1. Spirit Fanfics >
  2. Tigre Branco ( Imagine - Min Yoongi ) >
  3. Segundo

História Tigre Branco ( Imagine - Min Yoongi ) - Segundo


Escrita por: otsure e jesseok

Notas do Autor


OI OI OI gente, tudo bem? Espero que sim!

Aqui estamos com a segunda parte de nosso pequeno "folclore". Já já vamos encerrar ele, hohoho. Muito obrigada pelos comentários no capítulo anterior e likes! Fico feliz que estejam gostando 🥰

Para quem acompanha Soul e Dália Negra também: teremos atualização já já 💜💜💜

É isso ahahah não tenho muito mais o que dizer. Aproveitem 💓

PS: hoje tô sofrendo de cólica, passei aqui só pra atualizar mesmo... muito em breve respondo direitinho os comentários de vocês sobre o primeiro cap 🥺

Capítulo 2 - Segundo


Fanfic / Fanfiction Tigre Branco ( Imagine - Min Yoongi ) - Segundo

Dias Atuais

A garota descia sorrateiramente as escadas que levavam até o andar inferior. Desviando de tudo e todos que pudesse, em passos ágeis e silenciosos, se aproximava da grande sala de reuniões localizada no centro de seu palácio. Já era tarde da noite; deveria estar dormindo, mas ao invés disso, preferia esgueirar-se entre as sombras dali para ouvir o que quer que fosse através da porta entreaberta.

    — A situação está fugindo do controle, irmãos. — ouvia a voz de Kim Seokjin, o irmão mais velho de todos. — os comerciantes já não conseguem mais lucro algum. Na verdade, nem ao menos conseguem vender seus produtos, porque essa guerra está matando pessoas demais e atingindo muito mais famílias do que poderíamos prever.

    — Meu exército também não está em boas condições. — Kim Namjoon, o segundo mais velho, se fez ouvir. — nossos homens estão morrendo aos montes, não existem suprimentos médicos o suficiente e os fornecedores de armas que tínhamos nos traíram. Estamos perdendo o reino que nosso avô tanto lutou para conquistar.

    — Maldito seja Jeon Jungkook! — Kim Taehyung, o irmão mais jovem e também o rei, vociferou, e o som de um punho batendo fortemente na mesa foi ouvido. — traidor maldito. O que ele quer, afinal? Quer que entreguemos nosso reino de volta às mãos tiranas da família dele? Os Jeon receberam muita misericórdia de nossos ancestrais para que ainda permanecessem vivendo em nossa terra. Aquele desgraçado até mesmo convivia conosco, em nosso próprio lar…

— Taehyung, sua ira não vai resolver absolutamente nada. — era a voz de Park Jimin, o melhor amigo do rei, além de herdeiro de um quarto de toda aquela nação. — se você se desestabilizar agora, vai passar a agir sem pensar e pôr tudo a perder.

— Jimin tem razão. — agora era Jung Hoseok, primo dos Kim por parte de mãe. — somos só nós contra aquele garoto mimado. Não temos mais nossos avôs, pais ou quem quer que seja da geração anterior para nos escorar ou apoiar. Temos que pensar com clareza e lembrar que todo esse império fora construído nas costas de nossas famílias e, de alguma forma, eles conseguiram domar a tirania dos Jeon.

— Pode ser, hyung, mas é justamente porque as três famílias se uniram contra a dele que essa guerra está acontecendo. Em pensar que até mesmo nossos súditos cederam a ele… O que foi que fiz de errado? Por acaso falhei como rei para que me apunhalassem?

— Talvez seu problema seja ser bondoso demais. — Jin respondeu. — as pessoas te adoram, mas não o temem o suficiente para que recusem dar as costas à você.

_____ ouviu o irmão estalar a língua.

— Namjoon-hyung, qual a nossa situação atual?

— As cidades do sul e sudeste foram completamente tomadas, e estão a favor dos Jeon. O norte está totalmente destruído, mas ainda tenta resistir. Nossas tropas agora se concentram em defender as demais áreas, além da capital. Se continuarmos desse jeito, vencendo uma batalha mas perdendo outras três, não haverá outra opção a não ser…

— Nem pensar. — Jung objetou. — não vamos nos humilhar rastejado aos pés daquele ingrato e de seus familiares, pedindo perdão e entregando nosso país. Não permitirei que minha prima e irmã tenham que passar por um vexame desses.

