História Tic Tac - A Primeira Aparição

“Tic, tac, tic, tac,

Hora de acordar.

Tic, tac, tic, tac,

Hora de levantar.”

Sons estranhos estavam à minha volta. Era como se eu estivesse em um necrotério. Não conseguia identificar se estava com os olhos fechados ou abertos, tudo à minha volta estava escuro.

Ouvia alguns passos em minha direção que ficavam gradativamente mais altos. Algo iria acontecer, não sabia se era bom ou ruim, mas não desejava que aqueles passos chegassem até mim.

Eu temia o que estava por vir, não estava entendendo. Atrás de mim, ouvia mais passos, no mesmo volume. Pouco tempo depois ouvira de todos os lados. O que diabos está acontecendo?

“Sou eu, minha cara Jade, ou melhor, sou você, seu demônio. Você sabe de onde sou, sabe como vim parar aqui, não sei por que toda essa surpresa.”

Enquanto meu coração batia sem parar, pelo medo, comecei a observar que a sala de escura passava a clarear: parecia ser um quarto completamente branco, onde havia uma mulher (eu acho, né) alta, olhos negros e sem luz, cabelos completamente sem cor; carregava uma foice com a mão direita e com a esquerda possuía uma espécie de poder sombrio ou coisa assim. Não sou muito chegada a terror.

“Não precisa ter medo de seu demônio, você me criou. Se continuar assim vou chorar. Mwahahaha!” A olhei assustada. Como assim? Como assim sou ela? Não sou um monstro.

“Não é um monstro, minha querida? Agora saber os direitos humanos quer dizer que não é um monstro?” Comecei a ficar com raiva. Afinal, o que ela quer de mim?

“Morra...”

Longos minutos de silêncio acabaram de nascer com essa fala. Cansei-me de fazer perguntas, vou apenas ver o que acontecerá. Quem sabe ela tenha piedade.

“Bem, demônio, o que deseja comigo?”

“Morra... Mwahahahaha, ou eu mesma vou te matar, pois afinal, suicídio não seria tão ruim assim...”

Nasce, repentinamente, asas nela, na Devil (acabei de apelidá-la assim), isso significava que o chão ia abrir. “Aproveite a diversão, cara humana defeituosa!” diz ela, com tamanho sorriso em seu rosto. Estava um pouco assustada. Não conseguia compreender seus objetivos. Isso até eu ver que voltei para uma memória tão antiga... Aquele dia, quando eu vi meu melhor amigo morrer, e não fazer nada.

“Calma, Jade, já estamos chegando!”

“Não aguento mais andar nessa mata sem fim. Estou começando a me sentir ameaçada, sabia? Cuidado!”

“Hahaha, eu sei que não preciso ter medo de você, menina...” Disse Marcos, enquanto andávamos por entre as árvores e flores, magníficas, é claro, mas assustadoras à noite.

Após duas horas, agora 15h, no caminho estávamos tão felizes e animados que não percebemos que saímos da trilha. Acabamos nos perdendo...

“Marcos! Eu sabia que deveríamos ter voltado seu bosta”.

“Ah, e agora vai fazer o quê? Reclamar até morrer? Desculpe, mas não preciso disso.”

“Sim, vou mesmo, não quero ficar presa aqui.”

“É só encontrarmos alguma trilha de algum rio. Isso sempre nos levará a algum vilarejo, afinal, onde tem água tem vida.” Apenas assenti com ele, não queria brigar mais.

Devo confessar, estava morrendo de medo de algum animal nos atacar, mas Marcos ficava repetindo que não iria acontecer nada e me mandava cala a boca, cheguei, por meros segundos, acreditar nele.

Não durou muito tempo, eu comecei a escutar folhas secas se quebrando ao nosso redor, se algum animal iria nos atacar seria em bando.

“Não tenham medo, Marcos, Jade, só estou aqui para caçá-los. Então, se colaborarem comigo não irá doer nada” ouvíamos isso, mas por estar escuro, só podíamos enxergar alguns vultos...

Nos entreolhamos assustados, suando frio e nos dando as mãos. Meu coração começou a bater bem forte e minha respiração ficou desgovernada. Mais uma vez resolvo olhar Marcos e percebo que seu olhar em vez de assustado está morto.

“Jade, minha querida humana, faça o que eu mandar, e nada de mal acontecerá à você. Combinado?” automaticamente minha cabeça assente e respondo sim para ela. Ela me responde com um sorriso se preparando para falar:

“Mate-o...”

Hesitei. Como poderia matar meu melhor amigo? Prefiro morrer que fazer isso, demônio!

“Eu não queria fazer isso, Jade, mas você me forçou. Preciso da alma dele para uma maldição. E você é quem irá o matar.”

“Não vou!” após dizer isso, meu corpo começou a se mexer sozinho.

“Pegue isso pequena jovem, você precisa de uma arma para mata-lo” disse-a me entregando uma foice. Pude sentir que minha visão ficou sem cor, preta e branca.

“Mate-o. Agora...”

“Jade... O que você... fez...?” Essas foram suas últimas palavras antes de morrer com uma foice retirando sua alma.

“Muito bem Jade. Quando eu precisar de mais ajudas suas, eu venho te procurar”.

Uma lágrima cai ao me lembrar disso... Devil havia me feito matar meu melhor amigo. Não posso perdoá-la. Não posso me perdoar. A não ser que eu mate Devil.

“Bem, querida Jade. Vamos começar sua pequena tortura? Mwahahaha!”

Olho-a profundamente em seus olhos. Não havia brilho, nem cor, nem vida. Era tudo morto.