar matraqueando na minha orelha!”, Katsuki respondeu, tão intenso que sua voz possivelmente poderia ser ouvida por toda UA.
“Só diz pra minha mãe ir buscar um café ou alguma coisa assim pra eu poder convencer o All Might de que eu não tô morto!”, Izuku gritou de volta.
“Diz isso pro All Might você mesmo, seu nerd de merda!
“Eu diria se pudesse, mas infelizmente eu tô preso com você como o único jeito de me comunicar com as pessoas!”
“Bom, e eu tô preso com você como o fantasma mais bosta da história das assombrações!”
“O que está acontecendo aqui?!”, uma nova voz entrou na discussão, e Katsuki se virou para dar de cara com Recovery Girl, parada na porta. Os pais de Katsuki estavam se espreitando ansiosamente atrás dela e tentando espiar dentro do quarto. Ele abriu a boca para responder, e Izuku tinha uma aparência similar ao seu lado, mas foi All Might quem quebrou o silêncio.
“Nós sentimentos muito pelo transtorno, Chiyo”, ele disse, passando ao lado de Katsuki para cumprimentar a pequena mulher. “Mas temos algumas novidades que acredito que você tenha que saber”.
“A única coisa que eu tenho que saber é por que um dos meus pacientes está fora da cama, gritando como uma criança mimada, no quarto do meu outro paciente”, ela respondeu com raiva, encarando Katsuki com desaprovação.
“Eu...”, Katsuki tentou dizer, obviamente pego de surpresa pela interrupção, mas All Might foi mais rápido novamente.
“Jovem Bakugou acredita que existe uma chance de salvarmos a vida do Jovem Midoriya”, ele anunciou, e o jeito que disse as palavras — soando quase esperançoso — era tão diferente de seu tom cético de alguns minutos antes que o contraste fez com que Katsuki franzisse o cenho.
No entanto, Recovery Girl não foi convencida tão facilmente. Seu rosto se moldou em algo como dó e seus ombros despencaram enquanto ela mexia a cabeça com decepção.
“Nós falamos sobre isso, Toshinori”, ela disse, soando como se estivesse dando uma bronca no símbolo da paz. “O diagnóstico não mudou—“
“Eu consigo ver ele”, Katsuki interrompeu antes que ela pudesse continuar, com o semblante mais sério que já usara ao longo da vida. Recovery Girl se virou para ele com um olhar intrigado. “Deku. Ele tá em pé do meu lado nesse momento”, ele adicionou solenemente. Recovery Girl o observou com olhos aguçados. “Eu sei como isso soa”, ele continuou, sentindo necessidade de preencher o silêncio desconfortável no quarto. “Mas eu não tô maluco. Eu não sei o que aconteceu, mas por alguma razão, o Deku ainda tá aqui, e eu sou o único que consegue ver ele. Infelizmente”, ele adicionou a última parte com uma torcida de nariz, apenas porque haviam passado segundos demais desde que ele tirou sarro do garoto pela última vez. Ele olhou para Deku pelo canto dos olhos para ver sua reação, e o viu mordendo as unhas nervosamente, olhos grudados na figura pequenina de Recovery Girl.
“Diz pra eles que eu acho que a individualidade do vilão fez minha alma se desconectar do meu corpo”, Deku teve a audácia de dizer, como se Katsuki estivesse lá para obedecer a todos os seus comandos.
“Cala a porra da boca, seu nerd de bosta”, Katsuki rosnou simplesmente. “Eu já te disse que não sou seu mensageiro particular”.
“Eu também tinha as minhas dúvidas”, All Might disse à heroína curandeira, claramente tentando mediar a situação antes que Katsuki acabasse parecendo demais com um lunático. “Mas, se você parar para pensar, a história do Jovem Bakugou não é tão impossível. O Jovem Midoriya foi atingido por uma individualidade desconhecida, mas ele não morreu”, ele tentou argumentar.
“Ele teve morte cerebral”, Recovery Girl apontou severamente, lançando um olhar de desculpas para Inko por sua franqueza.
