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História Tormento - A espreita de um Resgate


Escrita por: trishakarin

Capítulo 12 - A espreita de um Resgate


Lauren e Camila já caminhavam debaixo do sol escaldante, amparadas pelas árvores com folhas secas que se espalhavam pelo caminho. Por sorte ou a esperança que ainda tinham cravadas no peito, encontraram mais daquelas frutas que vinham comendo. E um último respiro esperançoso vinha nas nuvens que ao horizonte traziam chuva. Aquela visão era um empurrão mais do que suficiente para frente, dando a coragem que já lhes deixavam as pernas, permanecer dentro dela por mais algumas horas.

Já a esperança que embarcava em um possível resgate de suas vidas já se dissipava. Sabiam que as chances de serem resgatas reduziam a cada novo amanhecer. Logo teriam a certeza que já não a iriam mais procurar por elas, acreditando na morte das garotas. Mas por respeito e honra das mesmas, seus corpos seriam lentamente procurados, para que pudessem ser enviados às suas famílias em gesto humanitário. Talvez realmente encontrassem seus corpos, pois não sabiam o quanto mais suportariam aquela situação.

- Será que ainda procuram por nós? - Camila perguntou curiosa.

- Acredito que sim.

- Será que vamos sair dessa de alguma forma?

- Só precisamos encontrar uma cidade e já andamos tanto que com certeza estaremos cada vez mais perto - Lauren disse com um sorriso esperançoso.

Embora não acreditasse mais que sairiam daquela situação ainda com vida, tinha que passar uma imagem positiva. Não podia contaminar Camila com seu medo da situação a qual se encontravam, ante seu pessimismo ou desesperança.

Seu coração disparou violentamente ao ouvir o ronco grosseiro de um motor vindo a frente, seguindo para a direção contrária a elas. Aquele som ensurdecedor fizeram com que as duas se jogassem ao chão imediatamente, ocultando-se entre as folhagens. Ato que já vinham fazendo desde que saltaram do veículo em movimento. Lauren podia ver distante, uma moto avançar velozmente, sem qualquer hesitação. Aquele ponto preto se aproximava cada vez mais e o medo tomou conta das duas. Ainda que fosse uma pessoa de boa índole, só haveria um lugar em seu veículo e jamais deixaria Camila partir sem ela e muito menos deixaria a garota sozinha em meio aquele infinito de árvores e deserto. Além disso, diante sua situação, precisavam se certificar sobre a conduta do motoqueiro, antes de pedir por ajuda. O risco de ser um dos mandantes ou comparsas do sequestrador era grande, tendo em vista que seguia para a mesma direção do vilarejo que deixaram para trás.

O som do motor aumentou e o barulho apontava a redução da velocidade, até sua parada completa cerca de dez metros de onde haviam se escondido. Era surpreendente a sorte ou azar que tinham quanto aos veículos que passavam. Sempre paravam ou decidiam procurar por áreas próximas. Lauren temia que o homem estancasse e iniciasse uma busca pela área. Um chiar e uma voz berrava em espanhol. Parecia um rádio local que tocava na moto do rapaz. Ambas entendiam a língua com facilidade, ficaram atentas ao que ela dizia enquanto o homem descia da moto e caminhava em direção as árvores para aliviar a bexiga que parecia ter pressionado seu corpo com força, a ponto da necessidade de parar meio ao nada.

- Duas das cantoras que se apresentariam na noite do sábado passado, foram drasticamente sequestradas pouco antes de subirem ao palco. - dizia a voz da locutora de rádio, com um tom bastante abalado e sério - Equipes de busca varreram a área do show e logo iniciaram buscas ao redor do estado a procura das duas garotas. Na manhã de hoje, seus corpos foram encontrados em um deserto na fronteira do país e encaminhados para o instituto médico, onde permanecerão sob avaliação a fim de descobrirem se as garotas sofreram ou não algum tipo de agressão que possa ajudar a desvendar o caso. Quando seus corpos forem liberados, serão levados às suas cidades. Diversas são as mensagens de desolação dos fãs diante a notícia e antes…

Sua voz fora interrompida pelo som estridente de um aparelho celular que tocava e o homem que aliviava a bexiga ali perto correu para atender. Sua voz era alta, como se o sinal não estivesse bom e ser ouvido fosse quase impossível.

- Como é? Eu ouvi agora - disse em uma gargalhada - Final das contas aqueles idiotas conseguiram mesmo. Mas eu soube pelo guardinha da cidade vizinha que têm federal do Brasil bisbilhotando, então fica esperto - houve uma pausa, enquanto a rádio agora apresentava as músicas e não demorou muito o homem voltou a gritar - Cara, como as gurias foram encontradas na área de cá, sei lá como aquelas porras conseguiram caminhar, tenho certeza que querem investigar todo mundo. Mas é só não dizer “fui eu” - novamente caiu na gargalhada - Eu nem sei quem foi, acho que foram aqueles dois idiotas ou elas simplesmente não aguentaram e se foderam. Isso aí, manda geral ficar na tranquilidade, os federais estão por perto, então mande ficarem atentos e agir normal. As outras já se mandaram do país, então tem nem como terminar o serviço. Deu merda, já viu!