— Falando nelas — Joon disse. — meus subordinados me trouxeram essa carta, escrita pelo próprio Jungkook. Ela tem algumas condições e ameaças, mas a última parte é sem dúvidas a mais ultrajante para o nome de ambas. — Namjoon recitou a carta inteira, que basicamente falava sobre ameaças de execução caso os Kim não se rendessem logo, até que chegou na última parte. — “... Por último, deixo bem claro o desejo tanto meu quanto de meu irmão mais novo Ele se casará com Jung Jiwoo, tomando posse de todos os títulos e riquezas que os Jung podem ter. Quanto à mim, desposarei _____, a garota que sempre amei e sempre vou amar. À ela darei toda minha devoção e à ela guardei toda minha piedade; entretanto, seus irmãos não verão nem mesmo sombra desta. PS: pouco me importa se a princesa Kim está noiva. Park Jimin será executado, e sua família será exiladas sem chances de perdão."

______ sentiu todo seu corpo tremer atrás da porta.

— O quê?! — Jimin exclamou, a raiva explícita na voz. — mas isso é ridículo! Um ultraje! Ele quer todo o reino, todos os nossos bens, e agora quer minha noiva e me matar também?

— Quem essa criança pensa que é para tomar minha irmã dessa forma? — Hoseok estava claramente perturbado agora. — que piada! Vou esfolar ele e seu irmão antes que eles sequer pensem em tocar minha irmã e prima.

— Quem é o desequilibrado agora? — Taehyung disse, a voz claramente irritada. — já repeti um milhão de vezes que isso aqui não é brincadeira, e que estou a ponto de explodir de estresse e preocupação não só com minha nação, mas minha família inteira.

— Vocês todos precisam se acalmar. Nós vamos vencer, só não tenho certeza de como ainda… — Jin tentou apaziguar.

— Vamos vencer com que exército, hyung, se o de Jungkook é claramente maior e bem equipado? — Namjoon disse sério. — a menos que uma intervenção sobrenatural recaia sobre nós, absolutamente nada vai nos ajudar.

— Não diga bobagens, Joon — Hobi disse. — nós sabemos muito bem que tudo aquilo são lendas. O Tigre Branco nem sequer existe, é só uma lenda do folclore criada para afastar as pessoas daquele lugar. Não devemos nos apoiar em um conto infantil para nos salvar agora.

— Além disso, quem teria coragem? Quem de vocês é tolo o suficiente para ir atrás de um ser que provavelmente nem existe, mas se fosse real… Nenhum de nós tem a menor vontade de abdicar de si mesmo para firmar um contrato com o demônio, e muito menos de ir até aquele lugar amaldiçoado tentar falar com ele. — Taehyung acrescentou.

— Demônio… Até parece. Eu duvido muito que ele fosse alguém assim saído do inferno como as lendas dizem. Mas que ele foi um grande guerreiro e mercenário nas histórias, isso com certeza. — Seokjin deu a cartada final. — encerrem esse assunto sobre contos de fada. Precisamos tomar decisões importantes e reais agora.

O assunto na sala continuou acerca de estratégias e mais estratégias, tanto econômicas como militares, entretanto, _____ já não tinha mais ânimo algum para ouvir. Afastou-se em silêncio, mas quando estava apenas a alguns metros de distância, sentiu seu braço ser puxado.

— Unnie! — ela exclamou, encarando os olhos grandes de Jiwoo. — que susto você me deu!

— Pensou que eu fosse quem? Um guarda? — a outra respondeu rindo, divertida. — se eu fosse mesmo, você estaria bem encrencada por estar ouvindo a conversa deles. — gesticulou para a porta com o queixo.

— Então você também estava ouvindo…? — perguntou para a mais velha, que assentiu, seu rosto demonstrando por apenas um instante a preocupação com o teor da conversa. — eu nem ao menos te vi perto de mim.

— Isso é porque você estava concentrada demais em se manter escondida na fresta daquela pilastra, e eu estava na outra. Mas isso não importa agora… Você está sem cor, _____, parece até que viu um fantasma. Vamos voltar aos nossos aposentos.

    A mais nova assentiu, sem forças para objetar enquanto a outra a puxava pela mão até o quarto que ambas agora partilhavam. Jung Jiwoo era uma das mulheres mais encantadoras que a herdeira já pôde conhecer; era talentosíssima com seus desenhos e pinturas que enfeitavam as paredes do palácio, seu senso de estética impecável, fórmulas mágicas com a maquiagem e conhecimento extenso sobre jóias, boticários e afins. Ela era sem dúvidas uma mulher linda que arrancava suspiros de todos e, junto de seu irmão mais novo, formava aquilo que é conhecido no reino todo como os Irmãos Jung — únicos filhos de uma família extremamente rica e tradicional, mas já inteiramente assassinada. Após o início da guerra, ficou decidido que tanto eles como o que restou do clã Park permaneceria vivendo no castelo até que a situação melhorasse.

    Ela era também a melhor amiga de _____, sua confidente e praticamente irmã mais velha.

