1. Spirit Fanfics >
  2. Time After Time >
  3. Outubro, 2015. I.

História Time After Time - Outubro, 2015. I.


Escrita por: AmandaCSousa

Notas do Autor


Oláááááááá galerinhas das fics.
Olha quem voltei rápido weeeeee :) // mas o capítulo tá menor aaaaaaaah :(
Brincs.
Gente tem uma musica no capítulo hoje
1. I Shall Believe - Shryl Crow (link nas notas finais)

Gente, tenho uma fic linda para indicar pra vocês: A Fortunate Stroke Of Serendipity (procura no wattpad, vale a pena e vou divulgar o link no twitter tbm) a Babs tá de parabéns pela fic, que tá maravilhosa de linda.

Agradecimento especial para a Mariana, linda demais, mas atualiza 1blmoon pfvr, nunca te pedi nada nessa última hora. E a Bea. Obrigada meninas <3

CAPÍTULO DEDICADO AS MENINAS DE MEDICINA E ENFERMAGEM QUE ME AJUDARAM NAS PESQUISAS: A ADRIANA, A GIOVANNA E EM ESPECIAL A LUIZA QUE DISCUTIU LONGAMENTE COMIGO DURANTE A SEMANA E INCLUSIVE NA ESCRITA DO TEXTO EM RELAÇÃO A CONDIÇÃO DA ALLY. MUITO OBRIGADA DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO.

Enjoy <3

Capítulo 36 - Outubro, 2015. I.


Fanfic / Fanfiction Time After Time - Outubro, 2015. I.

Lauren segurou firme em uma das mãos de Allyson e ofereceu o sorriso mais reconfortante que manejou esboçar. Estava angustiada desde que acordara aquele dia e a sensação só aumentara ao chegar ao consultório obstétrico, onde acompanhava Ally. O local fechado, em que realizavam o ultrassom em 3D que a médica julgava necessário, não ajudava em nada.

- Isso levará apenas um instante! – A médica, uma mulher de cabelos ruivos e já beirando a meia idade, informou.

- O resultado sai na hora? – Lauren questionou curiosa.

- Não! É como eu expliquei para vocês...  Eu prefiro refazer os exames antes dar um diagnóstico. – Deslizou a sonda do ultrassom pelo abdômen de Ally. – No entanto. – Desviou os olhos do monitor, que mostrava as imagens capturadas pelo aparelho, para a mulher deitada na maca. – Eu não acredito que vá ser muito diferente do primeiro diagnóstico. Ao menos, não a julgar pelas imagens que estou vendo aqui.

Lauren apertou ainda mais a mão de Ally, torcendo para que, de alguma forma, sua força pudesse passar através de seus dedos para os da amiga. O resto do exame foi realizado em silêncio. Ao fim, a médica limpou o excesso do gel usado na barriga de Ally e ofereceu o banheiro do consultório para que ela pudesse se limpar melhor.

Lauren acompanhou a mulher de cabelos vermelhos até sua mesa novamente onde sentaram-se a espera de Allyson.

A morena consultou o horário em seu celular. Ainda daria tempo para pegar metade da aula de Camila e a seguinte, que era muito menos interessante e lecionada por um professor deveras irritante, de fotografia publicitária. Ally não demorou a voltar sentou-se na cadeira ao lado de Lauren e respirou pesado.

- Eu não quero dar falsas expectativas a você... – A médica começou. – Nós vamos aguardar o resultado dos exames, vamos reavaliar, mas ao que tudo indica o primeiro diagnóstico é confiável. O útero Didelfo, popular conhecido como útero duplo, é uma má formação muito incomum, 10 a cada 20 mil mulheres nascem com essa condição, que por si só já dificulta a gravidez. Porque a mulher tem dois úteros, mas eles são muito pequenos e não comportam o desenvolvimento completo de um bebê. Ou seja, pode-se engravidar porque há ovulação normalmente, então haverá a fertilização. No entanto, geralmente no processo de nidação, que é quando o embrião se fixa na cavidade uterina, ou ainda algum tempo depois disso, ocorre o aborto espontâneo, como já ocorreu com você, pois o útero possui um tamanho insuficiente para carregar um embrião. Há casos de algumas mulheres com essa condição que conseguem levar uma gravidez, com muitos riscos, adiante. Porém, como seu outro médico já deve ter lhe falado, aparentemente, você tem essa condição associada com outra má formação uterina a Insuficiência Istmo Cervical, que é um encurtamento do colo do útero, faz com que o colo do útero seja muito fraco para suportar o peso de um bebê e dilate antes do tempo. Se esse quadro se confirmar, ele é bastante raro Allyson, raro e dificultoso. Te levaria a passar uma vida tentando completar uma gestação, mas, infelizmente, com a prospecção de frustração em cada tentativa. – Ally meneou positivamente a cabeça, já havia escutado tudo aquilo antes a mulher do outro lado a mesa lhe encarou com benevolência. – Talvez, isso que eu te diga agora não seja, exatamente, ético e você pode até achar desrespeitoso ou intrometido da minha parte, mas eu te aconselharia a procurar outros meios. É importante, sabe? É psicologicamente importante. Você quer ser mãe e ficar insistindo numa gravidez, dentro dessas condições, só vai te trazer sofrimento. – Ally meneou positivamente a cabeça mais uma vez. – Nós vamos agendar seu retorno, para que você venha buscar o resultado do exame e para que tenhamos uma conversa final sobre seu provável diagnóstico, enquanto isso comece a procurar e conhecer outras formas. Vai ser bom para você... – A médica finalizou com um sorriso cordial e Ally lhe sorriu sem mostrar os dentes.