Ele apenas confirmou algumas coisas, subindo na moto, apoiou o celular por dentro do capacete e acelerou, já não poderiam ouvir mais suas conversas. Camila e Lauren se entreolharam aflitas. Haviam duas boas notícias e uma ruim. Era óbvio que saber que estavam mortas fazia com que os homens que as procuravam deixassem de procurar por elas ou estivessem atentos para o caso de esbarrarem com as duas garotas. A outra boa notícia, sem dúvida, era que policiais ainda investigam a morte das duas e com isso poderiam esbarrar com a polícia e haver então um resgate e teriam que explicar como os corpos das garotas foram encontrados, se elas estavam claramente vivas. A má notícia era que sendo declaradas mortas, não haveria mais buscas frequentes e poderiam morrer de fome e sede, sem que ninguém fosse atrás de seus corpos.

- Que corpos? - Camila perguntou curiosa - Como eles encontraram nossos corpos, Lolo?

- Eu não faço a menor ideia - Lauren disse confusa - Será que somos fantasmas?

A garota levou as mãos ao próprio corpo, apalpando como se com medo das mãos atravessarem por uma espécie de alma, algo que obviamente não aconteceu. Estavam vivas e claro que os corpos que diziam terem encontrado não eram delas. A dúvida a respeito de quais eram os corpos de garotas que encontraram invadiam suas mentes com força. Talvez fosse mentira deles, dos traficantes ou sequestradores. Talvez mataram inocentes para que a polícia impedisse as buscas. Não sabiam e talvez sequer viessem a saber.

Voltaram a caminhar ao lado da estrada, ainda com cuidado para que não ficassem tão visíveis caso algum veículo passasse. Pensavam no risco do carro de polícia passar e perderam a única chance de sobrevivência que tivessem, mas o risco de criminosos passarem ainda era maior que o risco de resgate.

O sol estava escaldante ao alto de suas cabeças, as árvores pareciam secarem a cada passo que davam, abrindo mais brechas entre seus galhos, deixando o calor atravessar. De repente Lauren estancou o passo, com o coração sobressaltado, agora acelerado e sua respiração ofegante dava lugar a um prender desesperado, acreditando que o som de suas respirações pudesse chamar a atenção de até quilômetros de distância.

Segurou Camila pelo braço, puxando-a para trás e escondendo-a ao seu lado, entre a vegetação. Lauren ouvia um farfalhar diferente entre as moitas e um quebrar de graveto anunciava a aproximação de algo, seja humano ou animal, havia alguém ali. Os sons se estancaram, podia crer que tudo não passava de nervosismo que batia em seu peito, mas o risco era grande, suas vidas estavam em jogo.

- O que está…

Lauren cobriu a boca de Camila tentando evitar que a garota falasse. Olhava atentamente para os lados, até que sentou-se esperando qualquer coisa. Mas nada, não havia nada ali. Por longos minutos nada havia acontecido, nenhum barulho, nada. Tinha medo de saltar para a trilha novamente e serem descobertas de forma trágica. Respirou fundo, manteve a amiga quieta por algum tempo, até que finalmente confiou em seus ouvidos de tal maneira a voltarem para a pequena trilha que se abria por entre as árvores.

- O que aconteceu?

- Eu ouvi alguma coisa. Parecia passos entre a trilha, achei melhor a gente se esconder, do que se deparar com algum daqueles imbecis.

Lauren voltou a caminhar a frente, sendo seguida por Camila. Naquele instante, era uma Camila silenciosa que seguia passo a passo atrás de si. Olhou para ela com curiosidade, a latina sequer olhava para frente e quando a cantora estancou o passo, esbarrou com seu corpo sobre o dela com força, caindo ao chão com o impacto.

- O que…

Mas não hesitou e sequer esperou que a garota murmurasse alguma coisa, ajoelhou-se ao chão, um joelho de cada lado do seu quadril, curvou-se em sua direção, tomou seu rosto entre as mãos e puxou-a para um beijo apaixonado. Não sabia mais por quanto tempo ficariam naquele lugar e agora sabia que seus corpos supostamente haviam sido encontrados e que talvez nenhum resgate as encontrariam. Até mesmo os policiais de seu país ou qualquer um que fosse iria se prestar a ir até o deserto, até aquela zona infestada de criminosos com armas em punhos, prontos para atirar em quem quer que fosse. Talvez jamais conseguisse dizer tudo o que estava engasgado em sua garganta e a união dos lábios puros de duas garotas inocentes que haviam sido levadas até o pior de seus pesadelos.

Lauren afastou seus lábios da latina, que agora a encarava surpresa, mas com um suave sorriso entre os lábios. Uma satisfação que era quase impossível diante aquela situação. Lauren engoliu a seco, respirou fundo fechando os olhos e em seguida sentando sobre seus próprios calcanhares, enquanto a latina inclinou-se sentando-se a sua frente. Tocou as mãos da garota com intenso carinho, procurando passar a melhor das energias para a parceira, percebendo que havia algo muito sério se passando com ela.