“Precisamente!”, All Might exclamou. “Por que os órgãos dele não pararam de funcionar?”
“Porque a sra. Midoriya se recusou a desligar as máquinas que o mantêm vivo”, a heroína curadora respondeu logicamente. All Might suspirou.
“Sim”, ele disse, cansado. “Mas o que eu quero dizer é”, ele apontou para o corpo de Midoriya deitado na cama. “Não é impossível que a individualidade do criminoso tenha causado algum tipo de separação entre o corpo do Jovem Midoriya e sua... Alma, pela falta de uma palavra melhor”.
“Foi o que eu disse!”, Izuku exclamou triunfantemente. Katsuki sentiu uma vontade irresistível de socar o nerd na cara, mas não se moveu.
“Então você realmente acredita que o Bakugou consegue ver e se comunicar com a... Alma do Midoriya?”, Recovery Girl perguntou, uma sobrancelha se erguendo em descrença.
“Eu não botei muita fé nisso, até que presenciei a discussão deles ao vivo e a cores”, All Might explicou, e Katsuki finalmente entendeu por que o símbolo da paz havia finalmente parado de olhar para ele como se ele precisasse de uma camisa de força. “Mesmo que eu só conseguisse ouvir o lado do Jovem Bakugou da discussão, me pareceu muito similar às conversas que ele geralmente tem com o Jovem Midoriya. Não parecia ser o resultado de uma alucinação, ou de uma condição parecida”.
Recovery Girl estalou a língua, fitando Katsuki com um olhar pensativo e o analisando da cabeça aos pés. Depois de alguns momentos de avaliação silenciosa, ela puxou uma cadeira próxima até o garoto explosivo e o empurrou para que se sentasse, sem nenhuma palavra.
“O quê?!”, ele perguntou, pego de surpresa pela ação repentina.
“Fique parado”, ela comandou, puxando uma pequena lanterna de dentro do bolso e a apontando para os olhos de Katsuki. A luz forte o fez recuar, e ele ouviu Izuku chiar de algum lugar atrás dele. Depois de checar suas pupilas, Recovery Girl continuou a examiná-lo atentamente, testando seus reflexos, checando sua ferida na cabeça e lhe fazendo algumas perguntas para verificar suas habilidades cognitivas. Ao fim de tudo, Katsuki estava irritado na cadeira, fazendo um esforço especial para não permitir que as pequeninas explosões em suas palmas se tornassem enormes. Ele odiava ser examinado. Ele odiava que as pessoas o tocassem sem ter uma boa razão.
“E então?”, All Might perguntou quando Recovery Girl se afastou de Katsuki com olhar conclusivo no rosto.
“A lesão na cabeça parece melhor”, ela anunciou. “Ele ainda está concussionado, mas não está tão ruim quanto estava quando ele chegou. Ele está ciente dos seus arredores e me parece bem lúcido”, ela suspirou. “Mas ainda há uma chance de ele estar tendo alucinações. Há precedentes para que uma pessoa comece a ver um ente querido falecido depois de uma morte trágica. É um sintoma comum de trauma”.
“O Deku não é um ente querido!”, Katsuki protestou imediatamente, incapaz de impedir que uma de suas mãos soltasse altos estouros com suas explosões em sua urgência em se defender. “E eu te disse que não tô traumatizado! Não tenho nem razão pra estar! Eu não ligo pro nerd de merda!”
Recovery Girl o lançou um olhar de quem sabe a verdade. Katsuki sentiu seu estômago embrulhar.
“Fui eu quem te atendeu quando você chegou ontem à noite”, ela disse de forma simples, calma. “Eu sei o que eu vi”.
“Hã?!”, Katsuki protestou furiosamente, sem entender por que as palavras da mulher o irritaram tanto. “Então é você que tá mais louca que o Batman, sua velhota!”, ele acusou.
“Kacchan!”, Midoriya exclamou, horrorizado.
“Bakugou!”, All Might o repreendeu, indignado, tão furioso com a insolência do garoto que ele assumiu sua forma alta e musculosa de All Might. “Não é aceitável que você desrespeite uma senhora de idade dessa maneira!”