- Obrigada por ter vindo comigo. – Allyson agradeceu Lauren, quando já estavam no elevador.

- Você precisa contar para o Troy, Ally. Ele tem o direito de saber...

- Eu sei! – A porta do elevador se abriu para que elas saíssem. – Eu só... Eu não quero desapontá-lo. – Confessou olhando o chão por onde caminhavam em direção ao carro, estacionado em frente a clínica, envergonhada demais para encarar Lauren. – Ter um filho era a forma que eu tinha de ajuda-lo, de fazer alguma coisa dar certo no meio dessa bagunça e agora... Agora nem isso. – Lauren brecou e parou de frente para a amiga, obrigando-a a parar também.

- Ally... Ele estava fazendo isso por você. Qualquer um percebe que o importante para o Troy é que você esteja bem e feliz. Ele estava fazendo isso para que você se sentisse bem em meio a tudo que não está funcionando. Olha pra mim... – Lauren usou o indicador de uma das mãos para levantar o queixo da amiga. – Isso não é o fim do seu sonho. – Afirmou convicta. – Você vai contar para o Troy, e nós vamos começar a procurar outros meios. Isso vai ser muito bom para você, a médica tinha razão, vai te dar perspectivas, ampliar sua visão sobre a situação como um todo. Esse diagnóstico não é o fim do seu sonho de ser mãe é só uma mudanças de planos, você vai chegar lá só que de alguma outra forma. Você nasceu para ser mãe e ser mãe não se resume a uma gestação...

Lauren foi interrompida pelo seu celular, que tocou no bolso de trás da calça jeans que usava. Atendeu a ligação de pronto ao ver o número no display e mesmo tendo o céu completamente azul e vasto sobre sua cabeça a angústia lhe dominou.

- O que aconteceu? – Ally perguntou preocupada com a expressão de Lauren ao desligar o telefone.

- Giusepe morreu. – Lauren soltou num fio de voz baixo e dolorido.

A imensidão dos verdes foi inundada por grossas lágrimas, num choro silencioso, que Ally conteve em seus braços.

 

Camila explicou aos alunos, ainda em sala, toda a teoria da revelação fotográfica. Quais os químicos seriam usados, as quantidades, por quanto tempo e a temperatura apropriada. Falou sobre a transformação da imagem latente, registrada no filme, em imagem visível, de como o processo inicial seria realizado no escuro total. Ensinou a forma correta que usariam o amplificador, para transferir a imagem negativa revelada no filme a um papel fotossensível, para depois banhar esse papel em outras soluções químicas, e, enfim, obterem as fotos reveladas.

Explicou mais do que geralmente explicava, falou cada detalhe do processo. Durante sua explicação flagrou-se atenta a porta, esperando que ela se abrisse a qualquer momento. Ao dar-se conta do que estava fazendo, esperando por Lauren, podou a si mesma e carregou a turma para o laboratório, um quarto negro servido de todos os equipamentos necessários para o procedimento.

O dia correu arrastado para Camila, que por diversas vezes encarou o relógio do celular com a sensação de ele estar parado no tempo. Aquele dia não fora almoçar em casa com Jake, ficou pela escola de arte. Cuidou das fotos reveladas, que ainda estavam em processo de secagem, olhou mais atenta as imagens penduradas no varal destinado a elas, haviam ficado ótimas.

Quando o fim da tarde finalmente chegou, liberou sua última turma do dia e antes de ir para casa voltou ao laboratório. Recolheu foto por foto, tomando cuidado em verificar se cada uma estava completamente seca e guardou os negativos em sua bolsa, para entregar aos alunos no dia seguinte. Trancou a porta do laboratório ao sair, era orientação da escola que os laboratórios nunca ficassem abertos, ao chegar à recepção Piedade não estava mais lá e o céu do lado de fora começava a escurecer. Logo seria noite completa.

