1. Spirit Fanfics >
  2. Tormento >
  3. O Roncador

História Tormento - O Roncador


Escrita por: trishakarin

Notas do Autor


Meninas apreensivas e aflitas! To adorando isso kkkkkk

:****

Capítulo 9 - O Roncador


As duas sentiram um impulso violento em correr dali, mas isso não seria nada bom para as duas, elas sabiam disso. Lauren segurou o antebraço de Camila com firmeza, impedindo-a de mover-se, sabendo que a amiga era mais sensível a sair correndo em caso de perigo, enquanto ela conseguia ser mais sensata, ainda que escondesse todo medo que explodia.

O homem estava deitado, seu movimento era de um velho bêbado, que sequer conseguia levantar-se. Lauren apertou os olhos, enquanto Camila olhava para trás assustada e temendo que mais alguém os ouvissem. Um homem jovem, de seus aparentes trinta anos, estava deitado, com duas garrafas de vinho vazias sob o braço forte. Era um rapaz magro, a pele dourada, como um bom latino havia de ser. Os cabelos negros e lisos escorriam pelo rosto encharcado de suor, enquanto sua camisa de um bege amarronzado, com manchas escuras que entregavam seu corpo molhado. A calça estava baixa, parte de sua pele a mostra e a braguilha completamente aberta. Entenderam logo que talvez ele havia ido esvaziar a bexiga e devido a intensa bebedeira, caiu em sua própria urina, adormecendo ali mesmo. O cheiro era ruim, mas o que podiam dizer? As duas não sabiam mais o que era um bom banho há dois dias.

Um ronco incômodo disparou de sua boca, assim que sua cabeça inclinou-se para o lado, deixando o som sair de seus lábios com determinação. Lauren percebeu que ao seu lado, mais a frente, na altura de sua cabeça, havia um rifle. Diferente do que os homens empunhavam nas mãos em suas guardas, ele talvez não fosse muito respeitado ou simplesmente não esperavam nada dele. Lauren inclinou-se com cuidado, a última coisa que desejava naquele instante, seria acordar o rapaz e enfrentarem um problema ainda maior. Um problema que seria representado por uma grande quantidade de números.

- O que está fazendo? - Camila sussurrou visivelmente nervosa.

- É melhor estamos preparadas.

Assim que sentiu o metal entre os dedos, voltou a sua posição e chamou-a para longe. Tinha que sair de perto daquele homem, antes mesmo que ele resolvesse abrir seus olhos embriagados e percebesse que estava envolto de duas fugitivas. Caminharam acocoradas até não conseguirem mais ver o vilarejo distante, seguindo pelo caminho deixado pelo Jipe militar, mas mantendo-se escondidas por entre as matas fechadas que seguiam ao lado da pista. O alívio em não estarem mais a sol aberto, em um deserto escaldante era reconfortante, mas ainda não estavam tranquilas.

Os militares que visitaram o vilarejo repleto de pessoas ruins foram embora e aquilo era preocupante. Talvez não voltassem mais, acreditassem em sua morte e então as abandonasse sob aquele sol infernal, diante a falta de alimento e água. Lauren sabia que não resistiriam por mais de uma semana. Embora a África se sustentasse anos após anos desprovidos de alimento. Ainda pior que isso, sem pensassem na forma como provavelmente acreditavam, as duas estavam em um cativeiro e nenhum familiar seria contatado, o que os levariam a acreditar que ambas estariam mortas. Não levariam adiante, encontrariam seus corpos após semanas e confirmariam que por imprudência da equipe de busca e das leis do país, as duas haviam morrido de causas quase naturais. Sim, quase. Quase porque elas não estariam ali se não houvessem sido sequestradas e se Lauren não houvesse desesperadamente tentado fugir daquele furgão sujo e velho.

A imagem do homem jogado ao chão, bêbado fora reconfortante, afinal, sabiam que nem todos eram tão espertos assim e estavam igualmente entregues ao vício. Talvez se fossem a noite, quando acreditassem estarem mais tranquilos e sem grandes problemas. Talvez se houvesse qualquer festejo, ao qual se entregassem a bebida e caíssem ao chão, deixando algum aparelho de telefonia livre para que pudessem pedir socorro. Não, isso não aconteceria.

Caminhavam por quase três horas, os pés latejavam e a pele ardia devido ao líquido salgado que seus corpos expeliam.

- O que vamos fazer agora? - Camila perguntou perdida.

- O que já estávamos fazendo antes.

