História Trabalhando entre Uchihas - Capítulo 1

Visão de Sakura Haruno

Tenho 24 anos e me formei há dois. Cursei secretariado, na Universidade de Konoha. Sempre fui muito organizada e comunicativa, e ser secretária me parecia a profissão certa.

O problema talvez fosse o fato de os executivos e homens de negócios esperarem uma pessoa mais dentro dos padrões. Pois é, eu tenho uma paixão que não abro mão: meu cabelo cor de rosa. Não importa o que dizem, essa sou eu. E acho ridículo esse preconceito corporativo com a aparência das pessoas.

Seja pela minha teimosia, ou sei lá, nunca passei da fase das entrevistas. E nem eram tantas. Com isso, estou sendo praticamente obrigada a trabalhar numa lanchonete para manter minha vida. O aluguel do meu pequeno apartamento é meio salgado, mas estou me virando.

É claro que jamais desistirei do meu objetivo principal. Ainda envio currículos como louca, na esperança de alguma firma me reconhecer pelos meus talentos e minhas habilidades ao invés de me julgar apenas uma maluca de cabelo rosa.

Hoje, uma quinta-feira de clima agradável, seria só mais um dia comum. Já estava na lanchonete, bem cedo, e começava meu turno. Os clientes eram praticamente os mesmos, todos os dias.

— Bom dia, senhor. Vai querer o de sempre?

— Bom dia. Isso mesmo. Me traga aquele café expresso e um pãozinho, boneca.

Revirei os olhos com o comentário final. Eles tinham essa mania irritante de me cantar de alguma forma. Preparei o pedido, levei à mesa do homem inconveniente e voltei para o balcão. Minha maldita rotina.

Meu colega de trabalho, Rock Lee, era um cara legal. Ele não fez faculdade e era bem satisfeito com sua situação. Era animado até demais.

Enquanto ele atendia uma cliente idosa, me surpreendi com meu celular vibrando no bolso da calça. Peguei-o e olhei a tela curiosa. Um número desconhecido.

Fui até a cozinha da lanchonete em busca de privacidade e atendi.

— Alô, bom dia. — Eu buscava sempre ser educada.

— Bom dia. Senhorita Haruno? — A voz feminina perguntou.

— Sim, sou eu. Em que posso ajudar?

— Meu nome é Tenten Mitsashi, sou do RH da Uchiha & Senju Advogados Associados.

Meu coração falhou por um momento. Era simplesmente a maior firma de advogados do país.

— Estou ligando porque recebemos seu currículo — ela prosseguiu. — Gostaria de convidá-la para uma entrevista para o cargo de secretária, amanhã às dez horas. Está interessada?

Eu quis gritar que sim. Pular e correr feito uma louca, tal era minha alegria. Não era nada garantido, mas uma entrevista era sempre uma oportunidade. Minha chance!

Controlei as emoções e apenas respondi cordialmente.

— Sim, seria ótimo.

— Perfeito. Vou enviar o endereço e algumas informações pelo e-mail que informou em seu currículo. Até amanhã, senhorita Haruno.

— Obrigada. Até amanhã. — Sorri animada.

O resto do dia foi bem corrido. Não é nada fácil ser atendente no ramo alimentar. Minhas pernas imploravam por um descanso e finalmente meu turno acabou.

Acenei para Lee, desejando boa noite, e fui para casa andando. Eu morava a três quadras da lanchonete.

Tomei um banho quente relaxante e fui checar meu e-mail. Conforme Tenten havia dito, recebi o endereço do local e algumas instruções já esperadas como levar o diploma de secretariado, identidade e coisas do tipo.

Enviei uma mensagem para Kiba, o gerente da lanchonete, avisando que ia me atrasar, pois tinha uma entrevista agendada. Ele reclamou que ia descontar do meu salário e eu apenas concordei. Nada disso importaria se eu conseguisse a vaga.

Separei um conjuntinho apresentável para usar amanhã. Uma saia preta até os joelhos, uma blusa social branca e meus saltos pretos não tão altos. Eu pareço uma girafa recém-nascida quando uso saltos com mais de oito centímetros.

