Às vezes dou por mim a perguntar-me: "No que a minha vida se tornou"?
Talvez seja por minha culpa que nada dê certo na minha vida, isso aplica-se a diversas situações: no amor; no trabalho; nas amizades…Em tudo! Penso que o problema não seja dos outros ou da época do acaso, o problema acaba sempre por cair em mim. Ou talvez eu tenha simplesmente insegurança (o que também acaba por ser um problema). E por mais que ache idiota questionar-me sobre a minha própria postura e insegurança, continuo por sem saber no que e como mudar.
- Ei. - ouço de fundo aquela nova voz da casa e levanto os olhos, acordando dos pensamentos - Estavas a adentrar a mente por segundos, mas pareces preocupado…Está tudo bem?
- Ah? - ajeitei-me no sofá - Sim, e porque perguntas? - questionei-o, desinteressado pela sua preocupação.
- Bem, como agora és minha propriedade, tenho que me preocupar com a tua saúde tanto mental quanto física.
- Ah? Primeiro, eu sei me cuidar porque já sou um adulto; segundo, quem sequer mencionou que eu seria a tua "propriedade"?
- Quando algum animal marca algum sítio, automaticamente, todas as coisas ou pessoas que se encontram nesse lugar ficam devotas ao poder de quem marcou então, aconselho a habituares-te. - ele falou, ríspido pela primeira vez.
-Ahahahah! Claro, irei ajoelhar-me perante um rafeiro e pedir gentilidade, sim, sem dúvida. - respondi ironizando fortemente a situação.
Parei de judiar quando os meus olhos cruzaram os seus que, por sua vez, estavam demasiado sérios e brilhantes, observando-me rir da situação. Foi assim que, em questão de segundos, a minha expressão, antes risonha, foi preenchida por um aroma sério que matou completamente a *vibe* e fez a minha nuca arrepiar-se.
- Estavas a brincar, certo? - para minha pergunta tive a negação dele com a cabeça como resposta.
Levantei do sofá e caminhei de cabis baixo cinco passos, parei e voltei rapidamente o olhar para ele que, por sua vez, estava sentado no sofá repimpadamente. Um *click* ativiou-se como por magia na minha cabeça e a minha única possível reação foi voltar correndo para o sofá.
- Diz-me, por favor, que não estamos ligados! - baforei de um tom demasiado dramático.
E, novamente, obtive como resposta um aceno que me sugou metade das forças ao ponto de me fazer descair os ombros.
- Mais uma bosta no meio do caminho, perfeito! - murmurei, cansado e de ombros mortos.
- Desculpa, mas essa "bosta" a que te referes está bem aqui à tua frente e sabe muito bem como tratar as pessoas, ao contrário do que aparenta. - ele defendeu-se como que ofendido.
- Shh… Não digas nada. Eu só quero morrer neste momento.
Não pude ver a expressão de…de…Agora que me lembro, eu ainda não sei o nome desta criatura!
Levantei lentamente a cabeça, de olhos humedecidos e boca-entre-aberta.
- Não posso nem saber o nome do meu superior?
- "Superior"? Cruzes, não sejas dramático! E como resposta à tua pergunta, o meu nome é Otvazhnyy.
- Saúde. Agora, qual é o teu nome?
- Já te disse, Otvazhnyy.
- Ah…Ahahah - ri sem graça, totalmente desconfortado e coçando a cabeça - Prazer, Otvaxi.
- Otvazhnyy - ele corrigiu, sério.
- B-bem…Eu sou o Kenma, e posso chamar-te de "Ota"?
- Se te der mais jeito, por mim, tudo bem. - ele respondeu, finalizando com um sorriso extremamente atraente e inocente ao mesmo tempo. Um sorriso que provocou um leve arrepio na minha espinha.
- Agora… - quando me distraía desviando o olhar daquele perigoso sorriso, ele aproveitou para chegar o seu corpo mais perto do meu com um simples pulo que me fez despertar e erguer os olhos. - Devíamos discutir interesses, sabes, essas coisas simples que fazem diferença na hora de satisfazer alguém.
O que ele quis dizer com "satisfazer"?
- C-como assim? - tremulamente respondi, inclinando para trás o meu peito e erguendo uma das sobrancelhas.
- Sabes, era só uma partilha de informações para nos conhecermos melhor. Agora que sabemos o nome de cada um, devemos partir para outras arestas, se é que me entendes. - e assim terminou com um piscar de olho.
Com um dedo posicionado na testa de Ota, afastei a cara dele da minha e seguidamente ajeitei o rabo no sofá, levemente constrangido.
- Se queres saber mais sobre mim, porque não fazeres por isso? - e desafiei.
- Hum…Guia-me.
- Vamos jogar. Vou-te dizer duas verdades e uma mentira e tu tens que adivinhar qual as verdades e qual a mentira, caso contrário, fazes o jantar, e vice-versa! - propôs, animado com a ideia
- Boa ideia porém, falta um ponto: Se eu não quiser fazer o jantar? - deveria parecer um resmungo porém, ele tornou a pergunta numa mera provocação.
- E porque não aceitar? És um homenzinho, né? - então eu resmunguei de braços cruzados, ato que o fez rir.
- Esqueces-te de que estou no meu território e és minha posse.
Ahhh! Agora lembro-me do porquê de querer morrer…
- Bff…Vais utilizar isso como desculpa? Que infantil… - a última parte da frase saiu como um murmúrio.
Num movimento rápido e quase imperceptível, Ota rodou o seu corpo para cima do meu, sentando-se no meu colo com ambas as pernas em volta da minha cinta. Não havia escapatória pois os seus braços bloqueavam as duas saídas possíveis. A única coisa que pude fazer foi prender a minha respiração quando a sua boca procurou o meu ouvido.
