História The Witcher - The last wish - Vínculos estreitos

Yennefer de Vengerberg

Deixei a princesa dormindo no quarto ao lado do meu e caminhei até o corredor. Geralt estava sentado em uma cadeira de maneira com os braços cruzados e eu não precisava pensar muito para saber que ele decidira passar a noite ali e velar pela segurança de sua criança.

Aquilo seria fofo se ele não estivesse um caco e precisasse dormir, mas aquilo não era da minha conta.

- Tem chá na cozinha, vai ajudar a espantar o sono caso continue com sua ideia de vigília – disse tentando não demonstrar o quão afetada eu ficava todas as vezes que sentia seu olhar dourado sobre mim.

- hum...

- Monossílabo como sempre – sorri e caminhei até o meu quarto – Boa noite, Geralt.

- Yen – ele me chamou antes que eu entrasse, o encarei por cima dos ombros – Obrigado por cuidar dela.

Respirei fundo e assenti.

Eu precisa dormir o quanto antes e esquecer aquela loucura que minha realidade havia se tornado.

Não passava das duas da manhã quando sentia uma forte mudança na magia de todo o ambiente. Acordei em um sobressalto e acendi o candelabro. Fui até o corredor e notei que Geralt ainda estava ali. Ele me olhou de cima a baixo e só então lembrei que estava com uma camisola de seda branca, deixando boa parte do meu corpo a mostra.

- Perdeu o sono? – sua voz grossa fez meus pelos se arrepiarem. Porém um barulho no quarto de Ciri deixou nós dois alarmados.

- tem algo estranho com ela – disse entregando o candelabro para ele e abrindo a porta. Tudo dentro do ambiente flutuava, assim como a criança em cima da cama.

- Yen...

- Ela não sabe controlar e a magia se torna mais forte quando ela está adormecida.

Entrei com cuidado e comecei a manipular o caos presente no ambiente.

- Ciri... Querida... Acorde... – toquei em seus cabelos e aos poucos ela foi abrindo os olhos – Ciri...

- Oh não... – seus olhos se arregalaram ao notar o que estava acontecendo.

- Se acalme – ajudei as coisas voltarem ao seu lugar com um pouco de magia e respirei fundo. Ela ainda estava ofegante e com medo, conseguia ver isso em seus olhos marejados.

Não tive como recusar seu pedido e fiquei ao lado dela durante a noite. Com a magia que exalava dos meus dedos e o carinho em seus cabelos, não demorou muito para que ela adormecesse.

Levantei o olhar e notei que Geralt nos olhava parado na porta.

- Ela já está segura grandão - provoquei - pode dormir um pouco se quiser, eu cuido dela.

Ele confirmou me encarando por alguns segundos e respirou fundo antes de dizer.

- acho que eu estava enganado durante todos esses anos – o fitei sem entender – você seria uma boa mãe.

Senti o peito acelerar e observei ele se afastar no corredor escuro. Respirei fundo e encarei Ciri adormecida, ela era uma criança excepcional e tinha um potencial indescritível. Aos poucos o sono foi chegando para mim também e sem notar adormeci ao lado da pequena.

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Quando abri meus olhos eu já estava em meu quarto. O cheiro de Geralt estava presente e eu sabia que ele havia me trago há pouco tempo, só de imaginar nossos corpos unidos meu corpo estremeceu... Eu havia estado com outros homens após a missão para caçar o dragão, fiquei tão irritada e magoada com a possibilidade de que tudo que eu sentia era proveniente de magia, que tentei tirar suas marcas do meu corpo a todo custo...

Porém era em vão... Nenhum homem me tocava como Geralt, nenhum homem me fazia suspirar e ansiar por mais como ele. Talvez fosse essa ligação, talvez fosse magia... Fosse o que fosse, eu estava ligada a ele, escrava daquele sentimento e isso me deixava louca...

Durante o café aproveitei para sondar um pouco mais dos planos do Bruxo e depois ocupa-lo para que de forma indireta ele permanecesse por perto.

Ciri foi bem mais surpreendente do que eu imaginava. Depois de horas encarando a pedra com raiva e frustração eu a ensinei como deveria ser feito e então, ela simplesmente entra em contato com sua magia interior e faz a pedra levitar, poupando a vida da flor sem nem ao menos notar.

Sorri verdadeiramente impressionada.

- Conseguiu leãozinho.

Ela abriu os olhos surpresa e começou a sorrir ainda mais.

Levantei os olhos e por um momento me perdi na visão de Geralt sem camisa brigando com pregos e madeiras em cima do telhado, ele poderia se recusar a fazer isso assim como já se recusou a fazer muitas coisas, mas ele aceitou, assim como aceitou ir em uma caçada contra um dragão. 

