História Tonight - Capítulo Único

 -- Eunji abriu seus olhos mas não conseguia visualizar uma única coisa à um centímetro de distância de sua face. O céu especialmente estrelado a fez sorrir, a luz proveniente das estrelas eram as únicas naquele ambiente. A pequena percebeu que estava deitada na grama e logo tentou se sentar, sendo impedida por uma dor demasiadamente forte em seu abdômen e pernas. Após diversas tentativas, finalmente conseguiu se sentar, suspirando profundamente.

- Eunji-ya?

Eunji olhou para os lados na tentativa de achar a pessoa que a chamara. Por mais que forçasse seus olhos para enxergar algo naquela escuridão, não adiantava.

- NOONA? - Os olhos de Eunji se arregalaram ao reconhecer quem a chamava.

- MINKI? - Eunji se levantava desajeitadamente devido à dor intensa que sentia.

Após fazer um grande esforço e finalmente conseguir ficar de pé, Eunji seguia mancando, tentando achar seu irmão.

- Noona! - Minki a chamou novamente.

- Minki! 

- Noona, agora é sua vez! - Minki, de repente, estava sentado ao seu lado.

Eunji olhou para os lados com estranheza, estava no carro com sua família. Uma música tocava ao fundo na rádio e Minki a olhava como se esperasse por uma resposta.

- Minha vez? - Eunji perguntou, confusa.

- É! Onde acha que vamos? - Minki estava radiante.

- Ao cinema? - Eunji arriscou.

- Já que esse é um dos raros momentos em que seu pai está conosco, vamos ao restaurante - Sua mãe respondeu.

Minki vibrou, logo Eunji se deu conta de que era o aniversário de seu irmão. A pequena apertou suas bochechas gorduchas e beijou-lhe a testa.

- Parabéns, Minki! - Eunji disse, bagunçando o cabelo do outro.

- Meu garotão está crescendo! - Seu pai disse olhando pelo retrovisor com um grande sorriso.

Eunji entrelaçou seus dedos aos de Minki e observava seus pais conversando nos bancos da frente, mas um clarão a cegou. Seu corpo parecia flutuar mas os gritos de sua família foram ensurdecedores. --

Eunji abriu os olhos, levantando-se rapidamente, estava ofegante e suada. Sabendo que dificilmente voltaria a dormir, a pequena decidiu tomar um banho. Era inevitável pensar no dia em que tudo aconteceu e isso só tornava tudo pior. As memórias daquele dia a assombravam a cada instante e sempre a levavam a ter pesadelos todas as noites desde então.

Eunji andava a passos lentos, afinal, não faria diferença se ela fosse rápida ou não. Agora não mais. A pequena foi até a cozinha procurar por algo para comer, mesmo sem fome. O que Eunji realmente buscava era esquecer tais lembranças mas parecia impossível. Se olhasse para a pia, lembraria de sua mãe preparando diversas refeições maravilhosas. Se olhasse para os chocolates, lembraria de Minki, que os devorava facilmente. Se olhasse para a pequena varanda, lembraria de seu pai cochilando em sua cadeira favorita. Cada pequeno detalhe a fazia sofrer mais, então foi em busca do que a ajudaria momentaneamente e também seu grande companheiro: álcool. 

Para o grande azar de Eunji, não havia restado uma única gota sequer. Foi então que a pequena se lembrou da noite anterior, em que dormira dentro da banheira. Efeito do álcool. A vontade que sentia de gritar para aliviar toda a dor que vinha guardando era imensa, mas Eunji sabia que isso de nada adiantaria, a não ser para destruir sua garganta. Subitamente, a ideia de sair andando pelas ruas sem rumo veio à sua mente. A pequena saiu de seu pequeno apartamento e simplesmente andou. Vagava livremente pelas ruas de Seul, contemplando a paisagem noturna. Teria sido melhor se eu não tivesse resistido..., Eunji pensou. Após um bom tempo andando, a pequena parou perto de uma ponte, observando o rio que corria lentamente, aproximando-se do parapeito e apoiando-se ali. Eunji analisava a água escura que refletia parte do brilho proveniente das estrelas.