No caminho até sua casa, sem querer, Camila pensou em Lauren outra vez. Ela não estava lá e a ideia de que aquilo lhe afetava pesou em seus ombros, recusou-se a aceitar que estimava a presença de Lauren. Creditou seu pesar, causado pela ausência da morena, no fato de que raramente tivera um aluno tão singelamente empolgado para uma aula de revelação. Era isso, a falta de Lauren lhe causara uma quebra de expectativa profissional, agarrou-se a esse pensamento.

Camila teve que estacionar na rua, porque o caminho até a garagem da casa estava bloqueado pelo carro de Ally, que nem sequer havia saído de dentro do automóvel ainda. Chegaram praticamente juntas.

- Oi! – Camila cumprimentou a outra que abrira a porta para sair.

- Olá! – Ally respondeu suavemente. – Eu vim buscar o Jake para levá-lo a sessão. – Informou.

- Eu posso levá-lo... – Camila se dispôs, estranhando o fato, porque até onde sabia era Lauren quem iria acompanhá-lo. – Aconteceu alguma coisa? – Perguntou ao abrir a porta da casa.

- Várias... – Ally respondeu sem conseguir evitar o peso em sua voz.

- Oi gente! – Jake interrompeu chegando a sala. – Oi amor! – Direcionou a Camila. – Eu achei que você tinha aulas extras hoje, está tarde já.

- Não! Eu demorei porque fiquei até mais tarde no laboratório, recolhendo umas fotos reveladas. 

- Ah! Entendi. – Virou-se para Ally. – Eu estou pronto, nós podemos ir.

- Eu posso te levar... – Camila se ofereceu novamente. – Eu já estou em casa, posso te acompanhar... Na verdade, eu achei que a Lauren fosse te levar, vocês não tinham combinado?

- A Lauren pediu para eu levar o Jake... – Ally justificou. – Ela recebeu uma ligação da Itália hoje de manhã... – O coração de Camila apertou, porque ela conhecia aquele tom. O tom do pesar, do luto, ela conhecia aquele maldito tom que as pessoas usam sempre pelo mesmo motivo, o pior motivo, a morte. – Giusepe faleceu... Ela foi pra casa dos pais e pediu para que eu levasse o Jake.

- Giusepe era aquele vizinho dela em Nova York, né? – Jacob perguntou um pouco confuso.

- Sim... – Camila confirmou, mas seu interior bradava que “não”. Giusepe não era o vizinho de Lauren em Nova York, porque Giusepe fora muito mais do que isso e Camila sabia. O velho Giu, lembrou-se da forma carinhosa como Lauren costumava chamá-lo, foi amigo de Lauren, foi toda a família que ela tivera em Nova York. Fora como um pai e doía perder um pai. Camila sentia também.

- Vamos Jake... – Ally chamou, vendo em Camila a necessidade do espaço.

 

Lauren encarava o teto do seu antigo quarto na casa dos pais. Deitada de barriga para cima no chão, exatamente onde sua cama costumava ficar quando ela usava o cômodo, havia algo de reconfortante no lugar, uma aconchegante sensação de familiaridade.  A luz do poste que entrava pela janela, por um exemplo, ainda refletia na mesma aresta do chão e subia pela parede no local preciso em que se recordava. Havia os pequenos nós na madeira daquela parte do forro também, eles estavam ali desde sempre. Lauren lembrava-se de ter passado muitas manhãs encarando-os e dando desenho as suas formas, os mais diversos, todos os cabíveis na variável imaginação de uma criança. O fato é que, naquele dia repleto de uma dolorosa partida, Lauren achou conforto na constância. Eram detalhes que estavam ali desde que nascera e agora, já na vida adulta, permaneciam intocados.

Seus olhos estavam secos, mas ainda pesados, lhe lembrando, a todo instante, de que havia um motivo real para as lágrimas de mais cedo. Não fora um choro desesperado, apenas dolorido. Era esperado, mas não deixava de doer. Seu luto começou silencioso nos braços de Ally e terminou da mesma forma nos da mãe, que depois de consolá-la lhe convenceu a ir para o quarto de Taylor e descansar um pouco.

Ela subiu e instantaneamente deitou-se naquele lugar, como se o corpo tivesse vida autônoma e decidisse por si só o que seria melhor. E era. O conforto foi automático. Lauren forçou um pouco a visão para continuar observando, na penumbra que se tornou gradativamente o quarto com o chegar da noite, a cara de urso formado pelos três nós mais escuro no forro do meio. Tinha um olho maior que outro, mas, indiscutivelmente, era um urso.

Escutou alguém bater à porta, mas não estava pronta para sair do seu pequeno refúgio de conforto.