“Deixa, Toshinori”, Recovery Girl disse com indiferença, puxando outra cadeira próxima ao rapaz e se sentando com um pulo. Suas pernas minúsculas não alcançavam o chão. “Raiva também é uma reação comum ao se ouvir verdades que você não quer admitir”.
“Escuta aqui —“, Katsuki se levantou de seu lugar, apontando o dedo para a idosa impassível.
“Calma, calma, Jovem Bakugou”, All Might, ainda em sua forma musculosa, agarrou o ombro de Katsuki usando mais força que o necessário, e o puxou de volta à cadeira, o segurando no lugar.
“Também é uma das fases do luto”, Recovery Girl adicionou de maneira simples, quase distraída.
“Eu não tô de luto pela droga do nerd!”, Katsuki protestou.
“Negação também é uma das fases”, ela murmurou pensativa, sem ligar para o Katsuki bravo em sua frente. Ela parecia estar tentando chegar a uma conclusão.
“Eu não tô negando nada! Eu tô te dizendo que o Deku tá de pé bem aqui!”, ele apontou para onde Izuku estava, mesmo que soubesse que ninguém além dele conseguiria vê-lo.
“No entanto, existe uma maneira de descobrir se o Bakugou precisa de uma intervenção psiquiátrica”, ela continuou, como se Katsuki fosse tão invisível quanto Izuku. Ela olhou para All Might, um olhar misterioso no rosto. Depois de alguns momentos dos dois se encarando em silêncio, All Might retornou à sua forma ossuda e magra com um “puff”.
“Jovem Bakugou”, ele disse firmemente com um suspiro pesado. Havia antecipação em seu tom. Katsuki se virou para encará-lo, a mão do homem ainda em seu ombro. “O Jovem Midoriya consegue nos ouvir, mesmo que não consiga falar conosco?”
Katsuki se virou para olhar para Deku, ainda que já soubesse a resposta. O garoto acenou que sim com a cabeça prontamente.
“Sim, ele consegue ouvir vocês”, Katsuki bufou.
All Might se inclinou para frente e sussurrou algo no ouvido de Katsuki. Depois de alguns segundos, ele voltou à posição inicial, dando um olhar sério ao garoto explosivo.
“Você deve seguir essas instruções à risca”, ele reforçou em voz alta, dando um aperto incisivo no ombro de Katsuki.
“Até a parte de sussurrar?”, Katsuki gemeu, reclamando. All Might assentiu.
“Tudo”, ele confirmou. Katsuki gemeu, suspirou, revirou os olhos, e fez todo o tipo de reclamação infantil antes de se levantar da cadeira e se dirigir à porta.
“Vem aqui, nerd”, ele chamou quando Izuku não o seguiu. Empurrando a porta, ele a segurou para Izuku, mesmo que o garoto provavelmente pudesse passar através dela em sua forma de fantasma.
“Onde a gente tá indo?”, Izuku perguntou, nervoso. Ele olhou de volta para a mãe, que ainda estava sentada ao lado da cama, segurando uma das mãos do filho com um olhar marejado e cheio de expectativa em seu rosto. Ele parecia não querer deixá-la.
“Só cala a boca e me segue, cuzão”, Katsuki bufou, irritado. Quando Izuku permaneceu grudado no lugar, ele revirou os olhos novamente e saiu do quarto, deixando que a porta se fechasse lentamente atrás dele. Izuku lançou um olhar final de anseio e conflito à sua mãe.
“Já volto, mãe”, ele prometeu antes de seguir Katsuki para fora. “Kacchan! Espera!”, Izuku o chamou enquanto o garoto explosivo se dirigia ao seu próprio quarto no centro médico. Ele não se incomodou em esconder seu alívio ao ver que seus pais não estavam mais lá, tendo provavelmente ficado cansados de esperar sua volta do leito de morte de Izuku. Assim que Izuku entrou no quarto depois dele, Katsuki fechou a porta e se sentou na cama. Izuku o seguiu e sentou ao seu lado.