- E o que fazíamos, Lolo?

- Caminhar, continuar caminhando, procurando algum sinal de pessoa que não deseje ardentemente nos matar. Isso que estávamos fazendo, Camila.

- O que houve com você?

- Eu estou desesperada, Cam - Lauren estancou o passo e virou-se em sua direção.

Os olhos de Lauren ficaram arregalados quando atrás de Camila, percebeu o corpo esguio do rapaz roncador que deixaram para trás, próximo ao vilarejo. O homem estava de pé e parecia exausto. Não notaram que ele as seguiu e não conseguiu vê-lo as suas costas, se ele havia avisado mais alguém? Ele sorriu, um sorriso malicioso procurando disfarçar-se em um sorriso confortador. Camila virou-se imediatamente, pulando para o lado de Lauren, que já empunhava a arma em sua direção.

- Fique parado aí, roncador - Lauren gritou escondendo o desespero que tomava conta de suas mãos.

- Calma, calma - ele disse erguendo as mãos - Amigo - com a palma de uma das mãos, batem em seu próprio peito, erguendo-a novamente - Eu não farei mal a vocês.

- Quem é você?

- Me chamo Henrique - disse ele.

- Você estava dormindo, Henrique, como nos achou? - Lauren perguntou sem baixar a guarda.

- E fui acordado por duas donzelas que escapavam do meu grupo empunhando e levando consigo a minha arma. Essa, que segura com tanta firmeza, querida. .

- Onde estão eles? Você os avisou, não foi?

- Não, eu não os avisei. Jamais ameaçaria ser ridicularizado perante meu grupo ao ter sido brilhantemente roubado pelas duas garotas a qual eles procuram incansavelmente. Eu não farei nenhum mal a vocês, repito. Jamais seria capaz de compactuar com os crimes dos meus companheiros, se me permitem confessar.

- É melhor dizer logo quem é você de verdade ou eu estouro seus miolos - ameaçou Lauren com firmeza.

- Eu me chamo Henrique, como já disse, percebi quando passaram e com certo esforço, confesso, as segui até aqui. Se houvesse qualquer motivo para matá-las, tenho certeza que já o teria feito horas atrás, enquanto sorrateiro vinha atrás. Deixaram bastante pistas, isso não é bom.

- Por que nos seguiu?

- Se eu não as seguissem e as abordassem mais atrás, com certeza seriam pegas. Algo bem ruim na situação na qual se encontram, não é?

- E por que não o fez? Com certeza é a sua intenção.

- Talvez fosse, mas não concordo. Nós pegamos pessoas ruins, sabem? Pessoas que fazem mal. Mas vocês não fizeram nada, só vieram para o lugar errado. Poderemos conversar melhor, se me permitirem esta conversa.

- Você deve entender que não posso fazer isso, não é?

- Sim, entendo… Mas devem entender também que não tenho nada a perder.

- Eu deveria estourar os seus miolos, roncador.

O rapaz tinha traços belos, nem de longe a maldade estampada em seu rosto, como dos homens que estavam no vilarejo. Lauren percebeu os olhos de uma cor tão forte de mel brilharem sob a luz forte do sol. Estavam longe do vilarejo e se ele houvesse chamado mais alguém, com certeza teriam ouvido, ao menos isso parecia ter alguma verdade. Camila tremia atrás de Lauren, tinha as mãos presa a roupa da amiga e podia sentir suas mãos tremerem compulsivamente, quase sem controle. Não a culpava, sentia o mesmo pânico tomar conta de seu corpo, bombeando o sangue com mais pressa. O coração acelerado e a garganta seca começavam a incomodar.

Assim como aquele homem não tinha nada a perder, também não tinha a ganhar. Dar um tiro naquele momento seria entregar sua posição e com certeza não queria isso. Deu um passo delicado para trás, sendo acompanhada por Camila fielmente, continuava empunhando o rifle em sua direção e com um movimento suave, muito bem pensado, apontou o cano de metal para uma pedra mais ao lado, próximo a uma grande árvore que cuidava para que o solo recebesse sua sombra com maestria. O homem sequer contestou, entendeu o que a garota pedia e o fez com educação, sentou-se ainda com as mãos erguidas e encarou-a com certo respeito.

- Vocês são aquelas garotas da banda, não é mesmo? - perguntou curioso.

- Você já deve saber muito bem isso, já que sabe tão bem o que eles fizeram.

- É estranho estar diante de vocês, que até pouco tempo atrás eram quase impossíveis de ver assim, desse jeito. Se é que me entendem.

