A volta do Rei e do Príncipe estava prevista somente para a manhã seguinte, eles terem retornado no início daquela noite foi algo inesperado e ninguém sabia dizer se era bom, por isso toda aquela movimentação. Os empregados passavam por Sasuke dando paradas rápidas ao fazer a reverência e, murmuravam "Se me der licença Vossa Alteza" tão baixo que o príncipe tinha dificuldades em ouvir. A cozinha deveria estar um caos para preparar refeições para aqueles que tinham voltado.
Quando chegou ao grande salão o local estava vazio e silencioso. O brilho da luz da lua entrava pelas grandes janelas e reforçava a luz que as velas dos candelabros prateados produziam, deixando o ambiente mais iluminado. O chão era forrado com a mesma tapeçaria escura dos corredores, o que silenciava os passos de Sasuke, e as paredes construídas a partir do mármore branco. Todo o castelo era. Um pouco extravagante para o gosto de Sasuke, mas, não podia negar que era bonito. A área do salão principal tinha sido construída em um formato redondo, havia duas portas imensas, igualmente prateadas, uma do lado da outra, que iam do chão ao teto que era por onde os convidados entravam e saíam, e algumas outras portas igualmente grandes que levavam a lugares diferentes. No centro havia uma escada ornamentada escura que levava até a parte superior, onde ficavam os quartos e outros cômodos. O teto redondo era pintado com deuses, e outras criaturas místicas, que dançavam sob um céu da noite estrelado ao redor de uma fogueira. Muitas vezes, Sasuke se pegou olhando para a pintura da fogueira e algumas das vezes podia jurar que as chamas alaranjadas se movimentavam, como se estivesse realmente queimando. O jovem Uchiha nunca soube o nome do artista que havia feito aquela pintura, mas uma coisa era certa, aquele teto sempre tirava o fôlego de quem o via pela primeira vez. Despencando do teto, preso a uma forte corrente de ferro, havia um lustre gigante, cheio de velas acesas o que providenciava a maior parte da iluminação junto aos candelabros. Fora isto, o resto daquele cômodo tinha apenas alguns quadros, vasos e umas mobílias de madeiras espalhadas em pontos específicos.
Sasuke se virou para olhar uma das portas abertas ao ouvir passos pesados e o tilintar de armaduras junto a vozes e sons de risadas, por ela passou quatro homens todos trajados com a armadura de aço pesada, seguravam os elmos nas mãos. Um deles Sasuke reconheceu na hora, este possuía uma armadura visivelmente melhor que os companheiros, tinha o corvo estampado na altura do peito. Danzo Shimura, o capitão da guarda real, um homem chegando a fase final de sua vida, de cabelos escuro e arrepiados, cheio de cicatrizes, uma em particular se destacava, em formato de X no queixo. Sasuke não tinha uma opinião formada sobre Danzo, mal conversavam, o capitão sempre estava na sala de reunião junto com o Rei ou o seguindo onde quer que fosse, incluindo ir para aquela floresta. Os outros que viam com ele eram, provavelmente, soldados.
— Boa noite, Vossa Alteza. — Iniciou Danzo com uma leve reverência.
— Boa noite. Onde está meu pai e irmão?
— Estão na sala de reuniões, tinham algo para conversar.
— Algo tão urgente que deixou a refeição e o descanso em segundo plano?
— Sim.
Os olhos de Danzo brilharam, com algo não dito, ao se encontrar com o olhar do Príncipe.
Sasuke uniu as sobrancelhas escuras ao franzir a testa. Passou pelos guardas e o capitão, indo em direção a escadaria que o levaria ao andar superior.
— Vossa Majestade pediu para não ser incomodado, pediu para que todos o aguardassem na sala de jantar.
Sasuke parou com pé no primeiro degrau da escada, virando-se levemente para fitar os guardas por cima do ombro, fitando o capitão.
— Eu sou o segundo Príncipe deste reino, acredito que minha presença não irá incomodar meu irmão e meu pai.
— Não, Vossa Alteza, sua presença jamais incomodaria alguém, fui exaltado. Minhas sinceras desculpas, mas o assunto é entre Rei e Príncipe herdeiro.
— Minha presença irá incomodar, Capitão Danzo? — Como o grunhido de um animal prestes a atacar, foi assim que as palavras de Sasuke soaram.
Danzo hesitou por um momento, pesando na melhor atitude a seguir. Soltando um suspiro, relaxando os ombros, e, por fim, terminou:
— Não, Vossa Alteza.