“Olha”, Katsuki disse com raiva — mas quando é que ele não estava com raiva? —, sem encontrar os olhos de Izuku ou ao menos se preocupar em olhá-lo. “Eu só tô fazendo o que o All Might me disse pra fazer. E a única razão de eu estar fazendo isso é porque quanto mais rápido a gente descobrir o que caralhos tem de errado com você, mais rápido eu vou parar de ter que agir que nem seu assistente pessoal, sacou?”, ele bufou. Izuku baixou o olhar, uma fagulha de decepção aparecendo em seu rosto tão rápido quanto um flash.
“Ok, Kacchan”, ele concordou facilmente. “O que ele te disse pra fazer?”, ele perguntou curiosamente.
Se Izuku não tivesse conhecimento, se ele não soubesse que a pessoa sentada ao seu lado era Katsuki Bakugou, ele teria jurado pela vida de sua mãe que viu Kacchan corando. Mas não tinha como ser isso, certo? Se tinha uma pessoa que nunca corava, essa pessoa era Katsuki.
Ele se inclinou na direção de Izuku, e o garoto sentiu seu coração acelerar, mesmo que ele não passasse de uma projeção astral. O que diabos Kacchan estava fazendo? O garoto explosivo virou a cabeça para que pudesse sussurrar algo no ouvido de Izuku e, mesmo sabendo que esse Izuku não era nada mais do que um fantasma, uma projeção, um espírito intangível, Katsuki podia jurar que conseguiu sentir as cócegas do cabelo encaracolado de Izuku roçando em sua bochecha, ao mesmo tempo em que Izuku podia jurar que sentiu o calor da respiração de Katsuki fazendo seu pescoço formigar.
Katsuki hesitou por alguns segundos, seus lábios pairando bem ao lado da orelha de Izuku.
“Você tem que ativar o One For All”, ele sussurrou, voz baixa e suave de um jeito que Izuku nunca havia escutado em todos os anos em que eles se conheciam. Mesmo se houvesse mais alguém no quarto com eles, ninguém além de Izuku teria sido capaz de ouvir as palavras de Katsuki. Aquelas palavras eram para ele e somente para ele.
A voz de Katsuki sempre foi tão alta quanto suas explosões. Agora, era suave e gentil como uma brisa. Izuku nunca pensou que tal som fosse possível até ouvi-lo em primeira mão, e foi adorável.
Izuku permitiu que seus olhos se fechassem e que o poder do One For All fluísse por seu corpo.
Assim que teve certeza de que havia ativado seu poder com sucesso, ele olhou para seus braços, mas para sua surpresa eles pareciam normais como sempre. Nenhuma luz brilhante os transpondo. Nenhuma faísca verde. Nada. Ele conseguia sentir o One For All se espalhando dentro dele, mas não via nenhum sinal disso. Ele virou sua cabeça para olhar para Katsuki, as sobrancelhas franzidas em confusão, apenas para encontrar o mesmo semblante perplexo no rosto do amigo.
“Isso quer dizer —?“, Katsuki começou, um olhar inusitado de terror aparecendo subitamente em seus olhos, mas antes que pudesse finalizar o pensamento, um grito estridente fez com que os dois garotos virassem a cabeça repentinamente para a porta.
“Izuku!”, Inko estava gritando e soluçando do quarto do filho.
“Midoriya, meu garoto!”, All Might gritou, triunfante.
Izuku e Katsuki viraram a cabeça em direção um ao outro em perfeita sincronia, olhos arregalados em antecipação. Foi Katsuki quem agiu primeiro, pulando da cama e correndo em direção ao quarto de Izuku, apenas para encontrar o corpo do garoto ainda deitado na mesma posição na cama, mas com raios verdes o cercando. Ele havia ativado o One For All.
“Eu tô vivo”, Izuku fantasma sussurrou atrás dele, soando mais perplexo do que qualquer coisa. Katsuki se virou para encará-lo, e Izuku encontrou seus olhos. “Kacchan, eu ainda tô vivo!”, ele repetiu enfaticamente, como se a informação fosse uma surpresa para si. Havia um sorriso enorme florescendo em seus lábios.
