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História The World Through Her Eyes - Meltdown


Escrita por: GiovannaBaccio

Notas do Autor


OI
É o seguinte: encontrei com minha ex para pegar umas coisas ontem e estou um pouco abaladinha. Não porque ainda exista alguma coisa, mas porque a situação é complicada, sabem?
Então, eu tinha mais coisa para escrever nesse capítulo, mas por enquanto, vão ter que lidar só com parte da treta.
E É AGORA QUE A PORCA TORCE O RABO

Capítulo 12 - Meltdown


– Você pretende voltar? 

– Bem, sim. –  Carmilla começou a responder, sem entender muito a surpresa na voz da outra. – Minha família só quer se livrar de mim por alguns meses. 

– E quando vai voltar? – Não sabia como estava fazendo as palavras saírem de seus lábios. Era automático, como todo o modo operacional de seu corpo naquele momento. 

– Acho que ao final do período de férias. 

– Mas isso é em um mês. – Na verdade, um mês e uma semana, mas Laura não se ateria a esses detalhes logo agora. 

– Sim, mais ou menos. – A morena confirmou estendendo o seu cobertor sobre a cama, como se aquela conversa não fosse importante. 

– Não… – Laura negou em voz alta. Não sabia precisar ao que estava dizendo não, apenas sabia que toda a situação lhe parecia absurda. Se recusava a aceitar. 

    Se recusava porque o combinado entre os pais de que Carmilla ficaria por um par de meses havia sido feito antes. Antes de tudo. Antes do mercado, antes do táxi, antes das estrelas. Como supostamente deveria se despedir depois de terem compartilhado aquele momento com as estrelas há menos de uma hora atrás? 

    – Não o quê? – Carmilla perguntou, confusa. 

    – Não. Apenas não. –  Sorria de maneira quase insana. Era um daqueles momentos de tristeza em que se sorria pelo qual absurda era a situação. Carmilla provavelmente teria a explicação para esse fenômeno, porque Carmilla sabia fatos curiosos sobre tudo, mas esse a morena não explicaria a ela, porque porra, ela vai embora, lembrou Laura. – Você não pode ir embora, Carm. 

    – Não posso? – Em qualquer outro momento a ingenuidade da mulher seria profundamente apaixonante, mas não agora. 

    – Não. Não pode. Carmilla, e a gente? – Finalmente lançou a pergunta “de um milhão de dólares”. 

    Silêncio. 

    Carmilla não respondeu. Não respondeu por que não sabia o que responder. Sabia que uma hora teria que voltar para a sua casa. Para a sua vida, com sua família, sua mãe e seu padrasto. Para a sua irmã e para a sua editora. Uma hora teria que voltar para os dias em que escrevia nas manhãs e nas tardes, e então lia nas noites. Parte de si estava ansiosa para voltar para sua rotina, para as suas listas coladas na parede e sua cama com o colchão mais duro do que o de Laura. 

    Talvez por isso tenha evitado pensar no que estaria deixando para trás quando voltasse; e continuaria evitando inconscientemente, se isso não tivesse sido jogado em sua cara. 

    Eis a questão: E elas? E Laura? Onde Laura se encaixaria na sua rotina? Onde Laura entraria na sua vida se seguisse o plano de voltar para casa? 

    Mas também, o que mais poderia fazer? Se mudar de país? Morar com Laura? Abandonar todas as coisas certas, confortáveis e confiáveis da sua vida por um romance de menos de um mês? Não conhecia nenhum adulto jovem autista famoso por conseguir se arriscar tanto a sair da zona de conforto. Quer dizer, só havia frequentado a faculdade por esta ser a vinte minutos de casa e pelo fato de não precisar se mudar da casa de sua mãe. Aquilo era demais. 

    – O que espera que eu faça? – Carmilla perguntou, e não tinha intenção de que suas palavras soassem da maneira agressiva que soaram. Sinceramente queria saber o que Laura queria que ela fizesse, para poder basear suas decisões na loira também. 

    Laura mordeu o lábio inferior. Queria chorar, mas não o faria na frente dela; não naquele momento. Meneou negativamente com a cabeça antes de pegar seu travesseiro e seu cobertor e descer as escadas. Dormiria na sala naquela noite. Precisava de espaço. Bastante espaço. 

    Carmilla queria que Laura ficasse, e respondesse sua pergunta. Pensou em chamar seu nome, mas a estudante já tinha terminado os dois lances da escada – estava longe demais. A morena ficou sem saber o que fazer. Sem saber como agir, ou o que falar. A expressão de desconforto assumiu o seu rosto e começou a abrir e fechar as mãos enquanto pensava. 

    Laura deveria responder o que ela queria que fosse feito, pensava. Porque não saberia o que ela estaria pensando se Laura não dissesse. 