— Você está aflita demais, _____. Precisa urgentemente descansar um pouco… — a mais velha dizia enquanto fechava a porta atrás de si, em seus aposentos. O quarto era grande, muito bem ornamentado, e agora dispunha de duas grandes camas para que as “irmãs” repousassem ali.

— Como posso descansar, Jiwoo? Como consigo ficar calma sabendo que o reino que tanto amo pode ruir a qualquer instante? Eu não temo por minha vida, temo pela de vocês todos.

— Pois você deveria temer um pouco mais por si própria. Sabe muito bem que Jungkook pode ser apaixonado por você, mas o clã Jeon inteiro sempre a detestou. Se eu fosse obrigada a desposar com o Jeon mais novo, bem… — a mais velha estremeceu um pouco. — seria horrível, mas não se compara ao tanto que você sofreria na mão deles.

    Jiwoo estava certa. Kim _____ não era, por definição, herdeira de trono algum. Ela nem sequer fazia parte da família de verdade; ela filha de uma viajante de terras longínquas, que em uma noite, abandonou o bebê nascido há poucos meses em um lugar próximo do palácio, trajando apenas alguns farrapos e um pequeno pedaço de papel com seu nome escrito. A criança foi encontrada por Kim Eunji, sua mãe adotiva; esta, que por sua idade avançada e problemas de saúde, já não podia mais gerar filho algum além de seus três meninos, mas seu sonho sempre foi ter uma garota. Sentiu como se os céus finalmente estivessem dando-lhe um presente quando segurou no colo aquele bebê com traços diferentes dos dela, mas que conquistou seu coração no mesmo instante.

    _____ foi bem recebida pela família Kim. Ela não poderia dar mais sorte, encontrar um lar onde as pessoas realmente a aceitavam, mesmo que sua origem fosse incerta. A garota cresceu rodeada de todos os luxos que a realeza podia oferecer, mas sempre soube que ela não era um deles, não pertencia verdadeiramente à família do imperador, jamais poderia estar entre as opções de próximo líder e, além disso, uma parte de sua população nunca a aceitaria por ser quem é. Nada disso a importava, no fundo; chorou por muitas noites, sentindo-se culpada por não ter os mesmos traços ou ser filha legítima, mas aquilo já eram águas passadas. Hoje ela verdadeiramente amava sua nação, seus costumes, sua família, e admirava a forma como os irmãos mais velhos comandavam o país. Era muito feliz na companhia de todos aqueles que cresceram junto à ela, os irmãos Jung, os Kim, Park e Jeon.

O último sobrenome entrava na lista até o momento em que se amigo de infância de _____, Jungkook, passasse a ter um afeto doentio por ela e declarasse guerra contra a coroa, conquistando terras e aliados de nações vizinhas. Ela desistiu há muito tempo de tentar entender o porquê. Sentia que a chamada paixão absurda que Jungkook nutria por si não passava de um fetiche estranho, uma forma dele ter poder sobre tudo aquilo que pertencia aos Kim; quando mais novos, ele era uma criança gentil e tímida, mas à medida que foi crescendo e cada vez mais influenciado pelas decisões de seu irmão e pai, tornou-se alguém que a garota já não sabia mais quem era. Na verdade, sabia duas únicas características sobre ele: Jungkook era fissurado por ela, e que ele agora era o inimigo. O inimigo que queria destruir sua família inteira, desonrar sua história, comandar sua população com mãos manchadas de sangue e corrupção. E, além de seu clã tê-los traído tentando recuperar aquilo que os Kim conquistaram, os Jeon absolutamente repudiavam ______ de um jeito quase que irracional. 

“Um rei ou rainha deveriam ser puros, sem cicatrizes, dignos e bem prendados. Acima de tudo, um herdeiro não poderia ser uma estrangeira qualquerzinha suja que teve a sorte de não ser morta quando veio ao mundo”, foi o que ouviu algumas vezes quando o pai de Jungkook ainda frequentava seu palácio.

— Está bem… Talvez você tenha razão. Mas minhas preocupações ainda me tiram o sono e a fome de qualquer jeito.

— Irmãzinha… — a outra chamou, enquanto sentavam-se aos pés da cama de uma delas. — você precisa confiar mais em nossos irmãos. Eles são bem treinados, sabem muito sobre o que é necessário para comandar um país e, além disso, eles tiveram a influência de nossos pais para crescer e prosperar no reino que foi conquistado com tanto suor e sangue. Eles sabem o que estão fazendo.