“Ouvi na primeira vez, nerd”, Katsuki brigou, virando a cabeça para longe para que Izuku não conseguisse ver o sorriso minúsculo que apareceu em seus lábios.
“Jovem Bakugou! Você estava certo!”, All Might comemorou, puxando Katsuki para um abraço apertado. “O Jovem Midoriya ainda vive!”
“Óbvio que eu tava certo”, Katsuki rosnou, mas não se afastou do abraço de All Might. “Eu te disse que não inventaria uma coisa assim”.
“O fato de Midoriya ter conseguido ativar seu poder prova que ele não teve morte cerebral, e considerando que ele o ativou longe de seu corpo e depois de você instrui-lo, podemos assumir que você não está clinicamente insano”, Recovery Girl deu um tapinha no ombro de Katsuki, como se o parabenizasse por não estar maluco. Havia uma provocação escondida em sua voz. “No entanto, eu ainda gostaria de mantê-lo sob observação”, ela acrescentou maliciosamente. “Você sofreu uma lesão feia na cabeça e perdeu sangue demais”.
“Eu tô me sentindo bem”, Katsuki protestou, mesmo que não fosse totalmente verdade. Ele se sentia cansado e com dor, sua dor de cabeça piorando a cada segundo.
“Acredito que nossa prioridade deva ser descobrir o que exatamente aconteceu com o Midoriya, agora que sabemos que ele ainda está aqui”, Recovery Girl anunciou. “No entanto”, ela adicionou, direcionando um olhar significativo para Katsuki como se pudesse ler sua mente. “O Sr. Bakugou ainda está em recuperação e não deveria ter ficado tanto tempo fora da cama. Volte para o seu quarto e descanse”, ela o instruiu. “Vou vê-lo daqui a pouco”.
“Mas...”, Inko protestou, lágrimas escorrendo em seu rosto. “Se o Izuku tá vivo... A gente não deveria... A gente não deveria se esforçar pra fazer ele melhorar logo?”, ela sugeriu humildemente.
“Ainda não sabemos o que exatamente aconteceu com o Jovem Midoriya. Eu vou falar com o Aizawa sensei e ver se conseguimos coletar todas as informações existentes sobre quaisquer individualidades que poderiam possivelmente causar isso”, All Might anunciou. Ele depositou uma mão reconfortante no ombro de Inko. “Sra. Midoriya, eu prometo que vou fazer tudo no meu poder para trazer seu garoto de volta”.
“Obrigada”, Inko fungou e soluçou, se levantando com um pulo e puxando All Might para um abraço apertado que surpreendeu até o homem. “Oh, obrigada! E obrigada a você também, Katsuki!”, ela se apressou até Katsuki, o puxando para um abraço igualmente apertado. Ele suspirou, desconfortável com os toques não solicitados que teve que suportar naquele dia. “Obrigada por ajudar o meu bebê!”
“Tá, tá, tanto faz”, ele resmungou, satisfeito por ter sido liberto do abraço apertado assim que Inko se afastou com um passo, lágrimas ainda escorrendo por suas bochechas rechonchudas. Katsuki desviou o olhar, não disposto a encarar o verde de seus olhos. Meu Deus, qual era a dos Midoriyas e a porra de seus olhos? Katsuki queria dizer que os odiava, mas eles provocavam um sentimento completamente diferente, que não parecia ser identificável.
“Agora, para a cama, Bakugou”, Recovery Girl ordenou, realmente o empurrando até a porta. “Você precisa de todo o descanso que conseguir para se recuperar e nos ajudar a descobrir como ajudar o Midoriya. Nós ainda temos mais pesquisa a fazer sobre a individualidade que o está afetando, então você pode ir tirar uma soneca”.