- Pode entrar! – Autorizou, mas não se moveu, ainda que ciente da grande probabilidade de ser Taylor instituída a reivindicar seu quarto.

Play – I shall believe (Sheryl Crow)

Não houve barulho, nem avisos, não houve palavras, toques, ou choro. Lauren apenas sentiu o movimento do espaço sendo cortado por outro corpo que, gentilmente, deitou-se no chão ao seu lado. Era Camila e Lauren soube que era Camila justamente porque havia silêncio. Mais constante que a propriedade dos elementos e as paredes daquele quarto, mais imutável que os nós existentes nas madeiras do forro a formarem desenhos, ou o reflexo da luz do poste, que, inalteravelmente, entrava todos os dias pela janela, era a constância do conforto que Lauren encontrava no silêncio compartilhado com Camila.

 

Come to me now

And lay your hands over me

Venha para mim agora

E coloque suas mãos sobre mim

 

Poderia lembrar-se de muitos momentos que igualmente dividiram em quietude. Nunca fora um silêncio qualquer, sempre viera carregado de calma, de abrigo, de acolhimento. Para Lauren, que invariavelmente preferia calar-se, o silêncio de Camila era um discurso completo. Por isso, permaneceram ali, deitadas lado a lado, submersas na quase completa escuridão do quarto, iluminado pela insistente luz a entrar através da janela, e quietas até que se sentissem fortes novamente.

 

Even if it's a lie

Say it will be alright

And I shall believe

Mesmo que seja mentira

Diga que tudo ficará bem

E eu acreditarei

 

- Você chorou? – Foi Camila quem perguntou, fazendo sua voz sair depois de algum tempo, mas ainda sem se mover.

- Uhum! – Lauren murmurou, encarando o teto.

- Chorar é importante! – Camila constatou.

- Já faz dias, dá pra acreditar? – Lauren soltou indignada. – Ele fez o filho prometer que só me contaria depois.

- Talvez ele não quisesse que você fosse lá, preferiu que você guardasse a imagem dele em vida. Se eu pudesse apagar da memória a imagem do meu pai falecido eu apagaria.

Lauren virou-se minimamente. O suficiente para ver Camila deitada na penumbra ao seu lado.

- Dói para sempre? – Perguntou, sabendo que Camila melhor do que ninguém conhecia essa realidade.

 

I'm broken in two

And I know you're on to me

Estou despedaçada em duas

E eu sei que você se importa comigo

 

- Não! – Camila falou num fio de voz e virou seu rosto para olhá-la. – Dói pra caramba, mas em algum ponto começa a melhorar. A saudade não passa. – Camila alertou. – Às vezes é uma saudade boa, às vezes triste, mas não é dolorosa, não assim pelo menos. Eu, especificamente, sinto uma saudade estranha. Porque não é como se eu sentisse falta do passado e das coisas incríveis que eu costumava viver ao lado do meu pai, mas sim do que eu não tive, do que eu nunca soube, do que eu nunca perguntei e que ele nunca falou. Eu sinto falta de saber o que ele pensava de verdade sobre as coisas... Sobre mim...

- Você sente falta da opinião dele? – Lauren perguntou um pouco confusa.

- Sim! Existem situações que eu gostaria de saber o que ele me diria, o que ele acharia certo, ou errado, o que ele esperaria que eu fizesse... Coisas desse tipo. É que ele falava muito pouco, acho que era para não correr o risco de contrariar a minha mãe. – Riu fraco, um riso para dentro e sem mostrar os dentes. – Porque ele era gentil demais para isso, ele era a pessoa mais gentil que eu já conheci.

- Eu nunca conheci seu pai. – Lauren constatou. – Eu me lembro de ter visto ele umas duas ou três vezes, mas nunca fomos apresentados.

 

That I only come home

When I'm so all alone

But I do believe

Que só volto para casa

Quando estou totalmente sozinha

Mas eu realmente acredito

 

- É... Vocês não foram... – Camila concordou simples, encerrando o assunto. Desviou os olhos para o teto novamente. Jamais confessaria a Lauren, no entanto, durante muito tempo saber o que seu pai realmente pensava sobre ela foi uma das coisas que mais lhe fez falta, às vezes, ainda fazia.

- Eu estou me sentido mal, porque eu prometi para ele que não sofreria. – Lauren confessou. – Eu disse que aceitaria as escolhas dele... Me sinto tão egoísta por estar aqui o dia todo chorando e encarando o teto com essa sensação de vazio dentro de mim. – Camila voltou a olhar para Lauren, mesmo no escuro era possível ver as íris verdes da morena lhe encarando de volta – Eu deveria ter passado o dia fazendo algo que desse orgulho a ele, algo útil e proveitoso. Qualquer coisa que fizesse ele me olhar e sorrir satisfeito, como quando a gente ganhava no buraco dizendo “essa é a minha menina”. – Lauren engoliu uma ameaça de choro que se formou na garganta.

