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História Tô meio perdido - Ninguém além dela


Escrita por: tecteca

Capítulo 18 - Ninguém além dela


Fanfic / Fanfiction Tô meio perdido - Ninguém além dela

✰LUCAS✰

"Plik"

O som do carro sendo trancado me faz guardar as chaves no bolso da calça social e eu verifico se trouxe mesmo o presente da Jade. Sim, tá aqui guardadinho. Do estacionamento, eu sigo até a recepção e depois até o elevador, que me leva direto pro salão de festas. O espaço era amplo, com uma área coberta e o resto aberto. As mesas e os convidados estavam distribuídos na parte externa do salão, talvez porque a previsão pra noite era de chuva. A decoração estava toda lá dentro e assim que eu entrei, ouvi uma das músicas que eu coloquei na playlist, tocar. Sorri pensando em como nós dois temos tudo pra dar certo. Pela primeira vez na vida eu quero de verdade ter algo com alguém, me entregar pra valer e ter uma coisa leve. Eu quero ser sincero, mesmo que há dois dias atrás eu tenha arruinado tudo, indo conversar com o Léo. 

"Lucas!"_ Jade exclama na outra ponta do salão e vem até mim.

"Porra."_ eu digo baixinho.

Ela tá linda, mais do que linda.. eu nem sei se existe uma palavra pra descrever o que eu tô vendo. O vestido branco pára antes do meio das coxas e a cada passo dela, eu o vejo subir e descer alguns centímetros. Um homem bem gordo passa entre nós e quase rouba minha brisa. Quando ela chega mais perto eu reparo nos olhos e vejo uma maquiagem colorida ao redor deles. Ela me abraça e sorri, eu retribuo o sorriso. 

"Acho que eu ganhei."_ eu disse em seu ouvido.

"O que?"

"A nossa aposta de que seus tios viriam em peso." _ eu falo brincando sobre o cara gordinho. Ela ri e me dá um empurrãozinho, saindo do nosso abraço. _ "Você tá linda, Jade. Tá tudo incrível, mas você... ai ai meu coração."

"Ah brigada"_ ela move os dedos abaixo do queixo, numa cara de convencida. _ "Mas a festa só tá assim porque você me ajudou a organizar."

"Jade.. não vai apresentar seu amigo?"_ disse uma voz masculina atrás de mim.


O pai da Jade é exatamente a cara dela. De repente me peguei desejando ter conhecido meu pai, pra saber se ele parecia minimamente comigo.

"Esse é o Lucas, pai. O rapaz que me dá carona da natação."_ Jade disse nos apresentando e eu estirei minha mão para um aperto.

"Prazer, seu Carlos."_ eu disse e ele retribuiu meu aperto.

"Prazer."_ ele sorriu e pediu licença, saindo de repente.


A apresentação esquisita com o pai dela foi só a primeira pérola da noite. Depois eu conheci a mãe dela que também não foi nenhuma simpatia e depois, umas tias. Ouvi uma delas comentando com o marido que eu era o namorado da Jade e não contive o sorriso. Assim que cantamos os parabéns e a Jade dividiu os dois primeiros pedaços de bolo, eu passei outra vez a mão nos bolsos procurando pelo presente de aniversário dela. Decidi esperar mais um pouco pra entregar e aceitei outro copo de refrigerante, enquanto assistia minha (em breve) futura namorada cumprimentar alguns convidados. Jade parou para sentar na mesa em que a Mafê estava, com outras duas meninas. Em outra época o vestido colado da Mafê teria roubado minha atenção pelo resto da noite, principalmente se eu soubesse que tiraria ele inteiro. Ela adorava quando eu tirava as roupas dela. De repente, como se sentisse o peso do meu olhar, Fernanda olhou pra mim enquanto ria de alguma coisa. Seu sorriso se desfez aos poucos e ela desviou o olhar, fazendo algo dentro de mim se revirar. Melhor assim. Eu não deveria nem estar olhando pra ela hoje. Nem hoje nem nunca mais.