“Tá bom”, ele bufou de forma simples. Sem se despedir de nenhum deles, ou ao menos olhar para trás, ele se virou e saiu do quarto. Agora que parara para pensar, e agora que tinha certeza de que não estava completamente maluco, ele finalmente conseguiu perceber o quão ridiculamente cansado estava. Pensou em pedir alguns analgésicos para Recovery Girl para ajudar com a dolorosa pulsação em sua cabeça, mas a ideia de ter alguém fazendo tempestade em copo d’água sobre sua condição não era exatamente a melhor coisa do mundo no momento. Ele provavelmente ficaria bem depois de dormir um pouco.
Ele não esperava que Deku o seguisse até o quarto.
“Que porra cê tá fazendo aqui?”, Katsuki perguntou, lançando um olhar rápido e desinteressado à Deku antes de se jogar na cama e apoiar um braço sobre os olhos sem cerimônia alguma.
“Eu...”, Izuku hesitou por um momento, de pé em frente à cama e se sentindo encabulado. “Pensei em ficar de olho em você”, ele explicou desanimado.
“Tch. Ficar de olho em mim? É você que tá com o pé na cova”, Katsuki zombou. “Ou o corpo inteiro, considerando a situação”.
“É, mas...”, Izuku engoliu em seco. Ele abaixou a cabeça antes de reunir a coragem para erguê-la novamente. A maior parte do rosto de Katsuki estava escondida por seu braço. “Você devia pedir um remédio pra sua dor de cabeça pra Recovery Girl”, ele finalmente sugeriu, com firmeza.
“Eu não tô com dor de cabeça”, Katsuki mentiu em um tom monótono, imediatamente.
“Tá sim”, Izuku retrucou, tão rápido quanto ele.
“E como caralhos você saberia disso, Deku de merda?”, Katsuki zombou, soando cansado e petulante. Na realidade, a pulsação em sua cabeça estava o matando lenta e dolorosamente, mas ele nunca admitiria isso em voz alta para ninguém.
“Eu... Só sei”, Izuku deu de ombros. Katsuki finalmente levantou o braço para que pudesse observar o garoto, desconfiança estampada em seus olhos escarlates. Ele estudou o rosto de Izuku por um longo tempo antes de se pronunciar.
“Que porra cê tá falando?”, Katsuki perguntou, na defensiva. Izuku imediatamente corou.
“Nada! É q-que tipo, você parece incomodado com a luz e... E... Seu mau humor tá pior do que o normal! E a Recovery Girl disse que você bateu a cabeça feio, então faz sentido sua cabeça estar doendo!”, ele discutiu. Katsuki cerrou os olhos por um momento como se tentasse descobrir se Izuku estava mentindo, mas acabou voltando a descansar a cabeça no travesseiro e a jogar o braço sobre o rosto novamente.
“Tanto faz. Vou dormir que passa”, ele disse finalmente, tão monótono quanto antes.
“Kacchan—“, Izuku tentou protestar.
“Escuta aqui, Deku”, Katsuki suspirou cansado, mantendo o braço sobre os olhos. Ele soava atipicamente cansado, mas irritado como sempre. “Só porque eu tô te ajudando, não quer dizer que nós somos amiguinhos. Ou seja, a gente não vai ficar fazendo trancinhas no cabelo um do outro, não vai ficar falando sobre sentimentos nem ficar fazendo festa do pijama, e você definitivamente não vai ficar me falando que porra eu devia fazer. Sacou?”
Izuku abaixou a cabeça, suspirando. Ele olhou para o lado, cenho franzido em frustração.
“Sim”, ele disse simples, soando quase decepcionado.
“Agora cala a porra da boca e me deixa dormir”, Katsuki adicionou com um rosnado. “E não fica em pé aí me assistindo dormir que nem um esquisitão. Vai achar alguma coisa pra fazer”, ele instruiu.
“Mas ninguém consegue me ver”, Izuku protestou, infeliz. O que ele deveria fazer?
“Exatamente. Vai espiar o banheiro das meninas ou sei lá”, Katsuki sorriu, provocativo. Sua boca e a ponta do nariz eram as únicas partes visíveis do rosto, já que não estavam enfiadas na curva de seu braço.
“Kacchan!”, Izuku exclamou, ofendido.