 

That not everything is gonna be the way

You think it ought to be

Que nem tudo será do jeito

Que você acha que deve ser

 

Camila respirou fundo, ponderando um pensamento que lhe passou na mente. Uma pequena discussão interna se iniciou, fazendo a latina se levantar para refletir melhor, andou rapidamente até a porta. Lauren a observou, ainda deitada, esperou que ela se despedisse, ou saísse em silêncio, da mesma forma que entrou. Possibilidade que Camila considerou seriamente, no entanto, deu-se por vencida e voltou seus olhos para Lauren no chão.

 

It seems like every time I try to make it right

It all comes down on me

Parece que toda vez que tento fazer dar certo

Tudo desmorona em mim

 

- Eu tive uma ideia. – Anunciou. – Levanta... – Lauren franziu o cenho, mas não argumentou. Colocou-se de pé conforme pedido. – Vem comigo...

Camila não deu tempo para Lauren responder. Saiu porta afora e a morena não teve outra escolha a não ser segui-la. Lauren iria de qualquer forma.

Quando Camila estacionou o carro em frente ao velho prédio, no centro de Miami, que sediava a casa de arte vários pontos de interrogação se formaram no semblante e Lauren, que a pedidos da latina foi até ali sem fazer perguntas sobre onde estavam indo, ou o que fariam. Camila desceu do carro e Lauren a acompanhou. Cumprimentou o guarda na entrada do prédio chamando-o pelo nome, porque obviamente se conheciam. Digitou a senha do alarme da porta abrindo-a e luzes se acenderam automaticamente na recepção. Entraram e sob o olhar atento e confuso de Lauren Camila procurou na bolsa uma chave.

 

Please say honestly you won't give up on me

And I shall believe

And I shall believe

Por favor, diga honestamente que não desistirá de mim

E eu acreditarei

E eu acreditarei

 

As duas seguiram, ainda em silêncio, escada acima. A morena sempre um passo atrás de Camila, que direcionou o caminho até o fim do corredor do segundo andar, parando em frente a uma sala até então desconhecida para Lauren. A latina destrancou a porta e acendeu a luz, que para surpresa de Lauren brilhou vermelha.

 

Open the door

And show me your face tonight

Abra a porta

E mostre-me seu rosto hoje à noite

 

- Vamos revelar fotos! – Camila informou num meio sorriso convencido e Lauren deixou seus lábios curvarem-se também, porque Giusepe, sem dúvidas, iria orgulhar-se daquilo.

- A gente pode fazer isso? – Lauren questionou preocupada. – Eu me sinto uma adolescente invadindo o colégio.

A luz vermelha brilhava forte contra sua retina e ela não conseguiu ver, mas Camila rolou os olhos debochada.

- Eu sou professora daqui, eu tenho a chave, a senha do alarme e uma autorização do guarda lá embaixo. Então, eu acho que não estamos invadindo nada.

- Faz sentido. – Lauren considerou e entrou na sala.

 

I know it's true

No one heals me like you

And you hold the key

Sei é verdade

Ninguém me cura como você

E você tem a chave

 

Camila adiantou-se até a bancada, onde ficava o amplificador fotográfico e ligou o aparelho que usariam. O laboratório não era grande, mas não era pequeno, tinha tamanho suficiente para acomodar uma das turmas com conforto. Havia uma extensa bancada, e três amplificadores, iguais àquele que Camila ligou.

Os olhos de Lauren agradeceram quando a latina acendeu sobre a bancada uma lâmpada normal, branca. Assim pode observar melhor Camila mover-se de um lado para o outro com precisão. A latina abriu a bolsa e tirou dali os negativos que havia guardado, debaixo da bancada retirou três bandejas, uma bacia maior, os químicos que usariam e também um envelope fechado de papel fotossensível.

- Infelizmente todos os filmes já foram revelados na aula, então teremos que pular a primeira parte do processo, de revelação do negativo, e fazer apenas a segunda parte de ampliação e revelação no papel...

- Tudo bem... – Lauren tentou falar, mas Camila não parava.

 

Never again

would I turn away from you

Nunca de novo

Eu me afastaria de você

 

- Quando a gente tira a foto ela não fica registrada visivelmente no filme, é necessário fazer todo um processo químico, que envolve uma fração de tempo, temperatura e agitação, para transformar essa imagem latente em visível, ou seja, o negativo. Depois de revelado o negativo, nós o ampliamos, com a ajuda dessa maquina – Apontou para o aparelho que ligara. - Chamada amplificador, sobre o papel fotossensível e fazemos um processo de revelação do papel...