Senti meu celular vibrando no bolso e vi no visor a ligação do João. Desliguei na hora. No momento eu só tinha atenção pro que eu falaria pra Jade daqui uns 10 minutos. Talvez um "namora comigo?" ou um "aceita ser minha?". Acho o segundo melhor, mas parece romântico demais.. não sei se é a vibe dela.

Fiquei ali viajando no nervosismo até que ela se aproximou de mim e sentou na cadeira vazia ao meu lado.

"Desculpa se eu te deixei muito só essa noite."

"Oh que isso, nada a ver. A noite é sua, não minha. Você tem que aproveitar mesmo."

"Ah mas eu nunca mais invento uma festa assim, pra minha família. Gastei um monte, fui atenciosa até demais com todo mundo, e no fim sempre vai ter alguém pra sair falando mal. Minha tia Conceição já tava ali falando que o bolo tinha cobertura de mais."_ ela fez uma expressão engraçada. _ "Oh minha senhora, é só você não comer toda a cobertura. Ninguém vai te empurrar uma colher de cobertura goela abaixo." _ eu a olhava feito bobo e ela continuava desabafando. _ "E meu tio Pedro? Veio pedir mais cerveja. Meu senhor você não tá num bar não, ora. Será que não dá pra largar de ser pingunço nem no meu aniversário?"

"Ah mas suas primas tão se divertindo pelo menos." _ eu brinquei e apontei pras crianças a poucos metros de nós, esfregando cobertura de bolo no rosto uma da outra."

"Meu deus!"_ ela riu._ "Eu vou lá avisar pra mãe delas."

A Jade tentou levantar da cadeira de repente, mas eu segurei sua mão a impedindo. Ela me olhou sem entender e eu vi ali a minha deixa. 

"O que foi?"

"Eu queria conversar com você. Mas não aqui."

"Ah.. a gente pode ir pro jardim, lá é mais tranquilo."

Eu concordei e nós fomos em direção ao tal jardim, que ficava no mesmo andar do salão de festas do prédio. Chegando lá a gente se aproximou da sacada e tivemos a visão da cidade lá embaixo. O mar de prédios que nos cercava deixou o clima muito melhor, com aquelas luzinhas nos rodeando. Ela se encostou na sacada e eu me coloquei a sua frente. Senti meu celular vibrando no bolso mas ignorei. Eu estava ali sozinho com ela e prestes a me declarar. Nada era mais importante.

"Seu celular tá tocando, pode atender se quiser."_ ela disse.

"Eu não quero. O que for, eu resolvo depois "

"Você não quer nem saber quem tá ligando?"

"Ah.."_ eu tirei o celular do bolso e desliguei assim que vi o nome do mala do João outra vez._ "É só o João Gui. Depois eu falo com ele."


Coloquei o celular no bolso outra vez e me concentrei novamente no rosto dela. Porra ela tava tão linda, com o vento fazendo a parte solta de seu penteado voar levemente. Segurei as mãos dela.

"Então, minha aniversariante.. eu te chamei aqui pra te dar o seu presente. E nem adianta dizer que não precisava."

"Eu não ia dizer isso não, relaxa."_ ela disse maliciosa.

"Que bom, porque eu comprei isso aqui pensando em você e em mais ninguém."_ eu disse enquanto pegava a sacolinha de cetim do meu bolso. 


Tirei o saquinho e estava prestes a abrir, quando meu celular tocou outra vez. Uma onda de raiva me percorreu, com certeza era o desgraçado do João Guilherme ligando de novo. Qual o problema desse moleque??? Porra dá um tempo!

"Lucas atende logo o João."

"Tá, tá bom. Tomara que esse otário me deixe em paz."_ me afastei um pouco dela, puxei o celular do bolso e o atendi._ "Fala João."

"Onde você tá?"_ ele perguntou rapidamente.

"No aniversário da Jade, mas não tô podendo falar agora."

"Você tá aqui no prédio então."

"É, tô no jardim aqui com ela e tô prestes a dar uns pegas João, então por favor dá um tempinho. Depois eu passo aí na tua casa e te conto como foi. Tchau."_ desliguei a ligação e me assegurei que ela não estava ouvindo a conversa. 

"E então, o que ele queria?"

"Nada importante."

"Tem certeza?"

