Lauren foi a primeira a entrar. O quarto não era algo que estava acostumada a ver. Camas muito ruins, de metal, um tapete visivelmente sujo e uma televisão que devia ter vinte centímetros quadrados. Havia uma porta no fundo do quarto que provavelmente daria até o banheiro. Um relógio marcava onze horas da manhã, haviam caminhado bastante desde que o sol nascera, então estavam mais longe do que imaginavam. Cerca de quinze minutos depois, Sarah entrou e para a alegria de todas, carregava nas mãos salgadinhos e refrigerantes da máquina pela qual passaram.
Camila sorriu radiante e saltou para a cama que ela jogara as guloseimas. Atacou inicialmente o pacote com Chips de batata e abriu uma refrigerante de cola que por sorte estava bem gelado. Era como se houvessem caminhado por dias em um deserto. Um quase desespero consumiu as duas garotas que não tinham mais nada além daquilo.
- Curioso é ter essas máquinas aqui, se ninguém vem.
- Temos que tomar cuidado, Sarah, está claro que ela é um deles.
- Não sei se claro. Não haviam mulheres com eles, talvez eles não comuniquem a família o que eles fazem lá.
- Mas temos que agir rápido.
- Talvez ela não saiba que somos nós e poderá nos dar mais tempo.
- Claro.
- O plano é o seguinte - Sarah chamou a atenção das demais - Ficaremos aqui somente o necessário para que possamos tomar um banho, comer alguma coisa e partiremos assim que possível, entenderam?
- Não dormiremos aqui?
- Queria que fosse possível, Lauren, sei o quanto estão cansadas, mas não podemos arriscar.
- Sarah - Ellen alertou-a.
Por baixo da porta haviam sombras, como se alguém estivesse do outro lado dela. Sarah aproximou-se da porta cuidadosamente, puxou a pistola que carregava na cintura, firmando próximo ao corpo, enquanto que com a outra mão alertava Lauren e Camila para se esconderem. Aguardou que alguém batesse na porta, o que não havia acontecido até então. Ellen pegou o fuzil e preparou, caso algum dos homens entrassem, morreriam tentando matar todos eles.
Por alguma razão a sombra permaneceu ali por cerca de dez minutos, parecia querer ouvir alguma coisa, verificar se haviam mais vozes ali. Teriam que tomar bastante cuidado com o que diriam. Foi quando Sarah afastou-se da porta e encarou a esposa com firmeza.
- Que horas será que ele chegará?
- Acredito que no horário de almoço - disse Ellen entendendo a intenção dela.
- Que horas nosso vôo partirá?
- No final da tarde, acredito que dê tempo.
A sombra movimentou-se até permanecer estática novamente. Sarah estava começando a ficar preocupada. Se houvessem mais, estariam correndo sérios riscos. Ellen respirou fundo antes de continuar.
- Vamos, tome logo seu banho, eu vou descansar, estou um caco. Estão sendo as melhores férias que poderia desejar, prima.
Sarah sorriu.
- Melhores? Nunca caminhei tanto na minha vida. Estou morrendo de fome, vai lá na recepção ver com aquela senhora se por acaso servem comida.
Ambas encararam a sombra abaixo da porta e imediatamente moveu-se apressadamente, desaparecendo em questão de segundos. Agora tinham certeza se tratar da mulher. Ellen não demorou muito a abrir a porta, a tempo de ver a mulher entrando na área de recepção. Olhou em volta e nenhum sinal de mais pessoas. Talvez tivessem alguma chance de escapar antes que os homens voltassem, mas precisavam agir com bastante cautela. Caminhou a passos curtos, atravessou a porta e apoiou-se no balcão. Não demorou muito e a senhora já de idade surgiu. Esboçou uma expressão de surpresa forçada e Ellen sorriu em resposta.
- O que quer, menina?
- É servido comida ou alguma coisa pra encher a barriga?
- Tem uma máquina com salgadinhos, no caminho.
- Queria algo mais substancial.
- Só tem aquelas porcarias mesmo. Eu trago minha quentinha de casa, se quiser amanhã arrumo alguma coisa, mas pra hoje não dá.
- A senhora não mora aqui?
- Deus me livre. Esse lugar é um inferno! Ainda acho estranhos vocês duas pararem aqui sem um veículo. Aqui não é área de turismo, filha.
- Entendo sua preocupação, mas para todo turista, qualquer área é desconhecida - Ellen sorriu gentilmente - Mas devo concordar com a senhora, achei que teríamos uma aventura por aqui, mas de fato não há nada. Se houver um telefone, gostaria de apressar a vinda do rapaz que nos buscará.