    Começou a andar em círculos pelo quarto, a agitação em sua mente e em seu peito se tornando mais do que era capaz de lidar no momento. Seus passos eram fortes e decididos, e o ritmo deles acompanhava o abrir e fechar das mãos. 

    Queria que Laura fosse para casa com ela. Assim elas poderiam ficar juntas e poderia seguir seus planos e rotinas da maneira certa. Seu apartamento era pequeno, e definitivamente não era para duas pessoas, mas poderiam caber ali, porque todas as coisas de Carmilla já estavam lá.

Pensando direito, sabia que seu apartamento não era propício para duas pessoas morarem, e não poderia pedir para que Laura saísse dessa casa enorme para morar com ela. Além disso, Laura não estava nem mesmo perto de se formar. Como poderia pedir para a loira trancar o curso?

As coisas estavam ficando cada vez mais complicadas e sem solução. Andar não estava ajudando-a a se acalmar, e então sentou-se na cama. Começou a balançar seu tronco para frente e para trás enquanto seus lábios começavam a tremer em sua tentativa de conter o choro. Era demais, e estava sentindo muitas coisas ao mesmo tempo. Sentimentos estes que não sabia exatamente nomear todos. 

Mas se Laura não se mudasse com ela, como ela se mudaria para o Canadá? Tudo ficaria bagunçado. Nunca mais veria sua família? Parte de si entendia que o pensamento não tinha muito cabimento, mas naquele estado, com tantos sentimentos, sensações e pensamentos lutando dentro de si para tomar espaço, aquela era uma verdade absoluta. 

Se balançava de maneira cada vez mais violenta, e ainda assim não estava adiantando. Porque tudo entre ela e Laura havia ficado de um jeito errado e Laura não disse o que queria que ela fizesse. Cerrou os punhos e bateu os dois contra as coxas, com força. Estava ficando difícil de se segurar. Sabia que não devia se machucar, mas os pensamentos sobre Laura e sobre voltar para casa estavam cada vez mais misturados e bagunçados, e não entendia mais o que era o quê. 

A expressão em seu rosto era de dor, mas não pelo golpe, e sim porque não conseguia entender. Nada. Não entendia seus pensamentos, não entendia Laura. Não entendia o que queria. Não entendia sua casa, nem o que estava sentindo. E eram coisas demais para não saber ao mesmo tempo. 

Com a mão em punho, golpeou a própria cabeça, como se o gesto pudesse resultar em algum tipo de ignição que pudesse clarear seus pensamentos. Não funcionou, então fez novamente, com um pouco mais de força, apenas para constatar que se sentia ainda menos no controle do que antes. E então, quando as lágrimas começaram a escorrer livremente pelo seu rosto e percebeu que estivera gemendo em agonia, finalmente se deu conta do que estava acontecendo: Estava tendo uma crise de meltdown. 

 

___________________________________________________________________

 

    No andar debaixo, Laura não se esforçou muito para ajeitar o sofá em que dormiria. Não se importava com isso. Na verdade, não se importava com muitas coisas no momento. Sentia um misto intenso de mágoa, tristeza, medo, e absoluta paixão por Carmilla. Claro que desconfiava que já a amava, mas não assumiria esse título em um momento como esse. 

    A loira se deitou, e então se cobriu. Fechou os olhos para dormir, porque tinha esperança de que se desejasse com vontade o suficiente o sono viria para tirá-la da agonia do estado consciente. Havia se apaixonado como nunca antes na vida e agora teria que assistí-la ir embora.

O barulho de passos no andar de cima rompeu seus pensamentos por alguns instantes. Honestamente, estava feliz que Carmilla tenha finalmente apresentado algum sinal de que se importava, já que durante todo o desentendimento sua expressão havia permanecido tão serena quanto a noite lá fora. Era um bom sinal que Carmilla estivesse inquieta… Certo?

    Começou a pensar nas músicas tristes que conhecia e que se encaixavam naquele momento. Todos os jovens estavam ouvindo Olivia Rodrigo no momento e se sentiu um pouco triste quando percebeu que não poderia cantar Drivers License pensando nas duas, porque enquanto Olivia dizia na música que “E eu sei que não éramos perfeitos, mas nunca me senti assim por ninguém”, Laura sabia que eram absolutamente perfeitas uma com a outra. Em todos os instantes. 

    “Porque como eu poderia amar outra pessoa?” Dizia um outro pedaço da letra, e antes que a loira pudesse começar a imaginar como faria para seguir sua vida sem a morena, ouviu o inconfundível barulho de choro vindo das escadas. 

    Sherman ainda não havia voltado, então só podia ser Carmilla. Ela estava chorando. 

    Não fazia ideia de que a discussão a tinha afetado desta maneira; Nada nos gestos e palavras da morena haviam demonstrado o menor incômodo. 