"Você é a única coisa que me interessa, Jade. A única."

 

 

✰JOÃO✰

Droga. Eu tinha esquecido que a festa não seria na casa dela. Vim até o último andar a toa e perdi meu tempo. Agora eu tinha que voltar pro elevador e seguir pro jardim do salão de festas. A dor que eu sentia nos braços e na coluna eram muito fortes, mas minha raiva era muito maior. Eu queria olhar pra cara do Lucas e dizer que eu já sabia de tudo. Eu não sou idiota como ele pensa e ele vai sentir isso na pele. Entrei sozinho no elevador e pensei no que ele tinha dito sobre estar sozinho com a Jade. "PORRA!" Isso não é justo, ele não pode ficar com ela. Eu entreguei a mulher dos meus sonhos de bandeja pra esse cretino por achar que ele é muito melhor que eu, mas ele é só um porco imundo. Um nojento do caralho. Eu até evitava pensar na Mafê ou no que eu estava sentindo em relação a ela nesse momento. Pensar nela ia me matar dentro daquele elevador, então eu preferia me concentrar em estragar a festa do Lucas. 

Saí do elevador direto pro jardim e em pouco tempo avistei de longe o Lucas e a Jade, na ponta da sacada, um de frente pro outro. Eu já estava acostumado com a dinâmica das muletas, mas isso não tornava nada mais fácil, só que eu precisava chegar lá e foi o que eu fiz.

"Lucas!"_ eu chamei a uns 2 metros dos dois.

Eles me olharam assustados e só agora eu vi de verdade a Jade. A maquiagem era muito diferente do que ela costumava usar, mas combinava perfeitamente com ela. Os traços azuis ao redor dos olhos claros eram a combinação perfeita. O vestido branco, que tinha mangas fofinhas, deixava o colo a mostra.. e as coxas também. O cabelo semi preso deixava tudo ainda mais lindo. Ela parecia mais do que nunca uma princesa. 

"João?! O que cê veio fazer aqui? Eu falei que ia na sua casa daqui a pouco.."

"João cadê sua cadeira?"_ a Jade perguntou.

"Jade, eu preciso falar com o Lucas." _tirei meus olhos da Jade, e abaixei o olhar.

"Não João, agora não."_ o desgraçado respondeu e eu nem conseguia olhar na cara dele. 

"Jade, por favor."_ eu repeti de cabeça baixa.

"Por favor você, João. Deixa de ser mala! Sai daqui e me espera na sua casa, cara."_ ele disse ríspido e eu senti a raiva fervilhando ainda mais em mim.

"Mala é o caralho. Você vai falar comigo agora sim, e se a Jade ficar é até melhor. Aí ela vai descobrir quem você é de verdade."_ eu dei mais alguns passos em direção a ele.

"João calma aí.."_ Jade ficou entre nós.

"Do quê que você tá falando? Tá louco? Sai daqui velho, vai pra sua casa. Cê tá atrapalhando, pra variar."_ ele veio pra cima de mim, mas ela ficou na frente.

"Lucas calma.."

Eu não aguentava mais trocar uma palavra que fosse. Me desviei na Jade e num movimento rápido, golpeei uma das muletas na barriga do Lucas e ele cambaleou pra trás. Eu me apoiei na muleta direita e com o punho esquerdo dei um soco no rosto dele. Ah se eu tivesse minhas duas mãos livres.

"JOÃO, NÃO."_ Jade gritou distante.

"VOCÊ TÁ LOUCO SEU FILHO DA PUTA? AGORA CÊ FICOU RETARDADO TAMBÉM?"_ Lucas me disse, se recuperando do soco e partindo pra cima de mim.

Eu usava uma das muletas pra afastá-lo, era minha única defesa. Lucas não se importava com isso, nem com os gritos da Jade. Ele segurou minha muleta no ar e a puxou da minha mão, atirando a no chão em seguida. Agora eu me sustentava apenas na muleta direita e eu sou canhoto. Lucas me empurrou até a sacada e me segurou forte pela camisa. 

"Eu te odeio Lucas, eu te odeio! E eu vou acabar com você."

"Você é um idiota.."