- Tem um do outro lado, perto dos banheiros. Vai querer a comida amanhã?
- Eu irei aceitar. Fechamos o valor amanhã então?
- Com certeza - a senhora disse.
Ellen sorriu, deu um tapinha na mesa e logo saiu. Na área externa, sentindo ainda os olhos da mulher de idade sob suas costas, desceu o pequeno degrau da entrada, olhando em busca do tal telefone. Um orelhão, não tão longe dali estava a vista. Apressou-se até ele, checando as moedas que ainda teriam em seus bolsos, talvez fosse necessário. Tirou-o do gancho, colocou as moedas no local indicado e discou o número de Gabriel. O telefone chamou por três vezes, antes que o rapaz atendesse com uma voz ainda sonolenta.
- Alô?
- Gabriel?
- Meu Deus, Ellen. É você?
- Sim, sou eu - sorriu aliviada ao ouvir a voz do querido amigo - Eu estou precisando de você.
Não sabia do risco se aquela ligação fosse rastreada ou grampeada, mas não poderia agir de outra forma. Teria que pedir socorro, pois as coisas haviam ido longe demais.
- O que aconteceu? - Gabriel perguntou já preocupado.
- Sarah e eu estamos no México.
- Como é? Férias de lua de mel? - ele riu.
- Algo muito sério. Descobrimos algo muito ruim aqui. Vamos precisar de ajuda, está difícil sair daqui com vida - disse ela temerosa.
- Espera aí. Vocês estão em perido?
- Há um vilarejo, onde duas garotas de um grupo de cantoras desapareceram. Pesquisa na internet, eu dei uma entrevista informando a localização onde elas foram encontradas. Há um pequeno hotel, pousada, não sei bem o que é isso. Estamos aqui e precisamos urgentemente de ajuda.
- Já contatou a polícia local?
- Tememos que estejam envolvidos e corro o risco dessa ligação estar sendo grampeada, Gabriel.
- Puta que pariu, Ellen. O que você foi fazer aí?
- Eu preciso que confie em mim e venha o mais depressa possível. Deixaremos uma mensagem explicando para onde iremos. Pede o quarto de número 37.
- Peraí, Ellen - Gabriel hesitou - O que está acontecendo?
- Gabriel, eu preciso que você confie em mim e me ajude. Pede o quarto! Terei que desligar…
Ellen olhou em direção a porta que dava acesso a recepção e a mulher estava parada na porta encarando-a. Passou a sorrir, para que ela não desconfiasse de nada. Pareceu ter dado certo, logo entrou sem demonstrar mais nada.
- Ellen, tome cuidado.
- Obrigada, Gabriel.
Desligou o telefone sem uma despedida mais calorosa e seguiu em direção ao quarto, onde as mulheres esperavam. Bateu suavemente na porta, ouviu Sarah do outro lado perguntar quem é, se identificou e a porta se abriu. Camila e Lauren estavam encolhidas em um canto, visivelmente assustadas.
- Andem, vão tomar um banho, que sei que estão desejando isso há dias - sorriu Ellen fechando a porta atrás de si.
- Por que demorou tanto?
- Eu precisei ligar.
A expressão de Sarah se fechou. Abriu a boca nervosa, como se fosse falar alguma coisa, mas desistiu no meio do caminho, deu alguns passos até a cama e sentou-se nervosa.
- O que houve, Sarah?
- Não pensou, Ellen. Mais uma vez, não raciocinou. Nós temos que traçar um plano e ele deve ser seguido com todas as entrelinhas, caso contrário podemos morrer.
- Sarah, aquela velha iria nos denunciar a eles de qualquer maneira. Isso não mudou em nada.
- Mas agora temos menos tempo.
- Nós temos o mesmo tempo, isso não mudou. Entenda!
- Teremos que agir rápido.
- Já tínhamos que agir rápido.
- Gabriel é burro, Ellen - Sarah elevou a voz.
- Fale baixo - pediu a esposa - E ele não é burro, ele nos ajudou em muita coisa sempre que nós precisávamos.
- Mas não assim. Puta merda, Ellen.
No banheiro, Camila e Lauren escutavam as mulheres discutirem. Por um lado estavam em uma situação melhor, agora poderiam tomar um banho, comer alguma besteira e voltar a fugir, o que vinham fazendo. Estarem entre quatro paredes, dentro de um banheiro, com água encanada, já era uma evolução surpreendente. Nem mesmo sabiam mais por quantos dias estavam perdidas e sem rumo. Ao menos naquele instante, por mais curto que fosse, tinham um rumo.
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