— Oh, eu não duvido que saibam mesmo. Mas Jungkook pelo visto sabe muito mais. Além disso, ele tem algo que não temos: ódio no coração, implantado por aqueles cretinos que o criaram. Esse ódio o cega, e ele é capaz de coisas horríveis que nós mesmos não somos para atingir os objetivos dele. — a garota sentia a garganta fechar com o choro abafado ali. — eu sei que sou indigna do posto que tenho. Sei que não tenho o sangue real de vocês, sei que nem mesmo pertenço a essa terra, mas o amor que nutro por tudo e todos aqui é tão absoluto, que me dá até mesmo desespero em pensar que tudo o que foi construído com tanto esforço possa ser destruído por um maníaco.

— Ei! — a outra objetou. — jamais diga que você é indigna! Não escute ao que as más línguas dizem lá fora. Se há alguém aqui que carrega o sobrenome Kim com honra, esse alguém é você, _____, que daria até mesmo seu sangue pelo bem de todos. Sei que você não teme apenas por nós… Você teme até mesmo por aqueles que não conhece, quer salvar até mesmo aqueles que um dia lhe deram as costas, mas você precisa se acalmar. Não há nada que eu e você possamos fazer além de nos proteger, e tentar apaziguar os ânimos dos outros. Você tem conversado com seu noivo?

— Jiwoo…. De novo essa história? — a mais nova fez uma careta, jogando o tronco do corpo em seus lençóis confortáveis enquanto as pernas ainda permaneciam penduradas. — eu não sei como você consegue pensar em um casório a essa hora.

— Tudo bem, pode ser que o casamento tenha sido adiado por conta da guerra, mas isso não muda o fato de que vocês são noivos. Além do mais, eram ótimos amigos durante nossa infância… O que foi que aconteceu? Por que você tem se mantido tão afastada de Jimin?

_____ ponderou enquanto lutava contra as lágrimas.

— Ele não me ama assim. E eu também não o amo desse jeito, Jiwoo. Só de pensar em ter que me casar e dar a ele um herdeiro no primeiro ano de união já me dá calafrios. Como serei capaz de manter um bom casamento, se nem sequer amo o homem com quem irei me casar?

— Bem, é melhor do que casar com Jungkook ou o irmão dele, isso te garanto. — a outra deu de ombros. — e vocês são amigos, isso já é um ótimo começo para um amor que pode ser que um dia nasça entre vocês.

— Mas pode ser que não nasça nada. Digo, só estamos nos casando porque ele é melhor amigo de Tae, e os dois entraram em um acordo que seria interessante manter nossos casamentos assim, em um círculo fechado. Só não esperava que justo eu seria a primeira Kim a ter que se casar.

— E por que aceitou, então? Seus irmãos não são crápulas, e Jimin é um cavalheiro. Ele teria compreendido se você dissesse não.

— Porque… Sinto que eu sempre tive um dever a cumprir. Eles são minha família, mas também são as pessoas que me acolheram um dia quando eu não era ninguém. Eu preciso cumprir com minhas funções por aqui, e se um casamento com Park Jimin seria o melhor para a família e para minha nação, então é o que eu estaria disposta a fazer.

Jiwoo permaneceu em silêncio por alguns segundos após isso. Encarava _____, que agora estava de olhos fechados, e não conseguia ver a expressão de derrota que a mais velha carregava misturada a um orgulho sem igual pela garota. Jung compreendia o peso das palavras dela; ela sabia, no fundo, que a política não funcionava da forma como elas bem queriam, e que apesar de a família com a qual estava convivendo era extremamente pacífica e harmoniosa entre si, entendia que o resto do mundo não era um conto de fadas. Na época que viviam, já era um privilégio que pudessem aguardar alguns anos para finalmente serem obrigadas a se casar; era uma dádiva que não estavam sendo “vendidas” a um rei qualquer, como já viram acontecer várias vezes. Mesmo sendo um conjunto de pessoas tão compreensivas, os Kim, Park e Jung tinham obrigações militares e reais que jamais poderiam fugir.

_____ realmente não tinha escolha. Pelo menos não naquele século.

— Eu espero que daqui há alguns anos, nós possamos escolher com quem queremos nos casar. — Jiwoo finalmente respondeu, pesadamente. — você é mesmo admirável, _____. Sei que é uma obrigação desposar-se, mas você está se doando de bom grado para coisas muito maiores que si própria. — segurou a mão da outra, que agora abria os olhos, sentando-se. — onde foi que aprendeu a ser tão responsável assim, tampinha? Nem parece que sou bem mais velha que você. — acrescentou rindo.

— Eu aprendi tudo com você, unnie. — _____ respondeu, sorrindo. — você é um exemplo pra mim, e sou muito grata por ter te conhecido. Você sabe que eu te amo muito, não sabe? Você é a irmã que ainda não sei o que de tão bom fiz para merecer.