- O que está acontecendo com você, Lolo?

Camila perguntou com a voz suave, procurando passar um pouco de tranquilidade a garota, que agora tinha os olhos lacrimejando, os lábios tremiam e a pele empalidecia.

- Eu não queria vê-la passar por tudo isso, Cam - disse com dificuldade - Eu queria que estívessemos em nosso quarto, juntas. Mas ao mesmo tempo, talvez eu jamais conseguisse me aproximar de você como me aproximei desde que chegamos aqui.

A excitação por conta do acontecido na noite anterior palpitava em seu corpo ansiando pelo desfecho final daquele avanço entre as duas. Camila a observava atentamente, preocupada, porém anestesiada com tudo. Sabia que Lauren dizia a verdade e se não fosse por todos aqueles recentes acontecimentos, talvez sequer se aproximasse daquela magnitude. Embora soubesse também, que os sentimentos aflorados dentro delas já existiam, apenas tomaram consistência naquele instante. A príncipio Lauren falava com um engasgar no fundo da garganta, notando a calma e passividade eminentes no rosto de Camila, a garota estancou a voz e passou a olhá-la atentamente.

- O que foi? - perguntou ela curiosa.

Camila sorriu em resposta, baixou os olhos, com um pouco de força puxou-se para trás, tirando as pernas que ainda jaziam embaixo do corpo de Lauren e abraçou os joelhos. Lauren a observava curiosamente, tentando compreender ou adivinhar o que passava na cabeça da latina, mas era impossível. Respirando fundo, a amiga levantou os olhos e encarou Lauren com dureza, uma severidade que até então não conhecia.

- Talvez a gente realmente jamais tivesse se aproximando desse jeito, mas você acha que o que sentimos agora é fruto de todo esse trauma?

Sua voz estava fina como um líquido ousado. Lauren percebera a besteira que havia cometido. Não, claro que não achava que era fruto do que acontecia, como poderia pensar nisso? Mas analisando suas próprias palavras, sabia que Camila tinha razão. Ela não havia pescado a frase erroneamente, não, a própria Lauren havia feito isso sem perceber. Será que era aquilo que acreditava? Que o sentimento que aflorava em seu peito nasceu de uma situação de desespero?

Lauren não acreditava naquilo, tinha que desfazer a imagem idiota que criara de si. O sentimento apenas explodiu, isso poderia acontecer em qualquer momento, até mesmo em um ensaio complicado ou em uma sessão de conselhos que frequentemente realizava com a latina. O rosto de Lauren endureceu, sua pele novamente empalideceu e sua boca secou.

- Não, Cam, não é nada disso - balbuciou - Claro que não é nada disso.

Ergueu a mão tocando seus joelhos e os percebeu trêmulos.

- Eu não quis dizer nada disso, eu só…

Lauren fora interrompida pelo ruído notório de um quebrar de galho. O mesmo que anteriormente havia percebido. Olhou para trás instintivamente e nada avistou. Camila havia ouvido o ruído tão bem quanto Lauren e ficou atenta no mesmo instante. As duas garotas se levantaram em um sobressalto, com cuidado recolheram as garrafas de água que jaziam quase vazias ao chão e juntaram-se como se criassem uma força dobrada naquela forma. Lauren passou a mão ao redor do quadril de Camila, com o ímpeto natural de protegê-la de seja lá o que fosse ou quem fosse. Seus ouvidos doíam atentos, enrijecidos com a vontade de ouvir atentamente a qualquer suspiro do vento.

Mais um farfalhar. Lauren inclinou-se para frente, como se aproximasse do objeto que provocava aqueles sons, mas aquela atitude não fora lá muito inteligente. Uma mão macia, quente, cobriu-lhe os lábios e notou que o corpo de Camila fora puxada para trás com força. Nenhum som poderia sair de seus lábios naquele momento, seu coração acelerou apressadamente, seus olhos lacrimejaram enquanto uma de suas mãos apertava com força o braço macio que lhe agarrava o quadril e a puxava para o canto, silenciando-a.

- Shhh… Calma por favor - pediu a voz feminina atrás de si.

Lauren arregalou os olhos surpresa. Esperava qualquer homem com a voz ranhenta ou as mãos ásperas cobrindo-lhe os lábios, mas a voz firme e suave, aveludada até, lhe arrepiou os braços e a fez com que parasse de mover-se agressivamente na esperança de soltar-se e correr mata a dentro. Ainda ouvia o farfalhar das folhas secas que cobriam o chão vindo do lado onde Camila estava. Estancou as mãos, ainda segurando o braço que lhe cobria com força a cintura e procurou relaxar os músculos. Quem quer que fosse, era forte o suficiente para nocauteá-la em questão de segundos. Precisava manter a calma, fugiu uma vez, fugiria novamente se necessário.



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