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História This is my last chance - Caminhos


Escrita por: niveaffrs

Capítulo 6 - Caminhos


Tentei seguir minha rotina sem pensar no pesadelo que tive na noite passada.

Tomo banho, desço para a cozinha para preparar um café e comer alguma coisa, já que preciso levantar um pouco antes dos meus pais. Volto para o banheiro para escovar os dentes e então vestir o uniforme da escola e pôr na mochila o reserva, já que hoje temos educação física de novo. Visto o uniforme tradicional, que são calças bege escuro, camiseta branca com o logo da escola, e o casaco num tom bege mais claro, também com o logo. O logo é o perfil de um rosto feminino com coroa, que representa as filhas da tal Ymir. Tudo ainda remete a tal lenda.

Armin, Mikasa e eu estudamos em Trost mesmo sendo um bairro mais longe de Shiganshina. Paradis, mesmo com todo o desenvolvimento e crescimento populacional ao longo dos anos, permaneceu sendo uma ilha considerada pequena, e bairros mais residenciais como o que eu moro acabam não tendo muitas escolas conceituadas para quem está no Ensino Médio como nós, então precisamos fazer o sacrifício de estudar num bairro mais longe.

De trem, Trost fica há pelo menos uma hora de Shiganshina, desconsiderando o tempo do ônibus que precisamos pegar ainda para chegar à estação. Lá acaba sendo o concentrador de oportunidades para as pessoas de bairros menores da região. Nas aulas de Geografia e História, dizem que quando Paradis ainda era dividida em função das tais muralhas Maria, Rose e Sina, Trost e Shiganshina não eram assim tão perto, mas isso foi há milênios, então desde lá até hoje muita coisa mudou, ainda mais geograficamente falando.

-Você acordou bem, querido? 

Ainda estou terminando de arrumar a mochila com os cadernos e livros que preciso deixar no armário quando minha mãe entra no quarto. Ela coloca a mão na minha testa, suspira em alívio ao confirmar que não estou nem um pouco febril.

-Sim, foi só um pesadelo idiota, Mãe. Nada demais. 

-Quer falar sobre ele? 

-Eu estava sendo comido pelo Titã do jogo que o Armin trouxe ontem, me envolvi demais. Só isso mesmo. - menti, mas por uma boa causa que é a minha sanidade mental por hoje.

-Ai ai, seus dois nerds viciados em jogos de zumbis! - debochou minha mãe, bagunçando meu cabelo.

-Titãs não tem nada a ver com zumbis, Mãe!

-Para mim é tudo igual! No fim querem comer pessoas, não é? Da na mesma!

Acabo rindo com ela ao invés de argumentar. Mamãe tem um espírito jovial e às vezes meio rebelde, deve ter sido isso que chamou a atenção de Papai, e também é o que torna nossa relação de mãe e filho muito boa. Escutamos três batidas na porta, sinal de que Armin já está à minha espera. 

-Até mais tarde, Mãe. Diz ao Papai até breve por mim!

-Pode deixar, meu amor! Hoje é a folga dele, vai aproveitar para dormir tudo o que pode!

Mamãe me acompanha até a porta para se despedir de mim e cumprimentar Armin, e então nós dois partimos para o encontro de Mikasa, para depois pegarmos o ônibus até a estação.

-Você está com a cara pior que ontem, Eren. Não dormiu pensando sobre o que a gente conversou? - dispara Armin

-E você por um acaso se olhou no espelho? - eu retruco, então caímos na risada - Falando sério, eu tive um pesadelo bem sinistro, te conto depois, mas espero esquecer dele logo.

-Entendo. Eu confesso que evitei pegar no livro de novo, então tirei ele da mochila com o pegador de salada. - Armin deu um suspiro e continuou - Como livro é pesado, eu quebrei o pegador e meu avô vai descontar da mesada o valor de um novo, só que o valor 10 vezes mais caro assim que ele encontrar um que goste. Velho ditador.

Armin e eu estamos dando risada dos xingamentos que o avô dele fez quando chegamos ao portão de Mikasa. As imagens do pesadelo voltam vividas à minha mente, mas ao vê-la vestindo o cachecol que lhe dei ontem, sinto meu rosto queimar e o coração acelerar, e não por causa do pesadelo. Espera… Ahn?

-Oi, Mikasa! - cumprimenta Armin, animado - Bom dia!

-Oi…- é só o que eu consigo dizer.

-Hum, bom dia! - ela nos responde ainda sonolenta e cobrindo a boca com o cachecol enquanto boceja - Consegui uma carona para nós hoje. O Levi dormiu aqui ontem, vai nos levar para a escola.

-Que maravilha! Acho que o saldo do meu vale transporte está no fim, eu ía precisar carregar na estação. -comemora Armin

-Como você não aprende a ver o saldo com antecedência e carregar pela Internet, Armin? - reclamo, fazendo Mikasa rir.