Era um traje simples e devidamente elegante. Usaria meus cabelos chamativos soltos. Eu cortei recentemente, então estão batendo no meu ombro. Acho que combinam comigo.

Mal pude dormir, pois estava morrendo de ansiedade.

Me levantei num pulo quando o despertador tocou e corri para o banheiro. Um banho rápido, seguido da minha arrumação. Antes das nove eu estava pronta e chamei um táxi. Se existe algo que eu tenho orgulho é minha pontualidade.

Cheguei ao prédio da empresa com quinze minutos de antecedência e me dirigi à recepção.

— Bom dia, sou Sakura Haruno, tenho uma entrevista às dez.

— Bom dia. Me empreste sua identidade, por favor. — A morena sorriu. Em seu crachá pude ler Shizune Kato.

Aguardei em frente ao balcão de mármore branco. O lugar tinha certo requinte. Um ambiente iluminado, paredes azuis turquesa, carpete bege claro. Plantas bem cuidadas em vários cantos. A decoração era excelente. Pude ver algumas pessoas entrando pela grande porta de vidro. Provavelmente era ali que os advogados estavam, em suas salas elegantes, com seus ternos sofisticados. Havia outra porta de vidro menor, na direção oposta. Supus que ali era a parte administrativa.

— Senhorita Haruno, me acompanhe, por favor. — Shizune se levantou, me fazendo segui-la.

Fomos exatamente para a porta menor. Ali haviam repartições, o setor de TI, a contabilidade e o meu destino, o RH.

Fui cumprimentada por uma moça que aparentava ter a minha idade, cabelos e olhos castanhos e um sorriso simpático.

— Muito prazer, fui eu quem ligou para você ontem. Tenten Mitsashi.

— O prazer é meu. — Sorri confiante.

— Bom, Sakura, faremos uma entrevista inicial hoje. Sente-se, por favor.

Obedeci alegremente.

— Conforme lhe disse, a vaga é para secretária. Pude ver que não tem experiência além do estágio. Pode me falar sobre isso?

— Claro. O estágio durou exatamente um ano na Clínica Aburame. Foi uma experiência fantástica. Pude aprender muita coisa e pôr em prática aquilo que vi no curso.

— E o que houve após isso?

— Após me formar, eu fiz algumas entrevistas, mas parece-me que optaram por me manter apenas no banco de talentos. — Sorri envergonhada.

— Vejo aqui em seu histórico que teve notas perfeitas. Isso é muito bom.

— Obrigada.

— Vou te aplicar um questionário rápido. São dez perguntas. Você terá vinte minutos para realizá-lo e, depois, você fará um pequeno teste de conhecimentos, que levará cerca de quinze minutos.

— Certo.

O questionário perguntava sobre qualidades, defeitos e aquela mesma ladainha de sempre. Quem eu sou, o que quero, o que espero da empresa, por que eu deveria ser escolhida. Eu realmente detesto isso, mas preenchi tudo com sinceridade e atenção.

Em seguida fiz o teste. Achei a coisa mais fácil do mundo e, se dependesse só daquilo, eu certamente seria contratada.

Ao final daquilo tudo, Tenten me agradeceu e disse que logo entraria em contato. Em caso de retorno positivo, eu faria uma entrevista com Itachi Uchiha, o homem que requisitava uma nova secretária. Não fazia ideia de como ele era, mas seu sobrenome fazia parte da empresa, então imagino que era alguém importante. Sabia apenas que era advogado, um dos bons.

Voltei para casa ainda mais ansiosa. A Mitsashi afirmou que me ligaria até segunda-feira, pois a vaga tinha certa urgência.

Vesti meu uniforme tão odiado e fui para meu trabalho. Passei o dia quase rezando para ao menos ir para a segunda fase do processo seletivo. Queria muito aquilo.

Visão de Tenten Mitsashi

Definitivamente nunca vi um cabelo tão... rosa. Segurei-me para não arregalar os olhos ao vê-la entrar. Mas, apesar da aparência inusitada, a moça tinha um bom currículo. Notas excelentes, boa referência na clínica em que estagiou. Só lhe faltava a experiência que outras candidatas tinham. Ainda assim, fora perfeita no teste e adorei seu questionário.