“Só tô te zoando, Deku de merda. Eu sei que você não faria isso”, o sorriso de Katsuki apenas aumentou com o protesto. Izuku corou, grato que Kacchan não estava olhando para ele para ver isso.
“Você também não”, ele declarou simplesmente, sem olhar para Katsuki. Mesmo que ele tivesse esperado que as palavras saíssem soando infantis, elas acabaram soando mais significativas do que pretendia.
“Nah”, Katsuki respondeu simplesmente, seu braço escondendo seus olhos de vista. Ele não disse mais nada, e o assunto morreu.
Longos minutos de silêncio se passaram, Izuku olhando pensativo enquanto a respiração de Katsuki gradualmente relaxava. Ele não sabia se o garoto explosivo estava dormindo ou não quando decidiu se pronunciar novamente, trazendo à tona um assunto que o estava incomodando desde o momento que Katsuki acordara em um estado lúcido.
“Você não lembra mesmo de nada do que aconteceu ontem?”, Izuku perguntou, um tom melancólico em sua voz. Katsuki suspirou tão alto que soou como um chiado.
“Porra, cê ainda tá aí?”, ele ergueu as sobrancelhas, como se estivesse surpreso pela audácia de Deku de desafiar sua ordem. “Não, eu não lembro porra nenhuma. Deixa isso quieto. Lembrar do que aconteceu não vai mudar o fato de que você tá a um passo de morrer”, ele zombou. “Não tem por que ficar se prendendo ao passado”.
“Tá bom”, Izuku concordou simplesmente. Ele não sabia porque Katsuki havia se esquecido, mas talvez fosse algum efeito colateral da batida na cabeça. Afinal, Recovery Girl disse que ele ainda tinha uma concussão.
Outra série de minutos silenciosos se passaram, e nenhum outro som além da respiração de Katsuki preencheu o quarto.
“Kacchan”, Izuku chamou baixinho depois de um tempo. O grunhido de Katsuki foi animalesco.
“Meu Deus do céu, eu juro que vou até o seu quarto e te sufocar até a morte com cem travesseiros se você não calar a porra da boca agora, Deku”, ele ameaçou irritado, cobrindo o rosto com ambas as mãos e parecendo que estava se segurando ao último fio de autocontrole que tinha para não explodir o fantasma de Izuku até a pós-vida.
“Eu só queria te agradecer”, Izuku continuou, sem ligar para a exibição violenta. “Por, sabe, me ajudar. Eu sei que você não quer. E... Eu sei que você não tem obrigação. Então obrigado”, ele disse com sinceridade.
“Claro que eu tenho obrigação, seu idiota”, Katsuki rosnou, se virando abruptamente na cama para se deitar de lado. Era como se ele estivesse tentando mostrar para Izuku que não queria conversar. Ele colocou o travesseiro em cima do rosto para bloquear a luz de seus olhos sensíveis, e muito possivelmente também para bloquear o som da voz de Izuku de seus ouvidos sensíveis. Ele suspirou antes de concluir: “Que tipo de herói eu seria se não ajudasse?”
Izuku o observou com adoração nos olhos. Katsuki continuou a enterrar o rosto no travesseiro, irritado e alheio à maneira que Izuku estava lhe olhando.
“Kacchan”, ele sussurrou com admiração.
“Só me deixa dormir, ok? Essa coisa de provar que não tô maluco me cansou pra caralho”, Katsuki resmungou rabugento, socando o travesseiro que sobrou embaixo de sua cabeça como se quisesse deixá-lo mais macio, antes de deixar a cabeça pesar sobre ele. “Vai achar outra pessoa pra encher o saco e sai daqui”.
Izuku abaixou a cabeça. Ele sabia que não conseguiria ir a lugar algum, mesmo que quisesse.
Ele ficou lá em silencio, sentado no canto mais distante do quarto de hospital de Katsuki e se recusando a olhar para ele. Ele falhou em notar a maneira que a careta constante de Katsuki foi substituída por uma expressão pacífica e relaxada que era tão rara de se ver em seu rosto, assim que ele caiu em um sono pesado.
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