— Ei, eu também te amo, irmãzinha. Sempre estarei aqui por você. — respondeu a morena, abraçando a outra. — agora chega dessa conversa, porque vai nos tirar o sono. Vamos nos aprontar para dormir e descansar, sim? Sabe o que os irmãos Jung sempre dizem?

Se o hoje foi difícil, o amanhã será melhor. — as duas disseram em uníssono.

— Perfeito, garotinha. Agora vá se aprontar. — Jiwoo encerrou o assunto, levantando-se também.

 

[…]

 

Mais tarde, próximo da madrugada, _____ estava sentada no parapeito de sua grande janela com um livro em mãos. Observava a lua e o mundo lá fora, seu coração palpitando com a decisão firme que tinha tomado algumas noites atrás, e agora apenas aguardava o melhor horário para isso. Sabia que era só uma questão de pouquíssimo tempo até que as tropas de Jeon Jungkook invadissem o centro, matassem sua população e executasse cada um de seus familiares em praça pública, na frente de seus olhos. Foi isso que os avós dela fizeram com os avôs de Jungkook, décadas atrás, quando finalmente conseguiram derrubar o totalitário do poder.

Se Jungkook estava disposto a ir até o fim, cruzar limites impensáveis em nome de uma guerra, então _____ também estava. Ela não perdeu a fé ou confiança nos irmãos, mas ela sabia bem no fundo de seu coração que se algo não fosse feito, qualquer coisa que fosse, eles perderiam. Desde o início de tudo, ela tinha uma forte impressão de que uma certa decisão teria que ser tomada, mas tentou a todo custo não dar ouvidos àquilo que seu coração e alma diziam.

Olhou para o livro em mãos, abrindo-o na página do título. Tigre Branco:  O Demônio Loiro. Lembrou-se vagamente sobre o dia em que o encontrou, um ano atrás, e como tudo pareceu apenas desmoronar sob seus pés desde então. É tanto uma benção como uma maldição te ter aqui, pensou enquanto lia novamente as mesmas primeiras palavras que já havia lido tantas vezes. Perdeu as contas de quantas vezes visitou o conto detalhado sobre um grande guerreiro de tempos passados, um espadachim como jamais visto andar sobre a terra, cujo poder era capaz de dizimar sozinho exércitos inteiros. As imagens ali sempre demonstravam a figura de um humano de cabelos longos e tão loiros que chegavam a ser quase brancos, vestes pretas e adornos como colares e brincos de ouro, segurando uma poderosa espada, mas seu rosto nunca era pintado. Também havia a figura do tigre, com algumas descrições: seu rugir dava medo até mesmo ao mais corajoso dos capitães, suas patas ágeis e dentes afiados destruíam qualquer vítima. O Tigre era invencível, conjurado por alguém que estivesse desesperado e disposto a pagar o alto preço que ele cobrava em troca da vitória. Na narrativa, ele era descrito como um ser que não sangrava ou sequer se machucava, surgindo de tempos em tempos ao lado das tropas, jamais perecendo.

“O Tigre Branco jamais poderá morrer, porque nem mesmo vivo como o resto dos humanos ele está. É uma criatura saída dos escombros do submundo, sombrio, desprovido de qualquer piedade: um demônio sanguinolento.” — a Kim mais nova repetia as palavras do livro. — fascinante como essa história sempre me surpreendeu. Se qualquer um sequer soubesse que tenho esse livro há um ano, com certeza eu já teria sido castigada.

Levantou-se se encaminhando para a cama, a fim de pegar a tesoura que estava guardada em sua gaveta. Por sorte, Jiwoo tinha um sono muito pesado, de forma que a mesma nem sequer se moveu quando a outra acendeu duas velas e as posicionou em frente ao grande espelho que tinham. Encarou-se no espelho e, de maneira muito ágil, começou seu trabalho.

Escovava os grandes fios de cabelo que agora batiam em seu quadril, decidida. _____ já havia tomado sua decisão e escolhido seu caminho: faria pelos Kim e por seu país aquilo que julgava ser o correto, e para isso, precisava abandonar quem era a fim de buscar por seu futuro. Considerou, depois de muitas reflexões, que mudar quem ela era fisicamente poderia ser útil caso qualquer um a visse andando na rua; cortaria seu cabelo e o prenderia em um rabo de cavalo alto, vestiria roupas de seus irmãos e se tornaria irreconhecível, e assim o fez enquanto via as madeixas caírem pouco a pouco, até ficarem na altura do ombro. Sorriu com o resultado, sentindo-se bonita de uma maneira proibida, já que mulheres não podiam ter cabelo curto. Vestiu devagar as roupas masculinas (antes escondidas no fundo de seu armário) um tanto quanto grandes para seu corpo, aproveitando como era a sensação de ter calças para usar, e não só os mesmos vestidos e hanbok de sempre. Riu ao ver-se no espelho, estava realmente irreconhecível.