Ela se dizia pontual, organizada e comunicativa. Gostei particularmente da parte dos defeitos. Era raro alguém ser sincero.

— Levemente desajeitada, muito perfeccionista e franca demais — li intrigada.

Não considero perfeccionismo um defeito, nem quando é em exagero. As coisas devem ser perfeitas sempre que possível.

A franqueza pode desagradar os mais sensíveis, mas acredito que Itachi adora isso, tornando o defeito mais uma qualidade. Ela não me pareceu desajeitada. Era meio retraída, mas tinha sua elegância. Fiquei imaginando se era do tipo que tropeçava nos próprios pés ou derrubava coisas quando se distraía. O adjetivo “levemente” devia indicar que era algo corriqueiro, não sendo um grande defeito.

Decidi que chamaria a garota para a entrevista com o Uchiha. Suspirei pensando em como era difícil encontrar alguém à altura de Mabui. A ex-secretária pediu demissão após o nascimento de seu bebê. Era uma pena, mas fico feliz por ela. Ser mãe deve ser algo incrível.

Já fazia uma semana que eu entrevistava moças em busca de uma substituta digna. Apenas duas me pareceram adequadas, mas Itachi não gostou de nenhuma delas.

Apresentarei o currículo e tudo mais àquele ser exigente. Ele é muito gostoso, mas francamente, detestaria trabalhar para ele. Ainda bem que meu setor é outro.

Caminhei em direção à sala dele, passando por Shizune na recepção.

— Que raio de cabelo era aquele? — ela me perguntou com deboche.

— Não me interesso muito pela aparência e creio que Itachi também não. — Dei de ombros.

Na falta de Mabui, Karin estava fazendo serviço duplo. A ruiva é secretária de Sasuke Uchiha, um pedaço de mal caminho, mulherengo, que estava noivo de uma moça linda. Tenho pena dela... Deve ter chifres maiores que um alce.

— O senhor Itachi Uchiha está disponível? Preciso informar sobre a nova secretária.

— Vou anunciar você, Tenten. — Karin sorriu e usou o telefone para avisar de minha presença. — Ele te espera.

Entrei na sala e dei de cara com o moreno mais sério do planeta folheando arquivos de algum caso importante.

— Espero que tenha boas notícias. Karin tem uma mania irritante de tentar ser sedutora.

— Acho que encontrei alguém. — Entreguei os papéis de Sakura.

Ele ergueu a mão para que eu esperasse enquanto lia tudo com interesse. Não havia foto e decidi deixar o fator rosa de fora. Não importa como ela usa o cabelo desde que seja uma boa secretária.

— Sem experiência além do estágio — murmurou — Quero sua opinião pessoal.

— Creio que ela é adequada. Talvez essa seja a experiência que ela precisa. Boas notas...

— Sua opinião pessoal, Tenten — repetiu, me encarando.

— Ela me pareceu séria, comprometida e atenciosa. Eu apostaria nela.

— Marque a entrevista para amanhã. Quero conhecê-la.

— Certo. Vou confirmar o melhor horário com a Karin.

— Não precisa. Minha agenda está uma bagunça, mas às três da tarde estarei livre.

— Ótimo. Três horas, então.

Voltei para minha sala tranquilamente. Esperaria até mais tarde para dar o retorno, afinal, eu gosto de fazer as pessoas ficarem ansiosas.

Visão de Sakura Haruno

Já passava das quatro quando meu telefone tocou. Mordi o lábio apreensiva.

Será que eu já teria a resposta? Nunca me recusaram tão depressa. Suspirei antes de atender.

— Senhorita Haruno?

— Sim.

— Tenten Mitsashi, aqui. Você foi selecionada para a próxima fase.

Quase infartei. Prendi a respiração para não gritar.

— Eu agradeço a oportunidade — falei depressa.

— Preciso que esteja aqui de novo amanhã, às quinze horas.

— Estarei aí, com certeza.

— Ótimo. Boa sorte. — Desligou.

Eu não resisti e acabei pulando pela cozinha da lanchonete. Kiba me olhou de cenho franzido e eu apenas sorri encabulada. Eu estava a um passo de realizar meu grande objetivo.

