Abri os olhos apenas para encontrar os dela me analisando curiosamente, as costas dela estavam apoiadas sobre a pedra novamente, ela estava abaixando a guarda lentamente.
- Achei que um rei teria algo mais legal para fazer. - Ela alfinetou. Achei graça de sua postura, por mais que aquela expressão de nariz empinado estivesse ali, era claro como água que ela estava curiosa a meu respeito, eu sorri e acenei em negativa com a cabeça.
- Eu não sou rei. - Respondi e ela pensou por longos minutos, voltei o olhar para o céu.
- Eu não entendo... - Ela atraiu minha atencão, e fez sinal negativo com a cabeça - Por que não? Por que não quis ser rei? Essa é a posição que qualquer um gostaria de alcançar. Muitos homens do povo dariam tudo para ter nascido em sua família e estar em seu lugar.
Nossos olhos se encontraram.
- Já sentiu que estava ocupando um lugar que nunca foi seu? - O olhar de acusação deu lugar a um olhar compreensivo, ela pareceu se lembrar de algo e desviou o olhar algumas vezes.
- O tempo todo. - A resposta foi um sussurro, mas suficiente para que eu ouvisse. Ela olhou para o céu. - Como se fosse guiado por um caminho por toda a vida e quando chega próximo ao auge olha para o lado e vê que lá está um outro caminho que você nunca enxergou antes, e que ele combina muito mais com quem você é de verdade.
Era exatamente aquilo.
- Sim. - Foi tudo que disse. Ela permaneceu refletindo por longos segundos.
- Então, qual é o seu lugar? - Não havia mais provocações em seu tom de voz, ela parecia interessada na resposta - Já descobriu o lugar ao qual pertence? - Pensei brevemente antes de responder.
- Sabe, se me fizesse essa pergunta há dias atrás eu não saberia a resposta. - Sorri discretamente. - Mas agora eu sei que meu lugar é onde houver uma luta, porque é isso que sou, um guerreiro. Não quero um reino, quero vencer as guerras. Todas elas.
Ela simplesmente sorriu, enquanto uma mecha de seu cabelo caía em seu rosto e ela a colocava atrás da orelha.
- Não acho que guerreiro seja a melhor definição.
- Então qual seria?
- Estar onde houver um inocente em perigo me parece coisa de herói.
- É, isso é coisa de herói. - Eu sorri.
Um galho se partiu em algum lugar perto dali e alarmou Kayrah, que levantou apressada já pegando o livro e a cesta que estavam no chão. Levantei e tentei tranquilizá-la.
- Não deve ter sido nada. - Ela olhava em volta apreensiva.
- Eu.. perdi a noção do tempo.. - Kayrah usou a mão livre para limpar algumas folhas grudadas em seu vestido, tirou uma tiara dourada da cesta e colocou sobre a cabeça, uma tiara digna da realeza, o acessório a deixou ainda mais bonita. - Ela me olhou ainda preocupada. - Eu preciso ir.
- Espera. - Ela parou. - Deixe-me acompanhá-la. - Ela riu como se meu pedido fosse absurdo, mas como não negou e eu tomei como um sim.
Conversamos um pouco durante o trajeto, apenas o suficiente para quebrar aquela antipatia dela por mim.
- Obrigada por salvar o dia. - Ela brincou quando paramos em um ponto da trilha, era como se ela estivesse abaixando a guarda sem dar o braço a torcer. Ela pegou a cesta e o livro de minhas mãos.
- Deixe-me levá-la? Nenhum herói deixa o trabalho incompleto. - Tentei convencê-la.
- O que sua noiva pensaria se o visse deixando uma jovem donzela em sua casa? - Ela sorriu me provocando, eu quase disse que Brunnhilde não era minha noiva, que não havia nenhuma noiva. Ela me olhou como se soubesse que não havia nenhum casamento marcado e apenas quisesse me fazer falar demais, ela sabia que eu precisava manter o silêncio sobre o propósito da minha estadia aqui.
Fiquei ali parado enquanto ela desaparecia.
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