Virou-se para Jiwoo e, em silêncio, se despediu. Queria chorar, mas sabia que se pestanejasse agora, talvez desistisse de um plano que agora já não podia mais voltar atrás. Sorriu doce para a mais velha, munindo-se da pequena bolsa com itens que precisaria e uma vela para iluminar seu caminho pelo palácio. Não ousou olhar para trás enquanto fechava a porta do quarto, seus pés movendo-se silenciosamente pela noite, apreciando uma última vez os diversos quadros, tapeçarias e comodidade que aquele lugar continha. As lembranças de uma vida feliz a bombardeavam, como um lembrete daquilo que esperava não vivenciar nunca mais. Chegou ao quarto dos irmãos e, devagar, abriu a porta a fim de olhá-los uma última vez; os Kim, Park e Jung estavam todos reunidos no mesmo grande aposento para caso alguma emergência acontecesse, eles estariam juntos para acordar uns aos outros e agir rápido. 

— Me desculpem por isso… Eu amo muito vocês todos. É por vocês e pelas pessoas lá fora que estou fazendo isso. — seu sussurro foi abafado, quase insonoro, as lágrimas presas no fundo da garganta.

Ela sentiria falta de todos ali. Da forma agitada como Jiwoo a cumprimentava todas as manhãs, dos dias de pintura com Taehyung, as piadas engraçadas de Seokjin, das apresentações de dança de Hoseok, das falas sábias de Namjoon, dos dias calmos que tinha ao lado de Jimin. Seu noivo não a amava daquela forma, isso era claro para todos; ela também não o amava assim, eles nem sequer eram apaixonados, entretanto, eram amigos o suficiente para formar uma união agradável. 

Isso tudo será passado quando eu cumprir minha missão essa noite, a garota pensou. Sorriu triste enquanto fechava a porta. Era muito fácil para ela esgueirar-se em corredores imersos na penumbra, caminhos que ela sabia de cor e que aprendera a camuflar sua presença como mais ninguém. Quando finalmente chegou à porta de saída dos fundos, contornou toda a imensa área externa do palácio a fim de vê-lo pela última vez. Encostou o ombro em uma árvore enquanto admirava a grandiosidade da construção alta e extensa verticalmente, com um pátio à frente e colunas de entrada que guardavam anos de história.

— Não se preocupem. — ela disse, sorrindo. — eu vou fazer tudo ficar bem de uma vez por todas.

[...]

_____ se afastava cada vez mais dos arredores do palácio, muito certa de seu destino. O mundo ao seu redor era silêncio; a madrugada coloria tudo com uma camada de penumbra e calmaria, um silêncio profundo que só era quebrado quando ela pisava em alguma folha seca. Naturalmente, aquele era um caminho muito perigoso para uma jovem perambular sozinha, mas ela tinha esperanças de que se por um acaso um viajante qualquer a avistasse ao longe, seus trajes e cabelo curto dariam conta de camuflá-la como um homem qualquer. 

Sentia-se cansada quando finalmente chegou onde queria: uma trilha muito distante de onde residia, abandonada e caída em desuso. Era claro que ninguém se deu ao trabalho de limpar a grama que crescia desregulada ali, bem como arcos tradicionais que preenchiam o caminho ali e aqui agora estavam corroídos pelo tempo, a pintura com a cor desbotada. _____ caminhava observando tudo ao redor, atenta; era como se até mesmo a floresta ali perdera a vida, as árvores tristes e a luz lunar lúgubre tornando tudo fúnebre. 

Segurou a pequena bolsa que tinha no peito. Ali dentro jazia apenas uma adaga e seu antigo livro, o mesmo que estava lendo horas antes. Desde muito pequena, _____ sempre foi fascinada pelo conto do Tigre Branco, um ser tão extraordinário que apenas podia ser contatado caso alguém possuísse o seu livro. Quando ainda era criança, a garota ouviu dizer que tudo aquilo tinha um preço muito alto, mas não imaginava que seria tudo aquilo que leu. Aqueles que formavam um contrato com o demônio jamais eram vistos novamente, mas isso parecia ser o de menos que acontecia com eles.

 No livro que tinha em mãos, estava descrito o horror que as nações vivenciaram sob a perspectiva dos mesmos. O Tigre sempre podia ser encontrado no mesmo lugar, com o mesmo rosto, a mesma voz, a mesma jovialidade. Com o passar do tempo, as pessoas passaram a perceber que ele não era normal; nunca envelhecia, nunca sangrava caso fosse atingido e, o que mais os alarmava, ele nunca morria. Durante anos pessoas cruzaram aquele mesmo caminho, todos com o mesmo propósito de fazer seu sacrifício e encontrar com o homem que cobrava um preço alto demais; tantos anos, que logo os soldados comuns passaram a desconfiar que ele não fosse um ser humano, e sim algum tipo de criatura sobrenatural que roubava a vida daqueles que o encontravam em troca da vitória. 