 

I'm so heavy tonight

But your love is alright

Eu estou tão pesada hoje à noite

Mas o seu amor é bom

 

- Entendi... – Lauren respondeu observando a graciosidade de Camila no que fazia.

Camila continuou explicando com dedicação e Lauren lhe sorria, mesmo sem intenção. Os olhos ainda pesavam, mas a consciência aliviava-se a cada segundo. Viu Camila medir a quantidade de químicos, distribui-los nas bandejas e encher a bacia maior com água. Lauren escutou a tudo que ela falava, fazendo anotações mentais do que era mais enfatizado e quando Camila desligou a lâmpada branca, deixando a vermelhar reluzir outra vez, Lauren não se importou. Seus olhos estavam fixos demais na latina para se importar com qualquer outra coisa.

 

And I do believe

E eu realmente acredito

 

- Revelar as fotos pode parecer mágica, num segundo está tudo branco e no outro a imagem está lá, mas é parte da arte. – Camila falou arrumando o papel fotossensível na base do amplificador, para projetar o negativo já inserido na lente do aparelho, sobre ele. – Mas é uma arte exata, uma arte física e química, uma equação de tempo e luz. A gente precisa expor o papel à luz pelo tempo correto para obter, quimicamente, o contraste desejado. Quanto maior o tempo da exposição, mais contraste a imagem terá... – Camila desviou do papel já arrumado e encarou Lauren, que mergulhada num vermelho sem fim mantinha os olhos firmes na latina.  – Conte até seis, Lauren... – Pediu e num movimento rápido apertou o botão que fez a imagem negativa fulgurar perfeita sobre o papel. A projeção reluziu nos olhos de Lauren e Camila, iluminando-os simultaneamente, e Lauren sorriu para a ideia de ser parte do que faz a mágica acontecer, mas ela nem sequer olhava para o reflexo sobre o papel.

 

That not everything is gonna be the way

You think it ought to be

Que nem tudo será do jeito

Que você acha que deve ser

 

- Um... Dois... Três...  – Sorriu largo para Camila, que sorriu junto, porque, afinal de contas, aquela noite era sobre isso não era? Curar-se. – Quatro... Cinco... – Camila apertou o botão outra vez e a iluminação entre elas morreu, mas o sorriso ainda estava lá, impregnado nas ondas curtas da luz vermelha. 

- A melhor parte vem agora. – Camila falou pegando o papel da base do amplificador e submergindo-o no líquido da primeira bandeja. – Leva apenas um minuto. – Falou em voz baixa, como se o som pudesse atrapalhar o processo.

 

It seems like every time I try to make it right

It all comes down on me

Parece que toda vez que tento fazer dar certo

Tudo desmorona em mim

 

A latina balançou a bandeja, ensopando o papel no químico e lentamente a revelação aconteceu ante os olhos atentos e curiosos de Lauren. Num segundo estava branco e no outro havia a presença singela de uma pessoa qualquer de costas num dos corredores da escola. A imagem mostrou-se, preenchendo todo o espaço, conforme o revelador penetrava na superfície do papel.

- Num passe de mágica! – Camila soltou.

- Não é mágica. É química e é incrível!

- Não seja chata! – As duas riram.

 

Please say honestly

You won't give up on me

Por favor, diga honestamente

Que você não desistirá de mim

 

Camila trocou a foto de bandeja e colocou-a no interruptor, para que o processo de revelação parasse de acontecer ou o papel ficaria todo preto, e em seguida passou no fixador, para, ao fim, banhá-lo na água.

- Pendura! – Estendeu a foto para Lauren, que prontamente levou-a até um dos varais da sala e fixou-a ali. 

 

And I shall believe

I shall believe

E eu acreditarei

Eu acreditarei

 

Virou-se para Camila que a observava.

- A gente pode fazer de novo? - Perguntou genuinamente empolgada e Camila limitou-se a sorrir em resposta.

 

And I shall believe

E eu acreditarei

(fim da música)

 

Troy chegou em casa tarde depois de uma longa reunião tentando convencer os investidores que sobraram sobre a recuperação financeira de sua empresa. Guardou o carro na garagem, mas antes de entrar foi até o jardim, em frente a casa, para terminar de fumar o cigarro que acendera no caminho. Havia prometido a Ally que pararia, mas depois de um dia como aqueles havia uma necessidade urgente de qualquer coisa capaz de provocar relaxamento.

Para azar de Troy, Ally chegou depois que ele e os faróis do veículo dela recaíram exatamente sobre ele, enquanto ela esperava o portão automático abrir. O homem sequer teve tempo de disfarçar ou esconder o cigarro, estava bem no meio de uma tragada. Troy praguejou-se mentalmente e apagou o cigarro.