Desistindo daquela briga Danzo se colocou a caminhar junto com seus soldados, não antes de fazer outra reverência, em direção ao salão de jantar.
E assim, Sasuke subiu em direção à sala de reunião.
(...)
— Mas que merda está fazendo aqui garoto? Eu falei que não queria ser interrompido.
Sasuke mal terminará de fechar a grande porta de madeira refinada da sala de reuniões atrás de si quando ouviu a voz ríspida de seu pai.
O homem mais importante do reino o olhava com os braços cruzados, sentado em seu trono, com uma das sobrancelhas erguidas, olhando mais adiante Sasuke viu seu irmão sentado em uma das várias mesas construídas para os conselheiros reais em torno do trono, apoiava a cabeça sobre o punho fechado e tinha uma expressão de... Seria raiva estampada em sua face? Ambos usavam cotas de malha escura, própria para caçadas, com botas e luvas de couro, as roupas estavam sujas em diversos pontos pelo o que Sasuke julgou ser terra e lama. Seu irmão já tinha visto dias melhores. O longo cabelo negro, amarrado no tradicional rabo de cavalo, estava uma bagunça e também sujo, seu rosto um tanto pálido. Seu pai, Fugaku, por outro lado parecia estar radiante como sempre, as maças do rosto pintadas com um vermelho natural, a face marcada com as linhas severas que o tempo deixou como herança.
Sasuke abaixou a cabeça em uma demorada reverência.
— Desculpe pai, eu apenas queria ver se ambos haviam chegado bem de viagem. — Sasuke levantou o olhar até encontrar com o par ônix, ao qual havia herdado, o encarando.
— Agora que viu que estamos bem pode voltar para o salão de jantar e nos aguardar. O assunto que tenho a tratar é somente com Itachi.
Sasuke teve que engolir em seco, tentando empurrar goela a baixo o pequeno impulso de raiva que sentiu. Ele estava sendo excluído novamente.
— Qual o problema dele ficar e ouvir também? Não é nenhum segredo o que estamos conversando. — A favor de Sasuke, Itachi cortou o pai, com a voz rouca, e fez um aceno com a mão livre para que o jovem príncipe tomasse uma das cadeiras e, antes que o Rei tivesse tempo de refutar, Sasuke assim fez. — Considerando que Vossa Majestade tomou tal decisão por mim, antes mesmo de consultar, ter Sasuke ouvindo seus planos futuros é a coisa que menos me incomoda. Além do que, é bom ele saber que pode acordar um dia e ver que decisões importantes sobre a vida dele serão tomadas sem seu consentimento.
O garoto mais novo piscou os olhos uma vez. Duas vezes.
Nunca em sua vida tinha visto Itachi usar aquele tom de voz com seu pai. Com o Rei. Ninguém teria tido tal coragem, mas o Príncipe herdeiro não era ninguém. O tom de voz de Itachi estava um pouco alto e embargado com revolta. O que Sasuke tinha perdido nesses dez dias que se passaram?
— Agora pronto, você não vai começar a dar um ataque de histeria por causa disso, ou vai? Você é o futuro Rei desta nação, obviamente, escolhas que irão ajudar nossas terras a prosperarem sempre ficarão acima dos seus desejos. — Se levantando do trono, construído e moldado na base de pedra estrela, e ordenado com muitos entalhes de prata, passando a caminhar de um lado para o outro ao modo que também passava a mão entre os cabelos escuros um pouco abaixo do rosto, o Rei vociferou de volta a Itachi.
Foi a vez de Itachi se levantar da cadeira de forma tão bruta que a quase fez cair, apoiou as mãos sobre a mesa e encarou o Rei com os olhos semicerrados, do jeito que encarava algum oponente no campo de batalha.
Sasuke rezou em silêncio para qualquer Deus que o ouvisse.
— Você — você, e não Vossa Majestade — poderia ao menos ter me avisado, poderia ao menos ter me prevenido, poderia ter ao menos procurado saber o que eu pensava antes de assumir que eu ia adorar a ideia.
— E você, seu moleque insolente, poderia ao menos parar e tentar entender meus motivos, que estou fazendo isso pelo bem do reino.
Céus, a tensão que se formou ali naquela sala era quase palpável, e estava sufocando o Uchiha mais novo, que fez sua tentativa de interromper aquela discussão ao tossir propositalmente com a mão sobre a boca, e pronunciar:
— O que, exatamente, Vossa Majestade fez?
Pai e filho olharam rapidamente para Sasuke como dois lobos selvagens olham em direção a presa, e disseram em uníssono:
— Ele me arrumou um casamento.
— Vou casar seu irmão.
—
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