"O Enrico me contou tudo. Tudo que você fez com ela. A sua aposta de bosta e o que você fez pelas minhas costas, seu Judas."_ eu disse sentindo minhas costas sendo pressionadas contra a pedra da sacada."

"Quê?"_ ele arregalou os olhos.

"Você ouviu."_ eu o empurrei e ele cambaleou pra trás ainda de olhos arregalados.


Me apoiei outra vez na muleta que me restou e dei outro soco na cara do Lucas. Senti uma gotícula de água molhar minha testa e percebi qu em pouco tempo ia começar a chover. A Jade tentou me segurar e eu ouvi de longe a voz da Mafê. Me virei para olhar e nesse momento o Lucas chutou minha muleta, me fazendo tropeçar e cair no chão igual um saco de batata.

"Lucas pára, pára agora."_ Mafê dizia de longe.

Eu me lembrei imediatamente da agressão que eu sofri. Onde eu observava tudo, caído no chão, feito um inerte. Mas eu não ia deixar acontecer de novo. Que tipo de homem eu sou a final? Puxei a muleta do chão rapidamente e acertei as pernas do meu adversário umas 2 vezes. O Lucas continuava me olhando com aqueles olhos arregalados, como se tivesse me estudando. Foi quando a Mafê apareceu na frente dele e um sinal de pânico se acendeu pra mim. 

"MAFÊ SAI DE PERTO DELE AGORA. SAI DE PERTO DESSE FUDIDO, PORQUE EU VOU MATAR ELE."

"FUDIDO É VOCÊ SEU MERDA."_ Lucas disse e veio em minha direção, empurrando minha irmã pro lado.

Ele se abaixou ao meu lado e me socou no rosto. Eu só conseguia gemer de dor. Uma dor generalizada. A Jade apareceu atrás do Lucas e passou os braços dela pelos dele, o puxando pra trás com força. Ele saiu de cima de mim quase se debatendo. Enquanto ele era arrastado, eu estiquei meu braço e segurei o pé dele, puxando o sapato que ele usava. 

"DEVOLVE MEU TÊNIS SEU OTÁRIO. QUER QUE EU ARRANQUE DE VOCÊ?"

"VAI PEGAR ENTÃO, SEU ARROMBADO."_ Eu disse e atirei o sapato por cima da sacada do prédio. O sapato caiu lá de cima e eu torci pra não ter acertado a cabeça de ninguém. 

Mafê me ajudou a levantar do chão e me colocou de pé com a ajuda das muletas. Agora também de pé, Lucas me olhava como um cão raivoso. Um cão raivoso com um sapato só. Eu olhei pra Mafê agora do meu lado e não consegui esconder a cara de nojo. 

"Sai da minha frente Fernanda. Aproveita e vai pro inferno."

Fui embora dali como um idiota, caminhando devagar com minhas muletas e morrendo de dor. As gotas de chuva caíam um pouco mais fortes agora, mas não a ponto de destruir a festinha de aniversário de merda daqueles dois. Eu entrei no elevador e as duas mulheres lá dentro me olharam apavoradas. Talvez pelo sangue que pingava do meu rosto direto pra minha blusa azul. Assim que cheguei em casa desabei no sofá, esperando a Mafê entrar pela porta a qualquer momento. Eu não queria conversar com ela agora, mas me peguei preocupado por ter deixado ela lá com o Lucas. Fechei os olhos e tentei respirar fundo, pelo menos pra ver se a dor se dissipava. Não, não ia adiantar. Minhas costas doíam demais, mesmo assim me forcei a chegar no armário da cozinha e engoli um comprimido pra dor. Então voltei pra sala e estava prestes a desabar de novo no sofá, quando a campainha tocou. Me arrastei outra vez até a porta, dessa vez meus gemidos de dor eram incontroláveis e eu arfava. 

No entanto eu tinha que abrir, porque se fosse a Mafê, ela tinha que entrar. Ela tinha que ficar aqui, independente de tudo. Mas assim que a porta abriu e o rosto da Jade apareceu na minha frente, eu pensei que talvez fosse bom a Mafê não estar aqui. Além da Jade, eu não precisava de ninguém mais aqui.



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