-Vamos entrar e tomar um café. Ele e minha mãe estão preparando as caixas dos bolos ainda. - disse Mikasa, abrindo o portão e nos guiando para dentro. - Mãe! Sobrou café? Armin e Eren já chegaram.

-Vê na garrafa, Mika! - grita de volta a Sra. Ackerman.

Enquanto Armin e eu nos sentamos à mesa, largando as mochilas no chão, Mikasa dá uma chacoalhada na garrafa, e dá os ombros, incerta se vai ter o suficiente. A forma como ela faz isso faz meu coração bater mais rápido, eu acho... fofo. Não, espera, eu acabei de achar a Mikasa fofa mesmo?

-Não dormiu bem também, Mikasa? Você está com uma cara de quem teve um pesadelo tão ruim quanto o Eren. - pergunta Armin, não sendo nada discreto dessa vez, enquanto Mikasa está nos servindo as xícaras de café.

-Hum… - ela murmura, servindo agora uma xícara para ela e então tomando um gole. Nós acabamos trocando olhares, um tentando ler os pensamentos do outro para adivinhar o que sonhamos. - É, não foi um sonho muito agradável, mas não me lembro mais o que foi.

-Ficou só a ressaca do pesadelo… - completo, e Mikasa cobre o rosto com o cachecol.

-Oi, Oi, pirralhos! Terminem logo o café e me ajudem a levar as caixas para o carro, andem! Temos um longo caminho! - ordena Levi, aparecendo do nada.

Nós três então finalizamos o café num gole só, Armin engasgando e quebrando o clima sobre o pesadelo, pois caímos na risada. Ajudamos Levi e a Sra. Ackerman a colocar as encomendas no porta-malas, preparado para o transporte de alimentos, mesmo sendo carro de passeio, e quando finalizamos Mikasa se senta no banco da frente, enquanto Armin e eu nos jogamos no banco de trás. Como Levi tem sua loja principal em Trost, algumas vezes damos a sorte dele oferecer carona, o que torna nossa viagem de quase uma hora e pouco de ônibus e trem em meia hora no máximo. Mas não é sempre que ele oferece.

Sem querer eu bato a porta com mais força do que devia, e recebo um olhar assassino de Levi por isso.

-Você quer morrer, pirralho? - Ele dispara, e sinto não só meu rosto, mas como o pescoço esquentar de vergonha. 

-Foi sem querer! - eu respondo. E o que mais eu poderia dizer? Poderia implorar por misericórdia talvez.

-Nem pense em abrir esse pacote e sujar meu carro, outro pirralho! Por que não comeu isso quando estava tomando café? - disparou Levi de novo, só de ouvir o barulho do pacote de bolachas que Armin ía pegar da mochila. Desanimado, Armin pega então o seu livro da vez para ler - Eu faço os três passarem a tarde toda limpando até eu me ver refletido no carpete.

-Você deveria procurar um psicólogo para tratar essa mania de limpeza… - reclamou Mikasa - E eles tem nomes, Armin e Eren!

-E como isso é meu problema? - rebateu Levi.

-Ahn? - Armin e eu dissemos ao mesmo tempo, enquanto Mikasa e Levi trocavam olhares mortais.

-Idiota… - Mikasa murmurou, passando a ignorar Levi. Era estranho como eles pareciam se odiar e se entender ao mesmo tempo.

Ficamos quietos por alguns momentos, somente com o som de música vindo da rádio do carro preenchendo o silêncio. Quando olho para frente, meu olhar e o de Mikasa se cruzam pelo retrovisor, e percebo que ficamos corados ao mesmo tempo, enquanto ela tenta esconder o rosto com o cachecol. Não é a sensação do pesadelo que parece tomar conta do meu corpo, e sim a de ontem, a de que senti no ponto de ônibus enquanto a olhava. Será que sentimos a mesma coisa, Mikasa?

-Kenny tem razão, então? - Levi solta, quando seu olhar flagra o meu e o de Mikasa.

-Cala a boca! - responde Mikasa, olhando para fora e eu baixo o olhar para o celular. Armin estava absorto lendo seu livro, mas levantou o rosto para nos olhar.

-Perdi alguma coisa?

-Tsc.

Ainda faltam uns vinte minutos de viagem, e mal apoio a cabeça no encosto, pego no sono instantaneamente. 

Estou de novo no deserto estranho onde tem o tal portal. Por que? O que isso significa? Eu olho ao redor, enquanto respiro fundo para me acalmar, e vejo Mikasa e Armin logo à frente, caídos no chão. Corro até eles, tentando acordá-los pois parecem estar presos num pesadelo tão ruim quanto o meu, e agora Mikasa está vestida normal, com o uniforme da escola, assim como eu e Armin estamos.

A menina loira com franjas do sonho anterior aparece andando até nós três, até parar próximo a mim.

-O que eu tenho que fazer? O que? - eu pergunto à ela - Quem é você? O que está querendo com nós três?

