Mantive a cabeça baixa ao passar pela recepção e saí do hotel por uma porta lateral. Fiquei
vermelha de vergonha ao me lembrar do gerente que cumprimentou Alfonso no elevador.
Era capaz de imaginar o que ele pensava de mim. Ele devia saber para que servia aquele
quarto.
Eu não conseguia suportar a ideia de ser apenas mais uma de uma longa lista, mas foi
exatamente isso o que me tornei quando pus os pés naquele hotel.
Teria dado muito trabalho parar na recepção e pedir um quarto que seria só nosso?
Saí andando sem direção e sem destino definido. Já havia escurecido, e a cidade ganhava uma
nova vida e se reenergizava depois de mais um dia de trabalho. Barraquinhas fumegantes de
comida dominavam as calçadas, junto com vendedores ambulantes oferecendo quadros,
camisetas ou até roteiros de filmes e episódios de seriados de TV.
A cada passo que eu dava, a adrenalina da fuga baixava um pouco mais. A imaginação
maliciosamente excitada pela visão de Alfonso saindo do banheiro para encontrar o quarto
vazio e a cama repleta de parafernálias sexuais foi perdendo o efeito. Comecei a me
acalmar... e a refletir seriamente sobre o que tinha acontecido.
Teria sido uma coincidência Alfonso me convidar para ir a uma academia tão
convenientemente próxima de seu abatedouro sexual?
Lembrei da conversa que tivemos no escritório na hora do almoço, e a dificuldade que ele
sentiu para expressar seu desejo de ficar comigo. Ele estava tão confuso e dividido quanto
eu, e nessa situação o mais natural seria mesmo recorrer aos hábitos rotineiros. Afinal de
contas, eu mesma não tinha acabado de fazer isso, apesar de ter investido tantos anos em
terapia para aprender a não me fechar e fugir quando estivesse magoada?
Angustiada, parei em uma cantina e me sentei a uma mesa. Pedi um cálice de syrah e uma
pizza margherita, esperando que o vinho e a comida acalmassem minha ansiedade para que
eu pudesse voltar a pensar direito.
Quando o garçom voltou com meu vinho, virei metade da taça de uma vez sem nem sentir o
gosto. Já estava com saudade de Alfonso, do bom humor que ele demonstrou antes de eu ir
embora. Seu cheiro estava impregnado em mim, junto com o do sexo inacreditável que
fizemos. Senti meus olhos arderem, e deixei algumas lágrimas caírem, apesar de estar em
público, em um restaurante cheio de gente. A pizza chegou e eu provei um pedaço. Tinha
gosto de papelão, e isso não tinha nada a ver com a qualidade dos ingredientes, do
cozinheiro ou do lugar.
Puxei a cadeira em que havia deixado minha bolsa e peguei o celular novo, com a intenção de
ligar para o dr. Pattinson e deixar um recado. Ele tinha proposto que continuássemos com as
sessões à distância até que eu encontrasse um terapeuta em Nova York, e decidi aceitar a
oferta. Foi quando vi as vinte e uma ligações perdidas de Alfonso e uma mensagem de texto.
"Estraguei tudo de novo. Não me abandone. Fale comigo. Por favor."
As lágrimas voltaram a rolar. Apertei o telefone contra o peito, sentindo me perdida. Não
conseguia afastar da cabeça a imagem de Alfonso com outras mulheres. Não conseguia deixar
de imaginá-lo trepando feito louco com outra mulher naquela mesma cama, usando
aqueles brinquedinhos nela, levando-a à loucura, extraindo prazer do corpo dela...
Era um pensamento irracional e sem sentido, que fazia com que eu me sentisse mesquinha e
patética, e se manifestava em uma dor física.
Levei um susto quando o telefone começou a vibrar, e quase o derrubei. Dominada pelo
sofrimento, pensei em deixar tocar até cair na caixa postal, porque estava escrito na tela que
era Alfonso, a única pessoa que tinha aquele número, mas não fui capaz de ignorar,
porque ele estava claramente histérico. Por mais que eu quisesse magoá-lo antes, naquele
momento essa ideia era insuportável.
Anahí: Alô. - Estranhei minha própria voz, abafada pelas lágrimas e pela tristeza que sentia.
Alfonso: Anahí! Graças a Deus. - Ele parecia ansiosíssimo. - Onde você está?
Olhei ao redor e não encontrei nada que me dissesse o nome do restaurante.
Anahí: Não sei. Eu... sinto muito, Alfonso.
Alfonso: Não, Anahí. A culpa foi minha. Preciso encontrar você. Pode descrever o lugar onde
está? Você foi andando?
Anahí: Sim, vim andando.
Alfonso: Eu sei qual foi a saída que você usou. Pra que lado você foi? Ele estava ofegante, e
eu conseguia ouvir o barulho do trânsito e das buzinas ao redor.
Anahí: Pra esquerda.
Alfonso: Você virou alguma esquina depois disso?
Anahí: Acho que não. Não sei. - Olhei em volta à procura de um garçom. - Estou em um
restaurante. Italiano. Com lugares na calçada... e uma cerquinha de ferro. Portas vazadas...
Pelo amor de Deus, Alfonso, eu...
Ele apareceu, a princípio como um vulto na porta de entrada segurando um telefone contra a
orelha. Eu o reconheci imediatamente, observei sua reação de paralisia quando me viu
sentada junto da parede dos fundos. Ele enfiou o telefone no bolso da calça jeans que
mantinha no hotel e passou direto pela hostess que o abordou antes de chegar até mim. Mal
tive tempo de me levantar e ele avançou contra mim e me abraçou bem forte.