Ally entrou em casa e foi direto ao quarto do casal. Abriu uma de suas gavetas e tirou de lá um embrulho.

- Desculpa? – Troy pediu entrando no cômodo. – Eu sei que prometi para você que iria parar... É que hoje foi um dia puxado eu...

- Tudo bem! – Ally falou simples.

- Não fica brava comigo... Eu vou parar... Sério! Eu... – Parou de falar para ver o que Allyson fazia.

A mulher abriu o embrulho e tirou de lá um par de sapatinhos minúsculos, feito de lã cor amarela.

 

 

- Eu não sabia que você tinha guardado isso. – Troy manejou falar um tanto surpreso, sentou-se na ponta da cama e Allyson ao seu lado.  

- Você comprou assim que eu contei que estava grávida. Foi o dia mais feliz da minha vida...  – Respondeu encarando a peça de roupa pequenina na palma de suas mãos. – Eu guardei porque tinha esperanças de ter aquela felicidade de volta.

- Você vai ter meu amor... – Troy juntou sua mão as dela sobre o sapatinho. – A gente vai ter...

- Promete pra mim? – Ally pediu no meio de um choro que veio incontrolável.

- Claro! A gente já não teve essa conversa? Não estamos tentando? – Troy questionou retoricamente, aflito pelo desespero da esposa. – O que está acontecendo Ally? – Perguntou definitivo.

- Nós vamos ter que tentar de outras formas... – Sentenciou em meio as lágrimas e Troy franziu o cenho. – Eu não posso engravidar... Eu... Eu não vou conseguir te ajudar... Me desculpe! – Troy abraçou Ally firme, tomando consciência aos poucos do que tudo aquilo significava. – Promete que a gente vai tentar outros meios? Mesmo que sejam mais difíceis? Mesmo que isso seja outro problema pra você resolver...

- Shiu... – Troy embalava Ally em seus braços, buscando acalmá-la e sentindo-se terrivelmente falho por ter dado brecha para que Ally tivesse dúvidas a esse respeito. – Não fala isso... Nós vamos tentar todos os meios... Eu prometo. É claro que eu prometo.

 

Camila parou o Corolla preto em frente ao prédio de Lauren. A morena nem que sequer percebera que já haviam chegado, estava compenetrada repassando, o que nas contas de Camila seria a quarta vez, a pilha de fotos reveladas pela turma, que Camila havia lhe dado para ver.

- As nossas vão ficar assim?

- É a ideia... – Camila falou. – Elas estarão secas até amanhã... Eu te entrego elas depois de recolher, de presente.

Lauren levantou os olhos para Camila ao seu lado, admirou os castanhos por breves segundos e sorriu fraco. 

- Obrigada! – Agradeceu sincera e a latina soube que não era pelas fotos. – Eu não estava esperando algo assim...

- Eu também não. – Camila confessou. – Mas então eu percebi que se sou capaz de te odiar pelas coisas erradas que você fez, eu devo ser capaz de ter gratidão pelas que você fez certas. – O semblante de Lauren se mostrou confuso e Camila se obrigou a continuar. – Quando meu pai morreu eu senti que morri junto com ele. Eu queria chorar e gritar, mas eu não conseguia. Então eu vi você e foi como um sopro de vida dentro dos meus pulmões, aquilo me trouxe de volta. Você me trouxe pra vida e mesmo que não fosse um bom momento para se estar viva eu jamais vou conseguir explicar a sensação de alívio que eu senti. Eu não sei como seria se você não tivesse aparecido lá.

- Você nunca me contou isso. – Lauren apontou num lamento, desviou os olhos de Camila para o nada a sua frente.

- Eu nunca te contei um monte de coisas, Lauren. Você não estava pronta pra escutá-las.

- Eu estou agora! – Soltou de pronto e voltou a encarar a latina.

Camila absorveu a convicção dos verdes diante de si e por alguns segundos apenas encarou Lauren mergulhada em sua imensidão de certezas inquebráveis.

- É tarde... – Camila retrucou e Lauren abriu a boca para argumentar. – Já passa das onze da noite. Eu preciso ir embora... – Finalizou e Lauren engoliu a discussão.

- Ok... Obrigada mais uma vez. Eu não vou esquecer isso também.

- Boa noite... – Camila despediu-se de longe.  

- Até amanhã... – Lauren lhe sorriu antes de sair do carro.

 

Jacob já estava deitado quando Camila chegou em casa. Ele assistia a alguma coisa qualquer no notebook usando fones de ouvido e, aparentemente, não atentou-se a presença de alguém. Camila abriu a porta e encostou-se ao batente, admirando-o.

