Lauren arregalou os olhos surpresa. Então seriam resgatadas? Era isso que Ellen quis dizer? Talvez fosse, mas a expressão que a tenente carregava em seus olhos não era de alguém que estava quase conseguindo, mas de alguém que desejava do fundo de sua alma que estivesse certa. Não falaram mais nada, o dia se seguiu tenso, o silêncio tomou conta do grupo, o sol se pôs rapidamente e logo a noite tomava conta com seu vento mais frio e os sons dos animais que saiam de suas casas na segurança de nenhum predador a vista.
- Quem virá? - Camila perguntou insegura.
A sua voz nervosa e o medo por ter feito a pergunta provavelmente amansou as duas mulheres que olharam para ela com uma expressão culpada no rosto. Ellen sorriu docemente, como se tivesse a intenção de tranquilizar a garota, antes de responder sua pergunta.
- Eu deixei uma mensagem a um amigo meu, que com certeza irá investigar o quarto e descobrir um bilhete que deixamos para ele.
- E o que dizia nesse bilhete? - Lauren perguntou curiosa.
- Como já conhecíamos esse ponto, avisamos que estaríamos próximas ao posto policial. Por isso estamos aqui e não lá.
- E se os homens conseguirem esse bilhete antes dele?
- Duvido muito. Os homens que vi quando estavam presas são bastante ignorantes. Não pensam em nada, agem por puro impulso. Eles com certeza entraram naquele quarto e checaram para todos os lados se estávamos lá. Como não nos encontraram, vão continuar as buscas e pensando no tempo que estaríamos caminhando, eles vão estar mais distantes.
- Mas e se…
- Nós não dormiremos - Sarah interrompeu Lauren - Estaremos de guarda no período da noite, não se preocupem.
Durante o dia os sons eram sempre diferentes. A noite, que trazia uma tranquilidade muitas vezes estranha, nascia com o silêncio de alguns animais e o despertar de outros. Os pássaros que cantavam durante o dia, por menor que fossem as diferenças, trazia uma paz e uma vivacidade que as mulheres precisavam sentir para poderem continuar. O cheiro da vegetação que foi quebrada para criar uma espécie de parede era de um aroma tão puro que causava conforto e o sono relaxante aparentava até aumentar.
- Tudo isso está perto de acabar, meninas - Sarah disse bastante convincente.
Lauren apenas sorriu e se aninhou ao corpo de Camila, confortando-se com a respiração suave da jovem. Sarah parecia ser a pessoa que ficaria alerta naquela noite, pois Ellen acabou deslizando o corpo e deitando-se com a cabeça apoiada no colo da comandante.
A noite esfriou bastante, pareceu demorar dias para que o sol ameaçasse nascer ao longe. Lauren não conseguiu dormir muito bem, abriu os olhos cansados, encarando o horizonte. Camila diferente da colega, dormira bem. Seu corpo após muito tempo, parecia ter sido entregue a um relaxamento profundo. Foi então que finalmente o sol começou a dar os primeiros sinais de surgir. O frio havia sido expulso e naquele instante o clima tornou-se agradável.
Camila moveu-se, acordando lentamente. Sarah estava caída para um lado, dormindo profundamente, enquanto Ellen parecia arrumar as coisas para poderem comer algo. Não sairiam dali ainda, ficariam até a chegada do amigo que falavam.
- Dormiu? - Camila perguntou a Lauren.
- Um pouco.
- Está nervosa?
- Um pouco.
- Quer conversar?
Lauren olhou para a garota com um sorriso nos lábios.
- Fiquem sempre agachadas, não falem alto ou caminhem por aí, sem sabermos - Ellen alertou - Precisamos nos manter vivas pelo menos hoje. Se até a noite, esse meu amigo não aparecer, desistiremos do plano e tentaremos seguir adiante. Infelizmente não podemos contar com mais ninguém, pois não sabemos até onde podemos confiar nas pessoas.
- Será que não podemos ligar para nossos assessores? Talvez nos enviem resgate.
- Eles entrariam em contato com a polícia local, para agirem com segurança. Sem saber que não podem contar com ninguém. Mas veremos o que pode ser feito, não se…
O ruído baixo do motor de um carro soou alertando as mulheres sobre a chegada de alguém. Todas se agacharam ainda mais para não serem vistas, até terem certeza de quem se tratava. Cerca de dez minutos, a pessoa que estava dentro do veículo permaneceu no interior. Não conseguiam ver o rosto, pois todos os vidros tinham uma porcentagem alta de fumê. A placa era da cidade do México, então poderia ser de qualquer um. O veículo era novo, diferente dos tipos que viram nos acampamentos ou aos redores.