- De que jeito? Com sede, com fome e perdidas?

Elas sabiam que em momento algum poderia baixar a guarda e sim, se fosse necessário, Lauren apertaria aquele gatilho como se dependesse disso para respirar. Talvez até mesmo com o desespero e ânsia para encher seus pulmões com ar que lhe faltasse. Camila não relaxou em nenhum momento, permanecia as suas costas, segurando suas vestes com firmeza e força. Seu olhar apreensivo anunciava a completa inocência e pavor da garota.

- Agora diga… - Lauren grunhiu - Diga por qual razão nos seguiu e não anunciou nossa proximidade na intenção de receber algum mérito ou prêmio.

- Eu soube do sequestro de vocês… mas achei que estivessem mortas - ele sorriu - Pelo visto aqueles bunda moles não conseguiram fazer o serviço, ainda informaram que vocês já eram.

Seu sorriso nem de longe condizia com sua aparência suja e mal cuidada. Era um sorriso de dentes brancos e bem alinhados, diferente do que esperavam para um homem com vestes sujas e desalinhadas, além de seu bafo composto de álcool e o cheiro forte de urina que impregnava suas narinas.

- Veio terminar por ele?

- Não… jamais faria isso, todos eles sabem - ele disse timidamente, baixando os olhos para a terra aos seus pés - Eu não mato, se é que me entendem. Por isso tenho um rifle para matar ratos, não pessoas - ele sorriu apontando para a arma nas mãos de Lauren.

Sim, ela entendera o recado. Ele não estava nem um pouco preocupado com a arma nas mãos das duas garotas e a razão de tê-las seguido até ali sem alertar os demais era apenas uma, ele nem mesmo tinha certeza de que eram realmente elas e se os chamassem para alguma ideia absurda de tê-las visto, levando em conta seu estado, receberia uma punição severa até pelo desaparecimento de sua arma. As mãos de Camila apertaram sua roupa com ainda mais força.

- Não se preocupe, moça - ele pediu entre sorrisos confortadores - como disse, se eu quisesse matá-las, eu já o teria feito.

- E por que nos seguiu?

- Vou pedir que baixe essa arma, deve saber o quanto é desconfortável termos uma conversa enquanto aponta esse cano em minha direção. Estou distante, é tempo suficiente para erguê-la novamente e acertar-me o rosto - ele comentou.

Lauren pensou por alguns instantes e concordou. Se ele movesse um centímetro, aquela arma seria disparada sem nenhuma dúvida. Baixou a arma, apontando seu cano frio para o chão de terra negra. Olhou para o roncador com curiosidade, atenta a qualquer movimento suspeito. Precisava proteger Camila e isso era mais importante que sua própria vida.

- Continue - Lauren falou com certa agressividade em sua voz.

O homem sorriu, mas nem de longe um sorriso inocente, era maldoso, ele sabia o que ia fazer, elas não. O que aquele homem, que tão exausto roncava horas atrás e com tanta facilidade arregalou os olhos se prestando a seguir as ladras de seu rifle não sabia, era que as duas jovens, de aparência tão inocente a sua frente já haviam enfrentado muita coisa e que suas mentes tão habilidosas não teriam o menor problema em enfrentar mais uma situação ruim. A luta pela sobrevivência parecia pulsar em suas veias e não havia falta de coragem para saírem logo dali.

- Vocês estavam marcadas, o chefão acha que estão mortas e esperam por seus corpos até amanhã.

- Então você entende por qual razão não podemos confiar em você.

- Eu posso livrá-las da morte. É só convencer aquele gordo preguiçoso de que não há necessidade de fazer isso e tudo estará resolvido e vocês poderão voltar para suas casas, com saúde.

- E o que você ganharia com isso - Lauren perguntou desconfiada.

- Aí é o que poderemos negociar - nesse instante seu rosto alterou-se e ele sorriu de maneira maliciosa - Sabe que para tudo existe um preço… um preço justo, porém ainda assim um preço.

Lauren ergueu o rifle em sua direção novamente, não gostava da forma como ele levava aquela discussão, não parecia aberto a qualquer negociação, ele não parecia ser honesto o suficiente para cumprir com sua palavra e a imagem de pequenos galetos entrando em um covil de lobos pareceu próxima a sua realidade naquele momento. Henrique, como o roncador se chamava, olhou para a garota irritado, sabia que não a convencera e que a partir dali as coisas não funcionariam muito bem.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...