História Trabalhando Nisso - A partida, a visita e o começo(Parte 2)

Durante o tempo que ficamos esperando o Uber na frente da escola, o Isaac ficou me acalmando e fazendo piadas para tentar me animar um pouco e tirar o peso da situação em que entraríamos ao chegar em casa. Isso na verdade era rotina, toda vez que minha mãe tinha um surto ele fazia o que podia para me animar.

Quando o Uber chegou me apressei para dentro. Porém quando eu entrei no carro ele recebeu uma ligação e realizou toda a conversa do lado de fora onde eu não podia ouvir, mas duvido que prestasse atenção mesmo que fosse na minha frente. Quando ele entrou no carro aquele sorriso que estava me animando havia desaparecido por completo. Agora Isaac apenas olhava um ponto fixo no chão, ao mesmo tempo que mexia no seu canivete, aquele objeto que Isaac só tocava quando estava realmente nervoso, lembro-me de quando quase fomos assaltados e ele travou e não conseguia fazer nada, além de me acalmar e mexer no canivete, e agora eu estava mais preocupado, afinal, ate quando fomos assaltados ele tentava me acalmar, mas agora ele parecia precisar mais de mim do que eu dele.

Olhei para ele e sem saber o porquê daquela tristeza repentina tudo o que pude fazer foi chegar mais perto e abraçá-lo, e logo que o fiz ele pareceu relaxar um pouco, mas a preocupação em seu olhar ainda era clara.

Quando chegamos em casa eu já fui direto para o meu portão, mas Isaac havia me puxado e me olhava apreensivo ate que, por fim, disse:

E-eu… preciso fazer uma ligação, mas assim que acabar eu venho te ajudar.

Assim que ele me disse isso eu percebi o quão sério havia sido a notícia que ele recebera, porém ainda fiquei chateado dele me largar sozinho naquela situação. Sem ter mais o que fazer, eu apenas assenti com a cabeça e voltei a entrar em casa, enquanto ele se encaminhava para a dele.

Estava terminando de subir a escada e já procurava minha chave quando ouvi a voz da minha mãe falando sozinha, o que era ate normal, tendo em vista seu estado mental, porém algo que me assustou foi quando eu ouvi outra voz a respondendo. Logo que ouvi já acelerei mais ainda para entrar em casa, porque a única chave que abre essa porta é a minha, e eu sabia que tinha trancado a porta antes de sair e para meu estranhamento a porta ainda estava trancada.

Ao entrar em casa me deparei com uma cena assustadoramente familiar, minha mãe estava sentada no sofá tomando chá, e estava deslumbrante, como eu não via há anos, e não me entenda mal, minha mãe não é nem de longe feia, mas seu estado parece ter afetado sua vaidade e ela já não se cuidava tanto, mas o que eu via em minha frente foi algo que eu ate então não acreditava que fosse possível, aquela em minha frente parecia a minha mãe de verdade, aquela que eu havia perdido há anos quando os surtos começaram. Quando ela percebeu que eu havia entrado ela virou o rosto em minha direção e pude ver um misto de preocupação e medo em sua face antes de me olhar e perceber que era eu, e no momento que percebeu ela vestiu um sorriso meigo e acolhedor que quase me levou ao chão, pois parecia que eu havia voltado dez anos no tempo direto para a noite de seu primeiro surto...