Não demorou muito para a pequena já começar com seus habituais questionamentos sobre a vida. Eunji já havia perdido as contas há muito de quantas vezes se perguntou se valia a pena continuar, se não seria melhor desistir de tudo o que lhe restara e simplesmente ir. Sua cabeça latejava fortemente e, pra piorar, o fino casaco que trajava não estava mais dando conta do frio.

- Por que dá tudo errado na minha vida? - Eunji murmurou, suspirando profundamente em seguida.

A pequena fechou os olhos, tentando segurar o choro que vinha guardando há um bom tempo, mas, de repente, sentiu algo quentinho em seu braço. Eunji ficou ereta rapidamente e olhou para o lado. Uma garota estava a seu lado, encarando as estrelas enquanto tomava café. A pequena olhou para seu braço e viu que tinha um copo de café exatamente igual ao da outra garota. Eunji pegou o copo e olhou para a menina ao seu lado.

- Café? - Eunji indagou. Poderia ser cerveja..., pensou.

- Não é qualquer café, é um Americano Coffee, o que torna mais saboroso e especial. E é bem melhor do que se viciar em cerveja, vai por mim. - A menina disse, fazendo Eunji ficar de boca aberta pois era como se tivesse lido seus pensamentos.

- Ahn, você não iria dar isso para outra pessoa? Quer dizer, você não está acompanhada? 

- Não. Eu ia tomar os dois mas aí eu vi que você estava aqui tremendo de frio e trouxe até você.

- Obrigada - Eunji disse sem jeito, não sabia o porquê de estar sendo bem tratada repentinamente por uma desconhecida.

O silêncio se fez presente enquanto ambas encaravam o céu. Eunji ainda mantinha-se pensando no pesadelo que tivera. O pesadelo que também poderia ser chamado de "realidade".

- Sabia que não é possível arrotar no espaço? - A garota encarava séria o copo de café.

- Como assim? - Eunji a encarou sem entender o que ela queria dizer.

- É, devido à baixa pressão presente...

- Não, quer dizer... - Eunji disse interrompendo-a, acabando por soltar um riso - De todas as coisas que você poderia ter dito, você diz sobre arrotar no espaço.

- Já parou pra pensar em como seria legal ir lá? Se isolar um pouco de tudo e todos, e esquecer tudo por um momento.

Eunji permaneceu quieta, mordendo o canudo de seu copo. A coisa que mais odiava no mundo era ficar sozinha, principalmente depois de tudo que acontecera, mas como não tinha escolha, era assim que vivia. A pequena não poderia negar que já havia se acostumado, mas, ainda assim, era uma sensação horrível. Eunji logo retomou as memórias do momento mais angustiante de sua vida, sua cabeça parecia que explodiria a qualquer segundo. A pequena, apesar de ter tentado ao máximo, não conseguiu se segurar e, quando se deu conta, pôde sentir as lágrimas escorrerem em seu rosto.

Eunji abaixou sua cabeça rapidamente para que a outra não percebesse que estava chorando. A pequena respirava fundo, tentando fazer com que aquelas teimosas lágrimas que insistiam em cair parassem.

- Esquecer seria ótimo - Eunji finalmente disse.

- Então vamos pensar em outras coisas, como... - A outra encarava seriamente seu copo de café - ...pudim!

- Café te fez mesmo pensar em pudim? - Eunji não poderia negar que aquela conversa louca estava começando a entretê-la.

- É bom pensar em coisas aleatórias pra refrescar a mente, de vez em quando. É o que eu faço - A menina disse e sorriu docemente para Eunji.

A pequena, até então, não havia reparado na outra. Sua beleza era descomunal e seu sorriso meigo a fez, de certa maneira, sentir-se acalentada, de um modo que há muito não sentia. Foi então que Eunji lembrou de Minki, sorrindo para si todas as noites quando ia receber um beijo de boa noite. A pequena suspirou profundamente, encarando o chão e tornando a ficar quieta.

- Você ainda não tomou seu café, precisa se alimentar senão vai acabar passando mal.

Eunji apenas gesticulou sua cabeça afirmativamente, ingerindo um pouco do líquido. Ainda pensava no porquê da outra ainda permanecer ao seu lado, porque insistia em ser tão gentil com alguém que simplesmente vira ao andar pela rua. A pequena então pensou em tudo o que ouvira essa noite, analisando o objeto em suas mãos. Foi então que  visualizou o nome escrito no copo. Chorong.