Meu coração deu uma pequena acelerada e eu suspirei sem perceber, porém o sorriso de Ciri me deixou alarmada e decidi evitar cair da tentação que estava em cima do telhado.

Passamos o dia todo treinando magias básicas e a noite Melissandre preparou uma refeição para todos.

- Ainda não teve notícias de Tissaia? – questionei.

- infelizmente não, senhora – ela me encarou – alguns moradores disseram que as aldeias e cidades vizinhas estavam sendo atacadas.

- que tipo de ataque? – Geralt questionou.

Já havíamos terminado de jantar, porém ainda estamos sentados a mesa enquanto Ciri terminava sua sopa.

- Um grupo de saqueadores, eles tem armado emboscadas nas estradas e furtado os viajantes. Não é mais seguro viajar durante a noite, acredito que a senhora Tissaia resolveu vir pela manhã e evitar infortúnios.

- saqueadores – Geralt disse – o prefeito da cidade deveria tomar uma atitude.

- acontece que não temos prefeito após o ataque de Sodden Hill – disse – eles não chegam nessa aldeia por medo da feiticeira que ninguém nunca vê, porém isso pode acabar com o tempo.

- O grupo é liderado por uma mulher de cabelos acobreados e curtos. Ela parece ter uma força sobrehumana, matou uma esquadria de guardas que vinham do Sul.

- uma mulher? – sorri de canto – isso é interessante.

- o que mais sabe sobre ela?

Notei o interesse de Geralt e franzi o cenho.

- Não sabemos muito, somente que é uma mulher que mata em nome da deusa Lilith.

O rosto de Geralt se franziu ainda mais e seus punhos se fecharam. Sem dizer uma palavra sequer ele saiu da mesa e Ciri me encarou.

- o que aconteceu?

- eu não sei.

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Os dias foram de passando, Ciri aprendia a controlar sua magia a cada dia, porém ainda tinha dificuldade em se conectar a ela.

Aproveitei o tempo ocioso de Geralt e reforcei a necessidade da princesa também ter um treinamento de luta e combate, já que nem sempre de pode recorrer a magia.

- Já se passaram dois meses – Tissaia disse ao meu lado. Eu estava na biblioteca encarando o treino de Geralt e Ciri – ate quando irá fugir dele?

- até quando eu conseguir.

Ela respirou fundo e me encarou.

- Isso é ridículo, você está se punindo a toa e punindo a ele também. Sinceramente, Yennefer... Eu não estou a fim de aturar o mal humor do seu bruxo.

Sorri ao ver Ciri golpear o boneco de palha e arrancar sua cabeça em um único golpe.

- Ela é extraordinária – Tissaia disse e eu assenti.

- eu sei.

- E se apagou muito a você.

Respirei fundo.

- sim, eu também sei.

Tissaia estava certa, nos últimos meses Ciri sempre aparecia no meu quarto durante a noite alegando que não conseguia dormir e depois de um tempo acabei deixando que ela dormisse comigo quase todos os dias.

Isso facilitava minha fuga recorrente de Geralt. Ele também permaneceu algumas semanas fora caçando um monstro na cidade vizinha. Nesse período fui com Ciri até a casa de Yuga e Zola, finalmente conhecendo os amigos de quem ela falava tanto.

- Um filho não precisa ter sido gerado em seu ventre para ser seu – ela disse me tirando de meus devaneios, a encarei surpresa – eu sinto a ligação que ambas possuem e é tão forte quando a que ela possui com o bruxo.

Permaneci em silêncio.

- Aretusa me chamou para uma reunião, parece que Nelfgaard começou a dar as caras.

- O que eles fizeram?

- Atacaram uma vila no extremo sul, existem relatos de que usam magia profunda.

- isso é impossível, Fringilla está morta.

- isso era o que nós pensávamos – ela fechou o rosto – não me espere tão breve, irei manter contato.

- leve Jasper com você.

- eu irei.

Ela fez um portal e saiu da biblioteca, continuei encarando a luta entre os dois e respirei fundo, se Fringilla estava viva e usou todo esse tempo para se reerguer tínhamos que tomar cuidado, ela estaria forte e não pouparia esforços para colocar as mãos em Ciri.

E isso eu não iria permitir.

Estava com a cabeça quente e decidi tomar um chá. Melissandre estava na janela praticamente babando em Geralt e eu respirei fundo.

- Pretende limpar esse vidro ou apenas admirar o bruxo?