    O que deveria fazer naquele momento? Normalmente preferia ter espaço quando estivesse chorando, mas queria poder conversar com ela, porque não suportava o pensamento de Carmilla estar chorando sozinha quando poderia simplesmente abraçá-la. Não custava perguntar, afinal. 

    Decidida, subiu novamente os lances de escada até seu quarto, apenas para parar na porta logo em seguida. Carmilla estava chorando, como havia previsto. Sim. Mas não apenas isso. 

    A morena se balançava rapidamente para frente e para trás, com força demais para que estivesse tudo bem, enquanto suas duas mãos estavam agarradas aos fios negros em sua cabeça, próximas ao ouvido. Não precisava de um especialista para perceber o que se passava, porque a pesquisa que havia feito naquela noite já lhe dava a resposta do que não precisava ser perguntado. 

    Carmilla estava tendo uma crise. 

    E o que diabos ela deveria fazer?

    Laura se aproximou com passos incertos, e tentou chamá-la pelo apelido carinhoso. 

    – Carm? – Se a morena havia ouvido, não o demonstrou. – Hey, Carm… – Tentou novamente, mas não obteve sucesso mais uma vez. Não aguentava vê-la daquela maneira, mas não fazia a menor ideia do que fazer. Queria ajudá-la a sair daquele estado. 

    Cautelosamente tentou colocar a mão no ombro da amada, mas a mesma desviou imediatamente. Toques leves a irritavam. Havia se esquecido. A mulher continuava chorando e Laura estava começando a se desesperar. Sentia-se inútil; Carmilla estava inacessível, e queria simplesmente chorar também. 

    Se sentou ao lado da morena e retirou seu celular do bolso. Pesquisar “Crises no autismo" no google teria que lhe dar instruções, porque sentia-se a criatura mais imprestável do planeta.

O tempo parecia passar de maneira diferente quando a pessoa que mais lhe importava no mundo estava em um colapso emocional ao seu lado, porque precisou de alguns bons minutos para encontrar um site com algo que pudesse ajudá-la. Suas mãos estavam trêmulas, e isso dificultava sua leitura. 

    Pelo o que havia lido, não havia muito o que podia fazer, mas algumas medidas eram essenciais. A moça do blog havia dito para evitar que a pessoa se machucasse, e o jeito que Carmilla puxava o cabelo repetidamente com toda a certeza parecia doer. De forma firme, mas ao mesmo tempo gentil, Laura segurou uma das mãos da mulher e abriu os dedos das mãos para que estes se desvencilhassem dos fios. Carmilla não resistiu muito, e Laura tomou aquilo como sucesso. Fez a mesma coisa com a outra mão e posicionou as duas no colo da amada. 

Evitar machucar: check.

    Buscou rapidamente por barulhos ou texturas que pudessem incomodá-la e concluiu que não havia nenhum problema desse tipo. Sendo assim, havia apenas mais uma coisa que podia fazer para aliviar a angústia de Carmilla, que já não balançava mais com tanta força. Havia lido que meltdowns, ou colapsos emocionais, levavam um certo tempo para passar, e que alguém de fora não conseguia fazer muito para ajudar além de garantir que a pessoa estivesse em segurança. Contudo, em alguns dos blogs, houveram menções a abraços fortes para colaborar com o processo de regulação emocional. 

    Dessa maneira, Laura se sentou atrás da morena e enlaçou ambos os braços ao redor de seu tronco, apertando-a em um abraço. O choro continuava, e Laura sabia que continuaria por mais algum tempo antes de cessar, mas Carmilla levantou uma de suas mãos e a colocou sobre as de Laura, na tentativa de segurá-la ali. 

A loira suspirou com alívio. Estava fazendo as coisas do jeito certo. 

Se sentia horrível de forma geral, em diferentes níveis. Deveria ter previsto que uma hora isso iria acontecer. Quer dizer, já sabia do autismo de Carmilla há algum tempo, e embora isso nunca tivesse sido uma grande questão até o momento, era parte de quem Carmilla era, e Laura já deveria esperar que algo difícil pudesse ocorrer. Inclusive, acreditava que seria muito menos difícil se tivesse pesquisado sobre crises antes. Não sabia se queria evitar o assunto ou se estava descrente que alguma coisa pudesse acontecer, mas era fato que havia conscientemente evitado se informar mais sobre esses aspectos sérios. Tinha muito o que aprender.

 Muito o que aprender para poder continuar fazendo parte da vida de Carm.

Como estava quase ao ponto de dizer que amava Carmilla se havia simplesmente escolhido ignorar parte dela?

 


Notas Finais


Só queria declarar que me sinto péssima por ter feito isso com a Carm, a rainha do meu mundo todinho :(


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