Deus, espero que esse Itachi Uchiha vá com a minha cara. Quero tanto esse emprego!

Mesmo querendo sumir daquela lanchonete, terminei meu turno com o mesmo empenho de sempre. Afinal, eu ainda estava em processo para admissão e não era nada garantido. Eu ainda dependo do meu salário mixuruca para sobreviver.

Kiba implicou quando falei sobre a entrevista de amanhã. Disse que eu estava por um fio se continuasse matando serviço. Claro que descontaria do meu salário, mas apenas me desculpei e prometi fazer horas extras caso necessário.

Lee me desejou boa sorte e eu fui para casa à noite. O cansaço me permitiu dormir bem, me impedindo de passar a noite imaginando como seria o Uchiha e como seria minha entrevista.

Fui para o trabalho normalmente. Levei algumas roupas a fim de sair de lá arrumada. Dessa vez, usaria um vestido azul escuro formal, apropriado para meu compromisso. Repetiria os sapatos.

Cheguei dez minutos adiantada e me aproximei de Shizune para me anunciar. Ela me olhou dos pés à cabeça e sorriu antes de me pedir para aguardar.

Passei a observar um quadro abstrato muito chamativo que enfeitava uma das paredes. Fui surpreendida quando um cara extremamente lindo passou por mim. Ele deu um leve sorriso de lado, me encarando, e rumou para o setor dos advogados.

Senti um leve arrepio. Se houvessem mais caras como aquele, eu ficaria louca trabalhando aqui. Me despertei de meus pensamentos insanos e nada puros quando Shizune voltou.

— Me acompanhe, senhorita Haruno.

Entramos naquele setor, onde haviam várias portas brancas com os nomes dos advogados da firma. Em frente à cada porta havia uma escrivaninha com computador. Ali ficavam as secretárias. Pude ver uma ruiva com cara de tarada, uma loira sorridente, um rapaz bonito muito pálido de cabelos negros, uma mulher com cara de desgosto e uma mesa vaga. Minha mesa. Amém.

Paramos em frente àquela escrivaninha que chamava por mim e Shizune abriu a porta de Itachi Uchiha.

Senti as pernas bambas ao receber o olhar firme do moreno, muito parecido com o bonitão que me olhou na recepção. Devem ser irmãos. O gene Uchiha produzia deuses gregos.

— Boa tarde, senhor Uchiha. — Pretendia soar mais confiante, mas minha voz falhou um pouco.

— Boa tarde, Sakura Haruno. Obrigado, Shizune, pode ir.

A morena se retirou com um aceno de cabeça e ele prosseguiu.

— Sente-se.

Rezei para não cambalear nem fazer nada ridículo, mas meu coração estava acelerado. Eu precisava ser profissional e demonstrar competência. Sentei de frente para ele, com sua mesa de mogno entre nós.

— Então, Sakura, por que acha que está qualificada? — Antes que eu pudesse dizer tudo que pretendia, ele completou: — Já sei tudo o que você informou na entrevista com a Mitsashi. Quero que seja... franca.

— Bom, eu... certamente estou apta para o cargo. Sei que me falta experiência, mas eu sou dedicada e aprendo rápido. Se me der a chance, vou provar que sou a escolha ideal. — Fui convicta.

Ele me encarou longamente. Juro que tentei sustentar seu olhar, mas acabei desviando. Ele era um pouco intimidante. Fora que eu precisava controlar minha vontade de encarar aquela boca.

— Certo, Sakura. Está contratada. — Os olhos negros passearam por mim. Imagino o que se passava na mente dele. Será que se incomodou com meu cabelo? Não demonstrou nada.

De repente, eu entendi o que ele acabara de dizer. Levei as mãos à boca, desacreditada.

— É sério?

— Sim — disse simplesmente. — Começa na segunda, às oito. Passe no RH imediatamente. — Seu tom era levemente gentil, mas soou como uma despedida.

— Muito obrigada, senhor Uchiha — agradeci extasiada.

— Apenas Itachi — respondeu. E eu meneei em concordância.

— Até mais, Itachi. — Sorri sem conter meu entusiasmo.

Finalmente irei trabalhar com o que sempre quis. Serei a secretária de Itachi Gostoso Uchiha.