As pessoas começaram a temer sua presença de uma maneira tão absurda que até mesmo seu nome passou a se tornar uma história de terror. Não era segredo nenhum para as pessoas que conheciam a lenda sobre onde ficava o templo utilizado para fazer o pacto. Naturalmente, muitas pessoas acreditavam que a lenda do Tigre apenas foi criada para manter as pessoas afastadas daquele lugar, mas ninguém nunca se atreveu a de fato contestar o folclore indo até aquela trilha. O medo de ir até aquele caminho cresceu tanto ao ponto de que ninguém nem ao menos tinha coragem de penetrar aquela área da floresta, alegando ser assombrada pela alma daqueles que foram mortos pela mão do espadachim. 

 Segundo o livro, já faziam quase cem anos que ninguém conjurava seu nome. Isso estava prestes a ser mudado.

Após caminhar o que pareceu ser mil léguas, _____ finalmente chegou ao seu destino; passou por portões de entrada altos e acompanhados de muros de mesma altura, adornados em ouro e prata. Ela nunca tinha estado em um lugar que tivesse metais preciosos utilizados de maneira tão abundante assim. Estava boquiaberta quando finalmente chegou ao pátio; aquele lugar chegava a ser tão grande quanto sua própria casa. Uma grande escadaria levava até o palácio, que tinha três andares também ornamentados com ouro entre sua composição; era extenso verticalmente, com outras construções mais baixas acopladas que se interligavam tornando-o um dos monumentos mais bonitos e imponentes que _____ já havia visto, mas também totalmente acabado e jogado ao esquecimento, sem qualquer cuidado. As partes em madeira estavam corroídas, a tinta quase já não se via mais, janelas abertas que mostravam cortinas lá dentro já puídas. 

Tudo era macabro ali e _____ finalmente se dava conta do porquê de tantas pessoas terem medo de ir até ali. De fato, era como se espíritos estivessem à espreita, observando-a com seus olhos vazios e aguardando o momento que a alma de seu próprio corpo iria se esvair, caindo no oceano de vidas perdidas que aquele monumental lugar guardava. O ar ali até mesmo parecia frio, pesado, e a jovem sentiu seus pelos do corpo todo se arrepiarem quando olhou fixamente para o portão de entrada da construção. Ainda assim, com passos que agora eram mais lentos, caminhou até próximo da grande escadaria, ajoelhando-se. 

A urgência agora era maior. Com o ato, conseguia sentir presenças estranhas ao seu redor, os mortos que guardavam o lugar aproximando-se de si como se zombassem da situação dela. Você vai ser uma de nós, ela podia jurar ter ouvido uma voz fúnebre e quebradiça atrás de si, a chamando para a escuridão. Nós vamos te corroer ainda viva. Você vai se arrepender. Respirando fundo, retirou sua adaga e o livro, abrindo-o na página correta. Já havia decorado o que dizia ali há muito tempo, mas ainda assim, queria tê-lo em mãos quando sua hora chegasse. 

— Eu sei que você está aqui.

Sua voz soou estridente em meio aquele silêncio doentio, seu tom firme afastando apenas por um segundo todas aquelas presenças, mas que agora pareciam voltar com mais força. Lentamente se aproximavam, e _____ quase conseguia sentir sua respiração às suas costas.

— Vão embora, eu não estou aqui para falar com vocês! Eu vim em busca de seu mestre! — era quase raivosa enquanto olhava ao seu redor, gritando a plenos pulmões para o que quer que estivesse à espreita. Virou-se para a frente de novo. — foi você quem vim buscar esta noite. Alguns dizem que está morto, outros que fora esquecido, mas eu não acredito nisso. Eu sei que está aí dentro, em algum lugar, me ouvindo. Me permita entrar para cumprir aquilo que tornou-se minha missão. 

Recebeu o silêncio como resposta. Não se deu por vencida.

— Eu trouxe o seu livro de volta. O mesmo que caiu em mãos humanas, o que conta sua história, e que pessoas do passado usaram para invocar seu poder. Eu quero devolvê-lo a você de uma vez por todas. — ergueu o livro para o palácio enquanto curvava sua cabeça por alguns instantes, logo voltando a sua posição inicial. — mas você precisa me responder. Você precisa aparecer. 

Repousou o livro ao seu lado, enquanto levantava a adaga.

— Com esse objeto derramarei minha própria vida líquida por você. Por favor, me ouça, eu te imploro; venha até mim.