Em seguida a porta do motorista se abriu e um homem alto e forte. O rosto amigável, os olhos ocultos por óculos de sol. Vestia uma camisa clara, com as mangas dobradas na altura do cotovelo e uma calça jeans escura. Calçava tênis esportivo. Ele olhou em volta, como se procurasse por alguma coisa, apoiou a mão direita no quadril, como se preparasse e quando fechou a porta do carro, retirou a arma, apontando para frente.
Sarah observava tudo atentamente e pelo brilho nos olhos de Ellen, Lauren percebeu que talvez aquele homem fosse o amigo que comentaram vir buscá-las. Esperaram cerca de cinco minutos, até vê-lo dar a volta pelo posto policial e guardar a arma no quadril novamente, indo em direção ao carro. O coração de Camila acelerou. Elas não fariam nada? Não iriam ao seu encontro?
- GABRIEL, BAIXE A ARMA - Ellen pediu antes de levantar-se.
O homem olhou para trás imediatamente, erguendo sua arma em direção ao caminho por onde a voz surgiu. Atitude impensada e por impulso. Baixou rapidamente o cano e ficou parado aguardando que a amiga aparecesse por trás da vegetação.
Ellen ergueu-se, ficando de pé, seguida de Sarah. O sorriso aliviado no rosto do rapaz trazia uma paz que há muito não sentiam. Não sabiam como ele havia sido tão rápido, mas agradeciam ter sido.
- Fiquem aqui por enquanto - pediu Sarah baixinho.
As duas deixaram a vegetação, olhando para todos os lados, buscando encontrar alguém que houvesse descoberto o esconderijo delas ou que ainda as estivessem procurando. Ellen abraçou o amigo, Sarah manteve-se mais afastada, ainda encarando os arredores.
- Prestou atenção se alguém o seguia desde a pousada? - Sarah perguntou.
- Que pousada? - perguntou ele sem entender.
- Como assim que pousada? Como você veio parar aqui? - Ellen perguntou surpresa.
- Eu ia perguntar se alguém sabia como eu chegava nessa pousada que você falou - disse ele preocupado - Nem o GPS sabe onde fica aquela droga. Não achei nenhum site, mas um dizia que era nessa rodovia. Então resolvi seguir e encontrei esse posto policial que nada me serviu, mas ao mesmo tempo, me serviu muito.
Sarah parecia ter recebido a melhor notícia da sua vida naquele mesmo instante. A mulher abraçou o homem com tanto apego que ele quase não podia respirar. Ellen olhou em direção onde as garotas estavam e acenou, para que as mesmas pudessem sair de onde estavam e acompanhá-los. Lauren foi a primeira a se levantar e ajudar a amiga. Caminharam pisando nos galhos secos, ainda muito tímidas e o sentimento de impotência. Foram recebidas por uma expressão de choque do rapaz. Que apontou para as garotas com os olhos arregalados.
- Caramba, são as mortas? - ele perguntou nervoso.
- Calma, Gabriel. Desde quando você é medroso assim? - Ellen segurou o rapaz, para que o mesmo não caísse no chão.
- Até parece que não conhecia esse frangote - Sarah disse rindo - Anda logo, rapazinho, trate de virar homem agora mesmo.
- O que está acontecendo?
- Vamos te explicar tudo, não se preocupe. Mas é melhor sairmos daqui logo - Sarah comentou - Você teve que avisar a alguém pelo caminho o que veio fazer?
- Não. Tem uma espécie de pedágio da entrada da cidade até aqui - disse ele tentando lembrar de mais alguma coisa - Perguntaram para onde eu ia, mas eu informei que estava tentando chegar nos Estados Unidos.
- Ele acreditou?
- Com a minha cara de bonzinho? Claro que acreditou - disse convincente.
- Estranho vai ser voltar com quatro mulheres no carro.
- Sabe mais ou menos a distância visível desse pedágio?
- Sim, cerca de cem metros.
- Vamos descer do carro e atravessar escondido, te encontraremos mais a frente. Para que ele não desconfie de nada. E elas vão no porta malas com você. Não permita que eles o revistem. Caso isso aconteça, está autorizado a atirar - Sarah disse firme.
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