- Chorong - Eunji murmurou.

- Sim? - A outra a olhou - Espera, como sabe meu nome?

Eunji virou o copo, indicando-lhe onde estava escrito o nome.

- Isso foi meio óbvio - Chorong disse, sorrindo timidamente, abaixando sua cabeça para esconder as bochechas levemente coradas.

Eunji a observava. Como pode ser tão fofinha?, pensou. Minki riria de mim se visse isso, a pequena pensou e, mais uma vez, fez-se quieta.

Chorong a olhava, talvez pensasse que fosse louca por mudar de humor tão instantaneamente, por rir em uma hora, mas logo em seguida ficar encarando o chão seriamente. Eunji sempre foi uma pessoa segura, mas após o ocorrido, tornou-se fechada e insegura. Vivia com medo de ser julgada por qualquer coisa que viesse a fazer, mesmo as consideradas mais bobas. Quando viu Chorong entregar-lhe o café, ficou com receio mas, diferentemente do que pensara, a outra havia transmitido uma paz enorme, que há muito vinha buscando.

Eunji tomava seu café silenciosamente, quando foi surpreendida por Chorong, que repousara a mão em seu ombro, como uma forma de confortá-la. A pequena a olhou rapidamente e ganhou um sorriso, que a fez sorrir inconscientemente.

Sorrir também era algo que Eunji não fazia há um bom tempo. Para ela, não havia mais motivos que a fizessem querer sorrir ou até mesmo a continuar respirando, mas Chorong conseguiu o inesperado.

- Olha, tenho que dizer que foi bem difícil, mas consegui fazer você sorrir um pouco hoje - Chorong disse, era como se ela tivesse acesso aos seus pensamentos.

Eunji não sabia muito bem o que dizer para a outra, apenas sentia-se grata por poder se esquecer um pouco de seus tormentos rotineiros. A pequena deu a última golada no café, acabando por fazer o pequeno barulho do líquido no canudo assim que se esgota. Foi então que ouviu a risada de Chorong.

- Eu tenho que ir embora - Eunji disse. Não sabia ao certo porque dissera isso, quando, na verdade, sua vontade era continuar ali.

- Tudo bem - Foi a única coisa que Eunji ouviu Chorong dizer. Se virou rapidamente e seguiu, antes que a outra dissesse algo a mais, retomando o caminho que a levaria de volta para casa.

A brisa estava gelada, Eunji andava calmamente. Não queria ir para casa, mas não tinha outro lugar para ir, e, também, a essa hora, os locais que raramente frequenta estão fechados.

- Onde vamos? - A voz de Chorong espantou a pequena, que estava totalmente absorta em seus próprios pensamentos.

Assim que se virou para trás, Eunji não se deu conta apenas de que Chorong a seguia, suas mãos estavam entrelaçadas. A pequena sentiu suas bochechas esquentarem, não sabia ao certo quantas vezes murmurou um "me desculpa" para Chorong, que sorria para si.

- Não tem problema - A outra disse, com uma de suas mãos na bochecha de Eunji.

A pequena já estava pronta para partir novamente, quando Chorong a chamou.

- Espere, você não me disse como se chama.

Com um tímido sorriso, a pequena respondeu: Eunji.

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Argh, por quê isso tem que acontecer toda noite?, Eunji murmurou estressada no silêncio de seu quarto.

Após um tempo encarando o teto, Eunji se levantou e, mais uma vez, decidiu sair de casa para dar uma caminhada. Refrescar a mente, como Chorong dissera na noite anterior. A pequena refez o trajeto do último dia, parando exatamente no mesmo lugar. O céu, anteriormente estrelado, estava coberto por nuvens cinzas. Eunji observava tudo atentamente, tentando focar apenas no céu que anunciava uma chuva que se aproximava.

Seguindo o conselho de Chorong, Eunji tentava ao máximo pensar em coisas aleatórias para refrescar a mente. Estava ocupada demais que quase não percebera algo quentinho que havia encostado em seu braço. Olhou para o lado e sorriu ao ver Chorong tomando seu café a contemplar as nuvens acinzentadas.