Como aquilo tinha acontecido? Porque aquilo tinha acontecido? Nunca a vontade de voltar para casa foi tão grande, assim como nunca imaginou que um humano teria a coragem de adentrar tanto a floresta, ou talvez tenha sido o fato de ela ter se afastado demais de casa. Não saberia dizer assim como sua impotência perante aquela situação.
— SOCORRO. - Gritava a pequena elfa enquanto era arrastada cada vez mais longe da floresta. Seu pânico aumentou ainda mais quando sentiu ser amordaçada e jogada em uma gaiola.
Tentou mais uma vez usar magia contra seus agressores, mas as runas presas em seus pulsos a impedia de usá-la. As lágrima manchavam seu lindo rosto, e antes que pudesse fazer qualquer coisa sentiu-se ser acertada na face e caiu perdendo os sentidos.
—
Humanos, os seres mais odiosos sem dúvida, caçam criaturas e as escravizam a seu bel prazer, sem se importar com nada além de seu próprio egoísmo. E a pequena elfa descobriu isso da pior forma que poderia.
Quando acordou olhou em volta e percebeu assustada que estava em um lugar fechado e úmido, fazendo com que as imagens da noite anterior lhe acertarem como uma flecha, levantou e tentou ir de encontro a porta mas acabou por tropeçar em algo, que só então percebeu se tratar de um grilhão preso em seu tornozelo e runa que lhe impedia de usar magia gravada nele.
No mesmo instante caiu de joelhos e começou a chorar, esperando que realmente acordasse daquele pesadelo.
—
E daquele dia em diante ela chorou, se desesperou e tentou fugir incontáveis vezes, mas nada mudou, suas ações apenas deixavam tudo pior e o tempo foi passando.
1, 2, 3… 10… 20… 30 anos e sua situação pouco havia mudado, não chorava mais, seus sorrisos eram quase todos falsos, assim como havia desistido de suas tentativas de fuga. Ela já não era mais a mesma, apesar de sua aparência não ter mudado em praticamente nada, - com a exceção do rosto marcado com uma grande cicatriz negra, adquirida como punição por uma de suas fugas - sua personalidade mudou tanto que sua família jamais a reconheceria se um dia voltassem a se encontrar.
Ouviu a trombeta soar e os gritos da plateia aumentarem drasticamente, respirou fundo, pegou seu arco e a aljava que lhe foram entregues assim como uma espada que prendeu na cintura e saiu em direção a multidão, com um sorriso nos lábios erguendo o arco fazendo a platéia vibrar.
— BLACK SCAR! BLACK SCAR! - a multidão gritava, não sabia dizer quando foi que começaram a chamá-la assim, mas desde então foi o nome que usou, sua culpa não a deixa mais usar seu próprio nome.
Havia sido jogada naquela arena alguns anos depois de se tornar escrava. E ali teve de aprender a sobreviver, teve de aprender a matar, usar suas flechas para ferirem sua maioria seus iguais. Isso a matava por dentro.
E mais uma vez havia uma igual em sua frente.
Quando seus olhares se cruzaram, puderam ver o sofrimento nos olhos uma da outra. Uma por estar tão exposta ao sol, - Elfos negros não sobreviviam tanto tempo expostos ao sol, - que sabia que não conseguiria se manter em pé por tanto tempo sem devida proteção, outra por saber da condição daquela que assim como outros tantos considerava uma amiga.
Não era a primeira vez que isso acontecia, a agonia de lutar com um amigo, um irmão, tendo que divertir aquele bando asqueroso.
As duas se preparam, e avançaram. Se atacavam com rapidez e agilidade tentando a todo custo acertar os pontos vitais uma da outra, haviam treinado juntas, conheciam suas habilidades e falhas, e nesse momento usavam isso para tentar ganhar.
Mas a elfa negra já dava sinais de cansaço, ficará mais lenta e seus golpes menos precisos, ambas sabia qual seria o resultado daquela luta, ambas sabiam o quanto aquela luta era injusta e quando a pequena elfa que a multidão insistia de chamar de Black Scar tomou distância e lançou sua flecha, pode ver a elfa negra em sua frente mover os lábios nos que ela pode ler claramente um “obrigada” e sorrir no momento em que sua flecha lhe perfurou o coração caindo então inerte no chão.
Teve de se controla, ergueu o arco novamente gritando, o que para a platéia parecia um grito de vitória para a elfa era um grito de dor, de culpa, de agonia. Não podia fraquejar ali, era pior se o fizesse. Engoliu as lágrimas e sumiu outra vez para dentro de seu cativeiro.
—
Pouco antes do espetáculo começar duas pessoas aparentemente suspeitas, cobertas das cabeças aos pés adentraram na Arena e se posicionaram na arquibancada.
— Tem certeza que ela está aqui Thasne? Tem certeza que não é mais um engano? - O rapaz escondido em roupas perguntou irritado a sua companhia.
— Nós já procuramos por tudo Lesdag. Se Dehnyë não estiver aqui a chance de a encontrarmos vai para perto de zero. - Suspirou, torcendo para que dessa vez a encontrassem.
O dia em que sua irmã fora levada fora desesperador, mas nada foi pior que ter que dar a notícia ao cunhado, lhe dizer que Dehnyë fora leva para lhe salvar doeu mais que não ter conseguir impedir de a levarem. E desde então os dois andavam escondidos entre os humanos sem se importarem com os riscos, e isso já durava uns bons 10 anos.
Então finalmente o show de horrores iria começar, os dois elfos negros olhavam chocados para a primeira gladiadora, que era exatamente a quem procuravam, não tiveram tempo para sentir a felicidade de encontrá-la. Não quando estava tão exposta ao sol, não quando a outra gladiadora entrou, de longe eles podiam ver o quão injusta era aquela luta, uma elfa negra enfraquecida pelo sol contra um elfa da floresta ou como alguns chamavam, uma elfa de luz que tirava suas forças da luz do sol.
A multidão gritava e deixaram de perceber o momento em que ambas se encararam, coisa não passou despercebida para os dois elfos que agora tentava chegar mais perto arena, eles precisavam parar aquela luta a qualquer custo.
Quando a luta começou o desespero de passar pela multidão aumentou, mas era muita gente bloqueando o caminho, e quando finalmente chegaram na borda da Arena já era tarde, olharam a tempo de uma flecha atravessar o peito de Dehnyë.
Thasne se viu perdendo a irmã mais uma vez, só que dessa vez com o choque de que ela nunca mais a veria. Já Lesdag sentiu seu mundo ser destruído. Sentiu o ódio crescendo em seu peito.
Ódio pelos humanos que colocaram ali, ódio por aqueles que a obrigaram a lutar tão enfraquecida, ódio da tal Black Scar que havia disparado a flecha que matará sua amada. Ódio de si mesmo por ter sido tão inútil e ter deixado isso acontecer.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.