Em um movimento rápido, cortou a palma da mão reprimindo um gemido de dor; o corte era profundo, a dor agonizante tomando conta de todo seu braço, mas agora era tarde demais para parar. De forma ágil, desenhou ao seu redor um círculo com sua mão ensangüentada; ao terminar, teve um sobressalto. As várias tochas ao seu redor, que antes jaziam apagadas e inertes, agora acenderam-se todas de uma vez só, preenchendo cada canto dali com luzes bruxuleantes. _____ estremeceu e sentia que algo estava cada vez mais próximo, vigiando suas ações. A adrenalina agora tomava conta de seu corpo, a fazendo ficar atenta a tudo ao seu redor, na esperança de ver aquele quem buscava.

— O meu sangue é a sua porta de entrada. Meu sangue é a vida que você anseia em beber. Você, o guerreiro de eras atrás, mais poderoso do que qualquer um já viu, eu te invoco agora em nome de tudo que me é sagrado. — recitava fielmente as palavras que já havia decorado. — imploro por sua atenção. Te dou permissão para que leia meu coração e a vontade latente dentro dele. Você é minha única esperança. Por favor, me aceite, Tigre. — apertava a mão ensangüentada contra o peito, que agora manchava sua roupa com o líquido espesso. O cheiro ferroso a dava náuseas, e a garota estava certa de que poderia desmaiar a qualquer instante devido a sua vertigem. Inspirou fundo para proferir as últimas palavras que faltavam. — eu te invoco com o seu nome, Min Yoongi. 

As labaredas ficaram mais fortes. _____ sentia seu corpo suar pelo cansaço e adrenalina que agora baixava com o crescente horror no peito por ver-se totalmente ensanguentada. Fechou os olhos por alguns instantes, esperando alguma resposta, alguma voz, mas nada. Não conseguia ouvir mais nada além do som de sua própria respiração. De repente, sentiu-se angustiada; se aquele ser místico não a ouvisse, quem ouviria? Quem poderia ajudar seus irmãos a vencer a batalha? O que ela iria fazer se tivesse que voltar para casa ainda aquela noite e explicar seus ferimentos? O desespero ameaçava tomá-la e ela queria chorar. 

— Meu sangue acendeu seu palácio! Por que você não me responde? Por que não aparece de uma vez? — sua voz estava embargada. — eu te dei pouco sangue? Posso te dar mais, se for isso que quer. 

Sentindo lágrimas quentes escaparem dos olhos, segurou a adaga com a mão machucada provocando-lhe fortes dores e cortou sua outra mão, preenchendo ainda mais o círculo. 

Ainda não era o suficiente. 

— Min Yoongi, por favor… Por favor… Eu sei que você existe, eu sei que está aí… Me responda, por favor! — tombou em uma reverência, fazendo súplicas para que ele aparecesse logo, o sangue derramando-se cada vez mais. _____ já não sabia mais quanto conseguiria aguentar; queria vomitar com aquele cheiro que tanto a traumatizou desde a infância, e só de olhar para suas palmas já a fazia escurecer a visão. — eu te imploro, Min Yoongi!

 Tinha certeza de que se não era Min Yoongi aquele na qual ela estava acordando, certamente alguma coisa estava ali, mesmo que fossem aqueles guerreiros mortos que agora queriam vingança contra os vivos. Sentiu-se fraca. As vozes que antes tinha espantado agora pareciam todas pular sobre si, cada uma arrancando um pedaço de sua alma. A aura amaldiçoada e ruim que emanava dali era tão forte que _____ sentia sua respiração falhar, seu corpo pender cada vez mais.

Nós queremos você...

Você não sairá daqui viva...

Quem pensa que é para vir aqui e atormentar os malditos?

A vozes não paravam, sufocando-a, vindo de todos os lados, enlouquecendo-a. Em meio ao seu desespero, teve uma ideia, sentindo que estava prestes a desmaiar. 

— Min Yoongi, se meu sangue não é o suficiente…

Sentando-se sobre seus joelhos, ainda de olhos fechados, segurou a adaga com as duas mãos. A dor dos cortes profundos a castigava, seu sangue respingava no chão. Virou a ponta do objeto para si e, quando estava prestes a apunhalar seu próprio peito, sentiu alguém segurar suas mãos e sua dor desaparecer, assim como as vozes ao seu redor e sua consciência.

 


Notas Finais


Ansiosas para o fim? 😎😗✌

Meu perfil: @jesseok

Meus outros imagines:
Dália Negra, com Jung Hoseok:
https://www.spiritfanfiction.com/historia/dalia-negra-imagine--jung-hoseok-19596670
Soul, com Min Yoongi (nas notas finais dele eu faço umas recomendações! 💕):
https://www.spiritfanfiction.com/historia/soul-imagine--min-yoongi-18780407


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...