- Minha senhora – ela se atrapalhou toda e eu prendi o riso – me desculpe, eu... Eu estava...

- não precisa se enrolar toda – me sentei a mesa e respirei fundo – ele é um homem bonito e com esse ar selvagem é natural que todas as mulheres sintam o corpo aquecer com ele por perto.

- mas ele parece sentir algo pela senhora – ela me serviu um pouco de chá – desde que eles estão aqui eu não o vi com nenhuma outra mulher, mesmo que todas as mulheres do vilarejo tenham se oferecido para passar a noite com ele. E se me permite dizer, ele não tira os olhos da senhora.

Senti o líquido quente descer por minha garganta e respirei fundo. Eu também ja havia observado tudo o que ela relatava.

- Pode preparar meu banho?

- claro senhora – ela saiu apressadamente e eu fechei os olhos. Sentia em minhas estranhas que não aguentaria permanecer longe de Geralt por muito tempo, mas tinha medo do que isso iria significar...

- Yen! – Ciri veio correndo em minha direção, estava toda suada e suja, mas um sorriso enorme que iluminava todo seu rosto – Eu consegui derrotar vários inimigos hoje, Geralt disse que estou mais forte.

- Eu estava observando o treino de vocês, está se tornando uma verdadeira Leona – sorri – pedi para Melissandre preparar um banho, suba e se lave.

- está bem – ela deixou a espada próxima a escada e subiu correndo.

A presença de Geralt era silenciosa e sufocante atrás de mim.

- não preciso nem olhar para saber que você também precisa de um banho – ele havia voltado a cerca de dois dias de sua última viagem.

- não quer vir comigo?

Apertei a xícara e fechei os olhos.

- Geralt...

- Eu tenho sido paciente, Yen – ele se aproximou e eu estremeci, sorte que ele ainda estava em minhas costas, se não já teria notado o quão rendida eu estava – mas não suporto mais ficar perto de você e não te tocar, isso está me enlouquecendo.

- Por isso pegou esses trabalhos?

- Eu aceitaria qualquer coisa que me tirasse daqui e me deixasse respirar direito. Pelo menos até você me aceitar de volta.

- da forma que você fala parecia que tínhamos algo sério.

- Meu sentimento por você sempre foi sério e ainda é.

- Geralt... – eu me levantei e o encarei – qual foi o seu último desejo?

Ele estava pronto para dizer quando ouvimos um barulho no centro do vilarejo. Geralt bufou irritado com a intromissão.

- Caralho! – esbravejou e pegou a espada.

Sai andando atrás dele, por estarmos no outono a chuva sempre caia no final da tarde. Próximo ao poço tres pessoas lutavam com os moradores da aldeia.

- mas que porra é essa? – disse irritada, lancei os aldeões para longe e prendi o invasores em uma espécie de corda mágica.

- Renfri? – Geralt questionou para a mulher que parecia liderar o bando – como você pode estar viva? Eu...

- NÃO SOMOS MAIS RENFRI, SOMOS O DESEJO DA DEUSA LILITH E MATAREMOS TODOS QUE SE COLOCAREM EM NOSSOS CAMINHOS.

Seus olhos estavam tomados por uma colocarão avermelhada e algo dentro dela indicava um poder muito forte.

- Geralt, seja lá quem tenha sido essa garota no passado não é mais... O que está dentro dela é forte e tem sede de sangue.

Ele apertou o cabo da espada e me encarou. A chuva começava a ficar mais forte.

- não deixei que cheguem até a Ciri.

Assenti, a chuva já molhava meu corpo e deixava minhas vestes pesadas.

Geralt começou a lutar com a líder enquanto os outros dois vinham em minha direção.

- Ótimo, dois contra um.

Assim como a mulher, eles também pareciam ser receptáculo de algo poderoso que os impedia de ser facilmente derrotados. Estávamos lutando freneticamente e eu não tinha tantos recursos mágicos para usar como fonte. Um deles me golpeou e me fez bater contra uma parede, a pancada foi tão forte que senti a for no peito e a falta de ar, sem contar a dor na minha cabeça.

- Porra! – disse ofegante.

Senti o sangue quente escorrendo em meu rosto e quando eu me preparei para lutar novamente, uma onda de poder e magia me deixou estática.

- Não. Toque. Na . Minha. MÃE! – O grito de Ciri os fez ser arremessados para longe e chicotearem em uma parede quebrando suas colunas instantaneamente.

- Ciri! – disse surpresa.

Ela me olhou preocupada e correu eu minha direção.

- mãezinha, você está bem?

Sorri e segurei suas mãos

- Sim querida, mas agora precisamos ajudar Geralt.

Continua...