- Eu sei bem como ser um homenzinho, olha, estou a fazê-lo bem agora. - o som que reverberou no meu sensível ouvido fez deslizar um arrepio ponta cabeça.
Encontrava-me numa situação muito pouco favorável. Ota prendia o meu colo e cabeça enquanto sorria maliciosamente e provocava-me com as sua falas. O meu sangue palpitava mas não queria deixar-me vencer pois o meu orgulho ainda não queria ser manchado.
- Isso é cobardia, seu idiota. - tomei a atitude de levantar o braço que até então achava que estava morto e empurrar com a mão o corpo de Ota de volta para o seu lugar.
- Tá, tá… No touching… Vamos lá então! Começas tu.
Suspirei, recompôs todos os meus sistemas interiores, regulei a temperatura corporal e ajeitei-me no sofá.
- Ok. Eu tenho vinte e um anos; estudo engenharia informática; e eu sou adotado.
Após ouvir o leque das opções ele limpou a garganta e compôs-se novamente.
- As verdades são: tu tens vinte e um anos e estudas engenharia informática; A mentira é: és adotado.
- Beeehh! Errado! Eu não estudo engenharia informática mas sim direito. Isso faz de "sou adotado" verdade.
- Hum…Pena, não acertei. Agora sou eu. - ele fixou os seus mirantes cinzas nos meus que, por momentos, fraquejaram - Eu sou russo; Sou um dos maiores proprietários de territórios; Quero muito beijar-te.
Ah? Aquilo foi uma opção? Verdade? Mentira? Porque raio o meu coração apertou tanto quando ouviu aquilo? E porque sinto as minhas bochechas corarem instantaneamente?
Calma Ken…É só mais uma das infinitas provocações dele.
Suspirei, humedeci os lábios e retirei de foco os seus olhos para me concentrar um algum outro ponto aleatório da parede rústica.
Juro que quando ele disse aquilo que os meus olhos cederam um pouco e logo a seguir piscaram diversas vezes como se não tivessem também processado o que ele dissera. O meu cérebro embrulhava-se entre a mistura do leque de opções que ele me havia dado, especialmente a última opção, e a possível resposta que tinha de lhe dar.
- B-bem… A mentira é que não és russo.
- Ahahah…Erras-te! Eu sou russo, por incrível que pareça.
- Não pareces mesmo. O teu rosto é muito diferente da comum estrutura facial russa, tirando a palidez. Mas, afinal, qual é a mentira?
- Hum…E se eu te disser que não há mentira?
-Se me disseres isso eu responder-te-ei que fizeste batota.
- E se me punires com a última verdade?
- E se eu não quiser?
- Então eu, como teu proprietário, vou tomar medidas.
- Isto virou um encontro? Porque raio ele ainda está aqui, Kenma? - uma outra voz entra na conversa e vejo Prince parada na porta da sala de braços cruzados e olhar cerrado em direção a Ota que, por sua vez, revirou os olhos e pareceu aborrecido com a intervenção.
- Bom dia para ti também, Prince. - e respondeu com a maior lassidão existente.
- Eu não entendo ainda porque, mesmo depois de te ter advertido quanto a este rafeiro, ainda o deixas cá ficar e providencias simpatia! - ela exclamou, quase gritando enquanto mantinha as sobrancelhas carregadas e uma aura negra.
- Prince, ficou decidido que ele ficaria aqui esta semana, caso ele fizesse algo que não me agradasse, ele sairia. - respondi-lhe calmamente para não acordar as marés vivas do seu humor.
- Claro, daqui a uma semana já nem casa tens.
- Não mudas o teu humor e por isso ainda continuas solteira. - e no pior dos momentos, Ota decide meter mais lenha na fogueira.
- Disseste o que? - Prince reforçou. Ai, vendo uma tempestade a aproximar-se.
Eu queria de muitas maneiras parar aquela bomba que não tardava em ser lançada mas entre estes dois eu prefiro o meu silencio.
- Disse que à conta desse teu humor de bosta ainda continuas uma gata encalhada. - ele reforçou, já mais sério.
- Nunca vi ninguém a arrasar corações por conta do humor, aliás, tu és uma prova disso.
Ouch! Não queiram entrar numa discussão com Prince pois ela sabe como nocautear.
- Bem, eu só não arraso porque não quero, senhora sabe tudo. - Ota realmente estava a ficar aborrecido com o humor hediondo de Prince. Preocupo-me nas possíveis brigas que se gerarão entre estes dois.
- Oupa, oupa, já chega! Eu estou aqui e dentro da minha casa só se discute quando não se fecha a porta de entra, combinado? Agora, parem com esse lança- bombas e façam o favor de me explicar em como se conhecem. - intervi, sendo cauteloso de não deixar intervir ninguém nas minhas falas longas afim de acalmar certos ânimos.
- Longa história... - Ota, que ainda não se havia levantado do sofá, respondeu.
- Sim, eu sei, mas estou disposto a ouvi-la. - respondi-lhe com certidão na minha fala, coisa que não acontece com frequência.
- Porque queres tanto saber disso? - foi a vez de Prince se pronunciar.
- Por que talvez mereça saber o porquê de se odiarem tanto!
Após a minha fala um silencio adentrou a sala e até então, ninguém havia movido um músculo a não ser eu, que olhava de cara em cara aqueles dois. Até que Prince ergue a cabeça e olha-me fixamente antes de abrir a boca para falar:
- Eu e ele já fomos namorados.
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