História Toc.. Toc.. - Capítulo 2

— Boo?! — O jovem bradou estalando os dedos em frente aos olhos da mocinha.

— Sim? O que? Que foi Adam?

Mary olhou para o rapaz, que tinha a pele clara e os cabelos negros. Seus olhos escuros a olhavam confusos, furiosos e após ajeitar a gola da camiseta polo preta ele bufou.

— Estou aqui contando algo super demais e você aí, "hipopotizada". — Ela riu do amigo discretamente.

— Essa palavra não existe. — Retrucou e o jovem apenas deu de ombros.

— O que está desenhando? — Perguntou ele esticando o pescoço para ver. O lápis azul terminava de pintar o que parecia ser um urso de pelúcia gigante com pelos lisos e bagunçados, haviam bolinhas roxas ao longo do corpo grande e garras afiadas escondidas por tais pelos. A criatura fazia careta e tinha os braços erguidos de modo assustador, mas até fofo de certa forma. — De novo?

— O que? — Boo, olhou para o amigo confusa e ele suspirou.

— Você fica desenhando essa coisa feia o tempo todo, parece vício.

— Não é coisa feia. Não fale assim do gatinho. — ela disse abraçando o desenho e mostrando a língua ao amigo, que deu uma risada alta fazendo os alunos da sala olharem para ambos.

Boo, baixou a cabeça jogando seus cabelos escuros na frente do rosto para esconder o rubor.

— Isso não é um gato, Boo. É um bicho de certa forma, mas não é um felino, você é muito fofa vendo beleza nisso, ele parece aquelas coisas que meu irmão desenha. Raphael diz que um monstro o visita as vezes para contar piadas. Vê se pode? Na minha época eles assustavam não contavam piadas.

A garota colocou o desenho novamente sobre a mesa e o analisou, não prestava mais toda sua atenção em seu amigo falante. Ela pensou nas palavras relacionadas ao apelido da criatura, sabia que não era um gato, mas toda vez que desenhava ou imaginava aquele ser, pensava em tal palavra. Ela se lembrava de gritar "Gatinho" milhares de vezes enquanto brincava de pique com aquela mesma criatura, pelos corredores de um prédio que parecia ser uma fábrica, lotada de pessoas fantasiadas de monstros.

Por diversos anos, Mary havia acreditado que seu pai se fantasiava de monstro bonzinho para que o medo do armário fosse embora, mas um dia, ao lhe perguntar sobre a fantasia do — 'gatinho' — o pai simplesmente não sabia qual era e o que a jovem dizia. Boo, não entendia muito sobre tudo aquilo, era pequena demais e recordava pouco dos eventos, mas ainda sim sentia falta. Falta do senhor baixinho e verde de um único olho que a chamava de 'coisa' e falta da grande criatura que a havia lhe encontrado.

O sinal tocou e despertou a garota que recolheu suas coisas e as jogou dentro da mochila.

— É.. Boo. — O rapaz gaguejou e colocou as mãos no bolso da calça jeans azul. Mary nada disse, apenas olhou para o amigo que sorriu tímido. — Você vai estar ocupada mais tarde?

— Acho que não. — Sussurrou e o rapaz sorriu.

— Você não quer ir comigo ao cinema? Ou dar uma volta? — Mary, corou e assentiu levemente depois de pensar um pouco. O gatinho não iria vir, já fazia anos que não vinha e ela já começava a acreditar que havia imaginado tudo.

— Vai ser legal. — Disse a adolescente sorrindo.

— Então te pego as oito certo? — Ela assentiu uma vez mais e o rapaz sorriu tímido.

Mary saiu da escola rumo à sua casa, não ficava muito longe, mas ela pode pensar no decorrer de seu dia durante o trajeto.

" Raphael diz que um monstro o visita as vezes para contar piadas. Vê se pode? Na minha época eles assustavam e não contavam piadas."

Ela se lembrou das palavras do amigo, ele tinha razão, quando pequenos os monstros assustavam e não eram piadistas. Era até cômico pensar em criaturas assim contando algo divertido.

Boo, nunca havia visto ou ouvido falar algo do gênero, além de..

— Mike.. — Os livros da garota cairam no meio da calçada com as lembrança. — Mike Wazowski..