- Eii! – Ele constatou a presença por fim e retirou os fones, afastando o computador. – Você demorou, estava ficando preocupado. Onde esteve? – Perguntou docemente.

Camila se desencostou da porta e caminhou para cama.

- Eu estava com Lauren. – Respondeu, sentando-se no pé da cama e tombando as costas para trás contra o colchão.

- Oh! Como ela está? – Jake perguntou interessado.

- Triste, mas vai ficar tudo bem.

- E como você está?

- Vai ficar tudo bem... – Camila repetiu a última parte com nítida exaustão em sua voz, tudo aquilo havia lhe custado muito emocionalmente e fisicamente, mas sorriu ao fim para aliviar a resposta. – E você está bem?

- Sim! Só um pouco preocupado, a Ally está estranha...  – Refletiu. – Mas não sei o que aconteceu, aparentemente, ela não quer conversar sobre.

- Eu reparei nisso também. – Camila lamentou. – Como foi a primeira sessão no novo horário?

- Bem... A nova equipe é legal. Hoje eu tive certeza que consegui sentir o estímulo elétrico que estava recebendo. – Riu ao falar.

- Sério? – Camila perguntou animada.

- Uhum... O médico disse que é porque a equipe da noite é mais eficiente. – Brincou.

- Isso é muito bom! – Camila alegrou-se. – Eu quero ir com você a uma sessão da noite, para conhecer todos e ver o seu desenvolvimento.

- Quando você quiser meu amor.

Camila se levantou para pegar uma roupa de dormir.

- Eu vou tomar um banho e dormir, estou exausta. – Disse já entrando no banheiro.

- É bom que você tenha estado ao lado dela nesse momento... – Jake apontou.

- Foi uma situação excepcional. – Camila justificou.

Ter momentos constantes ao lado de Lauren como aquele não estava em seus planos. Havia limites, lembrou a si.

 

Na manhã do dia seguinte Camila adiantou-se e chegou antes à escola. Subiu até o laboratório e recolheu as fotos secas. Haviam ficado tão boas quanto a do restante da turma. Sorriu satisfeita. Aproveitou que ainda não era o horário das aulas e voltou a secretaria, para devolver a chave da sala à Piedade.

- Professora Whitesides! – A mulher a cumprimentou simpática como sempre. – Chegou cedo hoje. Veja que coincidência acabaram de agendar uma aula extra com a Sra. para hoje.

- Ah é? – Camila questionou confusa e depositou a chave sobre a mesa da secretária, que lhe estendeu o papel com o agendamento.

Os olhos de Camila correram pelo nome no papel e uma risada irônica rompeu de sua garganta. – Obrigada Piedade. – Despediu-se depressa da secretária e subiu para a turma 203, com sorte o aluno da aula extra ainda estaria sozinho lá.

Camila abriu a porta da sala e como esperado Lauren estava sozinha sentada na última fileira.

- Bom dia! – Cumprimentou Camila que vinha na sua direção.

A latina depositou a pilha das fotos reveladas sobre a mesa e ao lado o papel do agendamento.

- O que você está fazendo? – Perguntou tentando não irritar-se com Lauren.

- Eu agendei uma aula extra de saída de campo com você. – Lauren engoliu em seco.

- Sim, mas por quê? Pra que?

- Porque eu quero que você vá comigo a um lugar. – Respondeu óbvia.

- E precisava agendar uma aula extra para isso? Por que você simplesmente não me convidou?

 - Porque um convite você poderia recusar. – Justificou. – Eu tenho algo realmente importante para te mostrar. – Lauren respondeu sem desviar os olhos de Camila.

- Se era um convite que recusaria, então é um convite que você não deveria me fazer... Limites Lauren, limites. – Camila desenhou com a mão uma linha imaginária entre elas.

- É sobre fotografia, uma saída de campo estritamente compatível à relação aluno e professor. Eu só não podia correr o risco de você recusar. – Lauren explicou e viu a semblante de Camila aliviar-se minimamente. – Eu juro! – Acrescentou para maior credibilidade.

- Não faça nada estupido, Lauren! – Camila falou por fim virando-se para sair da sala, pois sua primeira aula não era na turma de Lauren.

- Eu não vou... – Lauren garantiu. – Te encontro aqui às 18h00. – Quase gritou para garantir que Camila, já saindo porta afora escutaria.

Assim que a latina não estava mais sobre sua vista Lauren soltou uma risada num misto de nervoso e ansiedade. Aquilo não foi tão ruim quanto imaginou que seria. 


Notas Finais


I Shall Believe - Shryl Crow https://www.youtube.com/watch?v=B3Nnrj6i9Vk

Espero que tenham gostado!
Aguardo comentários.

Qualquer coisa berra no @Clara_Decidida


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...