Alfonso: Pelo amor de Deus. - Ele estremeceu de leve e enterrou a cabeça no meu pescoço. -
Anahí! - Retribuí o abraço. Ele cheirava como alguém recém saído do chuveiro, o que me fez
lembrar que estava precisando demais de um banho. - Eu não poderia estar aqui, - ele disse
asperamente, recuando um pouco para envolver meu rosto com suas mãos. - Não posso
aparecer em público assim. Podemos ir para minha casa? - Alguma coisa no meu rosto deve
ter denunciado minha preocupação, porque ele me deu um beijo na testa e sussurrou: - Não
vai ser como no hotel, eu prometo. A única mulher que já esteve na minha casa foi minha
mãe, além da governanta e das empregadas.
Anhí: Isso é idiotice, - murmurei. - Estou sendo idiota.
Alfonso: Não. - Ele afastou os cabelos do meu rosto e se inclinou para cochichar na minha
orelha. — Se você tivesse me levado a um lugar reservado para trepar com outros homens,
eu teria perdido a cabeça.
O garçom apareceu, e nós nos afastamos.
Garçom: O senhor quer um cardápio?
Alfonso: Não, obrigado. - Ele sacou a carteira do bolso e estendeu a mão com o cartão de
crédito. - Já estamos de saída.
Pegamos um táxi até a casa de Alfonso, que ficou segurando minha mão durante todo o
trajeto. Fiquei mais nervosa do que deveria ao pegar o elevador privativo para a cobertura na
Quinta Avenida. O pé direito alto e a arquitetura no estilo anterior à Segunda Guerra
Mundial não eram novidade para mim e, para ser sincera, era meio que o esperado quando se
namora alguém que é dono de quase todos os lugares que frequenta. E quanto à vista para o
Central Park... bom, era até óbvia.Mas o nervosismo de Alfonso era nítido, o que me fez
perceber que aquela visita era muito importante para ele. Quando a porta do elevador se
abriu diretamente no hall de entrada com revestimento de mármore, ele apertou ainda mais
minha mão antes de me soltar. Destrancou a porta dupla da entrada e permitiu meu acesso à
sua privacidade. Sua ansiedade era visível enquanto observava minha reação.
O apartamento era lindo como ele. No entanto, era bem diferente de seu escritório, que era
ousado e moderno. Sua casa era aconchegante e suntuosa, repleta de antiguidades e obras
de arte, com magníficos tapetes Aubusson revestindo pisos reluzentes de madeira nobre.
Anahí: É... incrível. - eu disse baixinho, sentindo-me privilegiada por estar ali. Era um
vislumbre de um lado de Alfonso que eu ansiava por conhecer, e era belíssimo.
Alfonso: Entre. - Ele me puxou para dentro. - Quero que você durma aqui hoje.
Anahí: Não trouxe roupas nem nada...
Alfonso: Você só vai precisar da sua escova de dente e da bolsa. Podemos passar na sua casa
amanhã de manhã e pegar o resto. Prometo que você não vai se atrasar para o trabalho. - Ele
me abraçou e apoiou o queixo no topo da minha cabeça. - Quero muito que você fique,
Anahí. Não culpo você por ter saído correndo daquele quarto, mas seu sumiço me deixou
desesperado. Preciso de mais um tempinho na sua companhia.
Anahí: Preciso de um abraço. - Enfiei as mãos sob a camiseta dele para sentir a maciez suave
de suas costas musculosas. - E um banho também me faria bem.
Ele inspirou profundamente, com o nariz bem próximo dos meus cabelos.
Alfonso: Adoro sentir meu cheiro em você.
Mesmo assim, ele me conduziu por um corredor até seu quarto.
Anahí: Uau! - suspirei quando ele acendeu a luz. Uma enorme cama de casal dominava o
centro do quarto, feita de madeira escura que parecia ser a de sua preferência e coberta
com uma roupa de cama creme. Era um cômodo acolhedor e masculino, sem nenhuma
obra de arte nas paredes que concorresse com a vista serena do Central Park e dos
imponentes prédios residenciais do outro lado do parque. Do meu lado de Manhattan.
Alfonso: O banheiro é aqui.
Enquanto eu me dirigia ao gabinete de pia, que parecia construído a partir de alguma
escrivaninha antiga com pés em forma de garra, ele retirou toalhas de um armário e as deixou
ali para mim, movendo-se com a sensualidade e confiança que eu tanto admirava. Vê-lo
em sua casa, vestido tão casualmente, foi comovente. E saber que eu era a primeira mulher a
entrar ali me emocionou ainda mais. Foi como se, mais do que nunca, ele tivesse se despido
para mim.
Anahí: Obrigada.
Ele me olhou e pareceu entender que eu não estava falando só das toalhas. Seu olhar fez com
que uma onda de calor se espalhasse pelo meu corpo.
Alfonso: É muito bom ter você aqui.
Anahí: Não faço ideia de como vim parar aqui com você. - Mas estava gostando muito. Muito
mesmo.
Alfonso: E isso importa? - Ele veio até mim, levantou meu queixo e deu um beijo na ponta
do meu nariz. - Vou deixar uma camiseta na cama. Caviar e vodca está bom pra você?
Anahí: Ora... é um belo avanço em relação à pizza que comi.
Ele sorriu.
Alfonso: Caviar tipo ossetra da Petrossian.
Retribuí o sorriso.
Anahí: Preciso me corrigir. É um tremendo avanço
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