Ela não fala nada, e toca minha testa com a mão, e então segurando os ombros de Armin e Mikasa, sua voz reverbera pelo deserto, apesar de seus lábios não se mexerem.

“Acordem”

-AAAAAAAAAAH! 

Não sei se acordei assustado com o grito de Armin ou com esse novo sonho, mas logo nós quatro estamos gritando, pois com o susto, Levi perde o controle da direção por um momento, quase causando um acidente na marginal. Por sorte, ele se recupera rapidamente, e assim que acha um bolsão, estaciona.

-O que merda foi isso? - ele pergunta, olhando bravo para nós três. -Vocês três patetas por um acaso tiveram o mesmo pesadelo, porra?

-Vocês também dormiram e tiveram pesadelos? - eu pergunto olhando surpreso para Armin e Mikasa.

-S-Sim, eu estava num deserto e uma menina… - começou Mikasa, mas Armin continuou.

-...loira de franja cobrindo os olhos colocava a mão na minha testa e fazia um turbilhão de imagens surgirem na minha cabeça, e parou quando um porco enorme estava me devorando…

Mikasa estava me olhando aterrorizada, mas ao invés de contar seu pesadelo, ela se virou para frente, se agarrando ao cachecol. Franzo as sobrancelhas, consternado. Eu quero implorar para ela me dizer o que foi que sonhou, mas não tenho coragem.

-Isso que dá ficarem só jogando esses jogos de Zumbis, Titãs…- reclamou Levi, saindo do carro e abrindo o porta-malas para verificar se os doces permaneceram intactos. Quando ele volta, ele logo dá partida e retoma o caminho para chegar ao centro de Trost. Como ele ficou quieto, nós supomos que tudo estava intacto.

Argh! Será que não vou ter mais um dia, nem mais um sonho normal? O resto da viagem foi em silêncio até chegarmos no quarteirão da escola. Assim que Levi estaciona, Mikasa e eu saímos do carro na mesma velocidade, como se lá dentro tivesse algo nos sufocando.

-Pirralha! Na volta passem na loja. Tenho que levar umas coisas para a sua mãe. Eu dou carona de novo, mesmo com a vontade que estou no momento de deixar vocês voltarem a pé para Shiganshina.- avisa Levi, suspirando irritado ainda.

-Uhul! Podemos ganhar uns chás e bolos de graça, Tio? - dispara Sasha, chegando do nada e se pendurando nas costas de Mikasa.

-Ela não fez isso… - eu exclamo, colocando as mãos na testa, enquanto Jean e Connie chegam já vermelhos de vergonha. Levi já estava irritado com a gente, e ser chamado de “Tio” por Sasha com certeza não melhoraria seu humor.

-Sim, ela fez… - afirma Connie, apoiando uma das mãos nos meus ombros. 

-Se você chegar perto da minha loja hoje, eu faço você pagar o dobro de tudo só de passar pela porta. - rebate Levi para Sasha, já arrancando com o carro.

-Sasha, por que você é tão idiota? - pergunta Connie, quando nós seis começamos a andar até o portão da escola.

-Você deveria se perguntar isso também. - responde Sasha, e ela e Connie param e se encaram.

-Ahn?

-Ahn?

-Anda logo vocês dois! - reclama Armin, empurrando Sasha e Connie para eles voltarem a andar.

Mikasa e Jean já estão mais à frente, conversando animados sobre alguma coisa. É como se ela quisesse esquecer logo o que aconteceu, e eu, claro, não a culpo.

Eu tento apertar o passo para poder escutar, mas me impeço de fazer isso. Por que eu quero saber o que eles conversam? Não é da minha conta! Percebo Armin falando do jogo “Kyojin Fantasy” para Connie e Sasha, que finge prestar atenção enquanto come um salgadinho, e então participo da conversa deles, mesmo não conseguindo desviar muito a minha atenção dos outros dois.

Com exceção de Jean, que desde o Jardim da Infância estuda aqui, o restante de nós fomos transferidos de nossas respectivas escolas fundamentais ano passado para a prestigiada Escola Rose Fritz. É, Fritz dos Fritz, apesar de ser a família Reiss que gerencia a cadeia escolar. Parece até perseguição da família da ex-esposa do meu pai.

Enfim, desde então acabamos formando nossa própria panela. Não que não tenhamos amizade com outros colegas de classe e turmas do mesmo ano, mas nós seis acabamos formando um vínculo muito rápido, e pensando bem nisso… não, não, não vou pensar agora sobre os tais caminhos de Ymir que diz a lenda.

Porém, olhando a forma como Mikasa está rindo com Jean, mas com as mãos agarradas ao cachecol que lhe dei, algo me diz que esses caminhos querem me levar até ela. 

Mas como devo alcançá-la, Mikasa?

E olhando Armin, qual seria a relação dele com tudo isso? 

Por que nós três tivemos o mesmo pesadelo?



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