As manhãs de segunda-feira podiam ser formidáveis quando começavam ao lado de Alfonso
Herrera. Fomos para o trabalho com minhas costas junto a seu corpo e seus braços sobre
meus ombros, para que pudéssemos atar nossas mãos.
Enquanto ele brincava com o anel que tinha me dado, estiquei as pernas e admirei os sapatos
de salto alto que ele havia comprado, junto com algumas roupas, para eu usar quando
dormisse em sua casa. Para começar a nova semana, eu tinha escolhido um vestido justo
preto com risca de giz e um cinto azul que me lembrava de seus olhos. Ele tinha um ótimo
gosto, isso eu era obrigada a admitir.
A não ser que Alfonso estivesse mandando uma de suas conhecidas de cabelos pretos
fazer essas comprinhas...
Logo afastei esse pensamento desagradável.
Quando abri as gavetas que ele separou para mim no banheiro, encontrei todos os
cosméticos e produtos de higiene que costumava usar. Nem me dei ao trabalho de perguntar
como ele sabia, já que provavelmente não ia gostar da resposta. Em vez disso, decidi encarar
a coisa como mais uma prova de sua dedicação. Ele sempre pensava em tudo.
O ponto alto da minha manhã foi ajudar Alfonso a vestir um dos seus sensualíssimos ternos.
Abotoei a camisa; ele a ajeitou dentro da calça. Abotoei a braguilha; ele deu o nó na gravata.
Ele vestiu o colete; fiz os últimos ajustes na peça bem cortada sobre sua camisa igualmente
elegantíssima, impressionada com o fato de que vesti-lo podia ser uma experiência tão sexy
quanto despi-lo. Era como embrulhar um presente para mim mesma.
O mundo todo veria a beleza da embalagem, mas só eu conhecia o homem por baixo dela e
sabia como ele era precioso. Seus sorrisos mais íntimos e suas gargalhadas gostosas, a
gentileza de seu toque e a ferocidade de sua paixão estavam reservados só para mim.
O Bentley sacudiu levemente ao passar por um buraco e Alfonso me apertou um pouco mais
em seu abraço.
Alfonso: Quais são seus planos para depois do trabalho?
Anahí: Hoje começam minhas aulas de krav maga. - Meu tom de voz mostrava como eu estava
animada com isso.
Alfonso: Ah, é verdade. - Ele roçou os lábios na minha cabeça. - Você sabe que vou querer ver
você aprendendo os golpes. Só de pensar já fico com tesão.
Anahí: Já não ficou bem claro que qualquer coisa deixa você com tesão?- provoquei,
cutucando- o com o cotovelo.
Alfonso: Qualquer coisa relacionada a você, o que é bom pra nós dois, já que você é
insaciável. Me mande uma mensagem quando terminar a aula e eu passo na sua casa.
Revirando a bolsa, peguei o celular para ver se ainda estava carregado e vi uma mensagem de
Christian. Era um vídeo, acompanhado de um breve texto: Herrera sabe que o irmão dele é
um fdp? Fique longe de CV, gata, bjs.
Comecei a assistir à filmagem, mas demorei um tempo para descobrir do que se tratava.
Quando enfim entendi o que havia ali, senti meu sangue gelar.
Alfonso: O que é isso?- Ele perguntou com os lábios colados em meus cabelos. Depois senti
seu corpo todo enrijecer atrás de mim, o que comprovava que ele estava vendo tudo.
O vídeo havia sido feito na festa dos Vidal. Pelas paredes de plantas ao redor, dava para ver
que ele estava no labirinto, e pelas folhas emoldurando a imagem, dava para ver que ele
estava escondido. Os protagonistas da filmagem eram um homem e uma mulher em um
abraço apaixonado. A bela mulher estava aos prantos, ao passo que o homem a beijava em
meio a suas palavras frenéticas e a consolava com carícias.
Estavam falando sobre mim e Alfonso, dizendo que eu estava usando meu corpo para faturar
alguns de seus milhões.
: Não se preocupe, Christopher disse num tom suave a uma Amanda perturbada. — Você
sabe que o interesse de Alfonso nunca dura muito.
Amanda: Com ela é diferente. Acho... acho que ele está apaixonado.
Ele deu um beijo na testa dela.
Christopher: Ela não faz o tipo dele.
Apertei os dedos de Alfonso entre os meus.
À medida que o tempo passava, o comportamento de Amanda aos poucos foi mudando.
Ela começou a ceder ao toque de Christopher, sua voz se tornou mais suave, sua boca, mais
acessível. Para um observador externo, logo ficava claro que ele conhecia bem seu corpo
sabia onde acariciar e onde apertar. Quando ela enfim reagiu à sua bem ensaiada sedução,
ele levantou seu vestido e transou com ela ali mesmo. O fato de que estava se aproveitando
da situação saltava aos olhos. Era visível em seu olhar triunfante de desprezo enquanto
enfiava o pau em uma mulher cujos pensamentos pareciam estar muito distantes dali.
Eu mal reconheci o Christopher que vi na tela. Seu rosto, sua postura, sua voz... era como se
fosse um outro homem.
Dei graças a Deus quando a bateria do meu celular acabou e a tela se apagou de repente.
Alfonso me abraçou.
Anahí: Credo! - sussurrei, aninhando-me junto a ele com cuidado, para não manchar sua
roupa de maquiagem. - Que horror. Sinto até pena dela.
Ele bufou.
Alfonso: Esse é o Christopher.
Anahí: Que filho da puta. Aquele olhar pretensioso na cara dele... eca. - Estremeci.
Beijando meus cabelos, ele murmurou:
Alfonso: Pensei que com Maggie ele não faria nada. Nossas mães são amigas há anos. Acho
que esqueci como ele me odeia.
Anahí: Por quê?
Por um instante me perguntei se os pesadelos de Gideon tinham alguma coisa a ver com
Christopher, mas logo afastei esse pensamento. Sem chance. Alfonso era vários anos mais
velho, e muito mais homem em todos os sentidos. Ele acabaria com a raça de Christopher.
Alfonso: Ele acha que não recebeu atenção suficiente quando éramos crianças. - Ele
respondeu com um toque de irritação, - porque estava todo mundo preocupado em saber
como eu me sentia depois do suicídio de meu pai. Então ele quer tirar o que tenho. Tudo o
que puder.
Eu me virei para ele, enfiando os braços sob seu paletó para me sentir ainda mais próxima.
Havia algo em seu tom de voz que me fez sofrer por ele. A casa em que foi criado lhe causava
pesadelos, e ele se mantinha totalmente distante de sua família.
Ele nunca havia sido amado. Era simples e complicado assim.
Anahí: Alfonso?
Alfonso: Hã?
Eu me afastei para olhar para ele. Depois estendi a mão e percorri com o dedo suas
sobrancelhas robustas.
Anahí: Eu te amo.
Um tremor tomou conta de seu corpo, e com força suficiente para que eu o sentisse
também
Anahí: Eu não queria assustar você, - disse logo, olhando para o outro lado a fim de lhe
proporcionar um pouco de privacidade. - Você não precisa fazer nada a respeito. Só não
aguentava mais esconder como me sinto. Agora você já sabe.
Ele agarrou minha nuca com uma das mãos; a outra desceu até minha cintura e me pegou com
força. Alfonso me manteve assim, imobilizada, pressionada junto a ele como se fosse fugir.
Sua respiração e seu pulso estavam acelerados. Ele não disse mais nada no restante do
trajeto, mas também não tirou as mãos de mim.
Eu planejava dizer isso de novo algum dia no futuro, mas, para uma primeira vez, acho que
até nos saímos bem.
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